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História Deuses lendo O Ladrão de Raios - Capítulo 13 parte 2


Escrita por: ViRayza

Notas do Autor


Vamos lá.
Avisos: Luke se questionando; Grover tentando ser um bom amigo para Luke; Apolo planejando; Trio Lukercy (e Héstia) tentando colocar ideias na cabeça de Luke indiretamente; Tritão sendo fofo com o irmão que nem está lá; Poseidon super protetor.
Leia as Notas Finais (não, eu não tenho nenhuma reclamação, por enquanto pelo menos).
Boa leitura.

Capítulo 17 - Capítulo 13 parte 2


O dinheiro de recompensa por devolver o poodle Gladiola só foi bastante para comprar passagens até Denver. Não pudemos comprar leitos no vagão-dormitório, então cochilamos nos assentos. Meu pescoço ficou duro. Tentei não babar enquanto dormia, já que Annabeth estava sentada bem a meu lado.

Luke olhou indignado para Afrodite nessa frase, o livro abaixado por um segundo até que a deusa pudesse ver o olhar que o semideus a lançava.

— Luke, querido, eu já te disse, isso é um assunto encerrado. Annabeth é uma irmã para Percy, agora pelo menos, eu não posso mudar isso. — Afrodite disse, estava achando muito divertido que Luke estava fazendo de tudo para não ouvir tudo o que ela poderia ter para dizer, o que era muito.

— Desiste, cara, eu já te disse, só finge que nada está acontecendo. — Grover disse tentando soar reconfortante, Luke balançou a cabeça, não queria pensar em nada disso, e além do mais, a primeira coisa que Percy iria querer fazer quando o visse seria mandá-lo de volta para o Mundo Inferior.

— Não desista do que você quer, se realmente quer isso, eu vou te ajudar. — Hermes disse colocando uma das mãos no ombro do filho.

— Eu não quero nada do que vocês estão dizendo, eu só não entendo como uma única frase simples pode ser tirada de contexto e uma cena desse jeito é deixada de lado.  — Luke disse indignado. Hades, Hefesto e Héstia só assistiam tudo com sorrisos cúmplices na cara, por mais que Héstia fosse muito mais discreta que o deus dos mortos e o deus do fogo.

Luke pensou que seria mais produtivo voltar a ler.

Grover ficou roncando e balindo, e me acordava. Num momento ele se agitou demais e um de seus pés falsos caiu. Annabeth e eu tivemos de enfiá-lo de volta antes que algum dos outros passageiros notasse. - E então - Annabeth me perguntou depois que recolocamos o tênis de Grover -, quem quer a sua ajuda? - O que quer dizer? - Quando estava dormindo agora mesmo, você murmurou ―Não quero ajudar você. Com quem estava sonhando?

— Ele sempre esteve lutando contra o Senhor Titã então. — Poseidon tinha orgulho em sua voz.

— E não se deixou levar. — Dionísio disse, aparentemente entediado, mas todos sabiam que na verdade ele estava elogiando.

Os outros deuses, com exceção de Hermes, olharam Luke de canto de olho, julgando, o rapaz se sentiu extremamente desconfortável e envergonhado. Grover e Hermes se colocaram um pouco na frente dele, foi um movimento leve e sutil, mas que dizia que eles brigariam por Luke. Grover estava torcendo para Annabeth chegar logo, ela seria uma boa aquisição para o time “proteja Luke, ele realmente se arrependeu” dele e de Hermes.

Estava em dúvida sobre dizer alguma coisa. Era a segunda vez que sonhava com a voz maligna do abismo. Aquilo me incomodava tanto que, por fim, contei a ela. Annabeth ficou em silêncio por um bom tempo. - Não parece ser Hades. Ele sempre aparece sentado em um trono negro, e nunca ri.

— Isso é verdade. — Poseidon disse rindo, Zeus estava rindo mais ainda na sua poltrona, Hera e Anfitrite reviraram os olhos para os maridos, suspirando cansadas e implorando às Parcas para mandarem logo Perséfone.

— Com essa descrição eu percebi que Hades é um emo. — Zeus acrescentou rindo, Poseidon se juntando a ele enquanto Hades revirava os olhos para os irmãos e fazia um gesto não muito legal para os dois.

Luke e Grover olharam aquela cena boquiabertos e incrédulos. Os outros olimpianos rindo junto com os dois irmãos enquanto Tritão e Anfitrite se perguntavam como esses deuses eram os mais poderosos do Universo atualmente, com essa atitude.

- Ele ofereceu minha mãe em troca. Quem mais poderia fazer isso? - Eu acho... se ele queria dizer ―Ajude-me a subir do Mundo Inferior... Se ele quer guerra com os olimpianos..., mas por que pedir a você o raio-mestre, se ele já o tem?

— Porque eu não tinha essa merda — Hades disse, ignorando as risadas altas de Poseidon e o protesto de Zeus, enojado quando se lembrou de novo do que Poseidon disse —, que nojo, eu nunca vou querer isso na minha vida imortal.

— Como se você pudesse pagar. — Zeus disse provocando o irmão mais velho, Poseidon estava rindo ainda.

— Eu realmente tenho tantas perguntas e não quero nenhuma resposta. — Luke falou balançando a cabeça para espantar os pensamentos estranhos que seu TDAH e Hiperatividade estavam causando.

— Que pena, isso eu te diria. — Apolo disse irônico, era obvio que ele era o mais infeliz com a presença de Luke lá. Isso era outra coisa que Luke não queria pensar, ele não conseguia imaginar o cara com Percy, era muito bizarro para acreditar. Ele voltou a ler.

Sacudi a cabeça, desejando saber a resposta. Pensei no que Grover havia contado, que as Fúrias no ônibus pareciam estar procurando alguma coisa. Onde está? Onde? Talvez Grover tivesse sentido as minhas emoções. Ele bufou dormindo, resmungou algo sobre vegetais, e virou a cabeça. Annabeth ajeitou o boné dele para cobrir os chifres. - Percy, você não pode negociar com Hades. Sabe disso, certo? Ele é enganador, cruel e ganancioso. Não me importo se suas Benevolentes não foram tão agressivas dessa vez...

— Isso eu sou mesmo. — Hades disse orgulhoso de si mesmo, na sua pose de pomposo. Zeus e Poseidon reviraram os olhos. Grover se perguntou como alguém ficaria feliz com a descrição de ser cruel, enganador e ganancioso, mas preferiu não comentar nada a respeito disso, deixando a leitura continuar.

