Suspirou.
— Obrigada. — Sorriu fraco, fixando seus olhos nos orbes avermelhados. — Vocês vão ficar aqui?
— Depende. — Rogue ergueu as sobrancelhas, curvando seus lábios em um sorriso travesso. — Quer que a gente fique? Ou quer ficar sozinha com o descabelado? — Alargou seu sorriso travesso.
— Ficar? Vocês vão se beijar? — O loiro confuso perguntou, fazendo Levy revirar os olhos.
— Vocês são muito intrometidos! — A azulada bufou, ajeitando as coisas para cortar o cabelo de Gajeel. — Aliás, vocês têm alguma tesoura?
— Não.
— Nenhuma?
— Não... — Sting respondeu pela segunda vez. — Cerra elétrica serve? — Perguntou com a inocência — e burrice — que só Sting Dragneel poderia ter.
— Não, e... Por quais motivos tem uma cerra elétrica? — Questionou-lhe curiosa, procurando algo que pudesse usar como tesoura em sua mochila.
— Eu não sei. — Deu de ombros. — E você? Por quais motivos seu cabelo é azul?
— Sei lá... — Franziu o cenho e pressionou os lábios, fazendo uma careta.
— Viu? — Sting saiu do chalé em passos desleixados, deixando a azulada um tanto incrédula.
— Ah! — Rogue exclamou após encontrar uma tesoura na mala de seu amigo. — O Natsu tinha tesoura. — Entregou para a Mcgarden.
— Amém. — Sorriu aliviada. Pelo menos poderia cortar o cabelo do moreno naquele dia. — Agora, xô! Rala daqui! — Começou a empurrar o Cheney pelas costas até a porta.
— Nossa Levyzinha, você não perde tempo, não é? — Comentou divertido, recebendo como resposta nada mais, nada menos, do que a porta do chalé se batendo.
O moreno cujo o nome era Rogue Cheney sorriu animado, um tanto feliz pela amizade que criou com a baixinha. Desceu os quatros degraus da varanda enquanto colocava as mãos nos bolsos de sua blusa, tranquilo, até avistar Sting com uma faca gigante.
— Achei um facão. Será que serve? — O garoto de olhos azuis perguntou.
— Larga isso e vamos voltar para o acampamento. — Apenas passou direto pelo loiro, que deu de ombros e entrou no carro novamente.
Dentro do chalé, Levy permanecia no banheiro, lavando seu rosto. Esfregou a face várias vezes, tentando com todas as suas forças, acabar com a sensação de cansaço. Aspirou o ar pelos lábios e fungou, encarando-se no espelho. Precisava acordar, havia algo importante a se fazer.
Saiu bocejando do banheiro, percebendo que Gajeel roncava. Então ele desmaiou e foi dormir?
— Terei que acordá-lo. — Pensou ao retirar as sandálias, mas antes que pudesse se aproximar do brutamontes, o barulho da queda de uma mala lhe chamou a atenção.
A mala vermelha despencara aberta, e todas as roupas foram ao chão. A azulada suspirou e massageou as têmporas antes de abaixar-se e começar a pegar as vestimentas. Quando pegou um moletom preto, algumas folhas caíram. Deparou-se com cinco cartas, todas escritas “Para Lucy”.
Leia quando estiver triste.
Leia quando estiver carente.
Leia quando estiver com saudades.
Leia quando estiver com a autoestima baixa.
Leia se estivermos brigados.
A Mcgarden deu uma risadinha boba antes de guardar as cartas no lugar, arrumando o resto das roupas com um sorriso estampado na face. Aquela mala e cartas eram de ninguém mais além de Natsu Dragneel. O garoto mudou Lucy para melhor em menos de sete dias e, continuava surpreendendo a azulada com o tamanho carinho e cuidado que conseguia ter com sua melhor amiga. Afinal, quando conheceu a loira, ela estava completamente sozinha. Era insegura e tinha sempre o olhar um tanto amedrontado, os ombros caídos e a expressão facial meio magoada. E agora, ela era totalmente diferente. Diferente da maneira boa.
— Mexer nas coisas dos outros é desrespeitoso. — Estava fechando o zíper da mala quando Gajeel murmurou.
— Caiu no chão e eu guardei. — A azulada sorriu, virando-se para o brutamontes. — E aí?
— Me sinto leve. — Riu sem ânimo.
