História Diário de uma Iniciante em Champions League - Fernanda - Pelo amor de William Bonner!

Quando visualizei o rosto de Rodrigo... Vi o sol colidir com sua pele quente. O rosto iluminado pela luz. Criava uma aura quase sobrenatural. 

Fernanda Medeiros e Adelina Barbosa, Triângulo de Quatro Lados.

***

Preciso confessar uma coisa pra você.

...Quando tinha sete anos, apesar de gostar muito de futebol, eu tinha o sonho secreto de uma profissão em especial. Nunca compartilhei isso com a minha família porque eu provavelmente iria apanhar de ítalo e Maurício. Eles iriam fazer sacanagem comigo até eu pedir arrego. E eu ia acabar por pedir, eventualmente. Por isso eu nunca contei isso pra ninguém. É que uma parte de mim queria trabalhar com algo relacionado a esportes, que era a opção mais fácil e já esperada pela minha família e também, a maior parte. Definitivamente era o plano A. Mas, secretamente, eu também queria ser atriz. Fazer novelas, filmes, participar de comerciais e estar sempre linda nos programas. Sabe, esse era só o plano B. 

Que bom que o A deu certo.

Lembro-me de assistir a novela O Rei do Gado com minha família e sonhar em ser tão bonita quanto a Lavínia Vlasak. Queria dar as entrevistas, como ela, e vestir seus vestidos. Obviamente, é meio constrangedor falar disso quando eu vejo as fotos dessa época, hoje. Mas, só para constar, roupas bregas eram a sensação, naquela época. Ninguém te julgava se você saísse com um macacão jeans muito maior que você e um tênis branco corretivo com os cabelos presos em diversas gominhas coloridas e sombra roxa. Era uma coisa normal.

Absolutamente normal.

De qualquer forma, eu prefiro trabalhar e ficar onde não hajam câmeras apontadas para mim o tempo todo, e eu não precise decorar nada. Por isso eu fico na redação. Mas, desde o final da Copa, comecei a participar mais da televisão. Primeiro, em alguns programas menores. Entrevistas sobre os jogos, jogadores, etc. Sempre tive cautela com as perguntas, e me esforcei ao máximo para dar as respostas que eu queria dar, não as que os jornalistas queriam ouvir. E coitados dos que pensam que eu sou meio tapada e que, por isso, vão me pegar.

Mas agora, eu já participei do Esquenta e nesse momento, estou sentada na lanchonete do Projac. Sim. Do Projac. E sim, eu liguei pra minha mãe pra falar “MÃE, TO NA GLOBO”. Porque era outro desejo reprimido. Eu acabei de sair do programa Encontro com a Fátima Bernardes e isso dispensa comentários, porque se William Bonner é o rei dos jornalistas, a Fátima Bernardes é a rainha. Definitivamente.

Quando entrei no programa e a vi, eu senti minhas pernas tremerem quase tanto como elas tremeram quando me encontrei com David pela primeira vez. Quase. ELA ENCOSTA NO WILLIAM BONNER. Isso já é motivo suficiente para me fazer perder o controle. E ela foi um poço de simpatia comigo e parece que deu tudo certo no programa. Não tropecei. Não bati com o microfone na minha boca. Ela não fez perguntas sobre o David. Foi tudo muito lindo. Eu amei. Não tenho comentários a fazer. É um sentimento lindo. De realização.

Ah! Mas eu estava falando que eu estou no restaurante do Projac... Sei que aqui deve ter todo o tipo de comida possível e o cardápio é enorme. Porém, no momento, tudo o que eu preciso é de Nutella. E é por isso que eu tiro o pote de Nutella de dentro da minha bolsa. Sim, eu ando com um pote de Nutella dentro da bolsa. E uma colherzinha, claro, para comer a Nutella. O caso é que eu estou muito nervosa. Tenho todo o direito de comer Nutella direto do pote em lugares públicos. Sabe por quê? Porque o David ainda não me ligou. Ele disse que iria assistir o programa. Eu o lembrei ontem, ele me garantiu que assistiria. E até agora, nada. Eu até cortei meus cabelos para tirar as pontas feias. Hidratei. Paguei uma nota naquela hidratação que o cabeleireiro jurou que fazia milagres. Até mesmo clareei as pontas, um pouquinho. Passei mais maquiagem que o normal. Só para estar bonita quando ele me visse.

