História Dois Mundos - Capítulo 21

Violetta Castillo

A pior parte de voltar de uma viagem é desfazer as malas. Não que eu tenha muita coisa para guardar, mas o cansaço é a preguiça estão me sugando com força e estão quase me vencendo. 

Enquanto guardo as roupas no meu lado do armário do quarto, me pego pensando nesse fim de semana. Foi de longe um dos melhores fins de semana da minha vida. 

Mas como tudo na vida não são flores, agora estamos todos de volta na escola. Quer dizer, eu e a Camila estamos. 

Os alunos foram liberados durante todo o dia e só precisam chegar a noite até as oito horas. Mas muitos estão aqui pela prova que algumas salas irá ter amanhã, inclusive a que o Alex vai ter. 

Cami: eu ainda não acredito que vocês estão juntos - nem preciso dizer que as meninas me encheram de pergunta ontem a noite, não é?. 

Contei quase tudo, não entrei nos mínimos detalhes. 

Violetta: Não estamos totalmente juntos, Cami. Só… - não achei uma palavra certa para nos definir - bom, não sei. 

Cami: você gosta dele? - Não sei se falar a verdade é uma boa ideia. 

Violetta: não sei, Cami - omiti que sim - e o Broduey? - me joguei na cama enquanto ela dobrava algumas roupas e colocava no seu lado do guarda roupa. 

Cami: eu gosto dele, só… - suspirou - não sei se continuar com isso é o certo. 

Violetta: por que daqui a quatro meses e algumas semanas iremos voltar para o Brasil e correr o risco de nunca mais vê-lo? - é igual ao meu "problema" com o Léon. 

Ela assentiu. 

Violetta: ainda bem que tenho você para entender esse meu lado - suspirei me recordando do Léon - eu não quero criar algo e depois ir embora sem mais nem menos. 

Cami: eu também não - a encarei e percebei em seus olhos a mesma preocupação que me atormenta. Estamos no mesmo barco. 

(...) 

Como hoje não é considerado dia de aula normal por causa da viagem, não há quase ninguém no colégio, além de mim, da Camila, alguns outros alunos e os supervisores, funcionários e vigias. 

Para passar o tempo, eu e Camila nos conectamos com nossas famílias pela vídeo chamada e depois com o Caio. 

Camila e Caio se deram super bem via Internet, e ainda me irritaram diversas vezes. 

Estava morrendo de saudade de ver a carinha deles, mesmo que através de uma tela. Nunca pensei que ficar longe de alguém fosse tão torturante. 

Camila: eu vou encontrar com o Broduey agora - me encarou após ler o SMS que ele mandou para ela - você vai esperar o pessoal aqui? 

Violetta: vou esperar aqui no quarto, depois te mando mensagem - ela sorriu, despediu do Caio, beijou minha bochecha e saiu. 

"Nossa, ela é bem doidinha. Devo me preocupar com vocês juntas?" - ele brincou rindo. 

Violetta: depende do seu ponto de vista - ri - e a Letícia, como estão? 

"Estamos bem, muito bem para falar a verdade" - parecia que nem ele mesmo estava acreditando - "para falar a verdade nem estou acreditando que está tudo caminhando tão bem por aqui". 

Violetta: sei que estava preocupado com a minha viagem - me gabuei rindo - sei que sou uma peça fundamental na sua vida. 

"Uma peça muito amostrada, não é?" - ele riu - "como foi no acampamento?" - sei que ele quer saber exatamente de como foi ficar com o Léon. 

Violetta: foi ótimo - disse tem rodeios. Ele ergueu a sobrancelha e me esperou continuar - você não vai desligar até saber de tudo, não é? 

"Nossa, se quer que eu saia diz logo" - neguei de imediato rindo, fazendo ele rir também - "tô brincando, baby. E não, não vou ir embora até saber como foi esse fim de semana. Você me deu perdido durante dois dias Violetta, o mínimo que você pode fazer é me atualizar" 

Violetta: nós estamos juntos, eu acho…. - ele não pareceu ficar surpreso - só não sei o que achar disso. 

"você gosta dele, não é?" - fez uma leve careta de nojo me fazendo rir - "não rir cara, eu tenho ciúmes de você e você sabe disso" 

Violetta: que saudade dessas suas besteiras… - senti meus olhos marejarem. 

"Ei, não chora! Quando você voltar vou te irritar o dobro para tirar o perdido não se preocupe" - riu - "E se você gosta dele e ele gosta de você, bom… desejo a sua felicidade baixinha" 

Violetta: eu… - ia comentar do meu maior medo, mas a porta foi aberta bem na hora. 

Léon: vim te ver - foi impossível não sorrir quando ele disse isso se aproximando. 

Violetta: oi - sorri - cadê a sua irmã? 

