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História Diário de uma Iniciante em Champions League - Fernanda, David e L. Blanc - Pedido feito em melhor de três.


Escrita por: Fe_M

Notas do Autor


OLÁAAAA TUM TUM TUM TUM TUM TUM TUM TUM TUM TUM Como vão vocês de ano novo, hein? *_*

GENTE MUITO OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS TO EXPLODINDO DE ALEGRIA <3
é bom saber que vocês ainda gostam do que a gente escreve. Explodiram meu coração de tanta alegria <3333
ShitStyles, você tá no meu heart <3 Meninas: Imagineluanete, obajoy, g_mor, itbaholiveira, duda_geezer, lovatic1609, Ranile, Raih, AndyIr, davidluizpsg32, patydl_1980, ingriddcarla, fernansaraiva, geezersforever, Bet04, julianecr_, Lettydavls, Ingrid_oliveira, Fee_araujo, esthersantiago, IngridVr, Ibrahimobitch, nina_unicornio. VOCÊS SÃO DEMAIS <3

Capítulo dedicado a quem TEM CRUSH YOUTUBER ME JULGUEM CELLBIT PEGAEU

Com vocês UM CAPÍTULO CHEIO DE FEVID, MEU NOME É JÚLIA, ASSALTOS MAL EXPLICADOS E LAURENT BLANC ATACANDO DE CUPIDO... de novo:

Capítulo 46 - Fernanda, David e L. Blanc - Pedido feito em melhor de três.


Fanfic / Fanfiction Diário de uma Iniciante em Champions League - Fernanda, David e L. Blanc - Pedido feito em melhor de três.

 

Departamento da Police Nationale. - Paris - França. - Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015.

Vinte minutos se passaram e David ainda não apareceu na delegacia para me buscar. Já conversei com os policiais e fiz amizade com todos, que agora se arrumam para receber um dos ídolos do PSG em sua delegacia. Deixo escapar, em algum momento da conversa, que hoje é meu aniversário, e o delegado puxa palmas para cantar parabéns. Nós rimos enquanto cantamos, e eu bato palmas no ritmo deles. Sou pega de surpresa por um menino que entra pela porta da frente da delegacia com um bolo de chocolate. Fito o delegado, que me encoraja a pegar o bolo. Caminho até o garoto, pego a bandeja e sinto um policial colocar um apito em volta do meu pescoço, e um quepe em minha cabeça.

-Não acredito que vocês fizeram isso pra mim! Vocês são os melhores, galera! - Eles começam a cantar novamente.

-Sopra o apito, Fernanda! - Um homem de sotaque forte exclama, e eu rio, começando a apitar.

-Com quem será?! Com quem será?! Com quem será que a Fernanda vai casar?! - Eles cantam, e eu apito mais alto. Alguns dos homens presos nas celas lá dentro começam a bater palmas e assoviar também. - Vai depender! Vai depender! Vai depender se o David vai querer!

-Pelo amor de William Bonner, não, não! Sem com quem será. Tem uma música que eu gosto que ia ser foda se vocês cantassem comigo. Vocês conhecem a Katy Perry?! - Eu grito, e alguns acenam que sim. - Conhecem Dark Horse? - Sou mais incisiva, e eles riem. - VAMOS CANTAR!

-ARE YOU READY FOR, READY FOR! A PERFECT STORM, A PERFECT STORM! CAUSE ONCE YOU'RE MINE ONCE YOU'RE MINE!

-MEU NOME É JÚLIA! - (link do meme nas notas finais) Eu grito, e todos os policiais me olham, rindo.

David Luiz aparece na porta da delegacia com o semblante confuso e curioso. Ele cruza os braços e nos observa, enquanto dançamos e cantamos. Nesse momento eu nem consigo imaginar um momento que supere esse, em termos de surreal. Vamos aos fatos:

1- Fui assaltada no meu aniversário.

2- Fiz o B.O. na delegacia e fiquei amiga dos policiais.

3- Eles me compraram um bolo.

4- Estou dançando e cantando com policiais e presos.

5- Com um bolo nas mãos.

-Que diabo é isso? - David pergunta. Todos param o que estavam fazendo e começa um alvoroço dentro da delegacia, em uma disputa por fotos, autógrafos e conversa com David. Quando consegue se desvencilhar da algazarra, ele caminha até mim com uma expressão entre risonho, feliz, atrapalhado e preocupado. Para próximo a mim e tira o quepe que eu ainda uso. David passa os dedos por minha franja, arrumando-a, e eu sinto meu corpo todo vibrar com a ação dele. - Você está bem?

-Agora sim... Eles me deram um bolo de chocolate. - Eu rio e aponto para o bolo atrás de mim.

-Eu vi isso mesmo. Um dia alguém tem que escrever um livro sobre você, porque se eu contar a cena que vi aqui em qualquer lugar, ninguém acredita. - Ele sorri e passa as mãos por meus braços. - Vamos sair daqui?

-Sim, deixa eu me despedir dos meninos. - David ri e me libera, parado ao lado de um bebedouro. Eu cumprimento os policiais e nós partimos o bolo, entregando fatias até para os rapazes que estão presos. Eles agradecem e quando eu termino, me despeço de todos, saindo da delegacia com David, que carrega minha caixa, por mais que não esteja tão pesada. Quando ele a coloca no banco de trás, dá a volta até mim e balança a cabeça em negativa, antes de me puxar pela nuca e beijar meus lábios, com um sorriso amoroso. Eu rio e toco seu peito com as duas mãos. Sinto meu corpo todo pedir por mais de seu toque, porque senti saudade dele.