E nem isso.

Puta sacanagem dele. Falta de consideração. Estou puta. E por isso, coloco mais Nutella na minha boca.Todas as meninas me mandaram mensagem, menos ele. Ainda não entrou no whatsapp. E eu coloco mais uma colher cheia de Nutella enquanto encaro a tela do telefone, apagada. Como é aquele livro mesmo? O Segredo? Se eu pensar muito que ele vai me ligar agora, será que ele liga?

Liga. Liga. Liga. Liga. Liga. Liga. Liga. Liga.

Parei. Levo a mão até a cabeça e lambo meus lábios, sujos de Nutella. Quem se importa? O David ainda não ligou. Ele não deve nem ter visto. Deve estar lá, em Paris, hidratando o cabelo dele com o creme rosa da Victoria Secrets dele. Ou jogando vídeo game. Ou fazendo qualquer coisa, menos lembrar que eu existo. Enfio de novo a colher no pote, dessa vez, coloco muita Nutella, porque eu estou muito chateada, e coloco tudo na boca, de uma vez. Problemas. Quem se importa. Até parece que o William Bonner vai me ver aqui.

-Com licença. - Escuto uma voz e vejo, com o canto dos olhos, o tronco de um homem parado na minha frente.

Fecho os olhos e me recuso a olhar para cima. Aquela voz é reconhecida em qualquer lugar do mundo. Ai meu Deus! Pior momento da minha vida... PIOR MOMENTO DA MINHA VIDA! Meus olhos ainda estão fechados. Talvez, se ele achar que eu sou uma maluca, ele vai embora. Sabe, continuar com os olhos fechados e com a colher cheia de Nutella de minha boca. Ele vai embora. Eu sei que vai.

-Posso me sentar? - Ele continua.

Ai Senhor. Isso só não é pior do que conversar com David Luiz com bafo de cebola. Ou, talvez, estar com a boca cheia de Nutella quando você vê o WILLIAM BONNER pela primeira vez esteja no mesmo nível. Eu balanço a cabeça positivamente, em um ato involuntário. Talvez, seja só um sonho e eu esteja delirando. Quando eu abrir os olhos, não vai ser o William Bonner na minha frente. Eu só confundi as vozes porque sabe, eu tinha ACABADO de pensar nele.Savana teria o conselho certo para me dar agora. Ela teria. Eu sei. Quase penso em abrir o Nescau de Garrafinha para pedir socorro a ela... Ou à Luiza. Ou ainda à Brubs. Brubs. Saudades dela.

AI MEU DEUS. PELO AMOR DE WILLIAM BONNER.

O Segredo funcionou totalmente errado.

De novo.

E então, eu abro os olhos.

AI. MEU. DEUS.

Meu queixo cai, e junto com ele, claro, cai a colher que estava dentro da minha boca. Ela bate na minha blusa antes de cair na minha calça. Escuto William Bonner... WILLIAM BONNER! Dar uma risada alta e meu rosto cora violentamente. Eu começo a suar frio copiosamente. Ai Senhor. Agora eu vou ficar fedendo perto dele. E suja de Nutella. Solto um muxoxo e pego o guardanapo que ele oferece para mim. Fico na dúvida, por alguns segundos. O que devo fazer?Limpo primeiro a minha boca que está imunda de todos os lados. Limpo a minha blusa na altura dos meus seios (melhor lugar para se sujar de Nutella, ou de qualquer coisa). Limpo a minha calça.

O que devo fazer? Ah, que seja. Limpo minha boca primeiro, porque eu tenho que falar e sorrir. E depois vou para a blusa. Isso. Certo. Limpo a minha boca e olho para o deus na minha frente. Ele sorri enquanto me olha.

-Eu sempre te achei engraçada, na sua página, mas não sabia que era tão desastrada assim pessoalmente. - Ele diz, divertido.

