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História Diário de Uma Iniciante em Copa do Mundo - Fernanda - Queda não, era um precipício inteiro por Podolski


Escrita por: Lina_B

Notas do Autor


MIL ANOS PRA POSTAR.

Não matem a gente. Esses dias tem sido difíceis ç.ç

Capítulo 28 - Fernanda - Queda não, era um precipício inteiro por Podolski


Fanfic / Fanfiction Diário de Uma Iniciante em Copa do Mundo - Fernanda - Queda não, era um precipício inteiro por Podolski

Fernanda

Como não aguentei ficar sozinha no quarto, desci até o saguão do hotel e sentei-me ao lado de Murilo, onde estou agora. Mordo os lábios sem força, e sinto o sabor acre do gloss incolor que hidrata meus lábios secos por causa do clima frio da serra. Ainda fito o celular, com a sensação de ser amplamente ignorada, e injustiçada. Suspiro delicadamente, e meu interior se aperta ligeiramente, num assomo de más vibrações. Meu coração bate pela metade, e a tristeza me abate. Meus ombros, então, caem, e eu continuo a olhar a última hora na qual ele estava online no aplicativo do celular. Já faz dez minutos que ele saiu, e que me ligou, pedindo o telefone de Júlia, para Oscar.

-Acho que o David está com raiva de mim. – Minha voz sai um pouco aguda, esganiçada pela pressão do mau sentimento que me assola. Espero que seja apenas uma cisma minha, e que ele não esteja realmente com raiva de mim, até porque não faria nenhum sentido. Eu não fiz nada demais, fiz?

-Porque acha isso? – Murilo pergunta desinteressado. Ele faz uma edição de dez notas para serem soltas no site do jornal para o qual ele trabalha, e meu envolvimento amoroso, nesse momento, é sua última preocupação. Já eu traduzo os tweets que Lukas me pediu para traduzir, já que ele quer deixar bem claro para os brasileiros o que ele tem feito em território nacional. - Ah, e lembre-se que o seu post do Diário de uma iniciante em copa do mundo tem que estar pronto em uma hora.

-É, eu sei. E eu acho que o David está com raiva porque ele está estranho. E quando eu perguntei o qual era o problema, ele desconversou, e disse que não era nada. Certo, nada... - Rio amargamente. - Tá bom, nada.

-Ah, você está assim porque esse "nada" quer dizer tudo na linguagem das mulheres. – Murilo sorri com o canto dos lábios, enquanto constata isso, e seu olhar é divertido. Já falei que detesto quando o Murilo se diverte com as minhas crises?

-É por aí. – Eu murmuro e bloqueio a tela do celular. – Mas não deve ser nada... Ele não está com raiva, não pode. Eu não fiz nada... Ele só deve estar com sono.

-Se sua consciência está limpa... - Murilo dá de ombros, e continua a digitar incansavelmente no teclado de seu notebook.

Pego meu próprio notebook e o abro, esperando que ele carregue logo para que eu possa encaminhar todos os tweets traduzidos. Quando eu abro o navegador e a caixa de e-mails, envio para Lukas tudo o que eu traduzi para o português, e, depois, mando uma mensagem curta, com os dizeres: "Espero que tenha muitos retweets. hehe. Saudade de você, alemão."

Sinto-me feliz por Lukas ainda me tratar da mesma forma de antes, mesmo que ainda não tenhamos nos encontrado nesta copa. Depois da minha viagem à Alemanha, eu passei um bom tempo em contato diário com ele. Lukas me ensinou um pouco de alemão, e eu de português, e ele sempre amou a nossa cultura, nossa comida, nossos costumes. O alemão mais brasileiro que eu já vi. Ele sempre me contava que um dia se casaria com uma brasileira, por gostar tanto de nossa cultura. Naquela época eu sonhava que a pessoa fosse eu, porque eu tinha uma queda por ele. Queda não, era um precipício inteiro por Lukas Podolski.