 -Eu ganhei nossa aposta... Você me ligou pra eu vir te buscar. - Ele sussurra com sua voz mais aveludada, e eu rio, roçando meu nariz no dele.

-Não, não, não. Você que se declarou pra mim pelo telefone, me chamando de amor da sua vida e essas coisas. - Nós rimos e ele meneia a cabeça mais uma vez.

-De jeito nenhum. Eu não falei que você era o amor da minha vida. - Ele fita meus olhos, e eu juro que começo a pensar que sou uma dessas modelos que caem da passarela por causa do salto muito alto. As pernas tremem. Minhas pernas tremem tanto que se eu tentar andar vou causar um terremoto de 9 pontos na escala...

-Como é o nome daquela escala que mede terremotos? Richtens? - Pergunto e David faz uma careta.

-O que? De onde saiu essa? - Ele ri e acaricia minha cintura. - Sua louca. Vamos, tenho uma surpresa pra você. - Ele bate em meu quadril com a mão, e se desvencilha de mim, para andar até o lado do motorista. Eu rio e bato na bunda dele de volta.

-Não vai superar meu café da manhã com Zlatan, tenho certeza.

-Zlatan me livre de querer ser superior a ele. - Ele retruca, com uma risada. - E, à propósito, é RichteR. Escala Richter. Não Richtens.

-Essa mesma. - Entro no carro e espero que David entre e coloque o cinto de segurança. Quando ele dá a partida, vejo um sorrisinho maroto em seus lábios, e estreito o olhar. - David Luiz... Por que está com esse sorrisinho?

-Estou feliz. Por que? Não posso?

-Pode, claro. Deve. Se depois de me beijar, não estivesse feliz, eu te batia. - Digo em tom de brincadeira, e David solta uma risada gostosa.

-Podemos fazer um trato?

-Podemos.

-Ficaremos sem brigar pelo resto do mês. Esse é o trato. Aceita? - Ele fala mais sério, e para o carro em um semáforo.

-Pra mim parece um bom trato, mas duvido que a gente cumpra.

-Se brigarmos, vamos fazer as pazes logo em seguida. O que acha dessa cláusula no trato?

-Parece justa.

-Casa comigo? - Ele pergunta aleatoriamente, e eu rio.

-Você está me levando pra onde, David? Por acaso vai fazer um casamento surpresa? Vai ser a primeira vez que eu vi isso na vida. - Ele me observa com o cenho franzido. - Espera! VOCÊ ESTÁ ME LEVANDO PARA UM CASAMENTO SURPRESA DE VERDADE?! MAS EU NEM TENHO UM VESTIDO, NEM PADRINHOS, NEM NADA! MEUS PAIS ESTÃO NO BRASIL! COMO VOCÊ PODE FAZER UM TROÇO DESSES?! TÁ NEM DOIDO! SOCORRO, NÃO FALA UMA COISA DESSA PELO AMOR DE WILLIAM BONNER EU ESTOU UM LIXO!

David responde com uma risada brincalhona, e eu relaxo.

-Acha mesmo que eu faria isso?

-Pior que sim. - É o que eu digo, e David volta a rir.

-Nem parece aquela menina chorosa com quem falei no telefone. - Ele comenta, e eu coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

-É que os meninos foram tão legais comigo... Enfim. Ainda estou meio assim porque vou precisar comprar um celular, tirar documentos, perdi o dinheiro, minha latinha de lenços umedecidos novinha, dois pen drivers com coisas pra mandar pra Brenda... Ela vai comer meu fígado que nem a rainha do filme da Branca de Neve com a Bella do Crepúsculo. Quero nem ver quando eu contar pra ela.

-O que? - Ele parece não me entender, e eu suspiro.

-Deixa pra lá.

-Posso te dar um celular novo, vou ao consulado com você pra fazer as segundas vias, tudo direitinho. Você não vai ter nenhuma dor de cabeça, eu prometo. - David fala com uma serenidade que só ele pode ter em momentos de muita tensão. Se ele não tivesse picos de cólera e estresse, poderia ser o próximo Gandhi. - No que está pensando?

-Em você careca com aquelas roupas laranja de monge budista. - David ri alto dentro do carro e diminui a velocidade com a qual nos locomovemos dentro do carro. - Mas você ainda não me disse pra onde vamos. - Enrugo a testa e espero pelo que vem depois, e David sorri sapeca. - Pra onde vai me levar, Palmeira Maquiavélica?

-Mônaco. Quer? Tenho tudo preparado pra nós, lá.

-PRA ONDE?

-Mônaco. Me diga que quer ir, por favor. Não faça jogo duro... Eu não aguento mais implorar e...

-EU QUERO ANDAR DE BARCO GENTE ME LEVA PRA UM BARCO FAZ A CENA DE TITANIC COMIGO DEIXA EU GRITAR QUE SOU A RAINHA DO MUNDO! - É minha resposta, porque eu nunca imaginei passar um aniversário em Mônaco. David se engasga com a risada e balança a cabeça, sem conseguir se controlar. - Eu sei que já fiz parecido no dia que a gente andou de bicicleta pelas ruas daqui, mas num barco é diferente. Você vai ser meu Jack?

-Se você for minha Rose.

-Então prometa que não vai morrer no final, pelo amor de William Bonner.

-Credo, Fernanda. Não vou morrer. - Ele faz uma careta. - Posso te desenhar, como o Jack fez com a Rose? - Ele me olha com a mesma expressão de malícia de sempre, e eu rio.

-Você não sabe desenhar nem boneco de palitinho, Cabeludo, se enxerga. - Nós rimos.