Léon: foi com a Lud e a Naty no quarto deles e já vem - deu de ombros e encarou a tela do meu notebook. 

"Então esse é o famoso Léon Vargas" - meu ilustre amigo quase debochou - "Oi cara, ouvi falar muito de você" - fuzilei o Caio com o olhar, e ele soltou uma risadinha ridícula. 

Ainda bem que o Léon não entende português. Bem, eu acho. 

Violetta: esse é o Caio, meu… - olhei para Léon. 

Léon: seu melhor amigo - me interrompeu - 'Oi' - tentou falar português me fazendo sorrir. Seu sotaque saiu mais fofo do que o normal. 

"Vou deixar vocês sozinhos… tchau baixinha, até depois" - retribui seu aceno e sorri quando ele acenou para o Léon e desligou. 

Léon: matando saudade? - voltou com seu sotaque argentino e se sentou na ponta da cama da Cami e ficou de frente pata mim. 

Violetta: muita - meus olhos quase se encheram de lágrimas novamente - liguei para os meus pais também… 

Léon: não chora, linda -  ele segurou minha mão e acariciou me fazendo sorrir - tudo combinado para o nosso passeio hoje a tarde? 

Violetta: me diz você - sorri - tudo pronto? 

Léon: tudo pronto - assentiu sorrindo. 

Violetta: mas hoje é segunda, como vamos…. 

Léon: o dia de hoje foi cancelado por causa da viagem, então é liberado sairmos. Eu e o pessoal viemos para cá para pegar você e a Camila, mas você vai passar essa tarde comigo. 

Violetta: Camila foi se encontrar com o Broduey por aí. 

Léon: encontramos ela no jardim - deu de ombros - podemos ir as duas e meia? 

Violetta: não posso - mordi os lábios - vou ajudar o Alex em uma matéria que ele pediu… 

Léon:o Alex? - assenti receosa - tudo bem… - suspirou - as quatro, então? Fica melhor para você? 

Violetta: combinado - garanti sorrindo. 

(...) 

Depois de passar o início da tarde com o pessoal, me dirigi até a biblioteca para me encontrar com o Alex. 

O pessoal decidiu ficar comigo e com a Camila, já que não podemos ficar saindo sempre do colégio. É um dos requisitos; temos certos limites em relação a várias coisas, e essas saídas são uma das mais rígidas. 

E como não quero abusar do tempo - já que irei sair com o Léon mais tarde - não me importei de ficar o meu dia no colégio, ainda mais com eles aqui. 

Eu acho muito lindo a forma como eles se unem em prol do outro, e tentam nunca deixar alguém se sentindo um peixe fora d'água em qualquer coisa. Eu amo esse pessoal. 

Alex: oi brasileirinha, chegou cedo - sorriu se sentando ao meu lado. 

Violetta:  sou pontual, é diferente - ri. 

Alex: você tem razão, tem razão - jogou a mochila em cima da mesa e me olhou - então vamos lá, por favor faça um milagre e me faça entender esse assunto - ri do seu drama e observei o assunto do livro. 

Recordo que estudei sobre esse assunto no fim do ano passado no Brasil, e apesar de já fazerem um par de meses, ainda consigo recordar alguns conceitos e explicações básicas, e assim posso somar com a explicação que recebi aqui na Argentina. 

Alex prestou atenção a cada mínimo detalhe do que eu disse, a mostrei e fiz - pelo menos é o que aparenta. 

Ele ficou em silêncio durante toda a explicação, só abria a boca para tirar algumas dúvidas e rir de alguns desenhos que me obriguei a fazer no seu caderno.

Alex: nossa, você explica bem melhor que a professora - ri fechando os livros e guardando na sua mochila - obrigada brasileirinha, de verdade.

Violetta: não há de quê - sorri olhando as horas. 15h30 - boa sorte na prova - sorri para o mesmo e me levantei. 

Preciso pelo menos colocar alguma roupa decente para sair com Léon e pedir a autorização a minha supervisora. 

Alex: aonde você vai com tanta pressa? - também se levantou e ficou em pé na minha frente. 

Violetta: vou precisar sair daqui a pouco e ainda nem me arrumei. 

Alex: calma, sei que vai dar tempo de você fazer o que tem para fazer - segurou minha mão, mas recuei separando-as - se eu fizer algo, promete não ficar brava comigo? 

Violetta: já ouvi essa história antes… - murmurei. 

Observei ele abrir um pequeno sorriso e se aproximar - demais - e uma de suas mãos me segurar pela cintura enquanto me puxava mais para si. 

Ele quer me beijar! Mas não, não posso fazer isso. Não posso beijar um, sendo que estou atada com outro. 

Sei que eu e Léon não temos um rótulo certo, e é sobre isso que quero tratar mais tarde, mas gosto dele. Sei que gosto. 

Não posso, e nem quero, enganar os outros e, especialmente, a mim mesma. 