- Dessa vez? - perguntei. - Você quer dizer que já cruzou com elas antes? A mão dela deslizou até o colar. Ela manuseou uma conta branca vitrificada, na qual estava pintada a imagem de um pinheiro, um dos seus marcos de fim de verão, em argila. - Digamos apenas que não morro de amores pelo Senhor dos Mortos. Você não pode ficar tentado a negociar sua mãe. - O que faria se fosse seu pai? - Essa é fácil - disse ela. - Eu o deixaria apodrecer. - Sério? Os olhos cinzentos de Annabeth se fixaram em mim. Estavam com a mesma expressão que vi no bosque, no acampamento, no momento em que ela puxou a espada contra o cão infernal. - Meu pai me detestou desde o dia em que nasci, Percy - disse ela. - Ele nunca quis um bebê. Quando me ganhou, pediu a Atena que me levasse de volta e me criasse no Olimpo, porque estava muito ocupado com seu trabalho. Ela não ficou contente com isso. Disse a ele que os heróis têm de ser criados por seu parente mortal.

— Eu faria isso se pudesse, com todos os meus filhos. — Atena disse tristemente, isso era uma das regras que ela gostaria de poder mudar, mesmo que ela soubesse que tinha uma boa razão para isso, e ela deveria ser a que mais respeitasse essa lei.

— Eu sei, Atena, eu te criei assim, por um tempo como você sabe. — Tritão disse à deusa que um dia ele criou como filha, se uma coisa ele sabia era que ela amava os filhos, bem menos que seu próprio pai, Poseidon, mas ainda assim amava muito.

Atena deu um olhar agradecido a Tritão.

- Mas como... quer dizer, você não nasceu em um hospital... - Apareci na porta do meu pai, em um berço de ouro, trazido do Olimpo por Zéfiro, o Vento Ocidental. Daí você imaginaria que meu pai se lembrasse disso como um milagre, não é? Como se, quem sabe, tivesse feito algumas fotos digitais ou algo do tipo. Mas ele sempre falou sobre a minha chegada como se fosse a coisa mais inconveniente que já lhe acontecera. Quando eu tinha cinco anos, ele se casou e esqueceu totalmente Atena. Arranjou uma esposa mortal “normal” e teve dois filhos mortais “normais”, e tentou fazer de conta que eu não existia.

Luke suspirou, ele já sabia dessa história, as relações ruins com os pais mortais dos meio-sangues era um dos motivos que ele achava que os deuses deveriam ser melhores, talvez no final ele só queria que eles fossem melhores que os mortais que os deuses parecem desprezar tanto. Grover e Hermes colocara cada um uma mão nos ombros do rapaz.

Atena balançou a cabeça triste. Os outros deuses ficaram observando as cenas com curiosidade e interesse.

Olhei pela janela do trem. As luzes de uma cidade adormecida estavam passando. Quis fazer Annabeth se sentir melhor, mas não sabia como. - Minha mãe se casou com um cara horroroso demais - contei a ela.

— Isso é o eufemismo do século. — Ártemis reclamou, parecendo de repente ter lembrado de algo da pior espécie. Seu irmão, Apolo, estava do mesmo jeito e com a mesma aura.

Poseidon era o que estava mais irritado com isso.

Luke perguntou o que isso queria dizer para Grover. O que Grover respondeu não foi nem um pouco bom para ele, só fez o sentir ainda pior, ele não conseguiu acreditar que Percy tenha passado por isso tudo e não fez o mesmo que ele, Thalia e Annabeth e tantos outros que ele nunca poderia saber. Luke não conseguiu decidir se achou isso corajoso ou estúpido da parte de Percy.

— Ele nunca abandonaria Sally, e não importa o que os deuses digam, ela não poderia impedir. — Grover disse para Luke. Ele entendeu o que Grover quis dizer, provavelmente os deuses estavam culpando a mãe de Percy pelo que aconteceu, Luke queria discordar cem por cento, mas ele sabia que não tinha como ela não saber que isso aconteceria.

 - Grover disse que ela fez isso para me proteger, para me esconder no cheiro de uma família humana. Quem sabe seu pai não estava pensando nisso?

— Obrigada por tentar — Atena disse, parecendo estar triste—, mas não foi o que ele quis fazer.

— Annabeth estava certa sobre o que ela disse, ele não fez isso por amor a ela. — Luke falou descontente, ele odiava lembrar das vidas ruins que ele e suas melhores amigas, que era outra coisa que ele realmente queria saber se podia se referir, tiveram. Depois percebeu que não tinha melhorado nada e agora nem um deles estava do lado um do outro, nem mesmo Thalia e Annabeth. Os três estavam completamente separados, e tudo isso era culpa dele. Luke estava esperando um soco ou uma cotovelada de Grover, o sátiro era muito bom em ler emoções, mas não veio nada, Grover estava olhando para ele com chateação com uma expressão que dizia “— Se continuar a se culpar a primeira a saber disso vai ser Thalia e você sabe como ela é.”, a ameaça funcionou um pouco, ele sabia que Annabeth ficaria protetora dele como ela sempre foi, Thalia seria mais violenta, e se ele pudesse contar com a amizade de Percy, seriam dois, Thalia e Percy, contra ele, Grover seria o meio termo, protegendo e sendo violento ao mesmo tempo, esses eram três que ele tinha certeza que viriam para ler, os três que ele mais machucou, literalmente e figurativamente, Luke queria saber de seus irmão também, principalmente Chris que ele abandonou no Labirinto, ele nunca se perdoou por isso. Luke estava pensando nisso tudo quando sentiu uma dor no pescoço.

Grover percebeu o que Luke estava pensando, deu um pescotapa nele e disse:

— Volta a ler logo, você está parecendo um idiota olhando tão intensamente para o livro.

Depois botou as mãos na boca e olhou horrorizado para Afrodite, Hefesto e Hades, com medo do que qualquer um dos três fosse dizer. Luke não quis ouvir qualquer coisa que um deles pudesse dizer então voltou a ler, feliz porque Grover, pelo menos, tinha o perdoado de verdade.

Annabeth continuou focada em seu colar. Apertava o anel de formatura de ouro que estava pendurado entre as contas. Ocorreu-me que o anel devia ser do pai dela. Fiquei imaginando por que ela o usava se o odiava tanto. - Ele não liga para mim - disse ela. - A mulher dele... minha madrasta... me tratava como uma aberração. Ela ia me deixar brincar com os filhos dela. Meu pai concordava. Sempre que acontecia alguma coisa perigosa... sabe, algo a ver com monstros... os dois me olhavam com raiva, do tipo “―Como você ousa pôr nossa família em perigo”. No fim, entendi a indireta. Eu não era querida. Eu fugi.

