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História Disputa Acirrada - (XIV) Novos conceito sobre biologia


Escrita por: BunnyTeaser

Notas do Autor


D.A chegou aos 300 favs! Estamos felizes demais com essa marca e não é planejado (mas bem que poderia) que hoje o capítulo é bem grandinho, ein? Borá lá, boa leitura!

Capítulo 14 - (XIV) Novos conceito sobre biologia


Fanfic / Fanfiction Disputa Acirrada - (XIV) Novos conceito sobre biologia

  

 

   “Novos conceitos sobre biologia” 

(POV JEONGGUK) 


 

 

Sai do trem assim que as portas se abriram, esbarrando em alguns camelôs vendendo capinha de celular, encarei a minha, toda amarelada, e resolvi comprar uma. O proletário tem seus momentos de riquezas as vezes, e minha riqueza era a metade de um salário mínimo que recebi ontem. Comprei mais tonalizante azul, mas acho que foi um dinheiro mal gasto, vou deixar meus cabelos crescerem castanhos novamente, a raiz escura já dava as suas caras.

Fiz um sinal de cruz no pique Neymar, subindo a rua do colégio segurando com força as alças da mochila. Eu estava animado esses dias, não era… "nossa como Jeongguk tá animado", só estava mais animado do que consideraria há um tempo atrás para ir ao colégio, ainda não sabia o motivo, mas enquanto pensava sobre isso meu celular tocou, parei na metade do caminho lendo o visor antes de desbloquear o telefone e cair nas mensagens.

 

[Tokinho] : 

[TÁ CHEGANDO?] 

 

[PORQUE TÁ  GRITANDO?] 

 

[Tokinho] : 

[Desculpa, tava sem o óculos. Vc não sabe a braba, tem um menino aqui que não sabe a tabuada e tá no terceiro ano.] 

 

                       [Como ele conseguiu???]

 

[Tokinho] : 

[Se você chegar a tempo pode perguntar a ele.]

 

Aquilo foi como um nitrox que o Relâmpago Mcqueen usava no Carros, num único fôlego subi a rua, parando em frente ao colégio com as mãos descansando nos joelhos. Tive alguns segundos para respirar e me recompor, cheirando debaixo do braço para checar o nível de cecê e entrando pelos portões da Sant School. 

Mas meu dia de tormento mal tinha começado, assim que entrei na biblioteca o filhote de cruz credo já estava sentado ao lado do garoto — um bonitinho de cabelos cinza e expressão blasé —, porque sim, hoje era o dia da monitoria. Pelo repuxar de lábios que Jimin lançou quando me viu, com uma só sobrancelha arqueada, eu sabia que tinha sido trollado e ele arrumaria um jeito de me fazer ensinar a tabuada pro desavisado burro do terceiro ano.

Não me deixei abater por isso e segui até a mesa dos dois, no meu melhor sorriso "depois a gente conversa".

— Pernalonga, esse é o Ten, intercambista tailandês. — Jimin deu um cutucão no garoto. — O que te falei… mais cedo. — Safado, queria mesmo que eu perguntasse ao moleque porque ele não tinha aprendido a tabuada antes. 

— Espera… Tailandês? — repeti, coçando o queixo quando uma ideia apareceu na minha mente, sentei a frente dos dois. — Por acaso você tem namorada?

O sorriso do meia porção morreu na hora, ele arregalou os olhos, chocado.

— Por que quer saber se o garoto tem namorada?

— Ue, por… curiosidade?

— Que tipo de fetiche é esse por tailandeses?

— Agora não pode mais puxar papo nesse colégio? — enxotei ele com um mexer de mãos. — Vai arrumar outro alguém pra ensinar.  — Eu ainda não sabia porque gastava saliva respondendo Jimin ou explicando, aliás... porque eu estava dando explicações? O tailandês parecia não entender nada do que estávamos falando, será que ele tinha acabado de chegar? Será que sabia coreano? Será que pensava que eu e Jimin éramos…. aquela palavra… girlfriends só que ao contrário e não em inglês?

— Dá pra calarem a boca! — Yeri bateu o punho na divisória da nossa mesa, nos encarando com a melhor cara de brava que um pinscher de marias chiquinhas poderia fazer. — É sempre a mesma barulheira, não conseguem ficar calados por um segundo?

— Ninguém te chamou na conversa, Maria Joaquina — Jimin sussurrou de volta.

— Eu acho que estou na conversa, então eu posso falar.  — Ten se intrometeu, porque o papo já tinha saído dele há muito tempo. — Eu namoro o Lucas do segundo C.

— O Yukhei!? Agora eu entendi… — O Park descansou a cabeça nas mãos, como um sabichão. — É burro como um balde.

— Repete? — O tailandês quase partiu pra cima do pitoquinho, mas eu intervi, colocando a mão no peito dele e fazendo-o se sentar de novo.

— Então, o papo é entre nós dois, parceiro. — Fiz um gesto de vai e vem com o dedo, depois uma careta para Jimin, que foi retribuída. — Não tem nenhuma chance de você querer… sei lá, conhecer uma garota? Ela é tailandesa também… e minha melhor amiga… ou ex, enfim, a gente discute isso depois.

— Tá tentando arrumar namorado pra Lisa? — Jimin me encarou, incrédulo. — Ela tá sabendo isso?

— Fica na sua aí, amorzinho.

— Você me chamou de quê?

— Inferno, Jimin! — gritei sussurrando, já tinha me descabelado inteiro na altura do campeonato. — Te chamei de inferninho, beleza?

— Pelo amor das minhas duas bolas, dá pra me ensinarem a porra da tabuada?

 Ten nos encarou com um olhar mortal. Eu mal o conhecia, mas na pouca vivência que tinha com tailandeses sabia que não deviam ser contrariados, pois descarregavam uma energia antiga e fatal, que não pode ser contida. Eu sentia isso chamuscar nos olhos dele, se ele me olhasse assim de novo eu ensinava até física quântica.

