História Diário de um sobrevivente - "Lembranças"

Capitulo 7

A porta com a pintura desbotada e o cheiro de grama molhada levou-me aos meus pesadelos passados. O cheiro do whisky, os choros, o som agudos dos tapas se intercalando com os graves dos socos.... Faz tanto tempo mais ainda consigo escuta-los, como se estivessem acontecendo naquele exato momento.

Não conseguia conter as lágrimas...

-Indiana você esta bem? 

O som da voz doce de Verônica fez com que eu secasse as lágrimas do meu rosto, mas não consegui disfarçar a dor da minha voz.

-Sim – Sua voz ficou tão perto quanto seu corpo colado ao meu em um abraço apertado.

O rosto calmo dela e seus braços em volta de mim me dizendo que já passou. Fizeram com que eu voltasse ao presente, a carnificina que estávamos vivendo.

-Vamos procurar outro lugar Indiana.

-Não, aqui eu conheço todo o lugar vamos ficar e também não vai dar tempo para procurar outro abrigo, o sol já esta se pondo e logo vai escurece.

-Você esta certo Indiana, vamos logo então!

Olhei para seus olhos encarei a porta e consegui encosta no trinco sem que  meu corpo estremecesse. A escada estava empoeirada junto com todo o resto dos móveis, as fotografias da família pela parede, a réplica da modelo de costa de Seurat que eu tanto amava estava em cima da lareira junto a uma porta retrato manchado de sangue com uma fotografia minha... Possivelmente sangue de quem mais eu amava.

-INDIANA! ME AJUDAAAAA!

O grito da Verônica vindo da cozinha me despertou corri e vi meu padrasto encima dela suas roupas cheias de sangue, o cheiro da carne putrificada corria em meus pulmões, segurando as vestes dele.

O joguei para longe dela seus olhos brilhando com as lágrimas correndo me deixaram mais perto do meu passado.

-Não vou deixar que nada acontecer com você Verônica. Nunca!

O grunhido e o cheiro estavam mais perto, seu rosto rasgado por unhas e seu nariz arrancado por algumas mordidas e seu único olho já branco encarando-me fizeram com que o acertasse com a barra de ferro que estava perto da Verônica. O golpeava com tanta força que fizera seu sangue coagulado espirasse sobre meu rosto, toda a raiva que se encontrava trancada dentro de mim fora liberada com turbilhão de força, já não conseguia parar de bater no seu crânio esmagado pelo ódio e a raiva.

-Indiana, ele já morreu. Calma.

O toque das mãos quentes e a voz que me acalmava me despertaram, mais uma vez. As lágrimas em meu rosto o ódio que me consumiam, eram afastados aos poucos através do toque dela. E eu não sabia o motivo.

 -Indiana, não sei nada do seu passado mais se mantenha calmo... tudo que precisamos agora e de mantemos calmos. Vem eu te ajudo tirar ele daqui.

Seu corpo era passado difícil de conseguir levar, mais juntos conseguimos leva-lo até ao lado de fora da casa.

-Já está escurecendo, melhor começarmos a bloquear as janelas e portas Verônica.

Seus olhos eram tão brilhantes que mal conseguia parar de olha-los.
Pegamos tudo o que tinha de objeto para conseguir bloquear cada passagem da casa, quando a única porta que não tinha ido era do quarto da minha doce mãe. O sangue arrastado mancando o caminho até porta do quarto como um mapa do terror.

"Queria muito conseguir parar de tremer e abrir a porta logo, mas não era tão fácil quanto imaginei estar do lado de fora do quarto com as marcas de sangue seguindo até o lado de dentro"

-Indiana você quer mesmo fazer isso?

"Meu estômago revirou e um medo que não tinha sentido ainda tomou conta de cada espaço do meu corpo quando lhe respondi."

-Eu preciso Verônica, eu preciso saber o que a lá dentro...

Minhas lágrimas foram bloqueadas pelo suspiro e a porta se abrindo...
A poeira tomava conta de cada centímetro quadrado do quarto, a velha cama dela estava feita como ela sempre fazia, o abajur com flores estampadas, e os remédios no criado mudo, era como se nada tivesse mudado, até ver a cadeira de balanço enfrente a janela.