 

***

A6, Parc Naturel Régional du Morvan, Saint-Brisson. - França. - Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2015.

Depois de um período silencioso dentro do carro eu coloco uma música para tocar. A melodia dançante da música do One Direction me faz sorrir e me mexer, mordendo o lábio inferior para dentro da boca. Vejo que David me observa com os cantos dos olhos e rio sem voz, sem me importar com o quanto ele vai fazer piadas sobre esse momento pelo resto de nossas vidas. Canto a parte de Niall Horan com o nariz franzido e faço ondas com as mãos.

-Não sabia que você gostava de One Direction.

-O que? Eu casaria com Harry Styles. Se ele me quisesse, é claro. - Dou de ombros.

-Olha, se ele estivesse muito longe de nós, eu nem me importaria com esse fato, mas o cara mora logo aí do lado. Eu sou amigo do Niall, então... Não. Não seja a pessoa que assina Styles no lugar do sobrenome. - Ele franze a testa e eu rio alto.

-Primeiramente, eu nunca vi o Harry pessoalmente, então pra mim ele é aquele cara de cabelos esvoaçantes que eu nunca vou ver na vida e que eu alimento um amor platônico de fã. Segundamente, eu assinava Marinho no lugar do meu sobrenome e você sabe disso, cabeludo ciumento.

-Cara dos cabelos esvoaçantes que você nunca vai ver na vida? - Ele ri e eu dou de ombros.

-É, daqueles que você fica voltando a parte do clipe no YouTube só pra ver ele fazendo aquela coisinha charmosa com as mãos. - Encolho os ombros. - Você não sabe do que eu estou falando, mas os Gifs do Tumblr existem pra essas coisas, sabe? E você tem um monte. Eu faço coleção deles, aliás. Cada um mais lindo que o outro. Ah... Agora que estamos de bem posso te mostrar o que eu comprei. - Giro o corpo no banco do carro e abro a caixa com o vestido que ganhei de meu admirador secreto, tiro as sacolas da boutique do PSG e volto para minha posição inicial.

-Quanta sacola... O que você comprou lá? - Ele pergunta curioso. Eu mostro uma camisa e ele sorri. - Você não precisava comprar, eu te dou uma minha.

-Mas eu queria que você vendesse mais camisas. - David ri comigo e assente, com a testa enrugada, em uma expressão tão fofa que me faz inclinar no banco e beijar sua bochecha. - Olha isso. - Mostro um boneco de pelúcia dele e David lança uma piscadela para mim. - E olha mais. - Mostro todos os outros que eu comprei, e ele ri.

-Sério, minha barriga já está doendo de rir, para.

-Tem do Ibra também. - Tiro o bonequinho de pelúcia de Zlatan e David meneia a cabeça. - E por último... - Tiro o bonequinho que balança a cabeça e coloco no painel do carro. David gargalha. - Ele balança a cabecinha cabeluda. Não é mordível? Não dá vontade de abraçar?

-Você tem o de verdade. - Ele murmura maliciosamente, e eu rio.

-Convencido. O bonequinho é lindo.

-Porque o molde era lindo.

-Convencido, de novo. - Nós rimos e ouvimos um barulho estranho no motor. David diminui a velocidade, e o ruído torna-se maior, mais feio, quase monstruoso. Ele manobra o carro e para no acostamento, ligando o pisca-alerta. - O que foi, David?

-Não sei. Você ouviu esse barulho, não ouviu?

-É... - Ele tira o cinto de segurança e abre a porta do carro, saindo. David sobe a gola do casaco, esconde os cabelos com o gorro preto e coloca as mãos nos bolsos, encolhendo os ombros. Ele faz um sinal para que eu aperte o botão que destrava o capô do carro no painel e eu aperto, esperando. Tiro o cinto de segurança e coloco meu cachecol, abrindo a porta do passageiro. O vento frio racha minha pele instantaneamente e eu me encolho.

Ando na direção de David e coloco as mãos nos bolsos do casaco. Ele olha algumas peças do carro e eu gostaria de entender de mecânica para ajudar, mas sou um peso morto, nesse momento. Ele mexe em algumas engrenagens e me olha de esgueira, com uma expressão séria, depois volta a ao motor do carro, meneando a cabeça.

-Vamos precisar chamar o guincho. Acho que alguma coisa aí congelou. - Ele passa a mão pela nuca, e olha ao redor.

Nós estamos numa autoestrada no meio do nada, e há uma reserva de floresta temperada ao nosso redor. Não há vilas, cidades ou postos de gasolina por perto, e o sol começa a sumir entre as nuvens, deixando o firmamento enegrecido como se coberto por fumaça. Há dez minutos de viagem não vemos sequer um carro na estrada, e David arqueia as sobrancelhas como se arrependido de ter me trazido até aqui. Eu sorrio e ando até ele, segurando seu braço.

-Tudo bem... É só ligar. - Aponto para o celular dele. Ele destrava a tela e faz uma careta.

-Está sem sinal.

-Eita... - Murmuro e abraço o braço dele. - Desliga e liga de novo.

-É. Se não funcionar, pegamos o seu. - Eu rio com um pouco de amargura.

-É... Se eu não tivesse sido assaltada. - Olho-o de baixo e David sorri desconcertado.

-Hm... Acho que já posso falar.

-Hm? - Não entendo o que ele quer dizer, até ver seu semblante. Meu olhos se injetam. - O que?

-Bom, é que eu precisava de um empurrãozinho pra que você falasse comigo, então contratei esse cara e ele... Ahm...