-É... Você me pegou um pouco desprevenida, sabe. - Dou um sorriso sem graça e coloco as mãos na frente do meu rosto, como se isso fosse adiantar alguma coisa. Ele deve estar sentindo o tanto que eu estou quente do outro lado da mesa.

-Peço desculpas. Mas eu queria muito te conhecer e quando a Fátima me falou que você viria ao programa, eu vim o mais rápido que pude. Queria ter vindo mais cedo, mas tive que resolver uns problemas.

-Sério. Você queria me conhecer? - E mais uma vez, sinto o meu rosto corar violentamente. - Tipo, mesmo?

-Claro. Você disse que eu sou o Rei dos jornalistas. Me senti lisonjeado. Obrigado. - Ele fala, ainda com um sorriso no rosto. - Preciso de uma selfie com você.

-AAAAAAAAAAH EU PENSEI QUE VOCÊ NUNCA FOSSE DIZER ISSO. - Eu quase grito e abro os braços loucamente. Tapo a minha boca em seguida. - Isso deveria ser um pensamento e não falado em voz alta. - Ele ri alto. Algumas pessoas passam por nós e acenam. Ele sorri simpático e acena de volta.

-Você, é mesmo, muito engraçada. - Ele ri e se levanta.

Ué. Ele vai embora. Assim? Sem mais, nem menos? Não. WILLIAM BONNER puxa a cadeira do meu lado e se senta. Ele levanta a mão e vejo o seu celular ali. Ele inclina o rosto para o lado e olha para a câmera. Eu não consigo desviar os olhos dele. William Bonner. Em carne. Osso e cabelos grisalhos. Do meu lado. Tirando uma selfie comigo. Acho que ele acha que eu estou olhando para a câmera, porque ele tira a foto antes que eu vire o meu rosto. Ele olha e ri, balançando a cabeça negativamente.

-Fátima está chegando para almoçar. - Ele aponta para a mulher que sorri para nós. - Você vai ficar para almoçar conosco, certo? - Eu não sei o que respondi, mas sei que a Fátima Bernardes. A FÁTIMA BERNARDES. Me deu um beijo no rosto e se sentou ao lado do marido. Eles pediram o carvalho. CARDÁPIO. Alguém segura os meus forninhos porque eles estão caindo aos montes aqui! METEORO DE FORNINHOS. ESTOU PRESTES A TER UM ATAQUE DO MIOCÁRDIO.

***

O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço. O William Bonner pagou o meu almoço.

O William Bonner pagou o meu almoço.

Essa é a única coisa que eu consigo pensar enquanto espero Murilo chegar com o táxi na porta do Projac. Parece sonho, mas é verdade. Ele pegou o meu almoço. Eu ALMOCEI com ele e com a Fátima Bernardes linda e poderosa. É felicidade demais para o meu coração. Eu sinto que ele batendo rápido demais. Talvez eu tenha uma parada cardíaca mesmo.

Pego meu celular novamente e observo a foto de nós dois e depois, a que tiramos nós três juntos. Porque agora, além de ter uma foto com meus dois ídolos, eu também tenho o CELULAR DO WILLIAM BONNER. Hora da dancinha da vitória, aquela do Michael Jackson depois do AVC.

JORNALISTAS DO MUNDO, MORRAM DE INVEJA!

Eu quero contar isso para o mundo, mas não vou. Claro que não. Mas posso contar para o Murilo. E para o David. E para as meninas. E para meus irmãos e meus pais. Pronto. Só essas pessoas. Mais ninguém. Juro. Mas eu preciso contar LOGO.

Só não quero ligar para ninguém agora, porque eu ainda estou esperando um certo alguém incrivelmente idiota me ligar. Não quero que o telefone fique ocupado para que ele possa falar algo tipo “Ah... Eu tentei de ligar, mas não consegui”. HÁ. Quero só ver qual é a desculpa que ele vai dar. Porque falar que estava ocupado ou desligado, não vai rolar. Eu conferi diversas vezes o sinal quando estava no restaurante. Estava cheio. Por incrível que pareça. E ninguém me ligou. Só enviaram mensagens. Ele vai ver só. Me paga. Sabe o que eu fazer quando chegar em Paris? Bem, eu vou contar para ele o que eu vou fazer. Vou cortar o cabelo dele com uma faca de cortar manteiga e...

