Na porta da casa dos Blackwell, Michelle e Raphael fitavam o chão num silencio constrangedor, até que ela decide quebrá-lo:
- Obrigada por me trazer em casa.
- De nada. Então... – Raphael coloca as mãos nos bolsos da calça. – Até amanhã.
- Hm, amanhã?
- É, na festa da fundação.
- Eu esqueci completamente disso! – Michelle suspira frustrada. Ela odiava esses eventos. – Certo, até amanhã – ela adentra a casa e fecha a porta atrás de si, em seguida ela vai até a janela e fica observando Raphael entrar em seu carro e ir embora. “Que merda você está fazendo Michelle?!”
~"~
Na manhã seguinte, tentando fazer o mínimo de barulho possível, Jessica preparava o café da manhã: dois sanduíches, duas xícaras de café e algumas aspirinas. Ela estende dois comprimidos e um copo d’água para o garoto-zumbi sentado a sua frente. David toma os comprimidos e volta a deitar sua cabeça no balcão.
- Está se sentindo melhor?
- Não – sua voz sai abafada e rouca. – Como é possível alguém fazer tanta besteira? Eu devia ganhar um prêmio por isso!
- E por que você iria querer ganhar um prêmio por ser um tremendo canalha? – Jessica coloca o prato com o sanduíche a sua frente. – É melhor você comer isso ou nunca vai conseguir levantar dessa cadeira.
- Por que você está fazendo isso? Você me odeia, por que está me ajudando?
- Nostalgia talvez – ela da uma mordida em seu sanduíche antes de continuar. – E eu não odeio você, eu só prefiro ignorar você. É diferente.
- Bom dia crianças – Ella entra na cozinha, bocejando de sono. – Você está melhor David?
- Sim senhora. Obrigado por me deixar passar a noite aqui.
- Sem problemas. Como nos velhos tempos, certo?
- É – David responde baixo. Ele e Jessica olham para suas xícaras, evitando o olhar um do outro propositalmente.
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- Eu só não te mato porque prometi pra Rachel que não faria isso. Mas minha vontade é de bater sua cabeça na parede até ela explodir!
- Eu sei Alexandra, eu sei...
- Onde você estava?
- Desculpa, mas não estou vendo o seu crachá escrito “mãe”. – David começa a subir as escadas, mas para ao ouvir Alexandra dizer:
- Ela ta lá em cima.
É claro que ela estava. Pegando mais ar do que o necessário, David vai até seu quarto. “E seja o que Deus quiser”
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Ao entrar em seu quarto, Jessica encontra seu violão em cima da cama e um papel ao seu lado. Era uma partitura, com uma nota escrita em vermelho no rodapé:
“Se vida real tivesse trilha sonora, essa seria a sua agora –G”
Jessica lê a musica na partitura, reconhecendo-a de imediato. Era uma das suas musicas preferidas do The Strokes:
“In many ways, they'll miss the good old days
Someday, someday
Yeah, it hurts to say, but I want you to stay
Sometimes, sometimesWhen we were young, oh man, did we have fun
Always, alwaysPromises, they break before they're made
Sometimes, sometimes”
Ela amassa o papel e o joga no lixo ao lado de sua escrivaninha.
Como ela conseguiu entrar ali? Quando? E ainda por cima mexera no seu violão. Ninguém mexia naquele violão! A não ser que quisesse ter as duas mãos amputadas!
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- Eu não posso continuar com isso. Olha, David, você é legal, eu realmente gosto de você...
- Espera! – David diz, interrompendo Rachel. – Você está mesmo usando aquele “o problema não é você, sou eu” depois do que eu fiz?
- Tem razão, discurso errado. Porque, obviamente, o problema é você.
- Não foi exatamente o que eu quis dizer...
- Desculpa David. É só que eu não posso fingir que está tudo ok... não mais. O que aconteceu ontem não foi uma exceção, e nós dois sabemos disso. Mas Jessica, Nicole, isso não importa agora – “Jessica?”
- Rachel, eu...
- Você não é um cara de uma garota só e eu não quero ser aquela que vai mudar isso, porque eu realmente tentei, mas isso não nos levou a lugar algum.