-VOCÊ FORJOU MEU ASSALTO, SUA PALMEIRA?! - Empurro o braço dele, que faz outra careta. - VOCÊ FORJOU! EU NÃO ACREDITO QUE FEZ ISSO, SÉRIO, NÃO ACREDITO! VOCÊ ME FEZ CHORAR E ME FEZ PARAR EM UMA DELEGACIA E EU FIZ UM B.O. E FIQUEI TRISTE E PREOCUPADA!

-Mas está aqui comigo, e sua bolsa está no meu porta-malas. Eu já tinha falado com os policiais e eles foram bem gentis...

-ELES SABIAM?! O JACQUES ME TRAIU! AQUELE SAFADO. ELES JÁ TE CONHECIAM! Por isso eles nem se preocuparam com minha queixa, e pareciam tão descontraídos.

-Acho que eles ficaram mais descontraídos por sua causa mesmo, não pelo combinado.

-CALA A BOCA, DAVID LUIZ! - Ordeno, e aponto para ele. - O que você fez foi errado, e não deveria ter feito. Você poderia ter agido como um ser humano normal e ter me ligado, me desejado feliz aniversário e ter me dado meu sorvete de rosa, igual ao Zlatan.

-Eu armei com o Zlatan. Eu preparei aquele café da manhã e contratei o motorista para te acompanhar. - Começo a me sentir ainda mais enganada, agora por todos ao meu redor. - Quase coloquei tudo a perder por causa da Thaís, mas logo consertei. Eu fiz tudo isso pra você... Não briga comigo.

-E o vestido... Foi ideia sua?

-Foi. Era um admirador secreto. Não dava pra ser outra pessoa. Quem além de mim te daria aquele vestido de presente, com aquelas joias? - Ele arqueia a sobrancelha e eu penso em uma vingança rápida.

-Não sei. Lukas me mandou uma mensagem de aniversário que mais parecia uma bíblia. E tem o Greg, que é um menino ótimo e super gente boa. - Vejo a postura de David mudar momentaneamente quando cito Van Der Wiel e Podolski. Os punhos dele se fecham e as bochechas ficam vermelhas, e ele se vira para mim.

Começamos a brigar no meio do nada.

-Como é que é? Greg? Que história é essa de Greg? E que droga de mensagem é essa de Lukas pra você cogitar a ideia de ELE te dar aquele vestido e a joia? - O timbre desafinado de David torna-se mais grave, e eu dou de ombros. - RESPONDE, FERNANDA!

-Eu acho melhor você baixar o tom de voz pra se dirigir a mim, porque foi você que me fez de trouxa no meu aniversário. - Aponto para ele. - E se você gritar comigo de novo, vai ser a última vez. Sério.

-Você está tentando me provocar?

-Se você não percebeu antes, é porque ser loiro tem lá suas dificuldades. - Viro-me e marcho para o carro. - E me devolve minha bolsa, Palmeira Mafiosa.

-Você vai me ignorar? Fernanda, eu fiz tudo o que fiz pra te dar um aniversário diferente!

-E acertou em cheio. Nunca passei meu aniversário na delegacia.

-Para com isso, Fê.

-Me dá minha bolsa, seu Poodle sem tosa. - Falo como se o xingasse e David suspira, abrindo a porta do carro e destravando o porta-malas. Ele pega minha bolsa e a estende para mim, calado, derrotado. Eu pego a bolsa e a abro, para conferir se tudo está lá dentro, apesar de saber que vai estar.

-Sério que está fazendo isso? Que tipo de pessoa você acha que eu sou?! Quer saber? Isso aqui entre nós dois nunca vai dar certo. Quando a gente voltar pra casa vai cada um pra um lado, certo? Acabou.

-Ótimo! Acabou! - Fecho a bolsa e caminho para dentro do carro, fechando a porta do passageiro, sentindo um vazio no peito. Pego meu celular e vejo que está desligado. Ligo o aparelho e percebo que também está sem sinal. Não olho para o lado quando David entra no banco do motorista e ele também não fala nada. Ficamos em silêncio por algum tempo.

Tempo demais.

Uma tensão começa a crescer ao nosso redor, e eu sinto arrepios perpassarem meus braços e costas, até minha nuca. É uma espécie de ódio misturada ao desejo de tê-lo perto de mim, e a sensação dúbia congela meus músculos e impulsiona adrenalina em minha corrente sanguínea. Nós não nos movemos, nem falamos. Eu mal ouço sua respiração, mas quando ele solta o ar pela boca, é como se uma faísca caísse ao nosso redor, e meus dedos tremem. Não quero dar o braço a torcer, ainda mais quando ele mesmo acabou de dizer que estamos separados, que acabou, que cada um vai para o seu lado.

David, por sua vez, é a imagem da indiferença.

Meu coração pulsa com força, como em uma música de ritmo profundo e batida pesada e meus pulmões parecem não receber ar suficiente para manter-me bem, por isso minha respiração se torna mais rápida, superficial. Minha garganta está presa, e eu não sei como lidar com minhas reações, porque não lembro quando elas haviam acontecido pela última vez. A única imagem em minha cabeça é a do pescoço e dos lábios dele. O único cheiro em meu olfato é o do perfume dele, do suor dele, dos cabelos molhados. O único tato em meus dedos é o da pele dele, a sensação de minhas unhas sobre seus ombros nus, sobre seu peito. Entreabro os lábios para pedir desculpas, mas David interrompe minha ação com sua voz oscilante.

