História Do Massacre a Paixão - CAPITULO 10 Uma pausa no bosque

Então finalmente o sonho acabou e ambos despertaram abruptamente quando a porta do quarto se abriu, chocando-se com a parede.

— Bom dia, pombinhos! — Exclamou Soraka, a jovem curandeira de Iônia ao adentrar no quarto. — Espero não estar interr-

Ela cortou a frase ao meio quando percebeu que ambos estavam deitados e nus, encarando-a por debaixo dos lençóis.

— Vocês não... — Ela apontava horrorizada para um e depois para o outro. Até que se ajoelhou no chão como se implorasse por perdão. — NÃÃÃO, MINHA CAMA!!

***

Soraka é uma curandeira abençoada com a magia das estrelas, tem todas as criaturas vivas bem próximas ao coração. Claramente não era humana, possuía uma cor de pele roxa e um longo chifre em sua testa, suas orelhas pontudas destacavam seu cabelo branco e suas vestes lhe davam um aspecto quase celestial.

Após os nervos se acalmarem, Soraka se sentou à mesa junto a Jinx e Jhin, que agora já estavam vestidos.

— Peço desculpas novamente pela empolgação da última noite… — Tentou se explicar Jinx, que ainda não tinha recuperado sua cor normal e parecia um tomate.

— Não quero nem ouvir explicações! — Soraka ainda parecia mal-humorada por conta do ocorrido e tentava se acalmar tomando uma xícara de chá. — É isso que eu ganho por salvar a vida de mercenários no meio do nada.

— Creio que ainda não ainda agradeci apropriadamente — Se pronunciou Jhin pela primeira vez desde que acordara. – Foi você quem me salvou?

A expressão de Soraka se tornou séria e ela voltou o olhar para encará-lo.

— Eu nunca vi nada igual aos ferimentos do seu corpo — Começou a explicar ela, enquanto mexia seu chá com movimentos circulares. — Pouquíssima vida lhe restava quando chegou até aqui, tive que usar muito do poder das estrelas pra te ajudar…

— Essa curandeira salvou a sua vida, Jhin… — Acrescentou Jinx com grande expressão de preocupação, enquanto tocava-lhe gentilmente o braço. — Eu não sei o que teria sido de nós se ela não estivesse ali.

— Neste caso, eu tenho muito que lhe retribuir…

Antes que Jhin pudesse continuar, Soraka ergueu uma de suas mãos suavemente e o interrompeu.

— Antes que continue… — Disse ela, agora sorrindo. — Jinx, querida. Pode buscar mais chá para mim?

A azulada nem pensou em responder, logo se pôs para fora do quarto em busca do chá da curandeira. A cabana de Soraka era simples, mas seus cômodos eram bem espaçosos. Além do quarto em que estavam, ainda existia uma sala de estar, uma varanda e uma cozinha simples e bem rústica. Jinx demoraria um tempo até se achar.

Assim que ambos ficaram a sós, Soraka suspirou e começou a dizer:

— Sei que parece que fui uma santa no lugar certo na hora certa. Mas devo lhe dizer uma coisa… — A expressão de Soraka se escurecera. — Eu nunca vi cena mais assustadora em toda a minha vida.

Jhin pareceu confuso com aquela afirmação, sentia que estava falando de Jinx, mas não conseguia ligar os pontos.

— A situação deplorável em que encontrei vocês… — Continuou ela. — Não sei em quem faltava mais vida, no homem semimorto ou na garota de cabelo azul implorando por ajuda. Pode dizer o que quiser sobre a mágica das estrelas terem te salvado, mas sem aquela garota… você nem sequer teria chegado até mim.

Jhin se calou em um silêncio de reflexão, podia sentir todo o desespero da noite anterior. Um sentimento de angústia passou pela sua garganta, pois sabia o que estava por vir.

— Eu trouxe o chá. — Anunciou a azulada, ao adentrar a sala, carregando consigo um pote. — Tinham muitos, então peguei esse rosa. Adora rosa! — Sorriu de forma infantil enquanto sentava à mesa novamente. — O que houve com a sua cara? - Franziu a sobrancelha ao olhar para Jhin.