Eu sonhava com ele durante as noites, e passava o dia esperando para falar com ele pelo MSN, ou por mensagens no celular. Nos primeiros dias nos falávamos pelo telefone... Mas foi só até chegar a primeira conta do mês. Depois disso minha mãe cortou as ligações, exceto as que ele mesmo fazia. Então, pela distância, e pela dificuldade que existia naquela época, por causa da falta de meios de comunicação simplificados como temos hoje, nossas conversas foram rareando, e minha paixonite por ele decresceu, até se transformar numa amizade bonita.

Então, ele voltou a falar comigo com mais constância depois que o Brasil foi escolhido sede da copa do mundo de 2014. E, durante a copa das confederações do ano passado, ele me confidenciou que estava torcendo para o Brasil. Lukas, aliás, anda com uma bandeira do Brasil para onde vai, e é um sofredor flamenguista. Então, com as facilidades, voltamos a nos falar, e desde que a copa do mundo começou, eu tenho falado com ele regularmente. Desejo sempre bom jogo, e entre uma conversa e outra, ele já me perguntou algumas vezes se eu estava sozinha.

Como eu não sei o que há entre mim e David, não comento que estou namorando, mas não digo que estou sozinha, tampouco. Meus pensamentos são cortados pelo celular que toca, e eu puxo com força, esperando ser David, mas o número e a foto que vejo são de Lukas Podolski, e eu arregalo os olhos.

-É o Poldi. - Eu falo, e aponto meu celular. Murilo me observa de lado e meneia a cabeça.

-Quem me dera ser mulher. - Ele comenta entediado. - Nunca mais eu precisaria correr tanto atrás de uma entrevista. Que isso... Que mundo injusto. Os jogadores correm atrás de você, ao invés do contrário. Atende logo isso. - Ele diz, e eu rio, nervosa.

-Está bem. - Deslizo o celular e atendo a ligação. - Oi Lukas. - Falo em inglês, porque essa é a língua que padronizamos para falar, porque os dois são fluentes.

-Sua voz ainda é desengonçada. - Ele responde, e eu custo a entender, de início, o que ele diz, porque ele fala em alemão. Eu só sei pouca coisa que ele me ensinou durante os anos de amizade.

-Você disse que minha voz é desengonçada? - Eu pergunto, esperando que ele me confirme. Ele ri.

-Não. - Lukas responde em inglês. - Eu falei que sua voz é bonita. Você que entendeu desengonçada. Não tem nada a ver.

-Ah, entendi agora... Mas também, você não pode exigir muito.

-Posso exigir uma aposta. - Ouço ele falar em claro e lento inglês, o que me ajuda a decifrar seu sotaque.

-Uma aposta? Como assim?

-Quero apostar que vamos ganhar o jogo contra o Brasil. 2x1 Alemanha. E você?

-2x1 Brasil. - Eu rio, enquanto falo, e ouço seu muxoxo. - O Brasil vai ganhar a copa, Poldi. E vai ter gol do zagueiro.

-Iiiih... Estou sentindo algo de amor no meio aí desse gol de zagueiro. Eu vi mesmo nas notícias do Twitter que o David Luiz descolou na copa. Descolou bem, aliás, porque ê brasileira gostosa.

-Lukas! - Eu resmungo, e ele ri. A risada dele é forte e grave, como eu me lembro. - Para com isso. Eu estou ficando envergonhada.

-Já parei. - Ele fala, descontraído. - Mas vou ficar com ciúme da minha brasileira. Porque...

-Nada a ver, de novo. Você é muito safado. Está aí todo comprometido com sua própria brasileira e fica jogando charme pra cima de mim. - Lukas ri mais, e eu ouço seu fungar.