***

David (Link da música nas notas finais, se puder ler ouvindo... *-*)

O lugar desconhecido onde meus pés podem falhar é o lugar secreto onde eu te encontro

Em profundos oceanos minha fé permanecerá

Eu chamarei pelo teu nome

Oceans - Hillsong UNITED

-Eu lembro de quando saímos juntos pela primeira vez. - Ergo uma mão e toco o volante, fechando-o entre os nós dos dedos. Ela não responde. - Foi depois do jogo contra o Chile. Lembra? - Incito sua resposta, porque sei que ela não irá negar-se a responder uma pergunta.

-Lembro. - Sua resposta monossilábica é hesitante.

-Nós estávamos na cobertura do prédio e você me disse que seu sonho era nadar em uma piscina com luzes internas. - Minha voz continua presa na garganta, e sai esganiçada, grave.

-Você lembra disso?

-Imaginei você nadando naquela piscina por dias, até te beijar de verdade. Depois disso não precisei mais imaginar nada, porque nada do que eu havia pensado se comparava ao original. - Ergo a mão livre até a testa e a esfrego com os dedos.

-Você pensava mesmo assim antes de ficar comigo? Mas eu agi feito uma idiota o encontro inteiro. - Ela evita focar a visão em mim, mas meus olhos captam o semblante constrangido dela, quando eu a fito de esgueira, e baixo o olhar para o volante, novamente.

-Eu só lembro de uma garota linda andando na minha direção e do vestido dela voando. Lembro de ver as pernas dela completamente nuas, quase ver sua calcinha... Minha dor até passou naquele segundo. Eu acho que nunca te falei, mas eu quase levantei e fui até você, e eu quase te beijei. Eu me contive porque sabia que você provavelmente fugiria de mim. Ou não. Eu te achava imprevisível. Você era a garota meio doida que tirava fotos minhas e me parava no hall do hotel para me dar Atroveran pra dor muscular. Você me intrigou, e ainda me intriga, todos os dias. Você nem sabe, disso, não é?

-Não. Pra mim somos um casal desgastado. - Ela fala com dureza, e eu franzo os lábios, inclinando a cabeça.

-Pois você ainda é um mistério, pra mim. Tem horas que eu quero te esganar, ficar longe de você, te mandar de volta pra Brasil e nunca mais te ver. - Minhas palavras passam pela boca antes de serem coletadas pelo filtro da mente, e eu soo ainda mais sincero do que deveria. - Tem momentos em que eu penso que você age de propósito, que você quer me enlouquecer, que está aqui pra me ver sofrer, pra me sufocar. Nessas horas eu desejo nem ter conhecido você naquele dia em São Paulo. Me arrependo de ter parado para te olhar, e posar para uma foto pra você. De ter falado com você na zona mista, de ter recebido o atroveran que me ofereceu... De ter te beijado, de ter fugido da concentração pra dormir no seu quarto, de ter atropelado tudo o que poderia ter acontecido de forma mais amadurecida entre nós... - Passo os olhos por Fernanda e vejo os sulcos em suas bochechas.

-Você se arrepende de tudo o que nos aconteceu, então.

-Em outros momentos eu vejo que tudo o que me aconteceu tinha um propósito. Talvez, se eu nunca tivesse topado com você em um elevador, se eu não tivesse a iniciativa de falar com você naquele momento, talvez eu nunca tivesse aprendido tanto. Hoje eu sei que amadureci, passei por mais coisas em um ano do que passei em toda a minha vida, e eu devo grande parte a você. Você pode até não me entender, e achar que eu não te amo porque brigo com você, mas eu lembro de falar, mais de uma vez, que eu era uma pessoa difícil de se conviver, e eu sou. Eu sou explosivo, eu brigo, eu não consigo ficar na minha. Eu sei que sou impulsivo e que muitas vezes me deixo levar pelas circunstâncias, mas... Fernanda, tudo o que eu sei, se posso dizer que sei de alguma coisa, é que não me arrependo, nem por um segundo, de todas as vezes em que te pedi em casamento.

-O que? - A voz dela é trêmula.

Manterei meus olhos sobre as ondas

E quando o mar se agitar

Minha alma se acalmará em teu abraço

Pois eu sou teu e tu és meu

Oceans - Hillsong UNITED

-Antes de vir para a França eu lembro de ter te pedido uma vez. Quando voltamos, aqui em Paris... Eu te dei até um anel. Eu nunca me arrependi disso, porque tudo foi sincero. Tudo é sincero. Então eu lembro de tudo de ruim e nada se compara a sensação que eu tenho todas as vezes em que olho pra você, ou que vejo você sorrir. Nada se compara. Nada. É como se eu fosse puxado por algum tipo de força sobrenatural que me diz que você é a única pessoa capaz de despertar em mim meu verdadeiro eu. Eu posso esbravejar quantas vezes quiser, ou posso dizer que não é verdade, para mim mesmo. Não vai adiantar. Eu só quero você, só penso em você, só sei viver com você. Desde o início. Desde que me pediu para ser valente, quando me mandou a letra de uma música por mensagem de texto.

-Brave? Você lembra?

-Eu lembro de tudo, Fê. Lembro-me de você repassando um relatório completo sobre mim, e o amor com que você falou de minhas qualidades, sem conhecer ainda meus defeitos. Eu lembro de você me mostrar o quanto era capaz de ser forte, e o quanto eu já fui injusto com você. Eu sei o quanto de alegria já roubei de você, mas você ainda é contagiante, radiante, feliz. Você ainda é aquela iniciante anônima que conheci na Copa do Mundo, mesmo com todos os problemas que eu já te causei. Eu sei que não te mereço, e sei que nada do que eu disser vai ser suficiente pra me desculpar... Tenho consciência disso. Mas queria que você soubesse que minha vida nunca mais será a mesma, e que eu tenho tentado duramente amadurecer e me tornar mais sereno.

