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História Doce Vampiro - Fenômeno


Escrita por: johnlemonada

Capítulo 2 - Fenômeno


De volta do cinema, olhando o céu e as estrelas pela janela, Julinho se ocupou por um bom tempo pensando no caixa do cinema. A barba era alinhada, fios pretos brilhantes, fazendo moldura pros lábios mais bonitos que já tinha visto. Os olhos esverdeados e com toque de mel foram o último pensamento de Julinho antes de adormecer, como se ele o vigiasse.

Os dias passavam e sempre que podia, frequentava o cinema, As vezes ia só pra dar oi pra Maurílio, contar alguma piada e tentar chamar o moço pra sair, sempre sem sucesso. Começara a chama-lo de palestrinha, porque sempre conversavam sobre cinema e Maurílio se empolgava, fazendo as pessoas na fila começarem a se irritar com a demora e xingar, ou sua irmã vir reprimi-lo.

A cidade que, milagrosamente, ainda tinha uma locadora de vídeo, foi a chave para Julinho. Buscava os filmes que o palestrinha recomendava, até os filmes bunda, assistia, e no outro dia no fim de seu expediente rodando com a Sprinter, parava pra conversar com o moreno enquanto este trabalhava. O cinema com luzes amareladas, carpete vermelho e lustres antigos se tornou o espaço para crescer aquele interesse.

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- Eu não posso sair Julinho, já disse um milhão de vezes… - o moço que parecia sempre tão perfeito, com a pele impecável e os fios de cabelo como se tivessem sido colocados um a um ali, agora desviava o olhar e mexia nas moedas no caixa. Tentava ignorar, a sua frente, o loiro com um bigode de respeito, barba recém feita, jaqueta camuflada verde e uma rosa na mão.

- Me explica por quê não pode neném.

- De dia eu… cuido da minha vó, ela é muito idosa e precisa de ajuda pra tudo. E de noite trabalho aqui, todos os dias, como você sabe.

Julinho já tinha ouvido falar da senhora Dos Anjos, matriarca da família. Segundo Maurílio, ela criou ele e irmã desde pequenos, e era uma senhora rígida e agora debilitada. Segundo as fofocas da cidade, era uma mulher diabólica, da qual não se devia nem mencionar o nome.

- Se eu ficar esperando seu expediente acabar e aí te levar prum passeio?

- 2 da manhã? 

- É…e o cinema é family business né, vocês poderiam fechar antes só um dia, ou tua irmã cobria seu serviço.

- A Amanda não…. - a moça loira parecia sempre estar ali do lado no balcão ouvindo as conversas dos dois e olhando com olhos de reprovação e ameaça. Maurílio dizia que era o jeito dela, e realmente, Julinho nunca vira sorrir para os clientes, mas com certeza havia algum problema com ele. - Ela nem pode saber que vou sair Julinho.

- Não tem problema, deixa com o pai aqui que eu resolvo. Ja saí muito sem permissão. - Sorriu por baixo do bigode grosso, deixou a rosa no balcão e a empurrou para perto de Maurílio. - Sexta então, fico te esperando sair.

Foi até sua van, sorrindo vitorioso enquanto dava partida no automóvel. Essa noite pensaria no moreno novamente, mas com uma chance garantida.

- Até sexta então. - Maurílio sorria sempre um sorriso charmoso porém curto, sem escancarar muito os dentes, mas parecia algo natural dele. Guardou a rosa na gaveta, e ficou passando a ponta dos dedos nas pétalas, apreensivo, e provavelmente apaixonado.

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Garfos parecia não ter estação: era abafado mas chovia quase todo dia, mas também ventava muito gelado a noite. Julinho ainda não tinha se acostumado muito, sentia falta do sol, mas não estava em posição de reclamar. E pensar que poucos meses atrás estava com o pé na cova, a cidade nova lhe acolheu maravilhosamente, trazendo amigos, tranquilidade, e uma paixão.