- Então você está terminando comigo. – David olha para ela, mas Rachel continuava com a cabeça baixa. O chão devia ser algo muito interessante de se fitar.
- Sim, eu estou.
- Rachel eu juro que eu não quis...
- Não David! É tarde demais pra se desculpar – Rachel tenta dar um sorriso, mas ela não conseguiria fingir isso aquele ponto. Lágrimas já se formavam em seus olhos, era melhor sair dali logo. – Adeus Dav – Ela diz com a voz embargada, ao sair pela porta.
~"~
Era uma típica noite de verão, a lua e as estrelas brilhavam no céu escuro, não havia vento e o ar estava pesado, abafado. O que para Michelle era ótimo, já que ela estava usando um fino vestido sem mangas. Apesar do clima favorável, Michelle sentia-se entediada. Seu pai a obrigara a ir aquela festa cheia de adultos esnobes que aparentemente não sabiam como se divertir. “Ao menos a champanhe é boa”
De dentro do salão, observando o jardim pela enorme janela de vidro, Raphael vê Michelle recostada no peitoril do coreto de frente para o lago. Ele pega uma taça de champanhe na bandeja do garçom que passava e vai a seu encontro.
- É uma bela noite, não é?
Michelle o olha por um instante, ela não o tinha visto na festa, apesar de saber que ele estava lá.
- Sim, bela demais pra eu estar desperdiçando meu tempo aqui.
- Eu odeio esse tipo de coisa. Todas aquelas pessoas fingindo que se importam com essa fundação que eles estão “ajudando”, quando na verdade tudo com que se importam é com a publicidade que isso vai trazer pra eles.
- Eu só quero que essa noite acabe.
- Pelo menos tem seu lado bom: você ficou linda nesse vestido.
- Obrigada – Michelle não conseguiu evitar corar, o que, Raphael iria concordar, a deixava ainda mais linda.
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- Ok, já chega. Eu não vou ficar a noite toda com você passando mal no meu banheiro de novo.
- Certo, desculpa – David coloca a garrafa de lado e deita-se no telhado, com os braços atrás da cabeça – Eu posso te fazer uma pergunta?
Jessica também desiste do licor, mas permanece sentada, olhando para o céu.
- Vá em frente.
- Como estão as coisas entre você e Josh?
Ela hesita antes de responder. Por um momento David pensou ter passado dos limites daquela trégua que criaram, e ele já estava pronto para mudar de assunto antes que ela o derrubasse dali de cima, mas então ela diz:
- Eu acho que nós terminamos.
- Você “acha”? Por quê?
- Alguns motivos. Especialmente esse – Jessica tira seu celular do bolso, procura alguma coisa ali e então estende o aparelho para ele. David senta-se rapidamente ao reconhecer a si mesmo na tela, ignorando o protesto de seu estomago com o movimento brusco depois de toda aquela bebida.
- Agora eu entendo sobre o que Rachel estava falando. Sinto muito, eu nunca faria isso se estivesse sóbrio.
- OUTCH – ela coloca uma mão sobre o peito, num espanto fingido. – Rejeição!
David revira os olhos.
- Você sabe o que eu quis dizer.
Os dois viram-se rapidamente ao ouvir Ella os chamando.
- É melhor voltarmos se não quiser que minha mãe bata na gente com essa garrafa – Jessica diz, levantando-se e tirando a poeira dos seus jeans.
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A garota loira andava de um lado para o outro a procura de sua irmã Michelle, como o pai havia mandado. Era bom ela não ter escapado e deixado Dakota ali sozinha no meio daquelas pessoas entediantes. Dakota odiava o emprego do pai, e odiava ainda mais o fato dele obrigar as filhas o acompanhar àquele tipo de festa. Jogar dominó com sua avó era mais emocionante do que aquilo.
A menina para na frente da janela que exibia uma bela vista do jardim: o lago que refletia a lua e, mais adiante, um belo dossel de mármore branco. Nele, conversando muito próximos, estavam Michelle – sua irmã fujona – e Raphael. “Próximos demais”. Dakota continua a observá-los e esboça um sorriso ao ver os dois se beijarem. “Que feio maninha! Roubando o namorado das outras”.
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