-Você não precisa me dizer nada...

-Preciso. Preciso dizer que eu erro, que eu sou humano, que não sou perfeito, mas que quero, do fundo do meu coração, que nenhum de meus defeitos se compare às minhas qualidades, pra que você me veja como eu era antes de você me conhecer.

-David...

-Eu sei que falhei com você, e que tenho falhado em tudo. Mas...

-David. - Ela fala de forma firme, e me olha. Eu engulo as últimas palavras e espero. Fernanda passa as mãos pelo rosto. - Eu amo você com todos os defeitos que eu sei que tem. Eu também tenho defeitos. Todo mundo tem. Não precisa pedir desculpas por ser falho... Todos os seres humanos são.

-Quer dizer que você me desculpa...?

-Sim.

-E você ainda quer ficar comigo?

-Sim.

-Você quer casar comigo?

-Quando..? - Ela franze o cenho e eu esboço um sorriso, coçando a nuca.

-Pode escolher uma data.

-Posso? - Vejo sua sobrancelha arqueada e assinto, confirmando. - Eu tenho uma data. Vai demorar um pouco, mas acho que é a data perfeita.

-Qual é?

-4 de agosto. - Ela diz, e eu enrugo a testa, sem conseguir entender o porquê da data, até lembrar o que ela significa para nós e sentir um frio enregelado penetrar meu corpo. - Eu sei, não é uma data de boas lembranças... Mas, se me escutar, antes de falar qualquer coisa, vai me ajudar muito.

-Explique.

-Certo, ahm... - Ela resguardou alguns segundos de silêncio, antes de mexer os dedos no cabelo. - É que nessa data eu perdi algo com que comecei a me importar muito, e perdi algo que amava. Depois desse dia eu sei que uma parte mais jovem de mim morreu, porque eu precisei administrar uma dor que até então eu não sabia denominar. Essa data me marcou tão profundamente que eu sei que nunca poderei esquecer, mesmo que tente. 4 de Agosto faz parte de minha história, mas não como uma dor. Parece que quando o tempo passou, eu transformei a dor em aprendizado, e me fortaleci. Amadureci. Sim, eu ainda sou meio desastrada e um pouco azarada, mas eu aguento pancadas mais fortes. Não morri, eu fiquei mais forte. Hoje, aquele dia é um aprendizado que vou guardar sempre comigo. Não é mais um motivo de sofrimento, mas uma memória que me diz que não importa o tamanho da queda, nós podemos levantar, sacudir a poeira da roupa e continuar caminhando.

-Eu não sabia que...

-Agora quero que 4 de agosto também seja... - Uma música no sistema de som do carro a interrompe, e eu reconheço a melodia. É uma música da Hillsong United e se chama Oceans. - Eu quero que 4 de agosto seja o lugar desconhecido onde meus pés podem falhar, mas que seja desbravado por mim... Ao seu lado. Eu quero acalmar minha alma no seu abraço, e poder dizer que eu sou sua, e que você é meu, sem nenhuma dúvida, como tive mais cedo, porque quero que minha confiança em você não tenha nenhum limite. - A voz de Fernanda falha e nós ouvimos a música em silêncio. Sabemos que o amor do qual a música fala é o divino, mas se aplica ao meu coração, e eu concordo com a cabeça, estico um braço para ela, que me abraça com força.

Tua mão será minha guia

Onde meus pés falham e o medo me cerca

Tu nunca falhaste e não falharás agora

Oceans - Hillsong UNITED

Eu rio, sem vestígio de voz, e a aperto contra meu peito. Continuo a balançar a cabeça afirmativamente, e sinto o rosto dela molhar minha camisa, por dentro do casaco. Meus olhos se enchem de lágrimas, como as dela, e eu volto a rir, esfregando o nariz em seu ombro, cerrando as pálpebras. Ouço a risada dela sair em soluços mudos. Ela aperta os dedos contra minhas costas e eu beijo seu ombro, diversas vezes, murmurando que sim, que podemos casar quando ela decidir, e que 4 de agosto é a melhor data.

Roço o rosto na têmpora dela, e murmuro em seu ouvido, com os lábios colados em seu lóbulo, e a sinto sorrir. Beijo seu maxilar, e desço minhas mãos por seu corpo, retirando seu cachecol delicadamente, roçando o nariz em sua pele macia. Sinto sua respiração quente em minha orelha, em minha bochecha, até encostar os lábios nos dela, pressionando-os juntos. Inicio um beijo lento que arde em todo o meu interior como nenhum outro conseguiu extrair de mim o mais profundo em minha alma.

Encaixo-os juntos, com um tipo de saudade inominada de um tempo anterior, tão distante quanto só o passado pode ser. A dor excruciante que corta meu interior abre rachaduras em mim, deixando que a luz volte para dentro de mim, como nunca antes fez. Sinto-me completo. O corpo dela treme abaixo do meu toque, quando retiro seu cachecol ou o casaco que ela veste. Ou quando ela puxa minha camisa, desabotoando-a de forma desajeitada. A umidade em sua boca aquece a minha, e nossos lábios dançam quando inclino minha cabeça para o lado e avanço sobre o corpo dela, roçando a língua em seu lábio inferior, com um tipo diferente de fome, que se alastra por minha pele em um formigamento avassalador.

Leva-me onde minha confiança é sem limites

Permita-me caminhar sobre as águas

Leva-me mais longe que meus pés jamais poderão andar

E minha fé se fortalecerá na presença do meu salvador.