-Só estou brincando. Mas sim, eu acho que o David Luiz é um bom jogador. Mas o time todo tem muitas fragilidades, e nós conhecemos bem o time do Brasil, para bombardear o ataque nas figuras certas. Sabe, uma das marcas do seu zagueiro é justamente a de abandonar a zaga em arrancadas para o ataque.

-O que tem isso?

-Nós podemos aproveitar isso num possível contra-ataque, ainda mais com um meio campo frágil como o de vocês.

-Mas ele vai saber o que fazer.

-Eu ainda acho que sozinho ele não pode fazer muita coisa, Fefa. - Ele me chama pelo apelido que ele mesmo pôs em mim. - Ainda mais que será um desafio sem dois dos quatro melhores jogadores do time. Nem preciso dizer que nossa vitória já é certa.

-Não... - Eu murmuro, mas sei que ele está falando a verdade, e que a possibilidade do Brasil ganhar é pouca. Mas também sei que eles vão tentar, e que nada é impossível, e que o Brasil é forte.

-Você está mais assim porque o David é seu namorado.

-Ele não é meu namorado...

-Bom, pelas fotos que eu vi na internet, vocês são namorados, sim. - Eu passo os olhos pelo chão.

-Que fotos?

-Vocês dois agarrados numa praia, acho que depois do jogo contra a Colômbia. Ciúmes.

-Para com isso! - Eu rio enquanto falo, e passo uma mão pelo rosto. Ouço outra risada dele.

-Ah, mas eu não esqueci da aposta. E se eu ganhar, você vai ter que cozinhar aquela feijoada pra mim.

-E se eu ganhar?

-Te levo pro festival de cerveja da cidade da minha mãe. Você vai gostar.

-Hm... Feito.

-Agora eu tenho que ir, só liguei pra falar contigo. Quero te ver no dia do jogo, tudo bem?

-Claro, eu adoraria. Até mais. - Escuto ele rir e mandar um beijo, desligando depois.

 

Apesar da conversa, da saudade de um amigo, do olhar de esgueira de Murilo, e das mensagens de Júlia, Jordany, Natalia e Lara no whatsapp, tudo o que eu queria eram notícias de David.

***

-Mas ele estava conversando comigo... Não posso mesmo pegar no celular? Ele vai ficar chateado se achar que eu o deixei no vácuo. IMAGINA DEIXAR O THIAGO SILVA NO VÁAACUO!!!! – Natalia resmunga e abre os braços. Eu rio e jogo uma pipoca nela.

-Quando eu chamei vocês pra virem até aqui, pra ficarem comigo no hotel, eu fui bem clara. Nada de celular.

-É, mas eu queria falar com ele... Bom, pelo menos dá pra mudar o filme?

-AI MEU DEUS. - Júlia grita. - SOCORRO.

-Que foi, menina? - Jordany pergunta, olhando-a.

-Nós estamos na coluna da iniciante em copa do mundo. - Júlia fala, e me olha. Ela saltita pelo meu quarto de hotel. - Olha! Olha! Ela falou que nós somos as melhores companhias pra dividir uma copa do mundo! - Ela para, pisca algumas vezes, e fica séria. - Ela nos conhece? - Júlia deixa o queixo cair. - Como ela nos conhece?

-A iniciante sou eu, Júlia. - Eu respondo, e ela me olha, genuinamente surpresa. Seu queixo cai. Todas nós rimos.

-SOCORRO! TENHO UMA AMIGA FAMOSA!

-Estão vendo... É por isso que quando eu estou deprimida, chamo vocês. - Eu falo em meio as risadas.

-É sério, gente, muda esse filme. Detesto Diário de uma paixão. - Natalia fala, e eu vejo Jordany rolar e cair da cama, rindo ainda de Júlia, que agora joga um travesseiro em Natalia, acertando em cheio o rosto dela, que deixa os ombros caírem. - Pode mandar fechar aqui, porque só tem doida.

-Peraí gente... Ei, aqui... - Eu falo, e estendo os braços no ar. - PESSOAL! - Eu grito, e todas elas param, olhando-me.

