História Devaneios de um Fudanshi - Segredos e vaga-lumes

[Kato Kiyoshi POV:]
Acabei me acomodando nas férias na casa do meu, atual, único amigo Jun-chan. Nós gastávamos o dia vadiando. Ele passava o dia sonhando acordado, eu conseguia aos poucos entender o que passava na mente, muito vasta, dele. 
Era uma tarde qualquer de um dia qualquer, eu perdi a noção dos dias, mas julgo estarmos perto do fim de semana, no máximo faltando alguns cinco dias até o sábado, mas como eu disse não tenho certeza. Não faz diferença. Nós deitamos no chão da sala, que estava frio, com todas as janelas abertas e com o ventilador ligado.
–O que fazemos nas férias? Digo, além de morrer de calor?
–Nada - respondeu ele entediado (?).
–O que você costuma fazer nas férias?
–Geralmente a Hotaru arranja alguma atividade em família, eu e ela, de vez em quando minha mãe participa, e a gente brinca. Da última vez nós fomos acampar no fundo de casa. Na anterior nós fomos em uma festa estranha.
–O que você gosta de fazer?
–Comer. Escrever. Ler.
–Formal de mais.
–E você Kiyo-chan? - ele passou a me chamar de Kiyo-chan só porque insisti. - Sua irmã não sente sua falta? Você mal voltou para casa.
–Não quero ir lá.
–Ela é muito bonita, Arina-san - ele suspirou.
–É mesmo - concordei sem nenhum interesse, pensei em algo pra mudar de assunto. Felizmente o Jun-chan não é estupido e mudou por perceber meu tom de voz.
–E você como passas as férias?
–Às vezes eu fico com minha mãe, mas como ela trabalha, eu passo na frente de algum computador, barra lendo, barra passeando pela cidade. 
–Você não tinha amigos na escola anterior?
–Tinha. Digo, tenho - ele ficou em silêncio esperando que eu desse mais detalhes. - Eles não eram tão "amigos", era mais uma "amizade colorida" - ele continuou quieto, esperando mais coisas. Eu não gostava de comentar sobre. - Hm... Você entende o termo?
–Entendo. Prossiga.
–Você não vai conversar enquanto eu não detalhar tudo?
–Não, por isso, prossiga.
–Hm... - retomei o assunto. - Então... Costumávamos fazer alguns jogos entre nós.
–Kiyoshi você é virgem?
–DE ONDE TIROU ESSA?! - fiquei nitidamente constrangido.
–Você tá comentando sobre essas amizades coloridas e jogos. Desculpe se lhe ofende.
–Não sou.
–Como foi? - ele pela primeira vez pareceu interessado.
–Você quer saber com alguma garota ou com um cara?
–Os dois.
Ele não ajuda muito perguntando essas coisas estranhas. Acho que nunca cheguei a contar sobre minhas experiências sexuais com alguém. 
–Foi quando eu completei quinze eu acho. A primeira vez foi com minha 

amiga
. Não sei como descrever... Foi bom. Ela era muito gost... Bonita. A primeira vez com um cara... Ele já tinha me contado que gostava de mim, eu só pensei que seria do mesmo jeito que foi com minha amiga, só que sem peitos.
–Entendo.
Passamos um tempo contando experiências de antigos namoros, o Jun-chan não tinha muito a contar... Ele disse que só namorou uma vez, suas outras tantas paixões nunca saíram do platônico e na vez que ele se declarou, a garota se assustou e saiu correndo. Imagino que tenha sido engraçado! Não passava pela minha mente que tipo de garota ele namorou ou o tipo que ele gostava.
–Gosto das que se parecem frias, que sejam más, não me importo se são mais velhas, têm que ser meiga. Gosto de seios fartos, mas isso não influência tanto.
Todos gostamos de seios fartos, caro amigo.
Já me sentia de casa, hora ou outra, quando a mãe dele não estava, eu jogava minha camiseta pro canto e deitava de bruços no chão. O Jun-chan vivia com o cabelo molhado, ele tomava um banho frio a cada três horas, mas não trocava a roupa escura, foi a primeira vez que vi os braços dele e era só dentro de casa, se fossemos numa vendinha lá perto ele se equipava com a blusa escura.
Decidimos deixar os pais dele à vontade alguns dias e migramos para minha casa. Eu tinha um pouco de ciúmes dele e da Arina, não que ela fizesse por mal, contudo o short que ela usava era larguinho e bem curto, uma regata cavada e bem decotada com o cabelo amarrado como se fosse o maior incomodo.