Oceans - Hillsong UNITED

Separo nossas bocas quando percebo que meus pulmões estão exaustos, e precisam do ar dela para poder respirar. Toco seu colo com as pontas dos dedos e sinto a pulsação forte em seu corpo, com um sorriso que contagia meus lábios, e volto aos dela, sedento. Antes de beijá-la, sussurro contra sua boca:

-Eu te amo, Magrela. - Rouco, sou embalado pela insanidade.

-Eu também te amo, Cabeludo. - Sua resposta ofegante me oferece os lábios para beijar.

Posso estar no meio do nada e até não saber onde estou, contudo sei que não estou perdido. Estou exatamente onde deveria estar.

 

Eu chamarei seu nome e minha alma descansará em seu abraço...

Porque eu sou seu e você é meu.

Oceans - Hillsong UNITED

***

 

Laurent Blanc

Centre d'entraînement Ooredoo - Camp Des Loges - Paris - França. - Segunda-Feira, 09 de Fevereiro de 2015.

Tiro os óculos do rosto e esfrego os dedos nos olhos, fitando meu reflexo espelhado nas vidraças da parede do centro de treinamento. A temporada exaustiva para o time tem me deixado preocupado o tempo inteiro, e é difícil dormir, agora. A pressão vem da torcida acostumada à vitórias, da mídia pela ambição de fazer o PSG entrar para o panteão dos gigantes da Europa, e de Nasser pelo valor investido no time que ele me dá total liberdade de montar e manter. Durante todo o tempo tento me aproximar de minhas peças para conquistá-los.

Quero que os jogadores confiem em mim porque muitos deles são jovens sem noção de direção.

Alguns deles me veem como um pai que está longe ou já se foi, e eu tento manter essa figura, com uma atitude firme, mas também como apoio para as horas mais difíceis. E, por essas e outras, me vejo como conselheiro de alguns deles. Nem sempre a paciência é meu guia, mas, no dia de hoje, ela é imprescindível, porque não quero perder um jogador como ele, nem uma profissional como ela.

Nem posso deixar Nasser saber do problema interno pelo qual o Centro de Treinamento Ooredoo está passando. Assim, caminho pelos corredores do lugar, vendo os quadros nas paredes e os troféus espalhados por fotografias de jogos históricos. Quando vejo a porta da academia aberta, sei que ele está lá, como sempre, fora do horário, porque evita treinar com os companheiros na academia. Alcanço a entrada e fiscalizo o interior. Lá está o rapaz, sentado na bicicleta ergométrica, solitário, com o olhar perdido sobre o gramado à sua frente, mal iluminado pelo céu nublado do fim do dia de inverno de Paris.

-Edinson? - Pergunto, adiantando-me entre as máquinas. Ele olha para trás surpreso, e se mexe, levantando. - Não precisa se incomodar, pode continuar. Eu só quero conversar, tem um tempo?

-Sim, senhor. - Ele responde educadamente, em espanhol, e eu assinto. - É algum problema?

-Na verdade, sim. Mas é algo simples de se resolver. - Sento-me em uma máquina ao lado da bicicleta em que ele se exercita, e Cavani franze o cenho, confuso. Eles sempre são. - Sei do que está acontecendo nesse ambiente de trabalho, uma situação entre você e uma pessoa da comissão técnica. Fiz vista grossa por um tempo porque sinceramente achei que não precisaria intervir, como sempre preciso fazer com aquele cabeça dura do Luiz.

Refiro-me aos acessos de loucura de David Luiz, que o tornam o jogador mais imprevisível do qual disponho em minha equipe. Isso porque o previsível de Zlatan Ibrahimovic é ser imprevisível, então sempre espero por alguma excentricidade dele. Já David Luiz... Nunca sei quando ele vai estar bem, ou quando vai me fazer preferir estar morto.

-Perdão, senhor, não sei do que está falando. - Ele responde, e ouço a bicicleta começar a agir, porque ele pedala cada vez mais depressa. É como se todos eles não soubessem que eu sei tudo o que acontece debaixo desse teto.

-Bom, então tenho apenas um aviso. Thaís Lobato será demitida logo após o jogo contra o Caen, no próximo sábado.

-Que?! - Ele para de pedalar e se vira para mim. Agora sei que consegui a atenção de Cavani.

-É só um aviso.

-Hm... - Os olhos do uruguaio orbitam por toda a academia e ele parece pensar profundamente na notícia. Eu espero, porque sei que ele apresentará alguma tese, algum argumento e um pedido. Eles sempre fazem isso. - Por que vai despedi-la? Ela fez alguma coisa assim tão ruim? Thaís é uma ótima profissional, ela merece a posição que tem. Ninguém reclama do trabalho dela. Ao contrário, todo mundo gosta bastante. Ela não precisa sair.

-Aparentemente a presença dela aqui está incomodando alguns jogadores. Assim me foi relatado.

-Quem falou isso? - O semblante dele se fecha, e eu sorrio com um canto dos lábios.

-Não interessa de quem eu ouvi, a mim só importa que eu reparei, mesmo, em alguns atritos no Centro de Treinamento envolvendo a srta. Lobato, e vou repassar isso para o departamento de administração. Talvez a retirada dela de nosso quadro melhore a situação aqui.

-Não acredito nisso. - O sotaque de Cavani se acentua quando ele fala. - Ela é uma ótima profissional, não merece ser demitida porque eu não consigo superá-la.

-Então você sabe do que eu estou falando. - Cruzo os braços e vejo os ombros do rapaz caírem.

-Professor, eu...

-Conte-me, por favor, essa história desde o começo. Quem sabe assim eu possa entender o motivo dessa loucura toda entre vocês. Não se abstenha dos detalhes.