-O que foi, Fê?

-O filme... Ninguém quer assistir?

-Só você e a Júlia, que estão na fossa, e eu nem sei porque. - Jordany fala, e senta perto de Natalia, que aponta para a amiga, assentindo. Então Júlia senta na cama, ao meu lado, e pega meu tablet, desbloqueando-o e vendo uma foto de David.

-David está com raiva de mim, e não me atende mais. - Eu me explico, e Júlia me olha, mostrando a foto para as meninas depois.

-Tudo bem, é um bom motivo, olha o cara que está ignorando a Fê. Olha esse perfil. Olha esses olhos. Olha esses cabelos. Olha essa boca. Estão vendo? - Então Lara sai do banheiro, com o celular na mão.

-De quem que vocês estão falando mesmo? - Ela pergunta, com o sotaque mineiro apurado. Júlia mostra a foto, e Lara sorri amolecida, então eu percebo que todas dentro do quarto estão derretidas, e cruzo os braços.

-Vocês são ótimas amigas. Todas aí rendidas pelo David, fala sério. Vocês deveriam estar falando mal dele, não morrendo pela fofura dele.

-Ai Fê... É que ele é tão lindo... - Júlia fala, encostando a cabeça no meu ombro. - Como você consegue?

-O que? - Eu pergunto, com ar de riso, olhando-a de canto.

-Não morrer por essa foto. - Ela esfrega a foto quase no meu rosto, e eu rio. - Ele está tentando te seduzir, olha... Olha só.

-Para, Júlia. - Eu continuo a rir.

-Mas sério, ele é muito lindo. - Lara comenta, sentando ao lado de Natalia e Jordany. As outras duas concordam com Lara, e as três me olham. - Como ele é como namorado? - Ela pergunta, e eu encolho os ombros.

-Ah, não sei... Normal, como qualquer namorado. - Desconverso porque a palavra namorado não cabe, já que não estamos juntos oficialmente. Ou, se estamos, não é da parte dele.

-Não acredito. Quero detalhes.

-Ah... Hm... Deixa eu ver. - Eu estreito os olhos, e vejo Júlia passar por algumas outras fotos dele, e mostrar pra Lara, que começa a se aproximar de nós, para se deleitar com as fotos de David. - Ele é atencioso, e é carinhoso. Ele tem traços bem marcantes, sabe? Ele é forte, então a pegada também é. E ele é meio passional, então é bem intenso estar com ele. Todos os momentos. Os bons são incríveis, e os maus são amedrontadores. Isso porque... Bom, David com raiva dá medo. Mas David sendo fofo é o mais fofo. E ele é bem ciumento. - Elas me observam com atenção. - Enfim... Júlia, você tinha falado que estava na fossa também... Por que?

-Porque o Oscar pega aquela Vittoria. - Ela faz um bico. - Acho que ele nem quer, mas ela fala de um jeito que parece que vai tirar a sua pele com as unhas se você não fizer o que ela quer.

-Ela deve estuprar ele. – Natalia completa e pega um pouco de pipoca.

-EXATAMENTE! Natalia, você é um gênio. – Ela se vira para mim. - Um homem pode alegar estupro? – Eu não seguro a risada e quase engasgo com a pipoca.

-Só vocês... –Eu paro um momento e coloco a mão sobre o peito, para respirar enquanto sinto o pedaço que estava em minha garganta descer. – Para de me fazer rir em um momento desses. E não. Não sei se um homem pode dizer que foi estuprado por uma mulher. É estranho.

-Que broxante. – Júlia fala e pega a colher. Ela enche a colher de sorvete, que estamos tirando direto do pote e leva até a boca.

-Vamos pesquisar sobre isso. – Natalia coloca a mão sobre o ombro de Júlia.

-Mas qual o problema do David, exatamente..? - Lara pergunta, e eu a olho.

