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História Dias Obstinados - Seis


Escrita por: MrDimpleYH

Notas do Autor


Como prometido, mais um capítulo para vocês! Lembrando que as atualizações acontecem TERÇAS e SEXTAS, até segunda ordem. (ou melhor dizendo, até que minha internet caia. Sendo assim, o capítulo será postado quando retornar)

Eu amei escrever esse capítulo repleto de gestos. Essa é a minha percepção do personagem Zhan Zheng Xi em seu âmago.

Capítulo 6 - Seis


Era quase uma hora da tarde quando acordei por conta do toque da campainha. Somente quando me esforcei para me levantar e senti o mundo dar voltas e minhas pernas fraquejarem, que percebi o motivo de minha hibernação. Sem sombra de dúvidas, estava doente. Podia sentir um gosto amargo em minha boca, mas não amargo do tipo “oh, acordei agora” e aquele hálito matinal desagradável, e sim o hálito — também desagradável — de quando sabemos estar doentes. Ao passar pelo espelho da sala pude perceber o estado deplorável que me encontrava, com o cabelo sem definição concreta de para onde ia e minha cor mais pálida do que o usual, mas não estava ligando. Provavelmente seria aquele “guarda costas” esquisito que costumava aparecer para cuidar de mim, embora eu nunca mais o tenha visto, e com certeza ele não era alguém a que eu sentia o prazer da visita.

    Agarrado no meu roupão, percebi logo de cara quem era através das frechas de vidro da porta. Meu coração imediatamente acelerou e eu engoli saliva. Ele estava de costas. O vidro permitia ver o que acontecia do lado de fora, e não do lado de dentro. Amarrei melhor meu roupão e arrumei o cabelo da melhor forma que me era possível naquele momento. Deveria sorrir e agir com normalidade ou surpreendê-lo com uma pose mais severa e deixa-lo se perguntando o que fez de errado?

    “Pff, Jian Yi, não seja ridículo. Você não pode tentar fazer com que outra pessoa se sinta mal por não conseguir se atrair por seu mesmo gênero. O único culpado em cultivar esse amor sem futuro é você mesmo.”  

    Meus pensamentos doíam, mas não poderia ser menos honesto naquele momento. Sim, eu estava machucado, sim, meu coração doía apenas em ver o cabelo de sua nuca daquela forma sabendo que nunca poderia toca-lo com propriedade e sim, eu queria poder afastá-lo de mim, mas não podia. Zhan Zheng Xi não havia feito nada de errado.

    Abri a porta devagar, olhando para o chão. Ele se virou para mim, entreabrindo os lábios para que me dissesse algo de imediato e então parou no meio do caminho.

    — Você está bem? — deu um passo adiante, colocando a mão em minha testa. Era tão óbvio assim que estava doente? Retirei sua mão e me afastei minimamente antes de responder, colocando minha mão sobre a boca. Eu bem sei o quanto é desagradável o hálito de um enfermo, e somado ao hálito matinal, com certeza estaria insustentável.

    — É, eu acho que foi por causa da chuva de ontem. Você sabe... eu não sou exatamente uma pessoa com imunidade boa.

    — Você é um idiota. — ele me insultou de repente, me olhando com as mãos enfiadas no bolso. Sabia não ser exatamente uma ofensa, essa era sua forma de dizer que minhas atitudes não eram muito inteligentes. — Eu disse para não soltar na minha casa, não tínhamos guarda chuvas e você não quis entrar.

    — Não queria incomodar. — repliquei. Zhan Zheng Xi era exageradamente chato quando o assunto era seu apartamento tedioso. Eu não gostava de videogames tanto quanto ele; mas também não poderia tocar em seus mangás ou fuxicar seu computador. Reclamava que eu desforrava sua cama ou que abria sua geladeira, e embora tudo o que ele diga seja verdade, ele também se recusava a me dar atenção, usando-a toda em seus jogos. Em outras palavras, eu deveria sentar e ficar olhando seu relógio sem expressar uma palavra. Além disso, na noite passada Zheng Xi Xi era a última pessoa com quem eu queria estar na face da terra. — Você tem um compromisso hoje, certo? Veio me entregar o celular?

    — É... — ele retirou o aparelho do bolso da calça. Notei a forma que ele continuava a me olhar, avaliando meu estado. Sorri.

    — Não se preocupe, eu vou ficar bem. — ironicamente, uma tosse veio em minha garganta naquele momento. — Só preciso tomar meus remédios e descansar...

