Mara
Minha mãe sempre me disse que matar é errado, mas nesse exato momento... eu quero muito matar o Cellbit. Agora meu irmãozinho, minha mãe e meu padrasto acham que eu tenho um namorado. Preciso de férias da minha vida.
Quando eu vi o Calango sentado em uma cadeira à cinco metros de mim, “lendo” um jornal com um celular no ouvido e tentando não olhar para mim, sabia que tinha coisa errada e cheiro de Cellbit. Puxo o jornal de sua mão e ele me olha assustado. Coitado do meu amigo, é um lacaio do loiro. Que triste. Pego seu celular e falo com Cellbit. A merda é que, logo depois, meu irmãozinho, Guilherme, sobe no estofado ao meu lado e puxa celular da minha mão e sai de perto para eu não conseguir pegar o celular dele.
Meu irmãozinho tem quatro anos e é muito inteligente. Ele é adotado, mas mesmo assim é o astro na minha família, todo mundo ama muito ele. Minha mãe já tem quarenta e oito anos, uma gravidez nessa idade seria loucura. Então, ela decidiu adotar. O Gui tem uma pele bronzeada, é extremamente elétrico e adora brincar. Tem os cabelos castanho claro e olhos pretos que estão sempre brilhando. Não quero ele perto do Cellbit, mas parece que já é tarde demais.
Adoção não significa que não é da família. Tenho uma amiga de infância que é mais parente minha do que minha própria tia, que não tenho uma relação muito boa com ela. Digo o mesmo para Gui, ele é meu irmão e eu o amo muito.
Puxo o celular do meu irmãozinho e o Calango tira da minha mão o aparelho. Ele vai embora sem dizer uma palavra nada.
- Inha!!! – Gui exclama – Quelo conhexer o moxo do telefone – Choraminga – Ele é muito legal!!! – Ele grita – Vamox! Vamox! – Ele puxa a barra da minha camiseta. Me agacho e fico do seu tamanho.
- Nós vamos conhece-lo se você não falar para a mamãe, nem gritar, sobre ele – Digo e ele sorri e começa a correr de um lado para o outro com os braços para cima gritando “Eba! Eba! Eba! Eba! ” Várias vezes. Pelo menos, eu consegui esconder de minha mãe. Eu acho.
Minha mãe e meu padrasto terminam o check-in e levamos as malas para o quarto deles.
Quando eu tinha dezesseis anos, eles se casaram. Minha mãe sempre foi muito romântica e sonhadora. Deve ser por isso que ela fica tentando me jogar para Thiago mais uma vez. Ela quer que eu seja tão feliz quanto ela é em um relacionamento. Minha mãe é maravilhosa, mas não quero que ela se intrometa nesse assunto e nem coloque um detetive na minha cola.
- Então - ela começa a falar enquanto estamos no elevador – Quem é o cara? – Pergunta. Estou com vontade de enfiar minha cabeça em um buraco e virar um avestruz, mas isso não é uma opção. Uma hora ela ia descobrir ele. Até porque o Cellbit é audacioso o suficiente para vir conversar com a minha mãe e, se brincar, com o meu irmão mais velho, que está vindo para São Paulo por causa dos negócios. Virar avestruz não pode ser tão ruim agora.
- Só um amigo do Youtube. Meus amigos estão quase todos hospedados aqui – Falo. Merda. Abri a boca demais agora. Gui puxa a saia do vestido de minha mãe. Nós prestamos atenção a ele.
- Inha, disse que eu não posso falar soble ele – Gui sorri. Meu Deus.
- Por que não quer que eu o conheça? - Minha mãe me olha desconfiada – Você gosta dele? – Ela me cutuca com o cotovelo e muda o olhar para maliciosa.
- Não, não! Inha não pode namolar! Tá muito nova! – Fala Gui e sorri com orgulho, mostrando alguns dentes faltando.
- Você ouviu isso do Victor, não foi? – Pergunto. Victor é meu irmão mais velho e ciumento. Gui balança a cabeça afirmando freneticamente.
- Foi – Responde e me abraça. As portas do elevador se abrem e saímos dele.
- Eu quero conhece-lo – Ela fala. Não tenho para onde correr agora que os dois querem se conhecer – Vou apenas conversar com ele, não fique assim – Fala. Ela me conhece bastante – Você sabe que eu quero apenas que você esteja segura, afinal sou sua mãe. É extinto – Ela sorri com seus dentes brancos e bem alinhados. Minha mãe é linda, perto dela e da minha família eu pareço um patinho feio. Como Cellbit diz “feiosa”. Ele está certo. Minha mãe é loira, por causa da tinta de cabelo, mas isso a deixa ainda mais bonita. Ela não aparenta ter quarenta e oito anos, aparenta bem menos e poderia ser uma modelo, mas já recusou algumas ofertas. Ela parece minha irmã.
Meu padrasto tem os olhos azuis, não iguais aos do Cellbit, são azuis escuros e seus cabelos são grisalhos. Ele é muito alto e forte, isso com cinquenta anos, não parece nem um pouco acabado. É dono de uma empresa têxtil e quando viu minha mãe se apaixonou por ela na hora. Eles são um casal muito bonito.
(...)
Os deixei no quarto e voltei para o meu. Deito na cama e fecho os olhos por alguns segundos.
“O que eu vou fazer? O que eu vou fazer?” – Penso.
Ouço a porta do quarto sendo aberta e fechando. Abro os olhos, assustada, assim que sinto mãos no meu corpo. Olho para a pessoa e franzo a testa. Suas mãos estão na minha cintura e ele está com um sorriso safado no rosto.
- O que está fazendo, Cellbit? – Pergunto com raiva. Ele estuda meu rosto por um tempo, ainda com as mãos na minha cintura.
- Vim ver se você me odeia agora. Então, vim me defender e dizer que não sou o culpado de seu irmãozinho vir falar comigo. Na verdade, a culpa é sua... – O olho indignada – Você que veio brigar comigo e com o Calango. Nós estávamos muito bem conversando. Se não tivesse tomado o celular de sua mão e brigado comigo, seu irmão não saberia da minha existência – Fala e me estuda. De certa forma, ele está certo...
- “O que?! Não deixe de ser levada pelo Cellbit e seu jeito fácil de ganhar as coisas!!!” – Minha mente briga.
- Não. Se você não estivesse inventado de ter mandado o Calango para espionar, não teria acontecido. Tente não colocar a culpa nos outros – Falo. Estamos na mesma posição. Estou sentada a cama e ele está com as duas mãos em minha cintura, enquanto está agachado e me olha – Você tem que parar com essas coisas.
- Pararia se você me deixasse conhecer sua mãe.
- Não deixo conhecê-la por que acho que ela vai me afasta de você – Explico. Falei demais de novo. Ele aproxima se aproxima do meu rosto e me beija. Retribuo, mas me afasto depois de um tempo – Você entende?
- Entendo. Mas ainda quero conhecê-la – Sorri – Você que sou que ela vai conhecer? – Se gaba.
- Não acho que ela vai aprová-lo... – Paro de falar quando a campainha do quarto toca. Me afasto dele e vou abrir – Então peço que se afaste dela... – Assim que eu abro a porta, congelo. Minha mãe está a minha frente com Gui. Meu irmãozinho pula de seu colo e vem me abraçar.
- Rafael? O que faz aqui? – Minha mãe pergunta. O que está acontecendo? Por que ela conhece ele?
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