Minha testa suava sob a franja, no entanto nada prendia ela, minha irmã veio com a brilhante ideia de rapar o resto do meu cabelo, que é já raspado de um lado, acabei ficando ainda mais suado correndo dela.
Fiquei feliz do Jun-chan se sentir a vontade na minha casa, ele tinha tirado a blusa de frio, esta era a maior prova, deitado no chão, e trocado umas reflexões de Jun.
Era legal passar um tempo com a Arina, nós nunca fomos tão próximos. Minha irmã é totalmente pervertida, homossexualmente falando, ela lia aqueles mangás loucos dela cheio de palavras que eu não entendia e repletos de cenas eróticas entre homens.
Jun os encarava assustado sem deixar de ler, totalmente fixado. Peguei um para ler também, algumas vezes eu me assustava com aquilo, alguns eram totalmente sem sentido sobre o sexo gay, outros me davam vontade de tentar... Pode parecer estranho, mas eu pensava no Jun-chan enquanto lia, era ainda mais constrangedor...

[Shampoo: Em algum outro lugar, onde o Sol brilhavam nas ondas do mar.]
[Masaki Hotaru POV:]
Esta noite não dormi. Não cheguei a encarar os fantasmas a noite inteira, mas também não pude encontrar o paraíso dos meus sonhos.
Estou preocupada. Com algo relevante chamado amor.
Sentei-me perto da janela e encarei o mar e a Lua até o astro deixar seu brilho e o Sol tomar conta do dia, foi quando consegui me acalmar e dormir.
Talvez antes do fim eu descubra porque não posso arrancar de mim esse tal amor.
Tão melancólico que nem parece eu.
–Hotaru... Hotaru?
–Hm?! - eu estava escorada na parede cochilando quando ouvi a voz dela me acordando.
Passei os dedos por meus braços que estavam frios e desejei uma coberta.
–Por que não dormiu na cama, Hotaru?
–Eu estava pensando... E acabei dormindo...
–A tarde você dorme mais, vamos comer. 
Ela me ajudou a levantar, eu ainda estava dormindo. Momo escolheu minhas roupas e penteou meu cabelo, mas isso era comum.
Nós duas descemos para a cozinha, onde as garotas nos esperavam. Hoje era o último dia na praia, amanhã de manhã voltaríamos para a cidade.
Com uma tigela laranjada cheia de arroz e ovo, cru, com shoyo e vários outros acompanhamentos discutimos sobre a programação de hoje.
–A gente podia aproveitar a praia! - disse a nossa amiga, dona da casa em que estávamos.
–Eu queria ficar bronzeada - disse a outra.
–O importante é o Luau de hoje!! - Momo estava animada com esse Luau, ela passou a viagem toda lembrando disso.
–Queria saber o que meu irmão está aprontando, nessa época a gente costuma brincar...
–O Jun?! Ele brinca com você?! - perguntou a terceira, a mesma quer tinha dito que "gosta" dele.
–Ele faz muitas coisas comigo, é um ótimo irmão se querem saber! Muito companheiro! 
–Eu queria ter um irmão mais velho... - disse Kaori, a garota que sente atração pelo Jun.
–Não queira, são chatos e fazem bagunças! - disse Aoi, a dona da casa.
–Irmãozinhos são piores! - disse Yuki, a que não tem descrição.
–Sou a única que não têm irmãos? - disse Momo.
–Tecnicamente eu também sou filha única - Jun é apenas meu meio irmão.
–Sempre pensei que você tivesse um irmão Momo - disse Aoi. - Aquele magricelo da classe A e você são o quê?
–Tadinho! - eu acho o Take-chi fofo! - Não diga isso dele!
–É apenas meu conhecido! - disse Momo.
–Não negue suas raízes Nakamura! - disse.
–Falando na classe A, você não estava namorando um garoto de lá? - novamente disse Aoi, eu não sei como ela é sempre muito bem informada. Aposto que tem notícias das férias de todos da escola!! Com todos eu quero dizer quem a interessa.
–Tava, mas não deu certo. Ele já gostava de outra pessoa e não faz sentido eu fingir ser quem não sou - Momo encarou o prato com uma cara triste... Deu um sorriso doloroso pra mim e se levantou - Já acabei de comer.
Ela saiu bem triste da mesa, eu a segui até o quarto em que estava.
–Posso entrar?
–... Está aberta.
–Você está bem?