Grover ficou feliz que Annabeth tenha decidido dar uma outra chance à família dela, ela estava muito mais feliz agora.

Luke suspirou, essa história não ficou melhor depois de já tê-la ouvido antes, e sim, ele sabia que Annabeth tinha voltado a morar com o pai, mas era estranho pensar nisso, ele não sabia o que a fez mudar de ideia também.

Atena também estava tendo um momento difícil, ela sabia que tudo estava bem agora, mas saber que sua filha teve que fugir para se sentir melhor tão pequena fazia a deusa se sentir estranhamente impotente.

- Que idade você tinha? - A mesma idade que comecei o acampamento. Sete. - Mas... você não ia conseguir chegar até a Colina Meio-Sangue sozinha. - Não, sozinha não. Atena me protegeu, me guiou em direção à ajuda. Fiz amigos inesperados que cuidaram de mim, bem, por pouco tempo.

Essa frase fez Luke e Grover darem sorrisinhos tristes, Grover se lembrando de quando tudo era mais simples, Luke se lembrando de tempos em que eram só ele e suas melhores amigas, as duas que ele mais considerava família, até mesmo mais que seus irmãos e seu pai.

Quis perguntar o que havia acontecido, mas Annabeth parecia perdida em lembranças tristes. Então ouvi o som dos roncos de Grover e fiquei olhando para fora, pelas janelas do trem, enquanto os campos escuros de Ohio iam passando.

 ― Pelo menos ele tem tato. ― Atena disse, ainda com um tom impotente, ela estava se sentindo muito mal por Annabeth e por todos os seus filhos que tiveram que passar pelas mesmas coisas.

― Sendo tão observador como ele é, seria difícil ele não perceber que não deveria falar. ― Tritão disse dando de ombros.

Perto do fim do nosso segundo dia no trem, em 13 de junho, oito dias antes do solstício de verão, passamos por algumas colinas douradas e sobre o rio Mississipi, e entramos em St. Louis. Annabeth esticou o pescoço para ver o Portal em Arco, que me pareceu uma enorme alça de sacola de compras fincada na cidade.

Grover riu concordando.

― Só não deixa Annabeth saber disse. ― Luke disse rindo também.

― Essas crianças não sabem mesmo apreciar arte. ― Atena disse balançando a cabeça.

― Você não pode culpá-lo, ele não entendia nada sobre isso. ― Poseidon defendeu o filho.

― Ele deveria se esforçar mais. ― Tritão disse com uma mão na testa, escondendo o rosto, ele não queria acreditar que Percy não levava nada a sério.

― Você não deve ficar com tantos ciúmes do seu irmãozinho, príncipe do mar. ― Apolo disse sorrindo irônico para Tritão.

― E agora você está dando em cima de Tritão também? ― Luke não pode deixar de perguntar, ele queria saber como o deus do sol poderia até mesmo considerar ficar com Percy com uma atitude dessas.

― Ele não consegue não dar em cima de alguém por muito tempo. ― Ártemis explicou rindo do irmão, que ia começar a protestar quando Luke voltou a ler.

- Eu quero fazer aquilo - suspirou ela. - O quê? - perguntei. - Construir algo como aquilo. Você já viu o Partenon, Percy? - Só em fotos. - Algum dia eu vou vê-lo em pessoa. Vou construir o maior monumento aos deuses que já foi feito. Algo que vai durar mil anos. Eu ri.

― Escolha ruim. ― Luke disse. Grover assentiu.

― Ela vai ficar na defensiva.

Poseidon levantou uma sobrancelha, não querendo que ninguém fosse rude com seu filho.

- Você? Uma arquiteta? Não sei por que, mas achei aquilo engraçado: a ideia de Annabeth tentando ficar sentada em silêncio desenhando o dia inteiro. As bochechas dela coraram. - Sim, uma arquiteta. Atena espera que seus filhos criem coisas, não apenas as derrubem, como um certo deus dos terremotos.

Agora Poseidon estreitou os olhos, seus olhos verdes estavam escuros, quase pretos de raiva.

Ninguém disse nada, todos implorando a Luke para voltar a ler, o que ele fez relutante.

Observei as águas marrons e turbulentas do Mississipi embaixo. - Desculpe - disse Annabeth. - Isso foi maldoso.

― Não brinca? ― Poseidon disse sarcástico. Nenhum dos deus nem dos dois rapazes quis dizer nada.  Atena parecia querer defender a filha, mas não disse nada depois do olhar que Zeus lançou em sua direção.

- Não dá para trabalharmos juntos? - implorei. - Quer dizer, Atena e Poseidon não poderiam colaborar um com o outro? Annabeth teve de pensar a respeito. - Eu acho... a carruagem - disse ela, hesitante. - Minha mãe a inventou, mas Poseidon criou os cavalos saídos das cristas das ondas. Então eles tiveram de trabalhar juntos para torná-la completa. - Então nós também podemos colaborar um com o outro. Certo?

― Certo ― Grover disse, feliz que o momento tenso tinha passado ―, não sei onde estaríamos se os dois não se dessem bem.

― Você também teve sua parcela de responsabilidade, sem você os dois não se dariam bem. ― Hermes garantiu Grover, que o olhou agradecido.

 Entramos na cidade. Annabeth olhava enquanto o Arco desaparecia atrás de um hotel. - Acho que sim - disse, afinal. Entramos na estação da rede ferroviária no centro da cidade. O alto falante nos avisou que teríamos uma parada de três horas antes de partir para Denver. Grover se espreguiçou. Ainda despertando, disse: - Comida.

― Seria bom agora. ― Luke concordou com isso, se interrompendo.

Héstia pareceu perceber que tinha dois seres mortais com eles só agora, ela fez aparecer lanches para Grover e Luke, este último só comeu uma batatinha frita e voltou a ler, deixaria para comer depois.

- Vamos, menino-bode - disse Annabeth. - Fazer um passeio. - Passeio? - Até o Portal em Arco - disse ela. - Pode ser a minha única oportunidade de subir até o topo. Você vem ou não? Grover e eu nos entreolhamos. Eu queria dizer não, mas concluí que, se Annabeth ia, não poderíamos deixá-la sozinha. - Desde que haja uma lanchonete sem monstros.

― Isso tinha. ― Grover disse.

Poseidon não ficou feliz com o que ficou implícito.

O Arco ficava a cerca de um quilometro e meio da estação. No fim do dia, as filas para entrar não eram tão longas. Seguimos cautelosamente pelo museu subterrâneo, olhando para vagões cobertos e outras sucatas do século XIX. Não era assim tão empolgante, mas Annabeth ia contando fatos interessantes sobre como o Arco fora construído e Grover me passava jujubas, portanto, para mim estava bom.