 — Você é um dos meus, cara — engoli o seco, abrindo a mochila.

 

 


 

Jimin foi atender uma garota que chegou com dificuldades em geografia, longe de mim julgar a dificuldade dos outros, mas não saber a diferença entre planalto e planície era o auge —  e não fazia nem uma semana que comecei a andar certas pessoas e já começava a falar essas gírias toscas do twitter.

— Meu pai, me ajude… — passei a mão na testa.

— O que você disse?

— Nada, agora é a tabuada do cinco. — Virei a folha, apontando com o indicador para onde ele deveria começar. — É a mais fácil.

— Não subestime a burrice alheia, pernalonga. 

Jimin teve a audácia de arrastar sua cadeira, na divisória ao lado, até a minha só para me cochichar isso, tá, eu ri, porque foi engraçado.

— Presta atenção no seu aluno, não no meu, porrinha.

Ele mordeu o lábio inferior, me encarando com um sorriso safado no rosto. 

E eu só consegui juntar as sobrancelhas numa confusão estranha, será que ele não ouviu a última parte?

— É porque eu tava pensando… — Era muita tentação para um só corpo, a carne é fraca, estávamos dentro da biblioteca, eu precisava me lembrar isso. Jimin estava perto demais, meia divisória nos separando e a voz suave no meu ouvido. Descansei os punhos na mesa, tapando metade no rosto numa prece rápida. 

Aquele ridículo me paga.

— Pensando no que, criatura?

Ele sorriu ainda mais, fazia de propósito, eu sabia, mas eu não caia naquilo não, me encontrava totalmente controlado e atento.

— Se a gente não podia treinar na sua casa hoje.  Jennie tá na minha cola, não me deixa em paz com aquele olhar de Cruela para cima de mim o dia todo.

E ele não mentiu quando comparou a garota com a Cruela. Na verdade, a irmã dele parecia mais uma diaba loira. Ela não precisava abrir a boca pois o fitar duro e maldoso para cima de qualquer passo que Jimin dava dentro daquela casa já dizia tudo, o que me assustava. Pior ainda era quando a atenção dela caía para cima de mim, sempre com um “quê” de curiosidade que eu sabia desvendar muito bem. 

O que eu sentia era medo. 

E era óbvio que eu ia dizer não, ainda mais depois de ir na casa dele final de semana passado e ficar deslumbrado no quão podre de rica a família do Park era, móveis e outras coisas que eu nem sabia para quê serviam, e eu tinha a leve teoria que só serviam pra rico gastar dinheiro quando não sabia mais no que gastar dinheiro. 

Minha casa era simples, azul, com a parede de trás precisando de um reboco urgente e meu quarto só cabia minha cama e um armário de quatro portas. Jimin não se sentiria confortável lá, eu não me sentiria confortável com ele lá, mas quando o encarei com o "não" já saindo da boca, eu não consegui dizer, porque acho que pensei demais com a cabeça de baixo. 

Nós estávamos há uma semana nos resolvendo no banheiro masculino do segundo andar, mas vivia entrando gente pra atrapalhar e fizeram até uma página no Twitter chamada “Todas as vezes que Jimin e Jeongguk tão se pegando no banheiro masculino” com atualizações diárias. 

Corríamos um grande risco de sermos suspensos e eu já tinha uma nota baixa em matemática por causa dele, por não entregar o maldito trabalho em parceria com a Lisa… e no fim, eu estava balançando a cabeça para cima e para baixo.

— Combinado, me manda o endereço por mensagem. — Jimin me deu um joinha e minha cabeça só ecoava um "fudeu" bem raivoso.


 

(...)


 

A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi colocar um avental na cintura, um paninho na cabeça bem estilo empreguetes, e fazer uma faxina. Meus pais se orgulhariam de mim, aquela casa nunca esteve tão arrumada como naquela tarde. Ainda deu tempo de tomar um banho demorado, tirar o fedor de água sanitária da mão antes de Jimin chegar.

O garoto teve a pachorra e chamar um Uber Black, quem pede um Uber Black? 

O motorista buzinou e eu tropecei nos meus irmãos para chegar à porta da frente, levantando as persianas para ter certeza que era ele. Jimin saiu do carro em câmera lenta —  na minha cabeça era em câmera lenta —, vestia uma calça jeans clara porque sabia o poder delas sobre mim e uma blusa de malha vermelha, tirou o óculos de sol e substituiu pelos de grau antes que caísse numa poça d'água, porque eu lavei a calçada também. Isso mesmo que você leu prefeitura, me multe.

Tossi, verifiquei o hálito, desamassei a blusa e na maior cara de "olha só, abri a porta simultaneamente assim que você chegou, o mundo é cheio de coincidências, né rapaz?" e para não ficar tão teatral descansei meus bíceps na porta. 

Eu não estava nervoso, nada nervoso, era só o catarro de porra na minha porta, nada mais.

— Acabou de chegar? 

Jimin me olhou com as sobrancelhas arqueadas, como se tivesse papel higiênico colado na testa, passei a mão só por precaução, não tinha.

— Que legal, sua casa combina com o nosso cabelo! — Apontou para a parede e para nós dois. 

— Coincidências do destino, como dizia Chitãozinho e Xororó.

— Sua playlist me assusta. — Ele me lançou um sorriso animado no rosto, passando pelo portãozinho que eu abri e tirando um tempo para ver as hortaliças de mamãe. 

Se eu tivesse um relógio no pulso olharia os ponteiros com certa indignação, se passou minutos sem que Jimin respondesse minhas provocações a altura, ocupado demais com as plantas no quintal.

— Isso é só… planta…? — falei em voz alta, porque percebi tarde demais que ele não sabia ler mentes.

— É muito legal, eu sempre quis ter uma horta. — Jimin me encarou, os olhinhos pequenos de tão grande que era o sorriso espremendo o rosto. — Mas Seulgi diz que lá em casa não tem espaço.