-Ah, como eu falei... Ele está com ciúmes do Lukas.

-Que Lukas? - Lara continua a perguntar, e Jordany suspira.

-Podolski. Porque não basta ser namorada do David Luiz, ela ainda tem que ser amiga do Poldi. - Eu rio do comentário de Jordany, e meneio a cabeça.

-Enfim... O David deve estar achando que eu tenho alguma coisa com o Lukas.

-Bem, eu gostaria de ter algo com o Poldi.  – Natalia diz e sorri sapeca. Júlia também acaba sorrindo.

-É. Você trocaria o Thiago por ele? – Digo a Natalia. E depois aponto para Júlia. – E você não troca o Oscar por ninguém, também.

-SE... E somente se eu tivesse o Oscar. Estamos falando de um universo paralelo aqui. – Júlia completa com a voz triste.

-Bem, você está quase lá. É bem obvio que ele gosta de você.

Ao invés de responder, Júlia coloca mais sorvete na boca. Eu suspiro ao me lembrar de como David estava seco hoje e de que não vou vê-lo por alguns dias. Pego a minha própria colher e a encho de sorvete também.

-Ver vocês duas me deixa deprimida. – Natalia pega uma colher e se junta a nós duas comendo sorvete direto de pote. – Mas eu acho que você tem que ligar para o David. – Ela me olha e então, se vira para a Júlia. – E você tem que lutar pelo seu espaço. Manda uma mensagem pro Oscar, conversa com ele.

-Eu não tenho o número dele.

Então eu lembro de um fato bastante interessante que aconteceu hoje e eu omiti para as meninas. Arregalo os olhos e sorrio, fitando Júlia. Lara e Jordany me observam como se soubessem que vem boa notícia.

-JÚLIA! – Eu digo, quase gritando, e ela me olha com a colher na boca, erguendo as sobrancelhas. – David me ligou mais cedo e me pediu o seu número! PORQUE O OSCAR PEDIU!!!

A colher cai da boca de Júlia, direto no chão. Seus olhos se arregalam, e ela coloca a mão no peito. Paralisada. Natalia cutuca a amiga, mas ela continua sem se mexer. Eu estalo os dedos na frente de Júlia, mas ela continua estática. Seu rosto fica enrubescido e ela puxa o ar com força, nos fazendo ficar com medo de um ataque do coração.

-PORQUE VOCÊ NÃO ME DISSE MAIS CEDO????!!! – Ela se levanta correndo e pega o celular que estava em cima da mesa. –AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!! – O grito dela é tão alto e inesperado que eu tremo e deixo o pote de pipoca cair no chão. Ok. Sem problemas. Estamos com uma situação pior no momento. – ELE ME ADICIONOU. ELE ME ADICIONOU! ELE FALOU COMIGO! AAAAAAAAI. MEEEEEEEEEU. DEEEEEEEEEEEUS. QUE FOTO É ESSA? SOCORROOO! - Ela pula e mostra o celular. Lara está caída no chão, rindo. Jordany puxa o pote de sorvete para ela, comendo sozinha. Natalia olha para Júlia, perplexa, e eu... Bem, eu tento manter a postura adulta que preciso ter para ajudar Júlia.

-Responde a mensagem dele...

-O que eu digo? – Ela faz um bico e coloca uma das mãos na cintura. – Ele disse que esse é o número dele, que ele pegou com o David, mais cedo. - Ela me olha. - Na hora que o David te ligou, não é? Certo. - Ela pigarreia. - Ele falou que está sentindo falta do meu jeito espontâneo e que queria me ver, pra rir um pouco comigo. Ai Meu Deus. O que eu faço? O que eu digo?

-A Júlia pegou o celular. Isso significa que agora eu posso pegar o meu. – Natalia se levanta e corre até o celular dela, em cima da mesa. Eu suspiro e olho para o meu, em cima da cama.

