História Devilian: O Conflito - Interativa - Perseguição!

Mytorch Sebah cavalgava o vento fugindo dos homens de preto, quando chegou a alameda que levava a entrada do colégio se deu conta de que não estava mais sendo seguido, porém, havia um problema que não seria tão fácil de contornar: sua nova aparência. Ficou menos preocupado ao perceber o vazio das ruas do vilarejo naquela noite, pôde andar sossegado enquanto pensava no que fazer, foi até sua casa e entrou pelos fundos pulando a tela de proteção de altura elevada, notou que trabalhos físicos eram facilmente realizados por seu novo "eu", para testar a agilidade marchou até os sacos de areia que pendurara nos galhos e nunca conseguira atravessá-los do primeiro ao último, balançou-os e esperou o momento propício, avançou arrancando terra do solo, concluiu o percurso sem o mínimo esforço, estava diferente, sentia-se poderoso, lembrou do longo caminho percorrido do esconderijo da sociedade secreta até a saída do bosque, jamais teria vigor físico para fazê-lo, não tinha noção do que acontecera, mas viu que aquilo era bom.

—Aaah! Um demônio… socorro!— o grito de Haz Sebah rompeu o silêncio —socorro, me ajudem!

    A mulher continuava a clamar por ajuda de dentro da residência, caminhava até a botija de água quando deparou-se com a imagem do monstro de chifres anelados e cabelo como uma fogueira incandescente pela janela da cozinha, os vizinhos subiram a cerca para descobrir o motivo da gritaria e também viram o rapaz que não sabia o que fazer, ficou alí ouvindo as exclamações exasperadas:

—Um demônio!

—Vamos matá-lo!

—Volte para as profundezas de Gehenna, miserável! 

    No entanto, nenhum lhe pesou tanto quanto o de sua mãe:

—Suma daqui, monstro repugnante! Ser vil e desprezível!

    Mytorch Sebah cerrou os olhos e apertou os punhos, teve raiva de sí mesmo por permitir que aquilo acontecesse e mais raiva ainda por Dr. Kapops que lhe deixou com tal aparência por conta de seus experimentos maléficos, o rapaz fugiu antes que lhe atacassem com o zax, pulou inúmeras cercas até se enrolar em lençóis pendurados no varal de uma casa qualquer e cair sobre o gramado, chamando a atenção de alguém:

—Invasor!— alertou Fadwa Nuriya, entrando em posição de combate —Diga quem és ou tostarei tua pele com minhas chamas.

    Não obteve resposta, então acendeu na palma das mãos uma pequena chama esférica caminhando rumo ao garoto imóvel.

—Último chance: quem és tu, invasor?

—Mytorch Sebah— revelou, levantando-se ainda sob os lençóis.

—Mytorch Sebah?— indagou, não ligando o nome a pessoa, depois de buscar no fundo da memória lembrou: —Oh, sim. O ruivo que espancou Hinomito há poucas semanas, Hehe. Aquele garoto abusado bem que merec…

    Antecipando o término da fala de Fadwa sua irmã puxou os lençóis de uma vez sem que Mytorch percebesse, revelando assim sua aparência desagradável, a jovem de olhos de águia franziu a testa e tratou de atacar o desconhecido sem aviso prévio lançando as esferas de fogo em sequência e alvejando a pele do adversário que, de forma inacreditável, parecia não sofrer dano nenhum. 

—Pensou que enganaria a mim, monstro horrendo? Está completamente errado.

    Eram muitas as esferas disparadas, Mytorch apenas protegia o rosto sem perceber que era invulnerável aos ataques da garota que também não eram tão fortes, por fim cansou e cessou o fuzilamento.

—Merda, nem ao menos arranhou-o— arquejou Fadwa, desabando no gramado ao lado da irmã.

    O "demônio" levantou a cabeça ao notar o fim do ataque, olhou atentamente seu corpo em busca de ferimentos e, surpreendentemente, não encontrou, nem aos menos uma micro queimadura, nada. Retirando-o da perplexidade veio o berro do Sr. Nuriya amparando a neta desfalecida, Mytorch evadiu-se novamente logo após furtar do varal um sobretudo marrom com capuz que usaria para ocultar sua nova aparência. Se viu numa situação jamais imaginada nem pela mente mais engenhosa de Devilian, seria castigo dos Deuses ou uma provação, escolheu a primeira opção, blasfemando aos céus:

—Sephirota, deusa de merda nenhuma! Deixaste isto acontecer a mim que sou filho de tua serva mais fiel, Haz Sebah. Para mim tu não existe, e, caso exista, és uma vergonha por permitir isto acontecer a mim… esta noite, perante esta lua colossal, te renego e desafio a tua onipotência!

    Ventos negros sopraram trazendo o calafrio que Mytorch sentiu ao ser tocado pela morte, nos céus as nuvens eram dissipadas deixando a vista limpa e esclarecida, na terra as folhas caídas balançavam no ar numa espécie de dança descoordenada,  Mytorch Sebah teve na consciência um mal presságio, algo estava por ocorrer repentinamente e precisava agir rápido, num ato de puro reflexo esquivou do tiro originado a partir de poucos metros das suas costas, era aquilo que havia pressentido, virou-se cerrando os punhos e encontrou Dr. Hiikas Kapops a frente de um grande contingente de subalternos armados, mesmo com suas recém adquiridas habilidades não era páreo para tantos inimigos, apelou para o diálogo:

—Novamente tu— observou Mytorch, apontando o indicador, terminado em garras agudas similar aos dedos restantes, em direção ao cientista —veio para apanhar mais?