— Já parou pra pensar que talvez sua mãe esteja mentindo? O que mais tem na sua casa é espaço.

— Acho que só não tem espaço para as coisas que quero fazer. — Deu de ombros, o sorriso tinha saído do rosto muito rápido. — Vamos entrar?

— Tá, vamos. — Comecei andar com ele atrás de mim, um pouco emburrado. — Só preciso dizer que meus irmãos eles… porra, tarde demais. 

Uma cavalaria foi ouvida, tremendo a casa, a rua, meu coração, tá, drama demais. Nayeon deu um gritinho agudo e irritante assim que enfiou a cara entre as persianas, os olhinhos gordinhos quase saltando das órbitas, Yugyeom já estava na metade do caminho e pulou em Jimin…. ele simplesmente… pulou no colo de Jimin. Nayeon tentou pular no colo do pitoco também, mas como metade anão Jimin já encontrava dificuldade para segurar Yugyeom, então eu peguei Nayeon.

— Eu ia dizer isso antes, não tenho ninguém para deixá-los na parte da tarde, Lisa não está em casa.

— Tudo bem. Eles são umas gracinhas. 

— Me fale isso daqui a vinte minutos — bufei. — E vocês estão dados demais, não? Pulando no colo de todo mundo —  xinguei os dois com a melhor cara de sermão. Entramos na sala e fechei a porta, Yugyeom já estava com as mãozinhas enlaçadas nas de Jimin.

— Você trouxe seu namorado azul pra brincar com a gente? — Nayeon perguntou. 

O cão era bem articulado.

— É o quê? Não! — Jimin quase se engasgou.

— É! Absolutamente não! — concordei. — Não, mil vezes não!

— Isso, não, não mesmo...

— O que é "absolutamente"?

— Eu enfatizei o "não", Yugyeom!

— Eu disse que eles eram namorados. — Nayeon cruzou os braços, orgulhosa.

— Eles não estão preparados pra ouvir isso, Na! — Yugyeom colocou a mão na boca, fingindo um sussurro.

Jimin parecia prestes a ter um ataque de pelanca e não tinha se passado nem cinco minutos na companhia dos meus irmãos. Eu esqueci que não adiantava nada arrumar a casa e deixar os dois a solta, eles fariam o Park dar meia volta e nunca mais voltar, apesar que não seria tão ruim.

— Quer saber? Porque não vão escolhendo um desenho? Eu e Jimin voltamos já. — Levei a mão até o topo da estante, pegando o controle remoto e dando a Nayeon. Precisava calar esses pestinhas e medidas drásticas foram tomadas: os tirei do castigo que papai decretou ontem.

— Mas a gente não pode ver desenho!

— Toma isso logo, garota! 

— Eu acho que preciso de água... — Jimin levantou um dedo, como se fosse um dos meus irmãos também. 

Espera, isso foi estranho.

— Tá na cozinha… ata, você não sabe onde fica a cozinha. — Sorri amarelo, levando-o até lá.

Jimin se sentou em uma das cadeiras, bebendo a água como se fosse coca-cola e encarando tudo com os olhinhos brilhantes. Um dos dedos puxava o tricô do forro da mesa e depois passou a brincar com os ovos empilhados na galinha de cerâmica.

Eu tinha um filete de suor escorrendo na testa, me achando um idiota por estar brigando com alguém que parecia não dar a mínima, enquanto eu treinei assiduamente respostas petulantes e irritadinhas, Jimin parecia na paz, como se tivesse ouvido Aline Barros no caminho todo até aqui.

— Seus irmãos são uma… graça.

— Okay, pode falar a verdade — insisti, irônico.

— Entendo porque você é tão chato. Aprendeu tudinho com eles.

Nós dois rimos, juntos, de um mesmo motivo, não por motivos diferentes, ou um do outro, aquela constatação ainda me deixava atônito. Eu não costumava ter muitas coisas em comum com o bluezinho, além da cor do cabelo, da atração por Namjoon, também tinha geometria analitica e David Bowie.  Eu podia fazer uma lista inteira delas. Talvez sempre tenham existido, só não parei para perceber antes porque estava focado em tirá-lo do sério, mas com ele sentado na mesa da minha cozinha brincando com uma galinha de cerâmica e bebendo água num copo lagoinha, Jimin quase parecia alcançável.

— Vou pedir Sunmi pra fazer isso com os ovos lá em casa, onde sua mãe comprou?

— Na mercearia da esquina. Quer mais água?

— Não, obrigado. — ele balançava os pezinhos debaixo da mesa, não alcançava o chão. — Me leva lá depois?

— Onde, seu doido?

— Na mercearia da esquina, ué. 

Deixei os copos na pia, meneando a cabeça em pura incredulidade, molhei os lábios algumas vezes antes de finalmente falar.

— Quer mesmo ir lá?

— Quero. — Ele a pegou de novo. — Muito genial isso… porque ela é uma galinha, só que de cerâmica e guarda ovos! Quem inventou?

— Sinceramente? Não faço a mínima ideia.

— Eu gostei daqui, pernalonga — ele sorriu pra mim, mas depois acho que percebeu o que disse. — Quer dizer, contando que é a casa onde você mora e não tem nenhuma armadilha pra cortar meu pé ou me prender numa sala de tortura, é legal... e isso não quer dizer gostar de você, gostar da sua casa é diferente de gostar de você… eu ainda não gosto de você, espero que saiba...

Ele continuava falando e falando, balançando os ombros e gesticulando mais do que devia com as mãozinhas cheias de anéis. Me ajoelhei no armário debaixo da pia, ouvindo sua voz acima de mim enquanto procurava algo em específico, agora sou eu quem desistiu de brigar.

— Tá com fome?

— Quê? — ele engoliu o monólogo, com o pescoço igual de uma girafa para bisbilhotar o que eu fazia agachado de frente ao armário.