-Vai fazê-la ficar? - Ele torce a expressão e eu dou de ombros, com os braços cruzados.

-Vai me fazer pensar em uma solução justa.

-Certo. A história é bem longa, mas já que quer saber detalhes, não vou poupá-los. - Edinson Cavani ergue uma mão até os cabelos e coça a testa. Vejo uma sombra perpassar seu rosto quando ele começa a contar sua história. - Conheci Thaís... - Ele dá um sorriso amarelo. - Eu a chamo de Thaís Lovato, bem... Isso não vem ao caso. A conheci numa conferência de fisioterapia esportiva em Montevidéu. Ela apresentou um trabalho lá, e eu estava em outra apresentação, dando apoio a um amigo. A vi no coquetel depois das apresentações de seminários, e ela conversava com alguns representantes brasileiros de entidades de fisioterapia e medicina esportiva. Ela sufocava o salão, chamava a atenção de todos os olhares com aqueles olhos, com aquela risada... Eu...

-Se apaixonou pela srta. Lobato a primeira vista?

-Não! De jeito nenhum. Mas ela chamou minha atenção. - Ele coça a nuca. - Naquela mesma noite juntei-me ao seu grupo de conversas e entrei em diversos assuntos, sempre tentando me aproximar, mas ela parecia tão pouco interessada em mim... Que me instigou. Era uma conquista que prometia ser difícil e divertida, e eu adorava aquele tipo de jogo. - Os olhos do uruguaio pairam sobre mim. - Ela não se impressionou por minha riqueza ou fama, nem por minha conversa, nem por... Minha figura. Depois de algum tempo, já bêbado, eu fui um pouco... Longe demais, e ela me acertou um soco na cara. Acho que fez bem. Nunca entre numa briga com ela, aliás. Ela bate bem. - Cavani soca a própria mão.

-Sei... E depois?

-Depois achei que nunca mais a veria, mas a encontrei em um restaurante aqui em Paris no meio do ano, com David e seus amigos, até aquele louco que faz aquele programa "Ítalo Zuero Na ESPN".

-Irmão da Srta. Morais.

-Esse mesmo. Nesse jantar eu tive a oportunidade de falar com ela novamente e aquele ódio que rescindia do olhar dela me enfeitiçou. Eu descobri naquele momento que queria conquistá-la, tanto ou mais do que em Montevidéu. Desde então vivemos como cão e gato. Só que durante esse processo... Eu me apaixonei de verdade por ela. Acontece que omiti por tanto tempo que gostava dela que, quando aconteceu de verdade... Ela não acreditou em mim, e com razão. - Edinson inclina a cabeça e coça a têmpora.

-Mas você a ama. Isso é certo, eu percebei, mas não entendi porque não deixa que ela se aproxime, garoto. O que eu soube foi que ela quer conversar com você, e você não quer. Pode me explicar isso? É a última pergunta que farei. Depois te deixarei em paz. - Jogo com as palavras, para colher as respostas certas do uruguaio, e ele sorri com tristeza, o que me surpreende. Cavani levanta-se da bicicleta ergométrica e pega sua garrafa de tônico, bebe uns goles e dá de ombros. Ele coloca uma toalha ao redor do pescoço e passa a mão pelo cabelo, com força, puxando-o com os nós dos dedos.

-Eu sei porque ela quer conversar comigo, e não quero ouvir nenhuma palavra.

-Por que ela quer conversar com você?

-Pra me dizer que está tudo bem entre nós e que podemos ser amigos. Eu sei que é isso, já me disseram.

-Te disseram isso? - Franzo o cenho para o jogador, e ele assente com certeza.

-Professor, não demita a Thaís. Só peço isso. Eu volto a treinar nos horários normais e aceito o tratamento dela, se for preciso, mas não a demita. Thaís está realizando um sonho, trabalhando aqui, e eu não quero destruir isso. Já fiz muito mal a ela.

-Você a ama.

-Amo.

-E acha que ela não gosta de você.

-Ela mal me suporta.

-Certo. Bem, eu vou indo, então.

-Certo...

-Pode almoçar comigo amanhã no La Societé? - Cavani franze o espaço entre as sobrancelhas e coça o ombro, confirmando com a cabeça. - Meio dia. Seja pontual.

Faço um sinal de despedida e vejo Cavani deixar-me sozinho na academia. Assim que ele fecha a porta, outra se abre. A portinhola da sala de fisioterapia, ao lado da academia, revela meu segredo, e ela passa as mãos pelos olhos, fungando com um sorriso estranho. Vislumbro as lágrimas que tornam suas íris mais brilhantes, e cruzo os braços, meneando a cabeça ligeiramente.

-Você o ouviu. Agora sabe o que ele pensa e sabe o que fazer. As reservas estão em meu nome, pra que ele não desconfie. Thaís, conserte isso.

-Eu vou.

Prometo a mim mesmo, pela milésima vez, que essa será a última vez em que eu me enfio em assuntos particulares de meus jogadores.

Desde que não afete sua performance em campo.

***


Notas Finais


Meu nome é Júlia: https://www.youtube.com/watch?v=7ry7guMUfZc
Música Oceans - Hillsong UNITED: https://www.youtube.com/watch?v=dy9nwe9_xzw
Postagem do dia 21 de janeiro de 2015 no instagram do David: https://www.instagram.com/p/yIhOFujHRj/?taken-by=davidluiz_4

E ENTÃO? MORTA ESTOU. <3 Mais uma vez obrigada, e se puderem me dizer o que acharam... EU FICARIA MAIS MORTA SE É QUE É POSSÍVEL.
Isso é tudo, pessoal!
Ass.: Fê.


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