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História Deveria ter te amado (Versão Antiga) - Deveria ter lembrado


Escrita por: AnaCCohen e Escritora6523

Notas do Autor


Olá. Como foram de feriado?

Bem, essa é o ultimo capítulo no mundo inferior.
Espero que vocês gostem.

Boa leitura.

Capítulo 10 - Deveria ter lembrado


Nico sentia que um padrão se formava.

Logo após deixar Percy, Nico havia percorrido as ruas da cidade mais uma vez. Ele havia fechado os olhos e deixado que sua alma encontrasse o caminho, mantendo a mente em branco e só abrindo os olhos quando sentiu um cheiro estranho. Inspirando cuidadosamente, ele abriu um olho de cada vez e se arrependeu em seguida. O cheiro de lixo decomposto veio a ele como um soco na cara.

Ele franziu o cenho e parou no meio caminho, paralisado em frente a um beco sujo e mal iluminado. Aparentemente, Nico havia encontrado o lugar que procurava.

O que ele viu não o agradou.

Irritado, ele bufou e seguiu o fio de luz que o guiava, parando em frente a um prédio de aspecto velho; a tinta nas paredes descascava e a porta estava prestes a sair de seu vinco. E se não fosse pelo símbolo de Hades1, um capacete de ouro com chifres alongados pichado na parede junto a uma rachadura em V que se abria e subia pela parede, Nico nunca teria adivinhado.

Ele havia encontrado uma das entradas para o mundo inferior.

Ele se aproximou da parede e encostou sua mão translucida no desenho. O símbolo de Hades brilhou, mas a terra não se abriu como ele havia esperado. Entretanto, agora ele sabia o que fazer. Ele atravessou a parede e parou em frente a uma mesa branca de recepção.

A morte ficava mais estranha a cada segundo.

Ele parou no centro sala e observou o coveiro que continuava como ele se lembrava. Caronte vestia um terno preto sob medida e seu rosto continuava magro e esquelético, como se alguém tivesse roubado sua vitalidade e no lugar tivesse restado algo parecido com um esqueleto coberto por pele humana.

O coveiro se levantou de sua mesa e tirou o fone do ouvido assim que o viu, o saldando imediatamente.

"Senhor Di Ângelo."

Nico piscou os olhos e colocou as mãos nos bolsos, sentindo um peso que há momentos não estava lá. Ele rolou o objeto arredondado entre os dedos e tirou a mão do bolso, observando o dracma de ouro brilhar transparente e lúcido, igual a sua pele.

Estranho.

"Hum... acho que preciso de uma passagem." Nico estendeu as mãos e entregou a moeda ao coveiro.

"Obrigado, Senhor. Seu barco está prestes a sair."

O coveiro aceitou o dracma que se esvaneceu assim que o dinheiro tocou em sua mão.

Acompanhado por Caronte, Nico passou por uma porta alta de madeira e deixou para trás uma fila de almas que esperariam eternamente até que sua vez chegasse. Ele seguiu o coveiro por um longo corredor estreito e parou em frente a um píer com uma balsa estacionada sem nada a prendendo.

Sem piscar, ele sentiu sua mente se nublando com a conhecida sensação de entorpecimento. Não havia nada que ele pudesse fazer, então ele seguiu Caronte com olhos sem vida e observou as águas negras cheia de rostos e pertences perdidos.

“A balsa está pronta para partir.” Caronte disse.

O coveiro deixou o terno se desmanchar em seu tradicional manto preto esvoaçante enquanto entrava na balsa, acompanhado de Nico, os levando para longe e atravessando o rio Aqueronte; o rio das dores onde todos os mortos que por lá passavam deixavam seus sofrimentos e pesadelos para começarem uma nova vida, seja como espíritos ou reencarnações.

Era exatamente o que Nico sentia. Ele olhava para as águas negras e turbulentas, observando cada uma de suas lembranças serem levadas sem dificuldade até que somente o entorpecimento contente restasse a ele.

Eles navegaram e navegaram até que o barco parou com um solavanco na areia fina e marrom avermelhada.

“Aqui é sua parada. Os juízes o aguardam.”

 

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Quando Nico saiu da balsa sua mente estava vazia. Seu corpo deslizou pela terra negra, relaxado, como se todos os seus problemas sumissem e só restasse a paz e farelos de memórias felizes; imagens que sua mente mortal insistia em lhe mostrar de um certo semideus de cabelos morenos, queimado de sol e olhos verdes.

Ele andou para frente e passou pela entrada do Érebo2, avistando o cão de guarda de três cabeças. Cérbero costumava ser dócil com as almas que chegavam, mas demonstrava sua face violenta caso elas tentassem fugir. Por isso, ele andou devagar e colocou a mão em um das grandes cabeças do cachorro, continuando sua caminhada e parando do meio da larga clareira de céu eternamente escuro e de solo coberto por pétalas negras entre os Campos Elíseos e os Campos de Asfódelos.

