Era noite, no céu nuvens soturnas começavam a encobrir as estrelas e a lua.
O vento balançou meu cabelo e trouxe um aroma convidativo a mim. Era feminino e doce, fascinante! Coloquei o capuz do casaco, as mãos na jaqueta e comecei a caminhar buscando a proprietária.
A cidade estava incrivelmente vazia o que tornava o jogo ainda mais divertido; comecei a imaginar o título da matéria do dia seguinte: “Jovem desaparece na madrugada do dia 22 de setembro sem deixar pistas. Seria um novo assassino em série?” Sorri com este pensamento.
Quando a vi de costas caminhando, rapidamente minha garganta formigou assim que recebi uma nova lufada de vento carregada com seu cheiro que era ainda melhor conforme eu me aproximava. Não era diferente: ela perceberia que estava sendo seguida, andaria mais rápido que pudesse com receio de que eu corresse atrás, mas eu não iria já que acabaria terminando mais rápido, seu coração iria acelerar, e sem pensar ela iria parar em rua sem saída ou em um lugar ainda mais deserto e aí o jogo terminaria.
Ela olhou para trás de forma discreta, tímida, e me olhou rapidamente, sua expressão entrou em surpresa e de relance reconheci medo quando ela me viu. O jogo havia começado.
Ouvi sua respiração se alterar conforme ela começava a apertar seus passos, jogando também apertei os meus, mas não tanto não queria alcançá-la tão facilmente, estava há dez metros de distância dela, poderia acabar com isso em questão de segundos, o jogo era injusto. Tomando a segunda opção para si ela começou a errar assim que escolheu uma rua que a levaria mais afastada do centro.
Abaixei minha cabeça para que algumas câmeras de segurança não captassem meu rosto, continuando a caminhar passei a diminuir nossa distância de pouco a pouco e de propósito fiz mais audível meus passos para que ela soubesse que eu estava próximo; ela não gritou, mas correu e errou novamente quando escolheu um beco entre dois galpões para entrar.
Na tentativa tola de me atrasar empurrou algumas latas de lixo na minha frente até se deparar com uma parede de tijolos bloqueando seu caminho.
Nesse momento conseguia ouvir seu coração descompassado e sua respiração ofegante era como gasolina é para o fogo para mim. Eu estava inebriado.
Eu que até então mantinha meu olhar apenas para seus pés a olhei pela primeira vez de verdade. Sua expressão transbordava terror, me aproximei dela e coloquei minhas mãos em cada lado de sua cabeça, sem controlar a força meus dedos acabaram por moldar a parede a sua forma, ela percebeu isso e quando olhou para novamente a mim seu olhar era carregado também de surpresa.
O jogo havia acabado, ou era para ter o acabado, eu havia petrificado.
Era ela!
Não era possível! Não era para acontecer isso, mas seus olhos brilhavam o lilás que eu tanto conhecia.
Olhei para ela minuciosamente buscando algo que a diferenciasse e não encontrei nada. Definitivamente era ela.
Antes que pudesse falar ou fazer mais alguma coisa vi seus olhos fecharem e abruptamente ela começar a cair, a segurei trazendo mais perto. Seu coração continuava a bater, mas cada vez mais lento.
Ela havia desmaiado em meus braços.
Depois de décadas a procurando em vão agora ela estava ali acessível e vulnerável. Assim tomei minha escolha, essa que me arrependeria posteriormente, mas naquele momento foi a única que me pareceu ser a mais correta.
Segurando-a nos braços com seu aroma invadindo minhas narinas não a matei, mas levei ela a minha casa com o objetivo de fazê-la minha.
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