- Nagisa, você faz ideia do motivo que me levou a agir como um idiota no início? Nos primeiros dias?
- Eu acho que posso imaginar, principalmente depois que tivemos daquele dia na cafeteria - Nagisa falava com o indicador pousado sobre o lábio inferior e os olhos voltados para o céu pouco estrelado. - Você se lembra que conversamos sobre nossos passados?
- Logo depois daquela primeira briga, como eu poderia esquecer?
°º°
- Um leite de morango, por favor - Karma pediu ao adentrar a cafeteria.
Os móveis dali eram feitos de madeira polida, clara como café com leite; atrás do balcão, muitas máquinas e armários eram posicionados de forma que tornasssem o lugar tão bonito quanto prático; os dois atendentes estavam bem vestidos e um deles sorria a ponto de ser possível ver seus molares; e o cheiro era uma mistura de café fresco e croissants. Aquele tipo de ambiente era aconchegante e acolhedor, o que fez com que o ruivo quase se esquecesse do quão encrencado ele estava. Havia deixado levar-se pela situação e Nagisa ficou simplesmente puto.
Karma sentou-se próximo ao balcão, em uma cadeira individual. Se tivesse sorte, conseguiria convencer um dos atendentes - talvez o sorridente - a considerar um presente “por conta da casa”. Contudo, Karma não tinha mais sorte. Toda a sorte dele havia escorrido pelo ralo quando Nagisa entrou naquela cafeteria com um sorrisinho no rosto.
- Bom dia, Hinata-kun, bom dia Kage-kun - ele direcionou-se principalmente ao garoto sorridente que havia servido Karma. - Por favor, não confundam a minha conta com a desse senhor e, mais importante, cuidado com ele - disse a última parte num sussurro amigável. - É sério, ele pode ser bem persuasivo.
Kageyama concordou prontamente, como se tivesse recebido uma ordem de um general ao passo que Hinata arregalou os olhos, recuando levemente na direção oposta à de Karma. Nagisa conhecera aqueles dois quando ainda não sabiam a diferença entre um café latte e um cappuccino italiano* e, apesar de meio desastrados e desligados, sempre soube que eram bons garotos.
Nagisa fez seu pedido em seguida foi sentar-se a uma mesa colada à parede, nos fundos. Ficou por lá esperando que Karma entendesse o quão particular e séria seria aquela conversa.
- Bom dia - Karma disse baixo ao que se aproximou.
Ele era inteligente o suficiente para entender aquela linguagem corporal, mesmo que Nagisa desse pouquíssimas dicas a respeito do que estava pensando.
- Então - Nagisa só se pronunciou depois que ser mocaccino fora servido. - Nós somos muito diferentes, contrastantes, até - tomou um gole. - Mas eu acho justo que você possa se defender e expor seus motivos e qualquer coisa assim; por isso, pode começar a falar.
Karma ponderou. Não sabia o que falar, nem como falar. Deveria pedir desculpas pelo que fez? Talvez fosse mais sensato sair da casa de Nagisa? E se Nagisa o expulsasse antes disso?
Contudo, o momento de hesitação pouco durou. Karma falou como um rádio estragado sobre tudo que havia passado até o momento - e wow! Nagisa chegou a pensar que eles teriam de lavar copos para pagar as contas naquele lugar.
- Agatha era a garota da propina - o ruivo dizia entusiasmado. - O tanto que ela tinha de perigosa, tinha de bonita. No bar, estava sempre lendo um livro e se alguém se aproximasse demais, já poderia sentir o cano daquela ares light* horrorosa que ela tinha.
- O que ela fazia lá?
- Ela era responsável pela propina, eu acho. - Karma torceu o rosto numa careta, como se tentasse puxar alguma informação de sua memória. - Seja qual for o trabalho dela, eu queria ‘pra mim porque ela ficava no bar do Cookie 24/7.
Nagisa teve de raciocinar um pouco para se lembrar que “vinte e quatro barra sete” significava ‘vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana’.
- Cookie é o dono do bar da empresa? - Nagisa perguntou, tentando realmente entender tudo aquilo.
- Nops, Cookie é o barman mais assustador da zona oeste. Ele é um careca de quase dois metros e cheio de tatuagens e eu juro ‘pra você que tive medo dele até o último dia em que estive lá.
Karma então contou algumas coisas pelas quais havia passado por acreditar demais em Cookie (como a vez em que ficou montando um castelo de palitos de dente usados por 3 horas só porque o barman dissera que era um ritual de iniciação de petiscos nos Estados Unidos). Aquele ponto, Nagisa já sabia de quase tudo da empresa, bem como nomes das pessoas e das armas que elas usavam. Ele tinha até sua história favorita, o comando da primeira missão de Karma: “advogado morre em acidente de pesca”, faça com que isso vire a manchete de amanhã. Nagisa não sabia bem se devia ou não rir, mas, por vezes, simplesmente deixava escapar. Karma era bom contando histórias.
Então eu parei de procurar sobre a vida das pessoas que eu matava. Admito que um dos meus maiores medos era me tornar o assassino sem sentimentos que me tornei. Enfim, fiquei tão cego com isso que sequer percebi que o último homem que matei era ninguém menos que o pai de Gakushu e aí fodeu mesmo - Karma já estava completamente relaxado, contudo, não deixava de estar triste.
Depois de uma longa pausa, Karma continuou a falar.
- Acho que preciso desabafar sobre uma coisa… - Karma disse fitando o restante do capuccino que pedira. - Hinata, pode me trazer um breve*? - gritou para o ruivo ao qual já estava familiarizado.
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