Além da estrada principal que cortava a cidade, havia uma estrada que se transformava num caminho de terra, indo para um distrito a leste. Nunca tinha seguido por aquele caminho, e aliás, nem imaginava como uma cidade tão pequena teria um distrito. Pelo que ouviu de alguns idosos do bar, parece que o local era um resquício de mata, com algumas casas de madeira onde moravam algumas famílias que as vezes vinham à cidade.

Antes de começar a buscar os passageiros em suas casas na quinta cedo, bem cedo, Julinho fez o caminho até a estradinha de terra, onde encontrou uma barraquinha de pastel lotada de frequeses. Parou perto e foi ver, porque afinal os passageiros entenderiam que passou pra comer um pastel. Merecia esse agrado. Conforme se aproximava, viu duas figuras dentro da barraca: um mais magro, de avental branco, chapeuzinho em formato de barquinho, e um mais corpulento, braços fortes, falha no cabelo, camiseta branca escrito Rogerinho's. Cumprimentou os conhecidos que comiam, tentando passar por entre eles para fazer seu pedido.

- SE VOCÊ NÃO DECIDIU O QUE QUER, SAI DA FILA PORRA! DONA CLEUSA, CALMA, VAI SAIR O PASTEL CACETE!!!

Esse devia ser o chefe, pensou Julinho. Deu risada com o jeito do homem, lembrando de conhecidos do Rio. O outro homem tinha uma cicatriz que atravessava o rosto, indo de um olho até a boca. Ele tirava os pastéis do óleo e dava para uma criança miúda entregar, falando rápido e com a língua presa, quase incompreensível.

- Opa chefia, queria um de pizza.

- Quem é você?

- Julinho… Julinho da Van.

- Que van porra?

- Aquela Sprinter estacionada ali. Mudei pra cidade faz um tempo.

- Ah.. - o homem olhou de baixo pra cima, e estendeu a mão para cumprimentar.

- Ô Rogerinho, Renanzinho sumiu com a massa dos pastel tudo, que que vamo fazê? - o homem magro e peculiar apareceu no meio da conversa sem cerimônias.

- Pera aí Renan, já vou atrás do menino… Esse é o Renan, meu marido, e nosso menino Renanzinho.

- Prazer conhecer.

- Ô que beleza, gente nova na cidade! É Julinho? Qualquer dia passa lá em casa tomar uma… - abaixou o tom de voz e falou com a mão na frente dos lábios - Rogerinho ta precisando de amigos, os últimos ele acabou espancando...

Comeu seu pastel, muito bom por sinal, e gostou do casal da pastelaria. Gostaria de ter descoberto o lugar antes, mas parece que o casal e as outras famílias do distrito não frequentavam muito a cidade. Acenou e prometeu que voltaria e ficaria para uma cerveja, feliz com novos amigos, figuras muito singulares.

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Ainda na quinta, assim que a claridade se foi, Julinho ia de havaianas, bermuda e regata cinza, sua roupa favorita, até o mercadinho. Ia a pé devido a proximidade, cantarolando algum samba, olhando os cachorros nos portões das casas, sossegado.

Cruzou a rua do cinema, que ainda abria, virando para a rua do mercadinho na esquina. Ninguém na rua, clima de cidade pequena, que quando escurece todo mundo se recolhe. Ouviu um barulho de motor de carro, não sabendo de onde, e logo a luz dos faróis atingiram seus olhos. Uma caminhonete branca grande vinha correndo e virando em sua direção, virando a esquina sem tempo de se preocupar com possíveis pedestres. Não daria de tempo de Julinho sair do caminho, prendeu a respiração e esperou para ser atropelado.

Olhava fixamente pra caminhonete então não viu de onde Maurílio tinha saído, mas o moreno apareceu do seu lado e o puxou com força, tirando-o da frente do automóvel. Encostou Julinho em uma parede na lateral, evitando o acidente, e saiu tão rápido quanto tinha aparecido. Sentado na calçada, atordoado, Julinho tentava recriar a cena e pensar se esqueceu de algo, conferir se estava alucinando ou não. Tinha certeza que viu a caminhonete a 2 metros ou menos de si, e depois estava encostado num muro perpendicular a onde estava.