Os olhos do artista se voltaram para ela. Muito tempo se passara desde seu primeiro encontro com a azulada. Ela havia crescido consideravelmente e agora se demonstrava forte o suficiente para derrotá-lo. Com certeza era uma força que não poderia ser desperdiçada.

— Tempos um último trabalho a fazer.

***

Chovia muito naquela tarde. O bosque estava escuro e silencioso, apenas o barulho da água podia ser ouvido. Todas as árvores rodeavam a rude cabana como se estivessem curiosas com o que tem dentro, mas ao mesmo tempo pareciam estar querendo proteger e esconder o lugar. Jhin se sentara na varanda da casa para refletir, muitas coisas haviam acontecido e era necessário um tempo para assimiliar. Estava com roupas casuais semelhante a um camponês, sua máscara havia sido deixada para trás e toda sua peculiaridade artística se resumira a um homem normal e comum.

Conseguia sentir a paz daquele lugar, uma paz que poderia preencher até o mais frio dos corações. Por um segundo refletiu se não seria bom levar uma vida comum e pacata, longe de todo sangue e destruição.

— Vejo que está perto de tomar uma grande decisão. — Comentou Soraka ao sair pela porta da frente e se sentar ao lado de Jhin. — Soube de homens que saíram de vidas deploráveis por amor, talvez pudesse considerar…

— As coisas que fiz… — Murmurou em resposta. — Você não teria coragem de dizer isso se soubesse.

Soraka franziu o cenho e fez uma careta, quase como uma professora que estivesse próxima a repreender um aluno, quando então se deu por vencida e suspirou.

— Fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes é loucura, Jhin. — Seu tom era de uma sincera preocupação. — Talvez devesse se preocupar um pouco com quem realmente importa. E sim, estou me referindo a garota de cabelos azuis!

— Você é realmente uma pessoa boa, não é? — Comentou Jhin, enquanto olhava para o céu fechado e ouvia os trovões. Soraka confirmou com a cabeça e lhe deu um tapinha nas costas.

— Você poderia aprender muito comigo se já não tivesse decidido a ir contra tudo o que estou lhe aconselhando…

— Acontece que… — Começou a dizer ele, enquanto se punha a levantar e a ficar debaixo da chuva. - Eu detesto pessoas boas.

Jinx surgira pela porta e tropeçara no degrau, completamente desacostumada com a roupa que usava. Um longo vestido de camponesa que mais parecia uma camisola longa, seus cabelos estavam soltos e seus traços femininos estavam completamente amostras. Os olhos de ambos se cruzaram e um leve sorriso escapou na face dos dois, chegava a ser cômico a forma que se encontravam.

— Acho que já abusamos demais da hospitalidade da nossa anfitriã. — Disse Jhin, enquanto se colocava ao lado de Jinx. — Partiremos assim que a chuva cessar.

— Esses jovens de hoje em dia… — Apesar de dizer em um tom bravo, Soraka exibia um leve sorriso de contentamento, quase como se soubesse o que ia acontecer. — Não vou estar sempre à disposição para salvar vocês.

— Nós seremos eternamente gratos por sua ajuda. — Se pronuncio Jinx, enquanto lhe agarrava pelas mãos em profunda gratidão.

— Só permaneçam vivos, ok? — Disse ela, enquanto se punha a encarar Jhin.

Ele então caminhou lentamente para a chuva que cessara, retirou um gorro escuro de seu bolso e cobriu-lhe o rosto. Nada mais podia ser visto de sua face além das formas de seu queixo e do fundo dos seus olhos. Um artista não era um artista sem sua máscara.

— Nós já morremos há muito tempo. — Sua voz rouca misturado com sua face sem forma lhe davam um ar muito sombrio. Um calafrio se apossou por Soraka e a mesma se questinou se teria feito a escolha correta em salvá-los.

Jinx sorriu e se colocou ao lado de Jhin, em uma última cena de despedida.

— Até algum dia! — Disse enquanto balançava Fishbones como sinal de despedida.