Eu passava os dias numa gaveta escura escondida entre uma camisa de um time aleatório e uma bermuda já gasta.
Todos os dias aquele mesmo menino vinha até mim, aos prantos e me segurava sentindo meu peso com hesitação.
Seus olhos arregalados exaltavam um medo angustiante, enquanto me alisava com os dedos trêmulos. Eu me sentia mal por ele, e estava disposto a libertá-lo dessa dor que o corroía, mas ele ainda não parecia confiante o bastante para aceitar a minha ajuda.
Os dias se passaram e o pobre menino continuava a vir até mim, me tirando da escuridão da gaveta. O simples fato de me ter em suas mãos parecia piorar o seu estado, embora fosse visível a vontade que ele tinha de concretizar o ato.
Mas num certo dia, após um longo tempo sem me visitar, ele me segurou novamente, cambaleando e meio grogue.
Como sempre, eu o acolhi receptiva e dessa vez ele sorriu seguido por um suspiro pesado.
Desabafou sobre os motivos que o levaram até ali e o porquê de precisar da minha ajuda. Falava como se soubesse que eu podia ouvir e me senti grata por isso.
Dessa vez ele parecia disposto a aceitar a minha ajuda, e não hesitou ao me pegar com firmeza, pousando-me debaixo de seu queixo com os olhos abertos e fixos antes de apertar o gatilho com confiança.
Houve um estrondo no quarto minúsculo e eu caí sobre a cama, observando o menino flácido e sem vida ao meu lado, porém finalmente livre.
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