Em seu estado de letargia, Nico encarou os juízes e se perguntou por que Hades não era o presidente do tribunal, ao invés de deixar que mortos julgassem em seu lugar. O pai em um momento de bom humor havia lhe dito que ‘devido à forte personalidade e senso de justiça, aquelas almas seriam melhores juízes’.

Claro, como se alguém pudesse ser mais justo do que o rei dos mortos.

Ele não percebeu, mas por onde passava as almas amontoadas se afastavam, abrindo caminho para ele, seguindo atrás de Nico até que ele parasse em frente aos juízes que decidiriam o destino de sua alma.

O primeiro era Minos, o juiz que tinha o voto decisivo. A seu lado estava Éaco que julgava as almas europeias, Radamanto vinha a seguir, julgando as almas asiáticas e na ponta central estava Hades, o rei dos mortos. Ele era conhecido por não interferir no julgamento, a não ser em raras ocasiões, sendo apenas uma testemunha.

"Ah! Nico de Ângelo, filho de Hades... É um prazer revê-lo. O que o traz aqui?" Minos lhe disse animado.

"A morte." Nico disse sem entonação, mas se ele pudesse o tom atrevido estaria lá.

"Ah, sim. A morte. Mas ela não parece lhe cair bem. Ainda há muita vida e determinação em você." Minos anunciou orgulhoso para todos os presentes. "Esse julgamento não seria necessário, pois eu enquanto morto, há tempos tendo meu julgamento em justiça te sentencio aos Campos Elíseos ou... a reencarnar. Pense bem em sua resposta, semideus."

"Reencarnar...?" Nico disse por fim, perdido, balançando a cabeça em seguida, tentando focar sua atenção. A morte já tentava prendê-lo, como a qualquer outra alma. "Não, obrigado... senhor."

"Como juiz supremo, acato sua vontade, mas saiba, o que está feito não pode ser desfeito sem consequências." Minos bateu o martelo e sentenciou "Julgamento de Nicollo Di Ângelo - Campos Elíseos.” 

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Nico segurava uma flor de cor verde e lilás e de fragrância desconhecida com dedos leves e finos, tremulos. Ele a girou na palma da mão, mas logo perdeu o interesse, a jogando para o lado e observando as pétalas caírem ao chão junto a tantas outras enquanto vagava pelos Campos Elíseos, caminhando por suas montanhas verdejantes, bosques iluminados e terras férteis.

Ele pensava não ser capaz de sentir mais nada, mas tudo parecia tão... feliz e quieto. Pensava que a morte seria como uma droga o dopando e roubando qualquer sensação que pudesse lhe restar, mas ali estava ele, cercado por almas feliz e plantações extensas que pareciam sumir no horizonte e se perder de vista.

Aquele não era o lugar que Nico buscava. Ele, então, decidiu explorar outros cantos do submundo, sendo os Campos de Asfódelos o próximo ponto.

Ele andou até a entrada de sua prisão feliz e esticou os dedos, testando a barreira mágica e os pousando sobre a camada de consistência liquida. Sua mão passou pela barreira e seu corpo o seguiu, surpreso com o impulso. Nico não questionou e continuou seu caminho, atravessando a ponte para os Campos de Asfódelos.

Os campos de punição não era tão diferente do paraíso, almas andavam pelos cantos sem uma direção certa e olhavam para o horizonte com aquele olhar perdido que ele tanto conhecia. A única coisa diferente era o olhar triste e distante naquelas faces. Nico então seguiu seu caminho e continuou a andar pelos cantos do Érebo, observando o céu do submundo brilhar como pedras preciosas no fundo de uma caverna notando o quão bonito aquele mundo era. Nunca entendeu o desprezo pelo reino de Hades, aquele lugar era como qualquer outro; algumas partes eram bonitas e outras nem tanto, o que não deixava de ter o seu próprio encanto. O único inconveniente era o Tártaro. Mesmo morto, aquele era o lugar que ele não se atreveria a voltar. Não se ele pudesse evitar.

Nico deu meia volta e se afastou da entrada para o fundo do abismo, deixando que seu corpo o levasse para longe dali e parasse em frente ao palácio de Hades.

 “Seja bem vindo ao palácio, Sr. Di Ângelo.” O guarda que guardava os enormes portões de carvalho negro disse, o saldando com uma reverencia exagerada.  

Então ali estava ele, chegava enfim à casa do pai. Aquele deveria ser o lugar certo se fosse pela reação de seu corpo que o levava para frente e o fazia percorrer os corredores tantas outras vezes visitados, o dirigindo diretamente para a sala do trono.