— Fome... aí porra! — Dei um murro na pia. — Sempre bato minha cabeça nesse troço os infernos! — Troço dos infernos = minha pia.

— Quem mandou ser grande demais?

— Você que é pequeno demais e acaba vendo tudo grande demais. — Me levantei, respirando fundo e coçando a cabeça no lugar onde doía. — Tem miojo, mas não sei se você gosta… Jimin? — Ele tinha os olhinhos brilhantes, quase como se estivesse hipnotizado encarando os dois saquinhos de miojo apimentado. 

— Posso pegar? — Já estava com um deles na mão. — Você tá brincando? Essa preciosidade é tão rara lá em casa, achei que nem existisse mais. Néctar dos Deuses, sabor inigualável de pimenta, galinha e câncer. 

— Então tá decidido. — Tirei uma panela no armário. — Vamos comer miojo.






 

Aquela foi uma quarta feira atípica, a chuva começou minutos depois do miojo ficar pronto e trouxemos cobertores para o sofá, onde meus irmãos pareciam sugestionáveis demais, sentados como dois anjinhos enquanto assistiam… isso mesmo, Pernalonga. Eles estavam zombando inconscientemente da minha cara, Jimin segurou o riso o máximo que pode, mas parecia vitorioso em gargalhar de mim, até tirou uma foto para postar nos status, orgulhoso ao mostrar meu user marcado na imagem.

Nayeon veio como uma pantera manhosa, cheia de sorrisos curtos e olhinhos espertos, sentou ao lado do Jimin, dividindo a coberta com ele e metade do miojo. Ainda conseguiu a façanha de receber as colheradas na boca, porque mentiu que Lisa fazia isso, nós dois sabíamos que Lisa não fazia isso, mas eu quis fazer o pitoquinho de palhaço e não desmenti.

Todos os episódios do Pernalonga se resumia a ele fazendo alguém de otário e eu comecei a chamar Jimin de Coiote Coió porque o tiro saiu pela culatra, acabei me identificando demais com o coelho de pernas longas. O que sobrou para o Park foi o papel de Coiote Coió e nada mais importa a não ser a minha opinião.

— Yugyeom dormiu? — ele me cutucou, e eu estava tão concentrado no desenho que mal reparei. Olhei para o lado, meu irmão tinha o próprio cobertor porque era egoísta com todos os seus pertences e não gostava de dividir nada, a boca estava aberta e baba escorria, molhando meu braço.

— Urh, tá sim. — Empurrei ele para o braço do sofá. — E Nayeon?

— Tá até roncando. 

Peguei o controle remoto e coloquei a televisão no mudo, o ronco dela emergiu como um trator desengonçado. Jimin me encarou e nós dois rimos baixinho.

A chuva batia devagar na janela atrás de nós, tínhamos cobertores quentinhos e panelas de miojo aos nossos pés. O escuro tomou conta da sala, era como se aquele espaço fosse nosso e eu poderia me acostumar com aquilo, em vê-lo no escuro. 

Claro, só para ter certeza do quão irritante Jimin é em todas as iluminações possíveis e até na falta dela.

— Então, se você quiser começar a treinar agora, porque eu não tenho o dia todo não…

— Mas o dia já acabou — ele cochichou, todo espertão.

— Você entendeu o que eu quis dizer, né?

— Urh, irritadinho você — bufou, jogando sua coberta em cima de mim e levantando no processo. Eu o puxei pelo braço, porque num segundo de puro desespero irracional pensei que fosse embora.

— Onde você pensa que vai?

— Pro seu quarto, ué? Ou quer treinar aí mesmo do lado dos seus irmãos?

Fiquei segundos com uma cara de songo mongo de boca aberta acabando de racionar. Odiava quando Jimin estava certo, ele não me zoou dessa vez, mas eu via o sorriso dele nas costas enquanto caminhávamos para o meu quarto.

Eu nunca tive um ataque cardíaco, mas tenho certeza, pelas aulas de biologia, que a palpitação estranha no meu peito e o formigamento nas mãos devia ser preocupante. Sempre treinamos de dia, eu enxergava cada traço do rostinho incherido de Jimin e sabia muito bem onde cada coisa estava, mas no escuro do meu quarto tudo parecia mais desesperador. 

— O que tá fazendo parado aí? — Ele se sentou na minha cama, cruzou as pernas, como se fossemos começar algo muito simples. 

Mas era simples, só esqueceram de avisar o meu pau.

— Acho que podíamos fazer diferente. — As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse notar, me aproximei, pedindo espaço na cama também. — Nós estamos craques no beijo, mas sexo não é só isso e Namjoon vai perceber.

Jimin se aproximou, parecia um aluno prodígio até ali, quando nada nos restava a não ser um monte de frases cortadas pela tensão iminente.

— Isso faz sentido, temos que treinar mais coisas!

— E podemos aproveitar, já que estamos aqui e… sabe, não num mictório fedorento — eu dizia com convicção, poderia me candidatar a presidente. 

Mas se nas palavras eu era bom, na ação ainda me falava prática. Nos encaramos, inusitadamente suados e com a respiração pesada, e pensei, no curto espaço de tempo que minhas vistas se acostumaram com a escuridão, que conseguia ver e sentir seu calor apossando meu corpo. Foi ele quem tomou a decisão por mim, passando as mãos pelo meu peito, ainda leves demais. 

Jimin tinha o lábio inferior preso nos dentes e mesmo que eu quisesse ser aqueles dentes, me controlei só na sua mão descobrindo o caminho por baixo da minha blusa. Ele me olhou um segundo antes de tocar meu tronco nu, como se quisesse um último incentivo e maneei a cabeça, dando o que ele precisava para continuar. As mãos dele eram inexperientes mas logo tomaram força enquanto passava pelos músculos da minha barriga, tornando nossas respiração uma bagunça quente e inquieta. Minha barriga quase deu um solavanco digno de um chevette velho só por imaginá-lo descendo só mais um pouquinho.