― É a segunda vez que ele diz que estava querendo aprender sobre algo que ele não tem interesse. ― Grover notou.

― Eu percebi ― Atena disse pensativa ―, ele gosta de aprender, mas as dificuldades que ele tem o impedem de fazer isso, seria ideal se pessoas preparadas pudessem lidar com as crianças. ― A deusa terminou ainda mais pensativa.

― O que só reforça o que estávamos conversando antes ― Apolo concordou ―, precisamos de semideuses e sátiros pacientes nas escolas, isso pode fazer com que os nossos filhos tenham mais interesse e se saiam melhor na escola.

O olhar aprovador de Grover fez Apolo ficar contente, ele sabia que isso seria ouvido por certo semideus quando ele chegasse, mas o deus do sol estava mais preocupado com os filhos no momento, ele queria que eles tivessem uma boa educação e mais chances de se dar bem fora do mundo dos deuses.

Mas fiquei olhando em volta, para as outras pessoas na fila. - Está sentindo algum cheiro? - murmurei para Grover. Ele tirou o nariz do saco de jujubas por tempo suficiente para farejar. - Subterrâneo - disse ele enojado. - O ar embaixo da terra sempre tem cheiro de monstros. Provavelmente não quer dizer nada.

― Ou talvez seu nariz estivesse cheio de açúcar e não pode sentir qualquer cheiro por isso. ― Hades ironizou e revirou os olhos.

― Ou isso. ― Grover concordou.

Poseidon deu um gemido de frustração.

Mas eu tinha a sensação de que algo estava errado. Tinha a sensação de que não devíamos estar ali.

― Percy tem o sexto sentido. ― Luke brincou, querendo tirar a atenção de dois dos três grandes de Grover, ele resolveu ser o super protetor, já tinha machucado demais os seus amigos, agora ele iria fazer isso para cuidar deles.

― Não tem graça. ― Poseidon reclamou, mas se acalmou e parou de tentar matar Grover com o olhar.

- Gente - disse eu -, vocês conhecem os símbolos de poder dos deuses? Annabeth estava no meio da leitura sobre o equipamento de construção usado para erigir o Arco, mas deu uma olhada. - Sim? - Bem, Hades... Grover pigarreou. - Estamos em local público... Você quer dizer, o nosso amigo do andar de baixo? - Ahn, certo - falei. - Nosso amigo do andar muito de baixo. Ele não tem um chapéu como o de Annabeth?

― Não. ― Hades disse ofendido, seu Elmo nas mãos, sendo protetor.

― Isso é outra coisa que eu não quero encostar. ― Poseidon sentiu a necessidade de comentar. Zeus riu e os três começaram a discutir. Grover e Luke observaram com tanta atenção que pareciam que tinham colado os olhos nos três deuses, e não foi em vão, aconteceu o que eles passaram as últimas horas esperando.

Quando Zeus e Hades começaram a vencer o argumento, Poseidon colocou as mãos no ouvido, revirou os olhos e virou para não olhar nenhum dos dois. Como uma criança.

Hermes e Tritão abafaram uma risada, ouvir os meninos valeu a pena, os dois deuses pensaram.

- Você quer dizer o Elmo das Trevas - disse Annabeth. - Sim, é seu símbolo de poder. Eu o vi junto ao assento dele durante a assembleia do solstício de inverno. - Ele estava lá? - perguntei. Ela assentiu. - É a única ocasião em que ele tem permissão de visitar o Olimpo - o dia mais escuro do ano. Mas, se o que ouvi é verdade, o elmo é muito mais poderoso que meu boné da invisibilidade...

― Obviamente ― Hades disse, parando de brigar com os irmãos para responder ao livro ―, até porque eu sou muito mais poderoso que sua mãe, não era difícil adivinhar isso.

Atena não respondeu, apenas revirou os olhos.

- Permite que ele se transforme em trevas - confirmou Grover. - Ele pode se fundir com as sombras ou passar através de paredes. Não pode ser tocado nem visto nem ouvido. E pode irradiar um medo tão intenso que é capaz de enlouquecer você, ou fazer seu coração parar de bater. Por que acha que todas as criaturas racionais têm medo do escuro?

Hades pareceu ainda mais pomposo com a descrição do seu Elmo das Trevas.

― Se parar para pensar, isso é realmente legal. ― Hermes disse.

― É um pouco overpower demais. ― Apolo reclamou.

― Isso eu tenho que concordar. ― Ares disse, resolvendo voltar a comentar na leitura.

- Mas então... como sabemos se ele não está aqui agora mesmo, nos observando? - perguntei. Annabeth e Grover se entreolharam. - Nós não sabemos - disse Grover.

― Eu tenho mais o que fazer. ― Hades respondeu, revirando os olhos, ele não tinha tempo de ficar olhando o que eles faziam o tempo todo.

― Nós sabemos. ― Zeus disse para o irmão.

 - Obrigado, agora me sinto muito melhor - falei. - Ainda sobrou alguma jujuba azul? Tinha quase controlado meu desespero quando vi o minúsculo elevador no qual iríamos subir até o topo do Arco, e percebi que estava encrencado. Odeio espaços confinados. Eles me deixam doido.

Tritão, Poseidon e Anfitrite assentiram para essa afirmação.

― O mar não gosta de ser confinado, ou alguma besteira dessas. ― Zeus ironizou o irmão, sabendo exatamente o que Poseidon ia dizer.

― Não se controla o mar, você o deixa livre, ou algo assim. ― Hades disse rindo, resolvendo se juntar ao caçula.

― Vocês são os piores, mas sim, nós precisamos de espaço, não se pode controlar o mar nem o confinar. ― Poseidon disse dando de ombros, ignorando as risadas dos irmãos e das irmãs.

Fomos espremidos dentro do elevador junto com uma senhora grande e gorda e seu cão, um chihuahua com uma coleira de falsos brilhantes. Calculei que talvez o chihuahua fosse um cão guia, porque nenhum dos guardas disse uma palavra a respeito. Começamos a subir dentro do Arco. Eu nunca havia estado em um elevador que subia em curva, e meu estômago não gostou muito.

― E agora ele está passando mal. ― Apolo disse reclamando ― E se ele precisar lutar assim?

― O título do capítulo é “Meu mergulho para a morte” ― Luke respondeu, mas estava pensando o mesmo ―, eu acho que isso explica muito.

Poseidon ficou ainda mais nervoso do que já estava quando ouviu que o filho estava passando mal.