–Não estou triste pelo Satoshi-kun... Eu nem sei porque fiquei mal por pensar nisso.
–É pelo Takeshi. 
–Talvez seja mesmo.
–Você mudou muito...
–O que quer dizer?
–Hm... Desde que o Take-chi te falou sobre ele... Você não deve se lembrar, mas vocês brigaram muito. Agora você ajudou ele a ficar bem com o Satoshi-san.
–Isso não significa nada.
–Significa sim, talvez eles até tenham se entendido e foi graças a você. Antes você nem pensaria em algo assim! Estou orgulhosa de você!! - pulei nela em um abraço, ela me correspondeu, inicialmente distante e depois voltando a ser calorosa.
–Vamos brincar na praia, como se fosse com o Jun, não quero desperdiçar meu último dia aqui deprimida!
E assim foi, nossa tarde foi bem animada, brincamos de tudo que podíamos. Fizemos um enorme castelo de areia, eu tomei vários "caldos" e a Momo me salvou de vários outros.
Ela também me fez nadar atrás do top do biquíni dela, preferia sem, mas se ela o queria de volta e não poderia negar.
No fim de tarde descansamos até a hora do Luau. Momo ficou o dia todo pensando no que vestir. 
Ela arrumou o longo cabelo preto de um jeito muito elegante, ela penteou parte para o lado bem firme e prendeu com um prendedor de flor todo brilhante, jogou seus fios sobre o ombro e a franja, hoje especialmente, ela deixou cair sobre o rosto. Sua maquiagem era simples e dava um toque especial. Ela colocou uma saia de cós alto e uma blusa justa, com um decote exagerado. 
Eu só coloquei um short e um par de all stars sujos, com uma camiseta desfiada estampada...
A festa era muito mais no estilo estrangeiro que japonesa, em nada se assemelhava a um festival. Momo e as meninas estavam dançando e conversando com vários garotos. Eu me sentei ao lado da mesa de comidas e me levantava a cada cinco minutos para reabastecer o prato.
Tinha no pescoço um colar de flores igual ao da minha cabeça. Algumas moças com saias havaianas e a pele bem bronzeada. Havia vários tipos de garotos lá. Até que um pediu para se sentar comigo.
–Olá, você está sozinha?
–Oi... Isso depende.
–De quê?
–Vim com quatro garotas, mas sim, fui abandonada.
O cabelo dele era curto e castanho, a franja apenas era longa, com as pontas num tom esverdeado.
–Isso acontece sempre! Os meus amigos sempre me largam pra sorte e voltam quando estão bêbados.
–Pelo menos não esquecem de você! - rimos.
–Não é legal lembrarem de você enquanto vomitam como loucos.
–Nós não temos idade para beber, isso ainda não aconteceu.
–Que sorte!!
–Meu nome é Masaki Hotaru.
–Eu sou eu!
–Olá Eu-san - Ele riu. 
Me distraí conversando com ele sobre as férias, ele parecia um estudante do terceiro ano. Seu rosto era bonito e ao mesmo tempo delicado, principalmente pelo nariz fino que tinha. Os cílios eram volumosos, mas não estavam em evidência como os olhos dele, um preto e outro um pouco mais claro. Não sabia se era a luz ou se era mesmo uma heterocromia.
–Você está encarando muito meus olhos, gostou de mim ou achou a cor estranha. Aposto que foi pela cor!
Eu sorri da forma que ele disse.
–Vou dizer que gostei só pra te contrariar.
–Garotinha rebelde! - ele sorriu. - Você quer dançar?
–Não.
–Então estamos indo dançar!
Ele se levantou e sorriu de uma forma convidativa, não dava pra deixá-lo ir daquela forma, senti uma vontade forte de segui-lo e conversar mais, ele era divertido, espontâneo, sorridente. 
–Eu-san, você tem quantos anos?
–Vai me chamar de Eu-san?
–Até você dizer o nome sim.
–Me chame de H-san. Parece mais divertido assim. Mais misterioso.
–Você não respondeu a idade.
–Quase dezoito. Acabei de entrar na faculdade! Aquilo está sugando minha alma! - ele fez uma cara de morto.
–Hotaru? - Momo me chamou.
–Hm? Momo, venha cá!
Não tinha percebido até aquele momento, mas quando ela se aproximou vi que um garoto a seguia. Ele com seu rosto de despreocupado segurando a mão dela parecia abrir meu peito e arrancar meu coração de lá.
–Você está mesmo acompanhada?! Você?!