Segurei seus braços, porque estávamos próximos e Jimin tinha chegado onde eu queria. Naquele momento eu era um poço de suor e queria me misturar ao dele, no maior anseio de "faça dos meus fluidos o seus" que nunca direi em voz alta. Então passei minhas mãos em cima das suas, como se o ensinasse a escrever, e senti o que ele sentia, meu pau duro embaixo de nossas palmas.

— Eu posso te ajudar — sussurrei — assim... — Mexi nossas mãos.

Jimin me olhou, pedinte, antes de encurtar o pouco espaço e tomar meus lábios com os seus.

Era o que eu queria fazer e fiquei feliz que, de novo, ele tenha tomado a primeira iniciativa. O beijo era intenso como se nunca tivéssemos nos beijado antes, eu parecia um viciado que depois de meses recebi uma dose de álcool, que ali se convertia nos lábios irritantes e idiotas dele. 

Tão odioso.

Nossos dentes bateram, doeu, mas nenhum de nós ligou o suficiente, minhas mãos pararam em suas coxas, subindo e sentindo um arrepio —  leves tremeliques que sempre atacava nossos corpos juntos —, e então abri suas pernas, enfim me encaixando nele. E nunca odiei tanto uma calça jeans, gravem as minhas palavras.

Ainda sentados, sentia Jimin se içando para cima de mim, querendo que nossas ereções se encostassem mais e mais e por um segundo me peguei pensando se era areia demais pro meu caminhãozinho, se poderia parar um minuto para zoá-lo por querer sentar em mim. Porém, não pensei em mais nada depois disso, gastei os meus últimos neurônios na ideia maluca de apertar a ereção dele. 

Foi o auge, como diria Jimin se pudesse juntar duas sílabas sem gemer, foi a braba, eu diria se pudesse fazer a mesma coisa, porque foi ele quem segurou meu pau e o tirou do short começando com movimentos de vai e vem na pouca força que tinha, pois seu corpo parecia mole junto o meu. Nós ao menos conseguimos beijar, os gemidos permitiam apenas selares rápidos e lufadas de ar lentas. 

Eu fiz a mesma coisa que ele, demorando mais do que deveria pelo jeans apertado, mas senti-lo rijo na palma foi bom demais para ser verdade, minha mão se fechou em toda a extensão dele e me permitia mexer o suficiente para vê-lo pedir por mais. Não era a palavra em si, era "Jeongguuuk" que saía arrastado e manhoso no meu ouvido, molhado de saliva por chupar minha língua repetidas vezes. Era beijo molhado e senti-lo apertar meu pau quando eu fazia a mesma coisa com o seu e…

— Guk? Tá passando mal?

— Ai meu deus!? — empurrei Jimin num só movimento, me desequilibrando no processo e com isso, sentindo a falta da cama atrás de mim, PORQUE NÃO TINHA CAMA, só o chão.

O estalar de uns seis ossos diferentes das minhas costas foi ouvido quando cai no colchão, de pau duro e suado. Pelo menos o azulejo estava friozinho, me deu um mínimo de raciocínio para enfiar minha vergonha dentro do short enquanto me arrastava para destrancar a porta.

Abri só uma pequena fresta, ao mesmo tempo que meu irmão tinha um punho no ar para esmurra-lá de novo. Ele parou, me encarou com as sobrancelhas arqueadas e com os olhinhos arregalados, tentando enxergar o que rolava dentro do quarto, mas eu fechei um pouco mais, o suficiente para que visse metade da minha cara.

— Você e o Jimin comeram miojo demais? Tão gemendo de dor aí... — Ele cruzou os braços, se sentindo muito inteligente por ter descoberto tudo. — É melhor irem pro banheiro, mamãe diz que fazer cocô funciona.

— É, pois é, Yugyeom, muito miojo dá dor de barriga, né Jimin? — Eu não escutei o que o Park disse, mas foi um pseudo palavrão misturado com um gemido teatral. — Yugyeom, vai pra sala, demorô? Nayeon já deve acordar também. — Enfiei um braço para o lado de fora, empurrando meu irmão para longe, mas ele não parecia disposto. — Aaarh, Yugyeom! Não empata a minha dor de barriga!

— Você e Jimin podem pedir remédio pra mamãe, ela deve tá chegando agora.

— O QUÊ? — dessa vez foi Jimin que disse, me virei para vê-lo dar voltas pelo pequeno espaço da cama e do guarda roupa, como um amante pego no pulo procurando o óculos pelas cobertas.

— Mamãe não vai chegar agora. — Sorri amarelo, empurrando meu irmão de novo. Droga, como eu ia resolver o que tinha no meio das minhas pernas se o desespero por parte do Jimin misturado a raiva de Yugyeom começava a me fazer broxar?

— Vai chegar sim!

— AAAAH! MEU PAI AMADO… 

— A casinha do relógio da cozinha tá apontando pro 7.

Arregalei os olhos, o infarto chegaria agora, certeza.

— Ela tá chegando mesmo. — Me virei pra Jimin. — É melhor você ir embora.

 

(...)


 

— Jeongguk, tem certeza que eu fui chamada? — Assim que o Uber parou em frente ao bar Lisa me encarou por segundos, estranhamente amedrontada.

Eu apertei a mão dela com confiança, repousada no banco do carro, depois tirei como se tivesse sido picado, por não saber se estava ultrapassando uma linha tênue entre "sou seu melhor amigo e sei dos seus sentimentos e longe de mim querer brincar com eles, mas ainda quero ser seu melhor amigo." Porque aquele convite foi o momento perfeito para que eu colocasse esse conceito em prática.