— Cabelo cresce. — Afagou a cabeça do moreno, fazendo-o lhe olhar. — Vamos cortar? — Ergueu as sobrancelhas e deu um sorrisinho ao retirar a mão das madeixas negras.
— Mais?! — Levantou-se em um salto, fazendo-a rir da sua reação.
— O que há aí está queimado! É impossível recuperar, tenho que cortá-los. — Pegou em sua mão, o puxando. — Vai gostar do novo penteado. — Começou a guiá-lo até o banheiro. — Só vivemos uma vez, então, pra quê viver com a mesma cara?
— Bom ponto de vista.
— Vamos molhá-lo. — Disse entrando no box, ligando a água morna.
— Valeu por isso. — Inclinou-se para o lado, molhando sua cabeça enquanto a Mcgarden começava a massagear seu cabelo. — Depois eu te dou uma barra de chocolate. — Ele disse ao sentir o shampoo em sua cabeça.
— Eu diria que é por minha conta, mas eu aceito o chocolate. — Riram juntos.
[...]
— E agora... — Segurou a última madeixa rebelde entre o dedo médio e indicador, cortando-a em seguida. — Está pronto. — De uma corridinha até o quarto para pegar o secador. — Vou secar e então te deixo ver!
— Sabe, talvez tenha sido uma ideia boa! — Comentou. — Não estou com calor, sabe?
— Sei, sei. — Riu da maneira que ele mexia a cabeça, como se estivesse dançando. — Agora quietinho!
Secou o cabelo aos poucos, maravilhando-se em como ele conseguia ser atraente. Mesmo sem os longos fios negros que eram um de seus maiores charmes. Quando acabou, pegou o pequeno espelho na sua mochila e deu nas mãos dele, apoiando-se em seu ombro para assistir sua reação.
— Nossa. — Fez um bico. — Que esquisito!
— Nem vem, ficou bonito! — Mexeu em uma das curtas madeixas. — Eu gostei.
— Gostou? — Encarou-a por cima do ombro, vendo-a confirmar com a cabeça. — Bem... Admito, ficou bem legal...
— É, eu fiz um curs- — Fora interrompida pelos lábios dele sobre os seus. Gajeel começou a beijá-la.
Mergulhou os dedos nos fios negros e tocaram seus narizes ao aprofundar o beijo e envolverem seus lábios. Todavia, quando o moreno desceu sua mão para o traseiro da azulada, ela entrou em estado de alerta e afastou-se rapidamente do beijo.
— O quê? — Ele franziu o cenho, prestando atenção na expressão facial dela.
— Não me toque assim. — Tirou a mão dele de sua bunda, colocando-a na cintura novamente. — Vai com calma, ok, Gajeel? — Disse calma, deixando-o sem graça por ter tomado bronca dela.
— A-Ah, foi mal. — Fez um bico com os lábios.
— Me chamou para dormir consigo, né? — Gajeel confirmou com a cabeça. — Então, é isso que iremos fazer!
— E se eu pedir para transarmos? — Levy deu um sorriso forçado, erguendo os ombros e levantando as sobrancelhas.
— Bem, aí eu bateria nessa sua carinha! — Piscou um dos olhos, e deu um peteleco na testa do moreno.
— Ugh. — Cruzou os braços, fazendo outro bico. — Aliás, como foi mesmo que eu caí naquela fogueira?
— Bem...
“— Quer dormir comigo, é? — Levy sorriu divertida ao olhar para Gajeel que lhe encarou um tanto surpreso. — Seja mais específico.
— Ok. Quer dormir comigo, Levy? — Perguntou com o semblante tranquilo e sereno, procurando de todas as formas mostrar indiferença e desinteresse.
— É claro, por quais motivos eu não dormiria? — Disse relaxada, indo em direção ao brutamontes que permanecia surpreso. — Dorme com o Natsu hoje, Lu-chan?
— Sim. — Lucy murmurou, vendo a amiga entrar na barraca de Gajeel.
— É eu... — O Redfox travou por cerca de sessenta segundos, permanecendo o contato visual com o Dragneel por todo esse curto período. — Ahn, tchau! — Apenas fez maneios desajeitados com as mãos e, entrou na barraca.
Levy estava com as pernas cruzadas como índio, e em suas mãos, estava o livro: Você pode curar seu coração da escritora Louise Hay. Uma de suas autoras favoritas já que lhe ajudou a superar grandes dificuldades e perdas, inseguranças e depressões. Levy amava aquela mulher, mesmo não a conhecendo.