    Ele arqueou a sobrancelha.

    — E você, por acaso, tem remédios aí com você?

    Xi me conhecia tão bem que ele sabia melhor do que eu mesmo o que havia e não havia na minha casa. Sua intuição nunca falhava, e não era a toa que me chamava de idiota.

    —  É... não. — admiti, derrotado. — Mas eu vou sair pra comprar.

    Ele suspirou, daquele jeito que sempre fazia quando tinha alguma “responsabilidade” sobre mim. Ao menos, em sua cabeça.

    — É sério, não precisa se preocupar! — insisti, empurrando-o para fora da porta. — Eu consigo cuidar de mim mesmo, você pode ir para o seu encontro!

    Ele me fitou de forma um tanto quanto descontente. Eu não deveria ter usado a palavra “encontro”, foi apenas o meu ciúmes agindo por conta própria.

    — ... ou seja lá o que for. — completei, desconcertado. — De qualquer forma, obrigado por ter vindo até mim me entregar o celular. — falei por fim. Iria fechar a porta em sua cara, mas ele, mais forte do que eu — especialmente em meu estado atual — impediu simplesmente segurando.

    — Vai se deitar, eu vou comprar alguns remédios pra você.

    Meu coração aquiesceu, e eu apenas assenti. Momentos como esse eram quando o meu peito se apertava mais. Zheng Xi era naturalmente diligente, embora apenas com quem ele realmente se importasse. Ele realmente odiava cuidar dos outros, mas o faria sem considerar duas vezes quando estas pessoas são importantes para ele. Eu queria mal interpretar sua boa ação, imaginando que o seu zelo era o de um amante, mas aquele era apenas o Zhan Xi protetor sendo ele mesmo.

    Enquanto aguardava por Xi, tomei um rápido banho extremamente quente — mesmo sabendo não ser o ideal, afinal, estava com febre — escovei os dentes e voltei a me enfiar debaixo dos cobertores. Meu quarto continuava escuro, mesmo que o dia la fora estivesse bem verde, com a fina garoa que caía.

    Algum tempo depois, senti um toque em meu cabelo e acordei, só então percebendo que novamente eu havia dormido. Minha garganta estava um caos e sentia pontadas em lugares aleatórios do meu corpo.

    — Você realmente é um idiota. — ele falou. Ainda extenuado, olhei para ele. Eu simplesmente amava aquelas calças de moletom pretas, que eram exatamente as mesmas de três anos atrás, com listas brancas nas laterais. Usava uma camiseta azul, que combinava com seus olhos. Eu queria apenas poder abraça-lo com força, pedir que dormisse do meu lado e colocar uma perna sobre o seu corpo enquanto tiramos uma soneca da tarde, mas não podia. Jamais poderia. Precisava me conformar logo com a ideia de que aqueles gestos eram o máximo que teria de sua pessoa, e eles por si só já eram incríveis. Afinal, quantos amigos comprariam remédios e frutas para você?

    Me esforçando para levantar, me sentei e aceitei o copo de água e a pílula de dipirona que me ofereceu. Meu corpo inteiro se arrepiava com o mínimo de ar que circulava ali. Enquanto Zheng Xi suava, puxando a gola da camisa, eu voltava a me enfiar em meu cobertor.

    — Você não deveria ter molhado o cabelo, isso pode piorar a sua situação. — ele começou a falar, observador.

    — Eu sei, mas ele precisava ser lavado.

    — Então que o secasse!

    — Eu não estou com força para isso.

    Ele suspirou, indo para o meu banheiro e voltando de lá com um secador. Ah, droga, me sentia tão bem cuidado.

    — Você não deveria estar em casa? Logo, logo você terá uma reunião.

    — Eu cancelei. — falou simplesmente. Levando o copo para a cozinha e voltando para sentar-se na minha cadeira do computador.

    — O que?! Por que? Quando?

    — Porque você está doente, obviamente. — ele agachou-se no chão e plugou o secador na extensão do meu computador, ligando-a logo em seguida e fazendo uma enorme barulheira — enquanto estava na fila da farmácia, liguei para ela e cancelei.

    — Você não precisava ter feito isso. Eu disse que sou capaz de cuidar de mim mesmo!

    Ele ergueu os olhos claros para mim, por cima do secador que segurava. Meu coração palpitou.

    — Nem mesmo você acredita nisso.