O bar era um lugar legal que se chamava assim mesmo "O Bar", sempre ao ouvir a conversa dos populares — antes de começar a andar com eles, claro — essa dúvida rondou meus pensamentos. Ficava perto do colégio, num bairro chique bem longe de onde eu e Lisa morávamos, tivemos que dividir o valor do Uber porque era tarde demais para pegar ônibus. 

Problemas de gente que mora longe.

A fachada gritava JUVENTUDE INDIE em caixa alta, com cadeiras de madeira vintage, discos colados nas paredes e tudo que já foi necessidade básica nos anos 80 e hoje só servia de decoração para bares cult.  

— É aqui mesmo, parceiro, valeu aí. — Dei o valor da corrida para o motorista e sai apressado, dando a volta para abrir a porta para Lisa, mas ela foi rápida ao descer.

Era a primeira vez que a via de vestido desde que tínhamos 10 anos, e maquiada também. Demorei para me tocar que Lalisa não era mais a garota suja de terra, com o dedão machucado por pedalar de bike o dia todo e quase chorei com um sentimento parecido com o que os pais têm vendo as filhas crescerem. Será que meu coração doeria quando fosse a vez de Nayeon? 

— O que tá fazendo parado aí, bunda mole?

— Educada como sempre. — Estendi o braço e ela passou a mão, enlaçando-o para atravessamos a rua. Vestia uma camisa preta e jaquetas de couro, para combinar com o vestido curto de Lisa, mas estranhamente ela não parecia estar suando tanto quanto eu. 

Qual o dress code de bares chiques no subúrbio de Gangnam? Psy me ajude.

Yoongi estava de pé num pequeno palanque, checando o som antes do show, os cabelos mais claros que o normal na luz amarelada, concentradíssimo. Lisa tropeçou no salto, mas fui burro demais para notar o porquê.

— Acho melhor irmos embora.

— Que embora o quê, ele mandou direct no Instagram, todo mundo tá convidado. — Acenei assim que vi a mesa cheia do pessoal da escola, tropecei também, dessa vez próximo demais de Jimin. 

Ele colocou os cabelos para trás, num topete, isso mesmo, um topete despojado como o Edward de Crepúsculo. Estávamos num romance adolescente? Ele me chamava mentalmente de Bella? Me achava um songo mongo igual a ela? Ridículo.

Jimin sorriu quando me viu, aposto que com sarcasmo. A blusa florida estava com mais casas abertas do que ele abriria se estivesse sóbrio e descansava o braço no apoio da cadeira, relaxado, quase como se a vida boêmia compusesse todas as suas sextas a noite.

— E aí, Hoseok? Cabelin na régua... — Não me deixaria abalar, comecei a cumprimentar os que estavam na ponta da mesa.  

— Chama o pai! — Tínhamos um toque personalizado, demorei três dias para aprender, mas agora parecíamos descolados fazendo. 

— Como vai, Tae? 

— Indo. Você tá bonitão hoje, não tá, Jimin? — Ele se levantou para me abraçar, estranhamente o abraço de Taehyung era confortável, cheirava a shampoo de cachorro e chiclete.

— Hmm, tá na mesma. — O Park deu de ombros, mas acho que nem ele acreditou no que disse.

— Daqui a pouco ninguém entra no banheiro, o casal "fim de festa" vai estar lá. — Jackson colocou a cerveja na mesa, como se estivesse jogando truco e todo mundo começou a rir. Começaram a nos chamar assim de uns três dias pra cá, quando uma líder de torcida achou o apelido muito legal e jogou no grupo do Whatsapp.

— Haha, engraçadinho... — Apontei o indicador para o quarterback, ele levantou os punhos me chamando pra briga, mas segundos depois estávamos rindo. Meus olhos caíram no capitão, sentado ao lado de Seokjin que passei a gostar por pura culpabilização do que fiz com o pó de mico, agora poderia admitir que o safado continuava mais bonito que antes. — Não me esqueci de você Namjoon, beleza? — É óbvio que eu não ia esquecer, precisava marcar território e poxa, Namjoon brincou com meu coração deixando esse mullet crescer. Lindo igual a capa do cd do Roberto Carlos de 1980 que minha mãe guarda no quarto dela.

— Fico feliz que tenha vindo, Jeon. — Ele sorriu de lado, puxando uma cadeira perto do petulante. — Quem é a sua acompanhante? 

Passei a mão na testa, tirando um suor invisível e soltei um palavrão, que péssimo amigo eu era! Caminhei até uma Lisa de olhos esbugalhados parada igual um poste de luz na calçada, voltei na metade do caminho porque lembrei do palavrão e pedi desculpas a Namjoon, antes de empurrá-la num incentivo para que entrasse.

Como um lorde inglês bom em futebol americano, Namjoon puxou duas cadeiras para que sentássemos perto, eu infelizmente do lado do gnomo de jardim e Lisa do meu lado. Trouxeram mais uma jarra de chopp assim que sentei, fazendo-me sentir quase como um tio do churrasco encarando uma Itaipava gelada.

— E aí smurf? Mais uma rodada? — Sorri amigavelmente para Jimin, puxando o copo dele para colocar mais cerveja, mas ele deu um tapa na minha mão, me encarando com aquela cara de quem negou chocolate a ele.

— Eu mesmo coloco, pernalonga. 

Semicerrei os olhos, encarando-o se inclinar na mesa e puxar a jarra de cerveja. 

Qual era a do porrinha? 

— Quer saber? Nem ligo — cochichei de volta, voltando para a conversa do outro lado da mesa. — Você e nada tem quase a mesma significância pra mim.

— Ótimo então ô mané, vai conversar com sua acompanhante aí e me deixa em paz. — Ele ainda teve a audácia de empurrar meus ombros, sabendo exatamente que estava dolorido pela queda da cama que levei enquanto… vocês já sabem.

— Estava falando com Lisa, vocês formam um belo casal! — A líder de torcida loira bateu palminhas, ela já estava meio bêbada, como todo mundo ali na mesa menos eu que tinha acabado de chegar, mas tomei um longo gole, recuperando o tempo perdido.