— Seu coração está doente? — O moreno perguntou enquanto se jogava no colchão, fazendo-a lhe olhar.
— Oi? — Franziu o cenho, confusa.
— “Você pode curar seu coração” — Ele batucou o indicador na capa do livro.
— Ah, não... — Riu sem graça, fechando o livro. — É que eu amo a Louise. Leio todos os livros dela, me deixa muito feliz.
— Entendi. — Arqueou a sobrancelha, sem entender o amor da garota pelo livro. — Isso é coisa de viado, deve ser uma merda! — Sorriu maldoso, recebendo como resposta uma careta da Mcgarden.
— Só porque não gosta, não significa que é uma merda. — Murmurou, guardando o livro em sua mochila. — E, aliás, não vejo o porquê ser “coisa de viado” seria uma ofensa. — Disse séria. — Ser chamado de gay ou viado não é uma ofensa, pelo menos não para mim. — Lhe olhou. — Vê se evolui um pouco, Gajeel. — Deu de ombros, com a expressão tranquila e serena.
— Que patada. — Murmurou bicudo, fazendo-a rir. — Não me entenda da maneira errada, eu não tenho problema com os homossexuais. Até porque eu vivo com duas.
— Irmãs?
— Não. — Riu, colocando os braços atrás da cabeça. — Eu não tenho pai, tenho duas mães. — Disse tranquilo enquanto se deitava sobre o colchão. — Duas doidas para ser exato.
— Doidas? — Lhe olhou curiosa. — Deve ser por isso que é assim.
— Ei! — Riram juntos. — Eu diria que... Elas são tudo para mim. — Deu um sorriso, chamando a atenção da azulada por começar a se abrir. — Elas me adotaram quando eu tinha sete anos, mas eu sinto que eu sempre estive com elas. É estranho, acho que a vida me direcionou a elas. E só. — Encarou a azulada. — Se eu encontrasse os meus pais biológicos, mandaria eles se irem à merda porque eu nunca fui deles e nunca serei.
— Fiquei com vontade de conhecê-las agora. Imaginei duas mulheres incríveis e divertidas.
— Ah, elas são. Elas são liberais e têm senso de humor, sabe? — Levy assentiu. — Na verdade, senso de humor até demais! — Gajeel riu ao falar, lembrando-se de algo divertido.
— Por quê?
— Elas haviam ido passar uma semana na casa da minha vó. Fiquei em casa sozinho, e, sabe como é, levei algumas garotas para lá ao longo da semana, e elas não permitiam isso. Afinal, eu tinha dezesseis na época. — A baixinha apoiou o cotovelo no colchão e a lateral do rosto na mão, lhe olhando melhor. — Mas no último dia da semana, elas voltaram dez horas antes. Eu estava dormindo com a mina no sofá e elas chegaram.
— Meu Deus do céu...
— E elas começaram a gritar “Gajeel, meu boymagia, tá me traindo com essa rapariga?” — Imitou a voz de sua mãe. — E as duas fingiram que eram minhas namoradas, como se eu tivesse sido pego no flagra pelas duas ao mesmo tempo!
— Pfft! — Começaram a gargalhar.
— Elas são, literalmente, tudo de bom. — Riram mais. — Eu só virei amigo do Natsu porque ambas eram melhores amigas do Igneel na adolescência, então o abestado do Natsu vivia lá em casa e eu vivia na casa dele. O Sting também.
— Isso é muito legal. — Murmurou, enterrando os dedos no cabelo negro e inclinou o rosto para lhe dar um beijo rápido.
— Sabe, você seria uma garota perfeita se soubesse lutar... — Sussurrou, sem afastar os lábios.
— Eu sei lutar, mas uma garota perfeita não existe. — Lhe deu um peteleco na testa. — Se manca.
— Au! — Massageou a testa enquanto ela fuxicava sua mochila. — Sabe lutar? Aposto que não acerta um soco!
— Cuidado com essas suas apostas. — Lhe lançou um sorriso desafiador.
— Duzentos reais que não acerta um soco no meu nariz.
— Apostado. — Apertaram as mãos, e Levy saiu da barraca, sendo seguida por ele.
— Espera, vamos lutar agora? — Perguntou confuso ao vê-la entrar na posição de luta.
— Claro, a melhor hora é agora. — Forçou a vista e massageou os dedos.