    Kapops avançou alguns passos acompanhado de Kalolis, trazia na face uma feição calma e despreocupada, pronunciou-se a Mytorch com voz macia:

—Não venho até ti com intenção de pelejar, nativo. Sabemos bem que és espécime de força sem igual e não tenho planos de sair ferido outra vez. Apenas desejo propor-lhe um acordo justo para ambos.

—Prossiga— exigiu o "demônio" sem baixar a guarda um segundo que seja.

—Pois bem, o que tenho a oferecer-te é devolver vossa antiga aparência, em troca, quero que me acompanhe a colméia para examinar tua constituição celular, somente isso. Garanto que nada de mal te ocorrerá!

    A proposta de Dr. Kapops pareceu tentar o rapaz que baixou a cabeça pensativo, algo no subconsciente lhe dizia para não confiar no homem perante ele, e confirmou a desconfiança em poucos segundos, tentando aproveitar-se da distração do espécime o cientista arrancou a arma de um dos homens de preto e apertou o gatilho sucessivamente sendo imitado pelos demais, logo Mytorch se viu encurralado pelos projéteis disparados, elevou a agilidade ao extremo desviando e esquivando de muitos tiros, no entanto, não de todos, poucos acertaram-no, o suficiente para rasgar parte do sobretudo e ferir-lhe suavemente a pele aparentemente impenetrável, enquanto recarregavam seus cartuchos Mytorch Sebah escapou do local fugindo para o interior da penumbra da floresta ocultando-se lá.

—Preciso informar todos da existência destes seres aqui no vilarejo— Pensou Mytorch, correndo por entre as árvores.

    Enquanto isso os homens de preto aguardavam ordens de Kapops:

—Devemos seguí-lo, senhor? 

—Sim, mas, não com esses trajes, analisei uma grande movimentação vinda daquele sentido, são os nativos, mesclem-se à eles assumindo sua forma— ponderou Dr. Hiikas Kapops. 

            ////

    O luar atingia seu ápice de brilho banhando os casais apaixonados que presenciavam o espetáculo com seu reflexo prateado. De longe os "sem par" curtiam o desenrolar da noite e paqueravam uns aos outros livremente, pelos cantos jovens se beijavam intensamente e os mais animados adentravam a parte escura da floresta com segundas intenções. Kazidime flertava exageradamente com Hinomito, o rapaz considerado por ela o galã do colégio, era atirada e não ocultava o interesse ao se jogar sobre Hinomito, ele não parecia estar confortável com a situação e por vezes tentou desvencilhar-se da sanguessuga que mantinha-o alí a desagrado, Ohbinam e Yunamih riam da ridícula cena exposta à todos, todavia, Dinagre permanecia no seu canto sentindo-se culpada pelo que dissera ao pai anteriormente, saindo do seu mundo subconsciente ouviu passos vindos em sua direção e uma voz rouca de um rapaz que lhe estendera a mão direita para cumprimentá-la:

—Jonkai Magnum, ao seu dispor— apresentou-se cortês, beijando suavemente a delicada mão da garota —Posso saber vosso nome?— completou, percebendo o exitar dela.

—Ah, desculpe-me!— pediu, desatenta —Sou Dinagre Mi-han. 

—Sem problemas, Srta. Dinagre. A propósito: belo nome, linda mulher!

—Obrigada— agradeceu avermelhada —Pode me chamar apenas de Dinagre, certo?

—Como preferir, minha cara.

    A conversa entre os adolescentes fluía naturalmente, Dinagre Mi-han estava cada vez mais a vontade esquecendo os problemas de casa, Jonkai era realmente galanteador, Ohbinam ficou feliz em ver a amiga enfim se divertindo. Jonkai era dono de uma lábia incomparável, tinha perfeita noção do assunto certo à ser dito a qualquer garota, em pouco tempo de conversa conquistou a confiança de Dinagre, os dois então caminharam para um canto afastado onde teriam um momento à sós. 

—Minha Dinagre, não suporto mais ter teus lábios tão próximos e não poder juntá-los ao meus, necessito disto tanto quanto os cerolais de água para viver. Dê-me a chance de beijá-la e te levarei ao êxtase máximo!

    Jonkai Magnum aproximou os grossos lábios aos de Dinagre e a beijaria, neste instante Mytorch Sebah surgiu da escuridão encapuzado, acabou por esbarrar contra os dois derrubando-os.

—Está cego, idiota?— indagou a garota, levantando auxiliada pelo companheiro.

—Fujam daqui e avisem os outros, existe uma sociedade secreta vivendo no bosque, temo que sejam aliens…

    Mytorch tentou explicar os fatos, porém fora interrompido por Jonkai:

—Haha, aliens? Então temos aqui um ancião supersticioso, todos sabemos que a noite de super lua é tão normal quanto as outras, imbecil. Pegue teu sobretudo horroroso e suma daqui, velhote! 

    Mytorch Sebah agarrou o pescoço do jovem com apenas uma das mãos erguendo-o a meio metro do chão, apertando a garganta e obstruindo a respiração, em seguida, acatando os pedidos desesperados de Dinagre, soltou-o, Jonkai Magnum caiu tossindo e respirando profundamente, então fugiu aos berros para onde os outros estavam, deixando Dinagre Mi-han sozinha com o desconhecido, Mytorch ouviu estalos ao longe, aproximava-se o inimigo. 

—Merda, estou sem tempo— praguejou, olhando fixamente a imóvel Dinagre —Tu virás comigo!

    Mytorch Sebah agarrou Dinagre Mi-han levando-a nos braços, partiu em disparada para fora da floresta por um caminho conhecido somente por ele, a adolescente se debatia tentando escapar, mas o encapuzado tinha muita força para ela, nas mãos então carregou seu zax, disparou duma vez uma corrente elétrica pulsante contra a face dele, retirando seu capuz, Dinagre viu a face do "demônio" que nem sentiu o golpe, desmaiou.