Minhas lágrimas corriam e meu coração acelerado querendo sair voando do meu tórax me deixando mais nervoso e desarmado, seus cabelos grisalhos se misturando as que ainda eram negros caindo sobre seu rosto, sua pele branca que antes se encontrava corada já não expressava mais seu semblante alegre quando me via. Em suas mãos uma foto minha de quando era apenas uma criança, com uma escrita atrás.

 “Meu filho mais que amado da minha vida, espero que esteja bem, saiba que te amo muito, queria conseguir ser forte mais não consigo mais suportar tudo isso, filho tenho muito orgulho de você, te amo muito isso não e um adeus. Ass. Mamãe.”

“Queria poder parar de chorar e ter vindo antes de tudo isso acontecer mais fui egoísta, como sempre. Mãe eu também te amo muito, queria ter conseguido ser muito mais que tudo isso que sou, queria poder ter sido um filho melhor, um filho de verdade."

-Indiana você está bem?

-Acho que sim Verônica...

-Já, faz quase duas horas que você está aí sentando em frente a porta do quarto, e nem se quer falou comigo...

-É que...

-Não diga nada indiana, eu sei bem o que você está sentindo, um sentimento de culpa e raiva.

-Isso Verônica, é isso que estou sentindo, culpa por não estar aqui quando ela precisou e raiva por não ser um filho melhor.

-Indiana, não vai adiantar fica assim, você não tem culpa de ter acontecido isso, não sabia que iria acontecer e mesmo que soubesse não iria conseguir ajuda lá, existem coisas inevitáveis coisa que não tem como mudar mesmo que voltasse no tempo não iria conseguir mudar o que tinha de acontecer, sabe o mundo não vai parar de girar só por que está triste, nem eles vão parar de tentar nos fazer de prato principal, tenho certeza que ela não iria gostar de ver você assim. E Indiana tenho certeza que ela tinha muito orgulho de você.

"Seus olhos brilhavam como o sol, e as lágrimas corria como uma nascente sobre seu rosto, não sabia o que tinha acontecido com ela mais sabia que ela tinha passado algo bem maior do que eu."

-Vem Indiana, preciso de ajuda com as janelas.

"Seu sorriso me fez sorrir e suas mãos estendida me fez ver que ela teria muito orgulho de mim e que eu estaria fazendo muito mais do que ela esperava, estava sendo um homem de verdade como o que ela esperava."

-Obrigado, não teria conseguido chegar até aqui sem você, vem vamos lacrar esse lugar antes que eles entrem.

Depois de quase uma hora as janelas e a porta estavam lacradas, não era a casa inteira mais já era um início.

-Verônica pode fica com o sofá, eu durmo no chão mesmo.

"Seu semblante doce olhando-me foi à coisa mais doce que vi o dia todo, era como olhar para esperança, um pouco maliciosa mais era algo bom."

-Não, Indiana você não vai dormir sozinho no chão.

"Meu coração disparou e não sabia o que dizer, será que ela vai querer que eu deitasse com ela? Ou será que ela está só fazendo gracinha mesmo?"

-As batatinhas e os ácaros vão te fazer companhia. – a gargalha foi imediata.

"Odeio cair nessas gracinhas, mais ver que seus lábios tinham achado graça  já me confortavam, só espero que minha renite não ataque."

-Gracinha! Já pensou trabalhar no circo? Por que você seria uma estrela!

"Sua tentativa de ser comediante eram contagiante, seu cheiro era único e seu jeito me tomava cada vez mais, pena que não tinha coragem de falar tudo isso para ela"

-Obrigada! Eu sei que sou uma gracinha mesmo!

-Palhaça!

-Foquinha!

-Mulher barbada!

-Que estou com barba?

-Não! Está...

Ela chegou bem perto do meu rosto com o seu quase que encostando os seus lábios nos meus e sussurrando me perguntou...

-Eles estão como para você Indiana?

-Que? Quem? Como?

-Você fica uma gracinha sem jeito sabia? Vamos dormir, antes que eu ataque você... Só que não!

"Jesus! Assim um dia ela me mata!"

-Bons sonhos indiana! Obrigada por até aqui ter me ajudado! Você é um amor. Mesmo quando está sem graça e vermelho!

-E... Sim, eu que agradeço, sem você acho que já tinha virado um deles, obrigado Verônica. Boa noite.

"Queria ter coragem para dizer o que eu sinto de verdade Verônica"