- Sem os pais? - perguntou-nos a senhora gorda. Tinha olhos pequenos, redondos e brilhantes; dentes pontudos e manchados de café; um chapéu mole de jeans e um vestido de jeans armado demais. Parecia um dirigível jeans.

― Pelo menos as descrições estranhas não pararam. ― Tritão tentou aliviar os ânimos.

Alguns deuses riram.

― Eu não tinha pensado nisso, mas é verdade. ― Grover disse.

― Que bom que meu irmão é o único que pensa em coisas tão estranhas, obrigado por me avisar. ― Tritão disse irônico.

― Ninguém pensa tão estranho quanto Percy. ― Grover deu de ombros.

― Você acabou de se referir a Percy como “meu irmão”. ― Poseidon disse muito mais feliz que ele esteve o dia todo, seu tom indicando que isso tinha sido a melhor coisa que ele ouviu.

Tritão tentou negar e desconversar, mas não funcionou.

- Eles estão lá embaixo - disse Annabeth. - Têm medo de altura. - Ah, pobrezinhos. O chihuahua rosnou. A mulher disse: - Vamos, vamos, filhinho. Comporte-se. - O cão tinha olhos pequenos, redondos e brilhantes como os da dona, inteligentes e malvados. Eu disse: - Filhinho. É o nome dele? - Não. Ela falou e sorriu, como se aquilo esclarecesse tudo.

Poseidon encarou o livro e depois o irmão mais novo, ele já estava começando a imaginar o que aconteceria.

No topo do Arco, a plataforma de observação me lembrou uma lata acarpetada. Fileiras de janelinhas davam para a cidade, de um lado, e para o rio, do outro. A vista era legal, mas se existe uma coisa de que gosto ainda menos que lugar fechado, é um lugar fechado a duzentos metros de altura.

― Então ele é claustrofóbico. ― Afrodite notou, o que chocou Grover já que ela não tinha malícia nenhuma na voz.

― Parece que sim. ― Héstia disse concordando.

Grover se sentiu mal por não ter notado nada, mas percebeu que Percy não deve ter deixado ele e Annabeth perceberem. Se perguntou quanta coisa Percy tinha medo e não falava para não preocupar os dois.

Annabeth seguiu falando sobre suportes estruturais e sobre como teria feito as janelas maiores e projetado um piso transparente. Ela poderia ter ficado lá em cima horas a fio, mas, para minha sorte, o guarda anunciou que a plataforma de observação seria fechada em poucos minutos. Guiei Grover e Annabeth em direção à saída, enfiei-os no elevador e estava quase entrando quando me dei conta de que já havia outros dois turistas lá dentro. Não tinha espaço para mim. O guarda disse: - Próximo carro, senhor. - Vamos sair - disse Annabeth. - Vamos esperar com você.

Poseidon fez um aceno de aprovação, mesmo sabendo que isso não aconteceria.

― Ele nunca me disse o que aconteceu lá. ― Grover se lembrou.

― Isso quer dizer que foi pior do que imaginamos. ― Poseidon reclamou. ― Percy precisa parar de tentar proteger as pessoas escondendo seus sentimentos.

― Ele precisa conversar com alguém.  ― Apolo disse, aproveitando a situação, mas ele não queria nada de ruim, só criar uma chance para si e poder ajudar Percy de verdade ― Eu posso fazer isso, sem segundas intenções.

Poseidon concordou, sabendo que Percy não diria nada a ele de qualquer jeito, ele sentia que era uma das pessoas que Percy protegeria se necessário.

― É uma boa ideia já que nem amigo dele você é. ― Tritão disse, ele queria afastar Apolo de Percy, mesmo ainda não entendendo o sentimento protetor que ele sentia pelo irmão.

― Isso foi rude, Tritão. ― Anfitrite repreendeu o filho, este que deu de ombros sem se importar.

Mas aquilo ia atrapalhar todo mundo e levar ainda mais tempo, então eu disse: - Não, tudo bem. Vejo vocês lá embaixo. Grover e Annabeth pareceram nervosos, mas deixaram a porta do elevador se fechar. O carro desapareceu rampa abaixo. Agora as únicas pessoas que restavam na plataforma de observação éramos eu, um garotinho com os pais, o guarda e a senhora gorda com o chihuahua. Sorri pouco à vontade para a senhora gorda.

― Especificamente para ela? ― Ártemis perguntou interessada.

― Parecia até pressentimento. ― Anfitrite disse.

Ela sorriu de volta, a língua bifurcada tremulando entre os dentes. Espere um minuto. Língua bifurcada? Antes que eu pudesse concluir se tinha realmente visto aquilo, o chihuahua pulou no chão e começou a latir para mim.

― Eu acho que ele realmente tem um sexto sentido. ― Hermes riu, mas depois se parou por causa da seriedade da situação.

― Sendo tão bom em sentir perigo, ele seria uma boa caçadora se fosse menina. ― Ártemis disse.

― Seria mais fácil se ele fosse uma caçadora. ― Poseidon concordou.

― Tritão estaria ainda mais protetor do que ele já está sendo com o irmão se Percy fosse menina. ― Anfitrite disse.

― Eu não sou protetor de ninguém. ― Tritão negou, mesmo sabendo que, por algum motivo estranho, ele realmente estava se sentindo protetor do irmão.

― Podemos não criar imagens mentais de Percy sendo uma caçadora no semideus com TDAH? Por favor? Obrigado. ― Luke disse, balançando a cabeça para espantar as imagens mentais.

― Não imaginar Percy fazendo parte da caça seria muito bom. ― Apolo disse, tanto por causa de Percy quanto por causa de Órion, outro filho do deus do mar, ele se perguntou se isso era o que fez tanto ele quanto Ártemis se interessarem, a ligação de Órion e Percy com o mar, mesmo que Ártemis negasse ele sabia disso, e queria se arrepender do que tinha feito, mas não conseguia, ele não tinha problemas em admitir que estava interessado, mas ele também não tinha feito um juramento de nunca entrar em uma relação então entendia o que a irmã fez, esse também era o motivo pelo qual ele não se arrependia do que fez para Órion.

- Vamos, vamos, filhinho - disse a senhora. - Não está divertido? Temos todas essas pessoas simpáticas aqui. - Cachorrinho! - disse o menino. - Olhe, um cachorrinho! Os pais o puxaram de volta. O chihuahua arreganhou os dentes para mim, a espuma pingando dos lábios negros.

― Obrigada pela descrição. ― Afrodite disse enojada, mas se lembrou que ela mesma já criou coisas do tipo.

― Agradável. ― Grover concordou.

Zeus revirou os olhos, os outros deuses e semideus fazendo o mesmo.

