- Karma...
- É real – brincou com o próprio nome. – Karma é real.
- Não! – Nagisa riu. – Karma...
- Castiga! Karma castiga.
- Eu estou falando sério! – não, Nagisa não estava falando sério.
- Eu também estou! – Karma colocou a mão sobre o peito, em auto-defesa. - Lembra aquela vez que eu fui dar uma prensa nos seus alunos? Karma é real e Karma castiga.
- Nem me lembre! Pareceu combinado porque foi no mesmo momento que eu fui conversar com o Asano.
- Aquele dia foi legal.
°
Karma acordou antes de Nagisa naquela manhã, vestiu-se como de costume, sendo o único diferencial uma grande jaqueta, e foi para o Colégio Kunugigaoka. Nagisa andava reclamando muito de seus alunos! Estavam, sim, mais obedientes, mas pareciam estar se acostumando aos truques que o professor usava para suprir a “estatura desprivilegiada”, como ele costumava chamar.
“Quem eles pensam que são?”, aquela era a frase que sempre dava início ao último assunto durante o café da manhã e isso não era agradável. Karma queria que o último assunto fosse os prazeres do sexo oral ou sei lá e, para alcançar esse seu sonho, teria que dar um jeito na nova Classe E.
Karma parou a moto em qualquer canto, pois como já havia levado Nagisa para o trabalho uma vez, sabia onde ficava o novo prédio dos renegados do Colégio Kunugigaoka. Conferiu, no retrovisor, se o cabelo estava bem penteado e dirigiu-se à sala, com as mãos no bolso e um ar de superioridade que só ele tinha. Esperava que Nagisa chegasse atrasado ao menos alguns minutos: não havia deixado o café dele pronto e havia escondido as chaves de casa, para garantir.
- Bom dia – disse calmo ao adentrar na sala.
Foi ignorado.
- Eu disse, bom dia!
Um dos estudantes, de costas para si, levantou o braço e mostrou o dedo do meio.
Alvo detectado.
Em um movimento rápido, o garoto foi colocado gentilmente no chão – pelo menos foi assim que os outros estudantes contaram mais tarde. Karma sentou-se sobre o garoto e imobilizou-o.
- Você deve ser o mudo da sala, não é? Vamos ver se o gato comeu sua língua.
Karma tirou uma bisnaga de mostarda picante do bolso. Oh! Doce amiga! Do outro bolso tirou uma fita isolante, cortou um pedaço usando os caninos e prendeu a boca (já cheia de mostarda) e as mãos do garoto. Karma, infelizmente, não pôde apreciar os olhos do pirralho lacrimejarem: já havia três amigos dele partindo para cima de si.
Depois de colocar dois deles no chão – também gentilmente -, Karma decidiu dar uma lição diferente no terceiro. O garoto percebeu que era o único que ainda estava de pé e tentou amedrontar Karma, dizendo que pintaria as paredes da sala com o sangue da cara do ruivo.
Karma aproximou-se devagar do pirralho – que era pouco menor que si e muito mais musculoso – e curvou-se para o lado, vendo-o de baixo.
- Manda ver, garoto.
Alguém gritou um “ele é louco!”, fazendo Karma rir e voltar à realidade. Não haviam visto nem a ponta de sua loucura. Karma deu a volta no menino e puxou sua cueca, rindo diabolicamente.
- Responde ao meu “bom dia”! – ele suspendia o garoto a poucos centímetros do chão devido ao grande período sem o treinamento pesado ao qual estava acostumado quando ainda era assassino.
- BOM DIA! BOM DIA!
- É “bom dia, professor”! Fala direito, moleque! – Karma riu ainda mais quando viu os olhares assustados dos outros alunos.
- BOM DIA, PROFESSOR!
Oh, o garoto da mostarda já estava vermelho! Merda.
- Eu não sabia que você tinha língua! – aproximou-se do coitado. – Mas você não respondeu com palavras quando perguntei, então, como eu poderia saber? – o garoto tentava afastar-se inutilmente, arrastando-se pesadamente no chão sujo da sala. – Somos ambos vítimas aqui, certo?
Silêncio.
- CERTO?
- SIM, PROFESSOR! - todos responderam.
Karma tirou a fita da boca do pobre coitado chorando no chão.
- Eu vou te processar! – Ele disse em desespero, recuando, cuspindo mostarda. – Isso... Isso é agressão física!
- Mesmo? – Karma colocou a mão sobre o peito em falsa surpresa. – Vocês acham que isso foi agressão física? – dirigiu-se aos outros estudantes.
Silêncio.
- ACHAM?
- NÃO, PROFESSOR!
- Certa resposta! – ele aplaudiu. – Isso foi apenas um corretivo! E não acabou!
Karma arrumou as carteiras em fileiras, com ajuda de alguns estudantes mais amedrontados. Um deles tentou fugir, mas foi acertado na cabeça com um apagador.
- Não se atreva, garoto – disse sem olhar. – Todos sentados!
Alguns obedeceram prontamente, outros demoraram mais e um deles negou-se àquilo.
- Isso não está certo – disse em tom baixo, na tentativa de não demonstrar a tremedeira na voz.
- Garoto, não me faça listar as coisas erradas que já aconteceram nessa sala – Karma queria listar, mas não tinha tanto tempo. – Cala a boca e senta logo.
Obedecido, Karma começou um novo discurso.
- Vocês se acham muito machões, não é mesmo? Pois saibam que não passam de pirralhos com muito músculo. Vocês são um lixo, são desrespeitosos, são ridículos e todas as coisas que sabem que são. Estão com vergonha de si mesmos, então sentaram no próprio rabo e ficam apontando para os outros – tentou ser breve, não havia tempo para falar tudo. – Por isso, hoje vão aprender uma lição preciosa que eu aprendi há algum tempo... Hora da maquiagem!
.
Minutos depois, Karma rearrumou a turma e concluiu:
- O Karma só te sacaneia quando você sacaneia as pessoas. Sejam bons garotos que eu garanto não voltar.
°
- Eu não sei o que mais você fez a eles, mas quando perguntei sobre a maquiagem no período seguinte, um deles fez um discurso sobre aparência não definir caráter.
- São garotos espertos – Karma riu.
- E você precisava ouvir como eles se referiram ao acontecimento! “Um homem ensinou umas coisas ‘pra gente” e “aprendemos muito” foram as frases mais usadas – Nagisa riu também. – Eu sei que você usou métodos não muito didáticos e você sabe que eu não aprovo isso – tentou repreender o ruivo. – Mas pelo menos deu certo.
- Tem gente que precisa de um choque de realidade! E ninguém morre comendo mostarda!
- Você usou mostarda nos meus alunos?
- Que mostarda? ‘Tá louco? Quem falou de mostarda aqui?
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