Ele se perguntava o que ele, Nico, morto e sentenciado, estaria fazendo ali. Ele não poderia se lembrar mesmo que quisesse, mas sentia que quando o momento chegasse, ele saberia o que fazer.

Nico inspirou e fechou os olhos, apenas os abrindo quando escutou a voz profunda e suave de Hades o chamar, divertido com um ar de deboche.

"Há alguma coisa que você queira me dizer, Nico?" Hades perguntou sentado em seu trono de mármore negro, apoiando a cabeça nas mãos, tentando manter as feições serias. Até Nico em sua morte via que o deus fazia força para não gargalhar. Ele sentia como se tivesse perdido alguma aposta, mas ignorou. Ele precisava fazer isso. O que isso era, ele ainda não sabia.

"Eu quero dizer alguma coisa...? Huhm... e-eu..." Ele olhou para a parede e franziu a testa, quase podia se lembrar... só mais um pouco... quase...  respirou fundo e falou. "Eu quero... alguma coisa. Talvez...?"

"Você quer, é?" Hades indagou, indicando com a mão para ele se aproximar. "Sente-se ao meu lado, filho."

Era uma ordem e, Nico como uma alma, obedeceu sem hesitar. Ele não tinha qualquer impulso em contradizer o pai, aquele que tinha influencia e poder sobre ele. Nico era apenas mais uma alma em seu reino.

"Oh, não pense assim. Você é importante para mim. É meu filho."

"Eu sou?" Nico perguntou. Ele olhou para Hades com os olhos bem abertos e se inclinou para perto do pai, com vontade de encostar a cabeça em seu ombro. Ele se sentia confortado e em paz pela primeira vez, até feliz se ele ousasse dizer.

"Sim, você é. Eu sei o que você quer e o que precisa." Hades disse, acariciando os cabelos cumpridos do filho. Ele tinha orgulho do que Nico havia se tornado. Apenas gostaria que Nico não precisasse continuar a sofrer. "Reencarnar é o que você quer, mas não da maneira que outros poderiam pensar. Você quer uma segunda chance, certo? Mas... pense bem, você não iria preferir ficar aqui comigo e ser meu braço direito? Você teria um trono, imortalidade e poderes infinitos."

"E-eu quero?..." Nico pensou alto por um momento. Era difícil se concentrar com Hades tão perto. Tudo o que ele queria fazer era agradar e ficar perto de seu mestre.

Hades, suspirando, levantou uma mão e tocou na face do filho.

No momento seguinte, Nico pulou do altar para longe de Hades. Ele não podia acreditar que estava sentado no colo do pai feito uma criancinha obediente. Desviando o olhar, Nico se ajoelhou aos pés de Hades e disse: "Sim, é isso que eu quero, Pai. Aceito qualquer punição e consequência."

"Você não prefere raciocinar um pouco antes que a nevoa da morte volte a nublar sua mente?"

"Não, eu já me decidi."

"Pois bem, minha proposta continua válida. Ela estará eternamente. Eu posso esperar." Dissipando sua magia sobre Nico com um erguer de mãos, Hades voltou a discursar enquanto a mente de Nico voltava a seu estado anterior. "Agora, quero que você relaxe. É importante para que sua transição e nascimento aconteçam sem acidentes. Quem não vai ficar feliz é Perséfone. Talvez, só talvez, ela concorde em te conceber. Assim, eu não a trairia certo de que..."

A mente de Nico não parecia mais estar presente. Ele ouvia o pai contentemente, mas nada fazia sentido. Ele estava em algum lugar agradável de sua mente e poderia continuar ouvindo o pai pela a eternidade que ele estaria satisfeito.

"... ela. Com a influência certa, tenho certeza, ela vai aceitar. Provavelmente. Você não permanecerá mortal por muito tempo, mas para o tempo dos humanos, será o suficiente. Você está pronto?"

"Sim, senhor."

"Que sua vontade seja feita. Agora, siga seu caminho e não se preocupe. Você vai saber para onde ir quando for a hora certa."

Hades se levantou de seu trono e andou em direção a Nico. Ele abraçou Nico bem apertado e voltou a colocar a mão nos cabelos do filho, a diferença é que dessa vez elas brilharam ao fazer contato de pele na pele. "Um pouco mais de benção não seria ruim, certo? Espero que dessa vez você viva um pouco mais do que o esperado."

 

1 imagem do símbolo de Hades - https://fenixdefogo.files.wordpress.com/2012/11/hades-helm1.jpg

2 nome do reino de hades, não confunda com o nome do deus.


Notas Finais


1 imagem do símbolo de Hades - https://fenixdefogo.files.wordpress.com/2012/11/hades-helm1.jpg

2 nome do reino de hades, não confunda com o nome do deus.

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Então? Eu agradecia se vocês pudessem comentar.

Obrigada por ler.


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