— Quê? Eu e Jimin? — Apontei para ele. —  Nada a ver! 

— Não! Você e Lisa — ela corrigiu.

Jimin engasgou com a própria cerveja.

Lisa me fitou em pânico.

— Sana, não fode — ditei, sério. 

Ela levantou as mãos como se pedisse desculpas antes de seguir para o seu lugar, e eu começava a suar em pânico, porque eu estava em pânico? Tô nem aí se Jimin continuar me encarando como se eu tivesse xingando a mãe dele, ou Lisa estivesse tão desconfortável como se estivesse sentada numa cadeira cheia de pregos e eu suando como um porco indo pro abate. Amo comparações, deu pra perceber.

— Termina de beber, o show do Yoongi vai começar. — Hoseok me cutucou, foi aí que eu respirei fundo, todo mundo já saia das cadeiras para seguir até o mini palco, nos fundos do bar. Às vezes, heróis não usam capa, e sim tênis feios da Balenciaga de 20 mil reais como o Jung. 

Esperei que Lisa terminasse sua bebida, Jimin saiu pisando forte, foi impossível não perceber.

Yoongi levou sua própria banda para o bar e dividia o vocal com uma garota bonita que me disseram chamar Suran, ela já estava na faculdade, com um moletom enorme da Universidade de Seul —  meu sonho de consumo desde que passei de carro pelo campus quando tinha 5 anos. Começaram cantando uma música para animar o povo, e eu até que gostei, as coisas só começaram a desandar quando as músicas românticas começaram.

Foi duro ver Namjoon puxar o SeoklindãoJin para dançar, e quando ampliei minha visão periférica, todo mundo estava com um par, dançando coladinho bem forró da terceira idade. Menos eu, claro, e Lisa.

— Você lembra o que me disse mais cedo, Jeongguk? — ela me cutucou, furiosa, respondendo a própria pergunta. —   "Vamos, Lisa, vai ser legal" — revirei os olhos, era uma péssima imitação minha. — Isso parece legal pra você? — Apontou para os casais, fula e demoradamente para Yoongi e Suran. 

— Pensa pelo lado bom, podemos zoar o Jimin, alá. — Apontei pro pitoco, ele saia do banheiro e vi em primeira mão a cara que ele fez ao ver a situação do bar. Poderia ter filmado, daria um meme tão engraçado.

— Como vamos zoar o Jimin se estamos na mesma situação, seu idiota?

— Nada disso, eu vou lá mesmo assim. — Puxei ela gentilmente pelo braço  (porque não estamos em nenhum dorama machista) e pedi licença na multidão até achar o casalzinho que eu queria, cutuquei Hoseok e ele se virou, parando de desentupir a boca do namorado.

— Podem ficar com Lisa um pouquinho?

— Jeongguk!? — Ela me deu um soco bem na voltinha da cintura, menina articulada.

— Não esse "ficar" — expliquei, voltando ao casal. — Eu vou ali rapidão, já volto! — disse, me afastando. — Não se beijem enquanto isso, deixa ela desconfortável. — Trombei em outro casal, urh, heteros. — Me espera bem aí, Lisa!

Consegui alcançar Jimin, ele caminhava para as mesas que estávamos sentados antes, já podia imaginar ele sozinho mexendo no celular e ouvindo pagode no fone de ouvido.

— E aí, porrinha? Sozinho essa noite?

— Pelo visto não. — Ele cruzou os braços, parando na metade do caminho. — O que quer comigo?

— Zoar sua vida amorosa um pouquinho.

— Vai se ferrar, Jeon Jeongguk! Não tô com saco pra você hoje. — Ele bateu o pé no chão numa forma de birra e eu arregalei os olhos, porque da última vez que o vi tão puto comigo foi nas Olimpíadas e eu acabei com a bunda agarrada numa lata de lixo. E também estava surpreso por ouvi-lo dizer meu nome todo, acontecimento raro.

— Eu não te entendo, sabia? — Puxei o telefone do bolso, mostrando nossas últimas mensagens. — Ontem, 23 horas e 40 minutos, eu te chamei e comecei a zoar porque fomos interrompidos e você respondeu: "hahaha se irmãos mais novos forem legalizados cenas como essa vão ser comuns, boa noite". — Guardei o celular no bolso. — Aí hoje você tá todo putinho, cheios de “não me toques.”

— Eu não tô com raiva por isso, pernalonga.

Ele agarrou meus ombros, me obrigando a virar para encarar Namjoon e Seokjin no maior love. 

— Não adianta treinarmos se ele parece todo felizinho com Seokjin, fizemos todo esse esforço à toa, entende?

Fiquei um pouco chocado por ele ter um raciocínio lógico tão rápido. Eu tinha me esquecido que o dia anterior não passou de um treino.

— Estamos nos usando, né? — cochichei, era mais uma auto afirmação para mim que ele acabou ouvindo.

— Claro! E vim hoje todo trabalhado no indie alternativo…

Atordoado, encarei Jimin, continuava falando como uma maritaca afobada, depois Taehyung e Hoseok, mas… ué?

— Cadê a Lisa?

— E eu vou saber? Ela é a sua acompanhante hoje, não eu, e porque seria eu? Você que...

— Não, sério Jimin. — Agarrei os ombros dele e pela minha cara, ele pareceu comprar meu desespero. Me virei, absorvendo um pouco da afobação e possível inclinação para desastres do pitoquinho, ao caminhar meio desengonçado até Taehyung e Hoseok.

— Oi Jiminzinho! Já estavam indo pro banheiro?

— Sem gracinhas, Taehyung — o interrompi. — Cadê a Lisa?

Hoseok fez uma cara confusa, como se eu tivesse falado hebraico. Jimin foi mais rápido em responder.

— Cabelo loiro, franjinha, alta, olhos grandes.