    Bom, era verdade. Minha tática consistia em ignorar a febre, a dor de garganta e o resfriado até que eles decidissem curar sozinhos. Afinal, para que serve nosso sistema imunológico? Eles que lutassem para me proteger, essa era a tarefa deles.

    Me sentei na cama virado para a parede e deixei que ele secasse meu cabelo. O ar extremamente quente era agradável, ainda que me causasse arrepios na minha pele sensível pela doença. Em poucos minutos, estava seco. Voltei a me deitar.

    Fiquei quieto observando Zheng Xi andar arbitrariamente por minha casa. Ora retirando alguma coisa do caminho e guardando, ora limpando o chão com lama da noite anterior, recolhendo minhas roupas sujas largadas pela casa — não me orgulhava, eu apenas fazia — e por fim, sentou-se em minha frente com uma bandeja, uma faca e uma sacola ao seu lado. Retirou de dentro da sacola uma maçã, e repentinamente começou a descasca-la e fatia-la, entregando para mim, no final.

    — Come. Eu sei que você não se alimentou direito. — rapidamente ele se levantou e começou a recolher as coisas. — Eu vou preparar uma canja, enquanto isso, se contente com isso daí.

    Eu não era um grande fã de maçã, mas aquelas não eram simples maçãs. Eram maçãs que haviam sido cuidadosamente selecionadas e cortadas por Zheng Xi Xi, então as comi bem. Droga, ainda que estivesse doente, estava me sentindo no céu. Não precisava me preocupar em levantar para preparar algo para comer, ou mesmo buscar água. Ele até mesmo havia secado meu cabelo.

    Durante a tarde inteira havia dormido e acordado. Minha garganta continuava igualmente dolorida, mas no final da tarde, minha febre já havia baixado consideravelmente. Ele também havia regulado o xarope no horário correto.

    Por algum momento, apenas podia ouvir o som de tiro do jogo de seu celular. Ele estava sentado no lado oposto da cama, concentrado na tela da mesma, e eu, concentrado em seu rosto. Me perguntava como seria estar em uma relação amorosa, chegando a conclusão de que a diferença tangível era que eu poderia expressar a minha intensa vontade de aproximar-me mais dele, de dividirmos uma coberta, de sentir mais de perto o cheiro do amaciante de sua roupa e de seu xampu. Mas, naquele momento, essas coisas apenas podiam ficar pairando na minha imaginação.

    — Eu tenho sorte de ter um alguém como você. — acabei me expressando em voz alta, movido por aquele momento intenso em meu peito.

    — Pode se dizer que sim. — ele não retirou os olhos do aparelho eletrônico.

    Naquele momento, refleti sobre o quanto estava sendo egoísta em meus desejos. Zhan Zheng Xi não era o meu namorado, mas ele era o melhor amigo que alguém poderia ter e fazia por mim coisas que nem mesmo minha progenitora esteve presente para fazer durante a minha vida. Se estar ao seu lado como seu amigo era a única opção que me restava, então eu a aceitaria com honra.

    Ainda que, secretamente, quisesse chorar.

 

    Percebi que perdi o dia quando acordei em um impulso e notei ainda estar no quarto de Jian Yi. Não lembro como e nem quando, mas era fato que o sono me abateu. Podia ouvir a chuva forte do lado de fora, e o vento que balançava um pouco as cortinas. O quarto, antes escuro, agora parecia uma caverna. Ainda assim, conseguia ver o rosto tranquilo de Jian Yi dormindo do outro lado da cama, apoiado em seu próprio braço. Vi, também, que ele segurava uma das minhas pernas com o braço solto. Olhei meu celular, os olhos doloridos pela claridade e uma infinidade de mensagens de Li Wei perguntando sobre o trabalho. Digitei rapidamente.

    “Deixe comigo amanhã”

    E o atirei pra cima da mesa do computador. Iria me sobrecarregar no dia seguinte, mas não possuía nenhuma condição de que levantasse daquela cama quente — com Jian segurando minha perna igual um cachorro que não larga do osso — e fosse para casa. Me espreguicei. Minha perna estava formigando, mas não tive coragem de puxa-la.


Notas Finais


E aí, o que acharam?
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Galera, é o seguinte. Estou me aventurando pelo mundo dos desenhos. Se vocês também gostam desses desenhos bem yags, me sigam no insta: annexo.ord (não sou nenhuma profissional, mas estou realmente me esforçando)


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