O meu celular vibra e aparece a foto dele. Aquela em ele estava só de toalha. Sempre sinto coisas quando vejo essa foto. Seria uma boa ideia trocá-la. Caso eu esteja em uma situação em que eu não consiga me controlar. E também porque, sempre que eu vejo essa foto, eu esqueço que estou com raiva dele. Esse é um bom exemplo. Eu lembro que estava xingando ele e dizendo que ia cortar o cabelo dele com uma faca de manteiga, mas não consigo lembrar por quê.

 -Oi. - Atendo indiferente. Acabei de lembrar o motivo pelo qual vou cortar o cabelo dele.

-Então, quando você vai começar a apresentar o Jornal Nacional?

-AAAAAAAH FALANDO EM JORNAL NACIONAL, EU PRECISO DE CONTAR O QUE ACONTECEU. ADIVINHA COM QUEM EU ALMOCEI. SÉRIO. VOCÊ TEM UMA CHANCE. - Eu falo eufórica enquanto dou diversos pulinhos. Os seguranças me olham com o canto dos olhos e se afastam um pouco. Vejo que conferem se tenho uma credencial no pescoço, porque tenho certeza que eles iriam me chutar para o outro lado do Rio caso eu não tivesse uma.

-Ahm... Não sei. - Ele está coçando a testa com o polegar. Eu posso sentir isso, e sorrio ainda mais.

-Sério, David. Quem eu poderia encontrar no PROJAC que me deixaria completamente eufórica? QUEM? QUEM?

-Bruna Marquezine? - Ele fala com ar de riso. Bufo e reviro os olhos. Sério mesmo? Ele NUNCA prestou atenção em uma coisa que eu falei. Porque eu tenho certeza que eu falei pelo menos infinitas vezes o quanto o William Bonner é foda e o quanto eu queria conversar com ele algum dia. - Fê? - Ele pergunta, porque ainda estou calada. E com ódio demais para responder. - Estou brincando, sô. - Ele ri e eu estreito os olhos. - Com o William Bonner?

-AAAAAAAAAAAAAAH VOCÊ ACERTOU. - E a felicidade volta a tomar conta do meu corpo, porque David prestava atenção enquanto eu falava. Mesmo que fossem coisas bobas e sonhos impossíveis. Ele realmente prestava atenção e levava o pelo amor de William Bonner a sério.

-Wow, me conta como foi isso.

E então eu conto. Desde a parte da Nutella até a parte em que ele pagou a minha conta junto com a diva da Fátima Bernardes. Escuto suas risadas de tempos em tempos e isso me dá mais vontade de continuar contando. Me dá ânimo.

Sou eu quem falo na maior parte do tempo porque ele parece meio ocupado fazendo sabe-se-lá-o-que. Não que eu esteja prestando atenção nos barulhos do outro lado da linha. Mas algumas coisas caíram no chão, diversos homens chamaram pelo nome dele e agora, ele parece meio apressado, respondendo apenas com ‘Aham’ ou ‘Sim’ e solta um grande ofego. E a sua respiração está pesada. Porque a respiração dele estaria pesada? Ele está correndo? Sem camisa? Ai que ódio de não ter tirado a foto do corpo todo dele para colocar como foto quando ele me liga. Tenho saudade do corpo dele. Aquele tórax. Ai Senhor. Não posso pensar nisso agora. Como eu quero encostar naquele abdome maravilhoso e...

-Fernanda? - Escuto a voz dele do outro lado da linha e arregalo os olhos. Só falta eu ter falado isso em voz alta.

-Oi? - Pergunto de bobeira, porque nem estou preocupada em ter falado qualquer coisa em voz alta.

-Pensei que a ligação tinha caído. - Sua respiração está pesada e ele solta um longo suspiro. - Você parou de falar de repente.

-Ah, eu me distraí. - Rio e balanço a cabeça negativamente. - Você está fazendo esteira?