- Bem, meu filho - suspirou a senhora gorda. - Se você insiste. Meu estômago começou a gelar. - Ahn, você chamou esse chihuahua de filho? - Quimera, querido - corrigiu a senhora gorda. - Não é um chihuahua. É um engano muito comum.

― É? ― Luke perguntou completamente curioso.

― Sim, eu mesmo confundi. ― Grover admitiu envergonhado.

― Que estanho. ― Luke disse.

Ela arregaçou as mangas jeans, mostrando que a pele de seus braços era escamosa e verde. Quando sorriu, vi que seus dentes eram presas. As pupilas dos olhos eram fendas verticais, como as dos répteis. O chihuahua latiu mais alto, e a cada latido ele crescia. Primeiro ficou do tamanho de um doberman, depois de um leão. O latido se transformou em rugido.

Poseidon xingou baixinho, tentando decidir qual dos irmãos mandaria essa coisa para matar seu filho, depois ele teve certeza de que foi Zeus.

O menininho gritou. Os pais o puxaram para a saída, bem na direção do guarda, que estava paralisado, de olhos arregalados para o monstro. A Quimera estava tão alta que suas costas tocavam o teto. Tinha cabeça de leão, com a juba untada de sangue, o corpo e os cascos de um bode gigante e uma serpente no lugar da cauda, losangos de três metros de comprimento brotavam do traseiro peludo. Ainda tinha no pescoço a coleira de falsos brilhantes e a placa, do tamanho de um prato, era agora fácil de ler: QUIMERA – RAIVOSA, HÁLITO DE FOGO, VENENOSA – SE ENCONTRADA, FAVOR LIGAR PARA O TÁTARO – RAMAL 954.

― Ele ligou? ― Hermes perguntou interessado.

― Como? ― Grover estava confuso, sem entender o que o deus queria realmente dizer.

― Ele ligou para o Tártaro? Seria interessante. ― Hermes respondeu.

― Ele não precisa ligar quando ele foi fazer uma visita pessoalmente. ― Tritão rebateu irritado.

― Não precisa ficar super protetor, eu só estava brincando. ― Hermes disse, as mãos levantadas em rendição, mas o sorriso era brincalhão.

Percebi que não havia sequer tirado a tampa da minha espada. Minhas mãos estavam amortecidas. Eu estava a três metros da bocarra sangrenta da Quimera, e sabia que assim que me mexesse a criatura iria investir.

― A claustrofobia está fazendo efeito, ele não está prestando atenção na situação completamente. ― Apolo reparou. Poseidon concordou.

― Ele estava totalmente concentrado nos arredores e não prestou atenção até o último minuto. ― Disse o deus do mar.

Grover se sentiu ainda mais culpado por não perceber nada, e ele sabia que Annabeth se sentiria tão culpada quanto ele quando ela chegasse e lesse tudo isso.

A mulher-cobra fez um som sibilante que poderia ter sido uma risada. - Sinta-se honrado, Percy Jackson. O Senhor Zeus raramente me permite pôr um herói à prova com um de minha prole. Pois eu sou a Mãe de Monstros, a terrível Equidna!

― Eu sabia que tinha sido você. ― Poseidon olhou para Zeus irritado demais.

― Como assim sabia que fui eu? ― O rei dos deuses perguntou, ele ficou bravo também.

― Eu não espero nada de bom do você, não foi difícil adivinhar. ― Poseidon respondeu com desprezo.

Olhei para ela. Tudo que eu pude pensar foi: - Isso não é o nome de bicho que come formigas? Ela uivou, a cara de réptil ficou marrom e verde de raiva. - Detesto quando as pessoas dizem isso! Detesto a Austrália! Dar meu nome àquele animal ridículo. Por causa disso, Percy Jackson, meu filho o destruirá!

― Eu sabia que ele ia dizer isso. ― Luke disse querendo rir e bufar ao mesmo tempo, ele não fez nenhum dos dois.

― É o Percy ― Grover deu de ombros ―, ele sempre faz as coisas mais difíceis.

Alguns deuses reviraram os olhos e outros riram, não tendo a mesma mentalidade de Grover e Luke sobre os perigos que essa atitude poderia causar.

A Quimera avançou, os dentes de leão rangendo. Consegui pular para o lado e me esquivar da mordida. Fui parar junto da família e do guarda, que agora estavam todos gritando, tentando abrir à força as portas da saída de emergência. Não podia deixar que eles fossem feridos.

― A síndrome do herói. ― Dionísio murmurou zombando.

― Você tem a síndrome do bêbado e ninguém te julga. ― Poseidon retrucou, Ares, Apolo, Hermes, Afrodite e Hades riram, Zeus e Hera reviraram os olhos, Poseidon era protetivo demais com os filhos.

Tirei a tampa da espada, corri para o outro lado da plataforma e gritei: - Ei, chihuahua!

Poseidon e Tritão suspiraram, balançando a cabeça.

Anfitrite olhou para o filho e o marido e suspirou também.

A Quimera se virou mais depressa do que eu achava possível. Antes que eu pudesse erguer a espada, ela abriu a boca, soltando um mau cheiro como o da maior churrasqueira do mundo, e lançou uma coluna de chamas bem em cima de mim. Mergulhei através da explosão. O carpete explodiu em chamas; o calor foi tão intenso que quase queimou minhas sobrancelhas.

― Quase? ― Hefesto perguntou.

― Um foguinho desse não queimaria nem as roupas do meu filho. ― Poseidon disse orgulhoso.

Hefesto assentiu, seus filhos também não seriam queimados por um foguinho desses, pelo menos um que só veio o calor neles.

O lugar onde eu estava um momento antes se tornara um buraco esfarrapado na lateral do Arco, com metal derretido fumegando nas bordas. Essa é boa, pensei. Acabamos de soldar um monumento nacional.

― O primeiro a gente nunca esquece. ― Grover comentou brincando.

― O primeiro? ― Atena perguntou parecendo horrorizada. Grover não respondeu.

Contracorrente era agora uma lâmina de bronze reluzente em minhas mãos, e quando a Quimera se virou, eu a golpeei com violência no pescoço. Foi um erro fatal. A lâmina faiscou sem efeito contra a coleira de cachorro. Tentei recuperar o equilíbrio, mas estava tão preocupado em me defender da boca chamejante de leão que me esqueci completamente da cauda de serpente, até que ela fez uma volta e cravou as presas na minha panturrilha. Minha perna inteira ardeu em fogo.

Luke se encolheu em seu lugar, Hermes e Grover segurando cada um um braço dele. Ele sabia que não era o único veneno ao qual Percy teria que sobreviver naquele ano.