Nenhuma nova notificação no Whatsapp. Nenhuma nova mensagem. Nenhuma ligação perdida. 

Ele disse que iria me ligar quando acordasse e não acho que ele ainda esteja dormindo. Olho o relógio em cima da cabeceira. Já se passaram duas horas desde que ele me ligou, ele não iria dormir duas horas assim, nem pode. Então algo vazio em meu interior se instala.

 

-O David acabou de acordar. – Natalia fala, sem tirar os olhos do celular. – E agora ele está olhando o celular dele.

-Como você sabe? – Sinto meu coração bater mais forte e, por impulso, pego meu celular também.

-Porque o Thiago está me falando. Ele acha que o David vai ligar pra você e... - Meu celular toca. Ele realmente me ligou no momento em que acordou. O quão perfeito é isso?

-Oi. - Acho que a minha voz saiu mais manhosa do que eu esperava, mas não tem problema. Ele me ligou no momento em que acordou.

-Oi. - A voz dele é rouca como é todas as manhãs quando ele acaba de acordar. Eu mordo o lábio, sentindo falta de acordar com ele.

-Não vai ter treino hoje?-

-Já teve, o muscular. - Ele boceja, o que me fez bocejar também. - Conversou muito com o seu best Poldi? - Eu rio do modo como ele fala.

-Sim. E apostei com ele que você faria um gol. Trate de me fazer ganhar essa aposta.

-Vocês são bem amigos, hein?

-Somos... Mas não o vejo a muito tempo, e nunca mais havia falado com ele. Ele só me ligou mesmo pra falar sobre o próximo jogo, e pra pedir pra eu traduzir uns tweets dele.

-Estou com ciúme. - Faço uma pausa e fico calada, parada, olhando o nada. Me sinto numa síncope, igual a que Júlia teve, agora a pouco. - Fê?

-Oi, eu estava derretendo aqui... Deixa pra lá. Não precisa sentir ciúme, seu bobo. - Ele ri baixo. Vai ser muito torturante ficar esses dias sem ele. Muito torturante.

-Queria que você pudesse vir aqui hoje.

-Eu também queria. - Digo quase como um sussurro. Natalia e Júlia estão muito ocupadas para prestar atenção em nossa conversa, mesmo assim, prefiro manter o tom de voz mais baixo. Jordany e Lara conversam, e vejo Jordany mostrar algo a Lara, sem saber exatamente do que se trata.

-Mais alguns dias e, quando ganharmos da Alemanha, e eu der uma surra no seu Poldi, dentro do campo, claro, nós vamos poder nos encontrar.

-Mal posso esperar. - Eu murmuro, com um sorriso bobo no rosto. - Aguardo alguns segundos por uma resposta que não vem. Então, ouço alguns barulhos do outro lado da linha.

-Magrela, o professor está chamando para uma reunião do time. Nos falamos mais tarde, ok?

-Claro. Beijos.

-Magrela. - Ele diz antes que eu desligue e eu espero que ele continue - Eu já sinto a sua falta.

-Eu também. - Meu coração bate com tanta força que eu sufoco, e não digo adeus.

Mas não precisamos disso. Quando o telefone fica mudo, todos os pelos do meu corpo estão arrepiados, e um sorriso vibra em minha boca, como se nunca fosse desaparecer. Toda a sensação de desânimo é corrompida pelo sentimento forte e bom que invade meu interior, me esquentando. Deito na cama e fecho os olhos. Sonho acordada. Quem é David Luiz em minha vida? Um amigo? Um ficante? Um namorado? A última opção é a que mais me deixa feliz, e é com ela que eu prefiro pensar. E o toque macio de seu cabelo cacheado ainda está em minha mão. E o cheiro fresco de seu perfume, e a tez macia de sua superfície quente, que me faz febril. Não seria precipitada em dizer que o amo, porque realmente o amo. Só não posso deixar ele saber... Mas... Será que ele já sabe?

*** 



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