Charlotte considerou o profissionalismo de Finral cedo demais.
O idiota resumiu em pouco mais de uma semana o treinamento que deveria durar um mês completo.
Tudo bem que Charlotte já estava facilmente adaptada, mas ainda tinha dúvidas e vez ou outra trocou os horários da agenda por não saber exatamente o que fazer com dois compromissos importantes ao mesmo tempo.
Fora que Finral era uma bagunça ambulante, o que ele tinha de mulherengo ele tinha de desorganizado.
A rotina de Roselei se resumia em chegar 20 minutos cedo, trocar os sapatos baixos por pantufas e ir limpar e reorganizar o escritório do homem, o que lhe deixava ocupada até a hora do almoço. Às 11 horas, quando o Roulacase não tinha um almoço com suas vítimas, ela era responsável por ir comprar um junk food (comida em pote/ marmita) para ele e, caso fosse a primeira situação, ela tinha três horas de descanso.
Às 14 horas, começava o seu real trabalho e também o inferno. Parecia que Finral fazia de propósito, pois Charlotte ia até a sua sala confirmar a agenda e reivindicar novas funções, mas o mesmo sempre "se distraía" lançando cantadas ou pedindo novas tarefas urgentes que NÃO eram, de fato, urgentes.
Após confirmar e marcar novas informações na agenda do promotor, começava a parte em que de meia em meia hora ele pedia que Charlotte fosse buscar um café, fazendo com que a loira subisse e descesse de elevador para usar a área de descanso onde tinha uma cafeteria, no andar de cima.
Fora os inconvenientes, o trabalho era bem feito e só havia mais uma coisa que incomodava a loira, suas horas extras não remuneradas. Uma hora para o final de seu expediente, Finral dizia que tinha uma reunião particular com acionistas ou algum juíz e saía, mas antes ordenando que Charlotte ficasse e o esperasse voltar, o que lhe rendia de duas a três horas na recepção a ver navios.
Quando chegava em casa, Charlotte estava geralmente exausta, jantava com Grey e com Gauche, que chamava as duas para jantar na casa dele, voltavam de táxi para o prédio da amiga conversando o máximo que podiam e por fim, ela trocava breves mensagens com Yami, todas simples demais para seu gosto antes de cair no sono.
Em sua terceira semana e felizmente, a penúltima, Charlotte fez o mesmo progresso, chegou cedo, limpou tudo, levou o almoço e estava a um passo de confirmar a agenda de Finral.
Era sexta-feira, só mais algumas incontáveis horas e a loira poderia ir para casa e não ver o castanho e nem escutá-lo por dois dias inteiros. Os famosos sábado e domingo.
Dois toques na porta só por educação e ela entrou na sala dele, vendo que o mesmo observava um par de saltos scarpin pretos de verniz em modelo simples sobre sua mesa.
Charlotte não perdeu a oportunidade de zombar dele:
- Uau, agora virou o tarado dos saltos? Devo ligar para um psiquiatra? - Sorriu meiga, totalmente contraditória a suas próprias palavras. Algo que aprendeu com Nacht.
"Aliás, tenho que ir visitá-lo…" - Charlotte pensou brevemente.
- São para você. - Finral disse sério, ignorando a brincadeira e Charlotte estranhou.
- Para mim? Qual o motivo de estar me dando isso?
- Vi que usa sapatilhas ou pantufas, é brega demais. - O mesmo comentou e fez sinal para que ela pegasse os sapatos de cima da mesa. - Calce-os, vão servir…
- Como sabe? - Charlotte perguntou, mas calçou e ele estava certo, caiu como uma luva.
- Anos de experiência… - Ele sorriu galanteador e foi subindo o olhar dos pés, pelas pernas, até chegar no rosto da Roselei, que o encarava desinteressada.
- Me poupe. Mas vou aceitar, são realmente lindos. - Ela comentou e assim, ignorando qualquer outro assédio, começou a tomar a agenda.
Quase agradecendo aos céus que os compromissos eram todos para a semana seguinte e só teria que esperar mais sete horas no total, Charlotte foi brutalmente desiludida quando ouviu as últimas palavras de Finral:
- Após a reunião, iremos jantar, apenas nós dois… - Ele disse sem parecer ter segundas intenções, concentrado, enquanto digitava algo em seu notebook, mas Charlotte não iria se queimar tão fácil.
- Eu recuso. Posso ir para casa? - A mesma pediu roubando a atenção de Finral.
- Não foi um convite. Quero falar sobre seu trabalho. - Ele disse e Charlotte ficou um tanto quanto aborrecida internamente.
- Certo. - Ela comentou e foi só terminar de fechar a agenda que seu celular começou a vibrar, debaixo de sua planilha que carregava consigo. - Vou me retirar. - Ela falou formalmente e pegou seus sapatos, saindo da sala rápido, para ter tempo de atender a chamada.
"Lottie!" - Ela rapidamente reconheceu a voz e o apelido assim que atendeu.
- Tio! Como vai? - Respondeu empolgada, era bom ouvir a voz dele, mesmo que por telefone.
"Bem, e você, princesinha?"
- Morta… de cansaço… - Ela suspirou e a risada do Novachrono foi ouvida em alto e bom som.
"Peguei seu número com Yami, ele relutou muito, mas eu venci!" - Ele cantou vitória. - "Vamos jantar hoje à noite, vou enviar o endereço por mensagem, me ligue quando sair do trabalho!" - Ele disse e nem esperou Charlotte responder.
"Devia estar com pressa, mas poxa…" - A loira pensou e ficou numa berlinda sem saber o que fazer, afinal tinha dois jantares importantes no mesmo dia e horário.
- Por que esse idiota não disse logo o que queria falar sobre meu trabalho?! - Charlotte resmungou fazendo caras e bocas de ódio em direção ao escritório de Finral, antes de receber o endereço em mensagem. Com um muxoxo, concluiu: - Tsc… Não pode ficar pior…
Maldita boca...
A mensagem que chegou a seguir, atormentou a loira indecisa pelas próximas 5 horas que se passaram e parecia estar em caixa alta de tanto que Charlotte as encarava um minuto ou outro, de olhos arregalados.
Yami
"Vamos jantar hoje à noite, vou estar te esperando na portaria, assim que sair do trabalho."
"Pois bem, pois bem, eu estou ferrada." - Charlotte pensou, choramingando.
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