Tentei enfiar Contracorrente na boca da Quimera, mas a cauda de serpente enrolou-se nos meus tornozelos e me desequilibrou, e a espada voou de minha mão, saiu rodopiando pelo buraco no Arco e caiu no rio Mississipi. Consegui ficar em pé, mas sabia que tinha perdido. Estava desarmado. Podia sentir o veneno letal subindo por meu peito.

― A situação já é desesperadora e ele ainda consegue ser ainda mais pessimista. ― Poseidon era quem parecia desesperado.

― Lorde Poseidon, isso já passou, Percy sobreviveu a isso, eu juro que ele vai sobreviver agora também. ― Grover disse, mas não deixou de se preocupar com as mesmas coisas, tudo ficaria bem, Percy e Annabeth estavam juntos, Grover quis estar com eles lá também, não queria imaginar os dois sozinhos lá.

Lembrei-me de Quíron dizendo que Anaklusmos sempre voltaria para mim, mas não havia nenhuma caneta em meu bolso. Talvez estivesse caído longe demais. Ou só voltasse quando estava em forma de caneta.

― Ela sempre volta, não importa o quê. ― Poseidon respondeu, isso ele tinha certeza. ― Só demora um pouco mais, principalmente se ela se prender ou quando está sem tampa.

Grover assentiu, fez uma nota mental para não esquecer isso e dizer para Percy, caso ele não já soubesse.

Eu não sabia, e não ia viver o bastante para descobrir. Recuei para o buraco na parede. A Quimera avançou, rosnando e soltando espirais de fumaça pelos lábios. A mulher-serpente, Equidna, gargalhou. - Já não se fazem mais heróis como antigamente, hein, filho?

― Melhores ainda. ― Grover disse, se referindo a Percy, Annabeth, Thalia, Nico e todos os outros que lutaram e ainda estão lutando para salvar o mundo enquanto os deuses estão numa boa no Olimpo não ajudando os heróis.

― E com mais consciência dos erros e arrependidos também. ― Hermes disse olhando para Luke, este que tentou suprimir um sorrisinho.

O monstro rosnou. Parecia não estar com pressa de acabar comigo, agora que eu estava derrotado. Dei uma olhada para o guarda e a família. O menininho se escondia atrás das pernas do pai. Eu tinha de proteger aquelas pessoas. Não podia simplesmente... morrer.

― Não morrer seria bom. ― Apolo disse, ele estava desconfiado do que a frase deixou em aberto, mas preferia não estar certo.

― Nunca morrer seria melhor ainda. ― Poseidon concordou com o deus do sol.

― Sim, mas o gênio do seu filho rejeitou essa proposta. ― Zeus disse ofendido. Hefesto revirou os olhos, esse tinha sido o motivo do Olimpo estar fechado de verdade, Zeus não superou ter recebido um não de Percy Jackson.

― Você parece muito triste com isso irmão, cuidado que Percy pode acabar sabendo que você gosta dele. ― Poseidon disse sorrindo inocentemente. Zeus suspirou profundamente para não responder e começar uma discussão, isso era um assunto que ele não queria discutir.

Tentei pensar, mas meu corpo inteiro estava em fogo. Minha cabeça girava. Eu não e tinha espada. Estava enfrentando um monstro imenso, que cuspia fogo, e sua mãe. E estava apavorado.

Poseidon murmurou algumas coisas com preocupação. Tritão olhava vidrado para o livro, Luke leu o mais rápido possível, no fundo ele estava feliz de ver que pelo menos um dos deuses se importa o suficiente com o filho para demonstrar tão abertamente para todos os outros, mas ele estava estranhando Tritão.

Não havia outro lugar para ir, portanto subi na beira do buraco. Muito, muito embaixo, o rio brilhava. Será que se eu morresse os monstros iriam embora? Deixariam os humanos em paz?

― Eu ficaria feliz se você não falasse da sua morte assim. ― Poseidon reclamou fracamente. Tritão assentindo para as palavras do pai. ― Apolo, se você, como médico só para deixar claro, achar que tem algo preocupante nesse sentido, eu quero que você converse com meu filho, de novo como médico.

Apolo assentiu, ele sabia que não era sem sentido a desconfiança de Poseidon. Ele se lembrava que Percy tinha receio de dormir e sonhar, isso não era um bom sinal.

- Se você é o filho de Poseidon - sibilou Equidna -, então não tem medo da água. Pule, Percy Jackson. Mostre-me que a água não lhe fará mal. Pule e recupere a espada. Prove a sua linhagem.

― Como se Percy tivesse medo de água e de se afogar ou qualquer coisa assim. ― Poseidon disse, a ideia de Percy com medo de coisas relacionadas a seu domínio eram ridículas para ele, principalmente se Percy realmente tivesse medo, digamos, de se afogar, ele se sentiria péssimo, o pior pai olimpiano, mas isso não era possível, certo?

― Eu tenho certeza de que é tão impossível Percy ter medo de se afogar quanto Nico tem medo do escuro ou Thalia de altura. ― Hades disse, pensando em como tudo isso seria ridículo.

― Nenhum deles tem esses medos, parem de falar sobre isso. ― Zeus disse revirando os olhos, ele também achava impossível que os três tivessem esses medos.

Luke e Grover acharam a conversa muito estranha, mas lembraram de Quíron dizendo que os Três Grandes viviam falando coisas aleatórias e tendo discussões sem sentido. Nenhum dos dois resolveu comentar isso.

Sim, certo, pensei. Eu tinha lido em algum lugar que pular na água da altura de alguns andares era como se atirar em asfalto. Dali, eu ia me desfazer em pedaços com o impacto.

― Terceiro indício que ele se importa em estudar e só não gosta da escola. ―Atena disse ignorando Hades, Zeus e Poseidon. Ela assim como todos os outros achavam que eles estavam falando besteira.

A boca da Quimera estava vermelha, incandescente, preparando uma nova rajada de fogo. - Você não tem fé - disse a Quimera. - Não confia nos deuses. Não posso culpá-lo, pequeno covarde. Melhor que morra agora. Os deuses são infiéis. O veneno está no seu coração.

Poseidon e Grover suspiraram cansados, se lembrado da mesma coisa. Percy e a falta de comunicação com seu pai.

Luke não queria mostrar que ainda concordava com isso tudo.

Ela estava certa: eu estava morrendo. Podia sentir a respiração falhando. Ninguém poderia me salvar, nem mesmo os deuses.

― Ele não confiava mesmo depois de saber que era tudo real. ― Hera disse sem saber exatamente o que sentir.

― Caramba, fala o idioma claro, ele não tem fé, ele não acredita nos deuses. ― Luke disse, não conseguindo se controlar.