H-san não conseguiu aguentar e começou a gargalhar da forma que ela falou.
–Somos só amigos, você sabe!
–Por que você não se diverte um pouco? 
–Já estou me divertindo, não se preocupe.
–Aproveite! - ela bagunçou todo meu cabelo e se foi.
H-san colocou os fios no lugar delicadamente e me fez um convite.
–Você também não curte essas festas? Quer andar pela praia?
–O lugar mais distante que meus pés aguentarem!
–Parece que você não gostou de ver sua amiga acompanhada - ele disse pelo caminho.
–Estava tão na cara assim?
–De forma alguma - ele disse ironicamente.
Nos sentamos na beira as ondas, com os pés na água, que as vezes vinha com mais força e molhava a roupa. 
–É a primeira vez que venho à praia. Não sabia que o céu e a Lua clareavam tanto as ondas.
–É lindo não é mesmo.
–Estava pensando... Hotaru-san... vaga-lumes não é? 
–Sim - meu nome se escreve como vaga-lumes.
Ele começou a rabiscar a areia, mas não dei muita atenção àquilo. Ele sorria encarando a areia molhada e contando sobre vaga-lumes.
–Sabe a coisa mais bonita que me aconteceu... Em uma noite natal em que terminei com uma garota que gostava muito, tínhamos feito planos e acabei sozinho no feriado. Estava no escuro do meu quarto olhando a janela quando entrou um vaga-lume. Foi tão linda aquela luz...
–Gosto muito de vaga-lumes, meu irmão diz que eu me pareço muito com eles.
–Iluminando nossas noites escuras e vazias? - ele sorriu pacificamente.
–Como sabe?! - me espantei, ele diz igual ao Jun-chan.
–Seu irmão tem razão, pequeno vaga-lume. Só quem se perde na escuridão percebe quão intensos brilham os vaga-lumes.
Eu olhei o que ele tanto rabiscava na areia e vi um desenho, não muito detalhado de uma criança. Tive a sensação de que ela estava perdida, até que encontrou um vaga-lume. Ao lado, ele ainda rabiscava, mas percebi que agora aquela criança estava encarando sorridente o vaga-lume que o guiava, até onde eu não saberia dizer, entretanto sentia que era até o lugar que a criança desejava.
Se eu fosse aquela criança e aquele vaga-lume me guiasse, desejaria encontrar o coração da Momo. Tão distante... Estou tão perdida que acabei transformando meus sentimentos em tristeza, ainda não consegui deixar de pensar nela...
–Até onde? - perguntei.
–Até a felicidade - sua voz tranquila aliava o peso do meu coração.
–O que é a felicidade? 
–É o que você quiser que seja! É aquilo que não te deixará mais sozinha, pequeno vaga-lume.
–É bem longe...
–Está mais perto do que pensamos. Porém só olhamos aquela distante e não aproveitamos.
Ele tocou a ponta dos meus cabelos, deslizando até meu ombro e voltando aos meus fios.
–Por que você não dá uma chance a felicidade que te acompanha, assim você não precisará buscá-la tão longe.
H-san tocou minha mão na areia da praia, eu me aproximei dele sem pensar em nada. Ouvindo as ondas embalando o momento. Deixei que ele apoiasse seu braço em meus ombros, me aconcheguei em seu peito e ele começou a sussurrar algumas palavras que se misturavam as ondas. 
Sem perceber cochilei.
Acordei e estava de volta ao Luau, na mesma mesa de antes... 
–Será que... Não pode ser... - Eu me levantei assustada, preocupada de nunca tê-lo conhecido de verdade. 
Mas reagindo ao meu movimento algo deslizou das minhas costas. Era a camisa que ele usava sobre a roupa. Uma camisa avermelhada com alguma coisa no bolso...
Uma carta!

Bom dia pequeno vaga-lume,
Sinto ter que deixá-la, mas meu encanto só dura até 0h.
Não me permiti beijá-la, nos lábios. Entretanto desejei fortemente por isso.
Seu rosto tranquilo enquanto dormia era deveras encantador.
Posso desejar revê-la? Posso sonhar com isso?
Com carinho, H.

No verso da carta ele me deixou seu telefone e e-mail. 
Será que eu também poderia desejar revê-lo? Poderia mesmo sentir falta dele?
Eu, que acordei me perguntando aonde ele estaria, o que estaria fazendo, qual o nome dele, acabei me esquecendo dela... Eu sou capaz de esquecer... Dela?! 
–H-san...