Foi pra casa, fumou um maço todo enquanto olhava o céu sentado na mureta da varanda só de cueca, uma noite especialmente abafada.

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- Maurílio, a gente tem que conversar sobre ontem. - entrou pisando firme no estabelecimento, sem cumprimentar nem sorrir.

- O  que aconteceu ontem? - o atendente mantinha o mesmo sorriso de sempre, o colete, camisa e calça social bem passados.

- A caminhonete, o acidente. Que foi aquilo porra? - Julinho estava nervoso mas não como se fosse começar uma briga, falava sério e sem expressões, como se já tivesse pensado muito no assunto e não estivesse brincando.

- Você sofreu um acidente ontem? Nossa!

- Para de graça porra, você me tirou da frente da caminhonete que ia me atropelar Maurílio.

- Nada a ver Julinho, eu tava com a minha vó ontem, nem sei do que você tá falando. Se quiser pergunta pra minha irmã onde eu tava.

O clima não era bom, se encararam sérios, como se testassem quem aguentaria mais. Julinho se calou, sentou num banco da entrada do cinema e esperou o fim do expediente do moreno para seu encontro.

- Pronto, vamos? - Maurílio era delicado em gestos e na fala, e parecia não estar nenhum pouco abalado com a história do tal acidente. Julinho respirou fundo, relaxou os músculos da testa e tentou focar no tão esperado encontro. Claro que não deixaria passar, o assunto seria resolvido, mas mais tarde.

- Já andou de sprinter, gato? - abriu a porta do carona da van para Maurílio, entrando para conversar. - Onde você quer ir?

- Você que sabe…

- Tinha pensado na minha casa, comprei cerveja, uns petiscos, tudo pra te receber. - o olhar malandro de Julinho gelou o moreno, apreensivo por diversas razões. Se limitou a concordar com a cabeça e sorrir de volta, olhando pela janela para ver se alguém os via.

O moreno repitiu o processo ao entrar na casa, olhava se vinha alguém na rua enquanto o loiro destrancava a porta.

- Tu é casado Maurílio?

- Ahn? - virou-se espantado.

- É, só pode sair de madrugada, tem medo de te verem na rua… Relaxa, se for casado entendo.

- Não sou casado não. - entrou e fechou a porta atras de si.

Ficaram em silencio enquanto Julinho pegava as cervejas, o amendoim, salame, e um bolinho de milho que fez com a receita da vó.

- Ó, tudo pra nós dois. - sentou no sofa do lado do moreno, tocando os joelhos pelas calças. 

- Eu já comi. Na verdade, to de dieta… - o desconforto de Maurílio era evidente, parecia que não queria estar aí, ou não devia, ou que algo ruim poderia acontecer. Julinho se sentia uma bosta por isso, tinha medo de não estar sendo agradável, mas tentou continuar: já tivera dates muito piores.

- Nem uma água?

- Não, brigado.

Ficaram em silêncio de olhando, Maurílio era tão encantadoramente bonito, parecia atrair toda atenção do ambiente, mas também parecia desconfortável. Julinho foi se aproximando para tentar um beijo, olhavam as bocas um do outro. Parecia que se seguravam para não se atracarem, mas por que? 

- Já te falaram que você é estranho palestrinha?

Maurílio não resistiu ao apelido e beijou Julinho com vontade, se agarrando em sua regata. O loiro sentiu a boca fria e ao mesmo tempo macia, os braços e dedos gélidos que passavam por sua nuca o fazendo arrepiar. Beijaram por um longo tempo, com vigor e desejo, tesão e ansiedade. Até se afastarem para Julinho respirar.

Julinho respeitava todo o tipo de amor, com os fetiches que vierem, com as pessoas que vierem, do jeito que fosse. Mas não dava pra mentir que nunca tinha pegado um homem gelado que nem um…. morto.

- Maurílio. - bandou alto e forte  -

 

 

cê é vampiro dodói???????


Notas Finais


estão gostando? espero que sim.
as coisas vão ficando mais curiosas daqui pra frente.


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