― Você não está errado. ― Poseidon deu um suspiro triste― E agora eu tenha ainda mais certeza disso.

Mas o deus do mar não falou mais nada, Zeus e Hades olharam para ele preocupados, mas se resumiram a isso, eles falariam com ele mais tarde, quando falariam de Netuno e das visitas que ele fez a Percy quando o herói ainda era um bebê.

Recuei e olhei para a água lá embaixo. Lembrei-me do calor do sorriso de meu pai quando eu era um bebê. Ele deve ter me visto. Deve ter me visitado quando eu estava no berço.

― Sim, eu vi mesmo, mais de uma vez sendo sincero. ― Poseidon confirmou, o olhar dizendo que conversaria sobre isso depois com os irmãos, a memória não era tão boa quanto Percy se lembrava, ele não queria pensar no motivo de sua primeira visita a Percy.

Lembrei-me do tridente verde que aparecera girando acima da minha cabeça na noite da captura da bandeira, quando Poseidon me reconheceu como seu filho.

― E ele te ama. ― Afrodite disse suavemente.

Poseidon assentiu, os ombros ficaram tensos, ele não disse mais nada no momento.

Anfitrite sabia que seu marido queria chorar de alívio, saber disso da boca da deusa do amor era mais que um alívio, ela sabia que algumas atitudes de Percy estavam fazendo Poseidon questionar o amor do filho, ouvir isso, depois de tanto tempo de dúvidas ouvir isso era como tirar o peso do mundo de seus ombros.

Anfitrite abraçou o marido completamente, ele colocou a cabeça no seu ombro. Ele não choraria. Ainda não.

Mas aquilo não era o mar. Aquilo era o Mississipi, bem no meio dos Estados Unidos. Ali não havia nenhum Deus do mar.

― Sim, tem, nosso pai tem nome de deus do mar, mas ele é o deus das águas, toda e qualquer forma de água. ― Tritão explicou suavemente para o irmão que não estava lá. Ele sabia o que o pai estava passando no momento, não queria que o vissem assim.

- Morra, infiel - disse a voz rouca de Equidna, e a Quimera mandou uma coluna de fogo na direção de meu rosto. - Pai, me ajude - implorei.

― Sempre. ― Poseidon disse firme, se ajeitando na sua poltrona.

Anfitrite e Hera deram sorrisos extremamente felizes para isso.

Virei-me e pulei. Minhas roupas em chamas, o veneno correndo por minhas veias, mergulhei no rio.

― Isso é bom. ― Poseidon disse aliviado.

― Ele vai ficar bem. ― Anfitrite prometeu, ninguém sabia se ela queria dizer no livro ou no presente.

― Sim ele vai, ele é tão teimoso quanto você, não vai morrer assim. ― Hades garantiu ao irmão, fazendo seu papel de irmão mais velho.

― Principalmente agora que Zeus quer fazê-lo virar um imortal pela honra dele. ― Deméter disse reconfortante.

― Eu não quero fazer Percy Jackson imortal. ― Zeus negou, nenhum dos deuses pareceu acreditar.

― Espera aí? ― Luke pediu, todos se viraram para ele ― Vocês ofereceram imortalidade para Percy e ele negou?

Poseidon assentiu afirmando.

― Isso deixou meu pai bravo ― Hefesto disse parecendo divertido e chateado ao mesmo tempo ―, e sim, ele quer forçar Percy a aceitar a imortalidade e admitir que é melhor que ser mortal.

― Uau. ― Luke disse, sem realmente ter outra coisa para dizer. ― O capítulo acabou.

― Eu leio. ― Anfitrite disse.
Enquanto Anfitrite caminhava para pegar o livro, Poseidon engolia a vontade de chorar e Luke comia a comida que Héstia deu.


Notas Finais


Eu sei que Luke e Grover estão tendo muito destaque, mas Luke acabou de chegar, na metade do livro ainda, ele não entende algumas referência e Grover tem que explicar algumas coisas a ele, já vou tirar destaque deles, eu sei que alguns deuses estão sem aparecer muito.
Sim, eu estou levando os mitos em consideração mesmo que não pareça, estou tentando humanizar os deuses o máximo possível sem esquecer que eles são deuses, eles agem como criança, brigam e discutem como tal, mas se perceber eles estão agindo como deuses, sem muitos arrependimentos, sem mostrar não saberem de nada, e lembrando que são seres imortais super poderosos que não podem fazer muito no momento já que estão com os poderes muito reduzidos.
No próximo teremos mais do quase quarteto Lukercy, Apolo com ciúmes, Poseidon infeliz que Percy não é muito confiante nele, Grover e Luke tentando explicar os semideuses para os deuses, Apolo tentando decidir o que fazer (mas a resposta de verdade só vai vir lá no livro três ou quatro, que é quando eu espero estar com um comecinho de Apolercy, pelo menos).
Vamos a outro assunto: eu mudei os casais, levando em consideração o que eu achei bom em As Provações de Apolo (meu amor por Jercy e meu coraçãozinho feliz).
Vamos lá, casais, já sabe, né? * são casais eventuais, ou seja, ainda vão acontecer e vamos ver a construção aqui nas leituras (sim, eu vou conseguir fazer isso, eu espero pelo menos):
Poseidon/Anfitrite;
Hera/Zeus;
Hades/Perséfone;
*Hefesto/Afrodite;
Calipso/Leo;
*Percy/Apolo;
*Percy/Apolo/Luke (sim, eu sei);
*Annabeth/Reyna/Piper;
*Will/Nico;
Frank/Hazel;
Não, Thalia não vai ter um par (antes que perguntem), ela vai ser caçadora para sempre.
E uma surpresinha... estou pensando em fazer um trisal dos meus maravilhosos Jason/Nico/Will, mas ainda estou pensando.
Eu já disse para alguém que Apolercy vai ser o casal real oficial final, mas eu quero explorar Lukercy e Apolercy ao mesmo tempo, sabendo que Percy nunca trairia ninguém, eu vou escrever um trisal por um tempo indeterminado, não fique decepcionado(a) por isso, estou avisando agora para não haver decepção e reclamação depois. Sim, isso é spoiler de três ou quatro livros na frente.
Spoiler do próximo livro, quem vai chegar: Perséfone, Percy, Jason, Leo, Annabeth, Piper, Frank, Hazel, Nico, Thalia, Reyna e Tyson. Talvez Will, mas vamos ver.
Eu prometo que vai dar tudo certo, essas minhas ideias mirabolantes.
Espero que tenha se divertido lendo, obrigada por estar aqui.
Até a próxima.


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