Bom reconhecimento facial do porteiro de maquete, se me perguntassem eu não saberia dizer nem a cor dos cabelos dela, e olha que era minha melhor amiga.

— Ah! Sei, sei... — Hoseok bebeu um gole do copo, numa pausa misteriosa ao continuar: — Ela tava aqui agora, né amor?

— Sim. — Taehyung confirmou. — Estávamos conversando com Yoongi...

Encarei o palco, Suran continuava cantando, sozinha, o outro cantor sumiu, não era problema meu, outra pessoa poderia se preocupar com esse sumiço. Lisa era minha prioridade.

— O banheiro! — Jimin me deu batidinhas nos ombros, animado. — E não é pra isso que estão pensando. — Ele se virou para o casal, como um nariz arrebitado que quase me convenceu também. — Lisa pode estar no banheiro.

— Beleza, banheiro feminino — murmurei, derrotado. — Como vamos entrar?





 

— Por que quer que eu entre no banheiro feminino mesmo? Jimin falou muito rápido, não deu pra entender. — Jisoo tirou os braços dos ombros do menino, prestando atenção em nós. Ela estava mais perto do palco também, o que poderia explicar não ter ouvido o monólogo apressado de "oiJisoovocêpoderiaentrarnobanheirorapidinhoeverseaacompanhantedojeongguktála?" que o Park perguntou segundos antes.

— Preciso que encontre uma garota pra mim — respondi. — Okay, meio estranho.

— Muito, pernalonga.

— Ninguém te perguntou, tokinho. — Fiz uma careta. — Entre naquele banheiro e procure Lisa pra mim, vocês fazem biologia juntas.

— O que eu ganho em troca?

— Amada? Você tá me devendo, me fez lamber a barriga desse renegado no jogo da garrafa, tá lembrada?

— Vocês deviam me agradecer.

— Outra hora, Jisoo. — Jimin suplicou, depois parou, envergonhado, acho que meu olhar foi auto explicativo. — Não esse agradecer… óbvio.

— Óbvio — repeti.

Ela nos encarou com tédio, antes de mexer nas franjas, dá um beijinho na bochecha do garoto e caminhar para o banheiro femino. Fomos atrás dela, claro, deixando-a entrar no limite estabelecido que nós, garotos, não poderíamos mais acompanhar. Cruzei os braços, palhaçada esse negócio de divisão de banheiros. 

Jimin parecia intrigado, quase como se eu pudesse ver uma pulga atrás da orelha dele. 

— Tá, o que aconteceu? Porque tá puto comigo? De verdade.

— Nada. — Apoiou a cabeça nas mãos. — Só que, sei lá. Lisa tem 17 anos, é quase adulta, não precisa ficar todo preocupadinho com ela, eu trouxe Taehyung e ele tá super de boa, olha lá.

Acompanhei o dedo em haste dele, parando em dois garotos se atracando em uma das mesas.

— Mas Taehyung tem 18, 18 não é 17, quase adulto não é adulto e Lisa é garota, o mundo é mais perigoso pra elas, sabia? — Controlei meus pés, impacientes batendo no chão. — E estou tentando reconquistar a amizade… ei. — Me aproximei, Jimin recuou, não encarando meus olhos. — Você, por acaso, não está com…?

— O quê??? — ele bufou, indignado. — Tá maluco? Ciúmes? De você? Uma boca de caçapa ambulante?

— Eu não disse "ciúmes" foi você quem disse.

— Deu a entender! — Apertou o dedinho que deveria ser o indicador mas parecia o mindinho no meu peito. — Eu nunca teria isso por você,  nem em mil anos!

— Okay, pode… pode voltar pra sua mesa, não pedi sua ajuda.

— Agora eu vou ajudar, só porque você não quer! 

Um baque fez com que nós dois nos afastássemos, até a música voltou a soar nos meus ouvidos, tinha me esquecido que ainda tocava. Encaramos Jisoo, com um sorriso de lado no rosto achando que viu algo que não deveria ver.

— Ela não está lá dentro, demorei porque estava passando batom.

— Foi de grande ajuda, Jisoo-noona. — Jimin pareceu educado, quando ela se virou para ir embora o sorriso dele deu lugar a uma careta. — Não ajudou em nada — cochichou pra mim.

— O último lugar que sobrou é o banheiro masculino, que pena... acho que vamos ter que ir lá, nós dois, para averiguarmos. Sozinhos.

Minha proposta tinha muitos furos, eu sabia, e Jimin também parecia saber mas não refutou, o que era um milagre. Ele só deu de ombros, como se tivesse tão ou mais chateado do que eu e entrou no banheiro masculino.

Não esperei que a porta se fechasse atrás de nós, minhas mãos agarraram sua cintura, prendendo as costas dele no meu peito e pude sentir quando um gemido pequeno saiu dos lábios cheinhos, quase como um torpor responsável por acordar certas partes do meu corpo que estavam adormecidas. Ele se virou, tomou minha jaqueta, apertando o colarinho com as duas mãos antes de se inclinar para me beijar, mas no momento que fechei os olhos, esperando o beijo, nada aconteceu, o fitei, confuso.

— Que?

— Espera. Ouviu isso?

— Jimin! — sussurrei, exasperado. — Volta aqui!

Ele fingiu que não me ouviu, parecia procurar algo muito importante nos mictórios, abriu os dois primeiros, caminhou para abrir o terceiro e deu um gritinho. 

— É uma barata? — perguntei, trêmulo. Se fosse uma barata Jimin que me perdoe, mas ele ficaria aqui sozinho. Ninguém é másculo quando o assunto é barata.

— Não. Mas acho que nossa busca terminou.

E lá estava, minha vergonha no chão do banheiro junto com o meu queixo, caídos e pisoteados, quando fui para o terceiro mictório e pasmem, Lisa estava mesmo no banheiro masculino.

Aos beijos.

Com Yoongi.

 

 


Notas Finais


👀


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