-Não. - Escuto sua risada abafada e, novamente, escuto diversas vozes de homens ao fundo. - Tenho um jogo amanhã, aí estou treinando com o fone escondido no meu cabelo. Essa cabeleira até que serve para alguma coisa. - Arregalo os olhos e levo uma das mãos até minha testa.

-David! Você está conversando comigo durante um treino do PSG? Você é louco? - Ele ri novamente.

-Eu tinha que dar um jeito de falar com você. Eu assisti o programa. - Ele fala mais pausadamente agora. Deve ser porque está passando na frente no técnico e eu espero pacientemente, só que não. - Mas não tive como te ligar na hora porque fomos para o treino logo depois e tivemos uma pausa para beber água e eu peguei o celular. Se eu demorasse mais tempo para te ligar, você ia pensar que eu não assisti ao programa. E ia ficar chateada comigo.

Cruzo os braços na frente do corpo e empino o nariz.

-Eu acho... Que você está convencido demais. - Tento parecer indiferente.

-E gostei do seu cabelo assim. Você está linda hoje. - Eu ia continuar falando sobre o quanto ele está convencido, mas esqueci o que ia dizer depois que ele disse que eu sou linda. Começo a sentir meu rosto quente e sei que estou corada e também. Meus lábios estão abertos em um largo sorriso. Devo estar parecendo uma boba.

Vejo o táxi se aproximar e Murilo no banco de trás e sei que agora tenho que desligar para entrarmos no táxi. Mas ainda não estou pronta para me despedir de David. Mordo o canto do lábio e faço sinal para ele esperar um pouco. Ele bate no relógio, indicando que estamos atrasados e eu reviro os olhos. Que saco. Não consigo conversar com David normalmente, sem ninguém me mandando andar logo? Olho para a tela do celular. Já estamos conversando há mais de meia hora. Deve estar difícil para ele. Correr e falar ao celular ao mesmo tempo.

-Magrela, eu tenho que desligar. Acho que o Blanc viu alguma coisa estranha.

-Certo. - Digo como um muxoxo. Nos falamos depois. Beijo...

-Beijo, te... - Ele desliga antes de completar. O QUE ELE IA DIZER? ELE IA DIZER O QUE EU ESTOU PENSANDO QUE IA DIZER? Por que ele desligou antes de dizer? Ah, não sei o que dizer. ESSE DIA ESTÁ CONSAGRADO COMO MELHOR DIA DA MINHA VIDA. Definitivamente. Coloco o celular na bolsa e caminho, saltitando, até o táxi. Murilo sorri para mim quando eu entro e mexe as sobrancelhas com um sorriso besta no rosto. Eu sorrio, radiante.

-Como anda a sua superação? Ou eu devo fingir que não era ele no telefone?

-Vou ignorar a sua pergunta. Podemos ir para ao aeroporto? - Pergunto ao taxista. Ele assente e liga o carro novamente.

Agora que Murilo trabalha na ESPN muita coisa mudou em sua vida. Não pensem que ele ficou metido ou nada do tipo. O que eu quero fizer é que ele tinha pensado em se casar só daqui três anos e tudo mais - porque ele a pediu em casamento depois do final da Copa. Acabou que ela perdeu o passaporte e eles não puderam se encontrar. Mas deu tudo certo no final e agora eles vão conseguir se casar antes porque o salário aqui é melhor. Só por isso já dá pra imaginar quão pouco ele ganhava antes.

-Mais uma vez, eu queria te agradecer por ter me chamado. - Ele cutuca minhas costelas com seu cotovelo pontudo e eu dou um tapa em seu braço.

-Mais uma vez, se você me falar isso de novo eu vou pedir a sua demissão. - Ele joga a cabeça para trás e ri alto.

-Certo. Parei.

Olho para a paisagem enquanto estamos à caminho do aeroporto. Mordo o canto dos lábios e sinto meus pelos ficarem arrepiados e um embrulho no estômago. Estou a caminho de Paris. Estou a caminho de me encontrar com David, de fazer a surpresa que tanto quero. E, em meus sonhos, ele vai correr até onde eu estou e me abraçar e então, me apertar forte e vamos nos beijar loucamente. Fecho os olhos com essa cena.

Tomara que dê certo.