— Ok, mas lembre-se, não vou te acertar porque não bato em mulhe- — Fora interrompido pelo pé da baixinha que acertara seu estômago, gemendo de dor após isso. — Esper- — Fora interrompido por outro chute, mais forte que o último porque lhe fez tropeçar para trás.
— Vamos, Gajeel! Onde está essa sua masculinidade e garra? — Girou o corpo em um aéreo que, lhe deixou tão surpreso que não deu tempo de reagir ao seu novo chute, agora no queixo. Ele cambaleou para o lado e precisou piscar e remexer sua cabeça várias vezes para cessar a sensação de tontura.
— Baixinha, está cutucando a onça com um graveto muito curt- — Calou-se completamente quando ela pulou em seu colo e lhe acertou um soco na bochecha. Ela empurrou o peitoral dele com os pés e finalizou seu golpe dando uma reversão para trás ao cair no chão, deparando-se com o brutamontes um tanto tonto.
— Essa onça é muito tapada, não acha? — Sorriu divertida, ainda mais quando ele tropeçou e caiu de bunda sobre alguns galhos.
— Garota... Perfeita... — Murmurou tonto e desajeitado.
— Hah, estou pensando se compro um monte de chocolate ou um monte de livros da Louise com esses duzentos reais. — Batia em seu short para tirar a poeira e ajeitá-lo. — Hmmm, acho que dá para comprar os dois, afinal, duzentas pratas é bastante dinheiro! — Sorria divertida, sem notar o que acontecia atrás de si.
Os gravetos em que o brutamontes caiu, eram nada mais, nada menos, do que a fogueira que estava quase apagada. As chamas estavam cessando, contudo, o calor dos fios morenos fez estas voltarem a se ascender aos poucos.
— Será que dá para ir em um evento da Louise? Acho que sim! — Continuava a caçoá-lo com a sua vitória, só parando ao sentir um cheiro de queimado. — Hm. — Fungou, virando o corpo para encará-lo. — Que cheiro de queimado.
— Tá calor... — Murmurou coçando a cabeça e, notando após isso que a ponta do seu cabelo estava em chamas. — WHUOO, MEU DEUS! — Se levantou batendo na mecha, contudo, só a fez ascender mais. — VOU MORRER QUEIMADO! — E então, começou a correr em círculos como um maluco.
— O GAJEEL TÁ PEGANDO FOGO! — A azulada gritou assustada, e após isso, todos seus amigos saíram da barraca e a algazarra começou.”
— E foi isso... — Ela murmurou, fazendo-o coçar a nuca.
— Ah, é... — Sorriu de lado. — Vou te dar duzentos reais.
— Não, não... Afinal, eu taquei fogo em você. — Disse, afagando o rosto masculino com o polegar. — Faça algo melhor. Me leve para jantar. — Sorriu terna.
— Jantar? — Levy assentiu. — Beleza. Vamos jantar então.
— Ok. — Bocejou, provocando bocejos no outro também. — Vamos dormir até duas da tarde? Eu tô exausta.
— Vamos. — Ele coçou os olhos, lhe puxando para um rápido beijo antes de se levantar, e começar a ajeitar as coisas para dormirem.
As camas do chalé eram todas de solteiro, então, cada um fora para um canto ajeitar uma cama. Levy apenas forrou a sua com um lençol e pegou um edredom dentro do baú com roupas de cama. Como Gajeel não dava a mínima para essas coisas, só se jogou sobre a cama mal arrumada e colocou os braços atrás da cabeça.
Estava quase cochilando quando barulho de algo sendo empurrado cativou sua atenção. Quando olhou ao lado, deparou-se com a cama de Levy tocando a sua. A baixinha empurrou a cama dela até a dele, as juntando para poderem dormir juntinhos.
— Afinal, me chamou para dormir contigo, não? — Disse com um sorrisinho doce que, não cativou apenas a atenção do moreno, mas o seu coração também.
— Sim... — Seguiu-a com os olhos, assistindo-a apagar a luz.
— Boa noite, onça tapada. — Sussurrou, deitando a cabeça sobre seu travesseiro fofo e fechando os olhos.
— Boa noite, garota perfeita. — Disse, arrancando uma risadinha dela.
O que a azulada não imaginava, era que, após ela dormir, o moreno continuou lhe olhando por um bom tempo, questionando seus sentimentos patéticos — mais conhecidos como amor — por ela, mesmo lhe conhecendo em menos de três dias. E fora com isso na cabeça que o Redfox adormeceu, totalmente encantado com a Mcgarden.
A jornada deles será longa...
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