Violetta: Alex, não - coloquei minhas mãos em seu peito e o afastei de leve. 

Percebi a decepção no seu olhar e não tive coragem de falar mais nada, peguei minhas coisas na mesa e sai o mais rápido da biblioteca. 

No meu quarto há nem um sinal sequer das meninas. Pelo menos não iriei me atrasar por ter conversado demais com elas. 

Depois que sai de um banho rápido, procurei a roupa mais arruma - e ao mesmo tempo simples - para poder sair. Maquiagem também nunca foi o meu forte, mas me esforcei ao máximo para melhorar o meu rosto e passei pefurme várias vezes e tentei certificar que o cheiro realmente estava exalando. 

"Estou parecendo uma criança de treze quando vai para o seu primeiro encontro com o namoradinho do colégio"  - meu subconsciente debocha de mim mesma. 

Ouvi o barulho da notificado do meu celular e corri para pegá-lo do carregador. Pensei que poderia ser o Léon, mas era o Caio. 

"16h00, horas do seu tão esperando encontro com o príncipe. Boa sorte baixinha" 

Sorri com sua mensagem, e ri mais ainda quando lembrei de duas horas atrás, quando contei os meus planos para hoje. Nem preciso falar que ele me atormentou durante um bom tempo, não é?! 

"Estou te esperando na frente do colégio, linda" 

Dessa vez sim era ele. 

Sorri largamente e me certifique pela última vez no espelho. Não quero que nada destrua esse fim de tarde. 

Mandei uma mensagem para a Cami, avisando que estava saindo, e assim, ela avisaria as outras meninas. 

Peguei minha autorização com a minha supervisora, assinei o papel e ouvi mil e uma recomendações de coisas que posso e não posso fazer enquanto intercâmbista. 

Depois desci até a saída do colégio, passei pelo grande portão mostrando minha autorização a um dos vigias e logo sorri quando vi o Léon encostando no seu carro do outro lado da rua. 

Léon: eu sabia que você estaria linda - comentou sorrindo quando me recebeu com uma abraço forte - e cheirosa… 

Violetta: obrigada - sorri me separando dos seus braços - me atrasei? 

Léon: não, tinha acabado de chegar quando mandei a mensagem  - assenti colocando o cinto enquanto ele fazia o mesmo e em seguida dava partida - como foi as aulas com o Alex? 

Violetta: foi tranquilo, até que… - parei de falar quando percebi o que iria sair. 

Léon: quando o quê? -segurou a minha mão e apertou - ele fez algo com você? 

Violetta: ele tentou me beijar, só isso. 

Léon: filho da puta - murmurou me fazendo rir. 

Violetta: esquece isso - ri observando nossas mãos entrelaçadas e sorri acariciando a dele. 

Pude perceber que ele também sorriu. 

(...) 

Minutos depois chegamos em um local que fez meu nível de animação subir cem por centro dentro de mim. Parque de diversões. 

É exatamente o mesmo que viemos no outro dia logo quando cheguei aqui. 

Léon:pode parecer bobo, mas quis trazer você aqui por uma razão importante - senti ele entrelaçar nossas mãos enquanto caminhávamos. 

Violetta: qual razão? - a felicidade no meu tom de voz é muito nítido. 

Léon: no final eu te digo, só quero que você aproveite ao máximo aqui - olhei para e sorri. A forma carinhosa que ele me trata me deixa mais encatanda por ele. Léon não é nada do que pensei que era quando o conheci há um m mês. 

Violetta: obrigada por me fazer feliz - sussurrei depositando um breve selinho nos seus lábios, e em seguida o abracei. 

Seu abraço tinha forma de casa. Posso dizer que sentia seus braços se encaixarem perfeitamente ao meu corpo, e o mesmos me enlaçavam de uma forma acolhedora incrível. Tal forma que não me deixava ter vontade sair dali. 

Léon: que tal irmos nos mais básicos primeiros? - apontou para uma pequena sala de jogos eletrônicos - quero ver se você me vence dessa vez. 

Violetta:será o maior prazer - escolhemos juntos vários jogos. Boliche, corrida, tiro ao alvo, basquete… - bom, deu empate - sorri quando o placar do último jogo apareceu na tela. 

Léon: pelo menos não perdi de novo para você - riu me puxando para um abraço - eu quero te levar em um lugar, tem medo de altura? 

Violetta: depende - sorri desconfiada - por que? 

Ele não disse mais nada, apenas sorriu e saiu me guiando pelos parques. Parou comprar dois algodões doces, me entregou um, e saiu novamente me guiando pelos parques. 

Violetta: aqui? 

Léon: é, você não gosta? - assenti sorrindo. Roda gigante é um dos meus brinquedos favoritos porque lembro que quando pequena sempre ia nele com meu pai. 

Depois que cresci não fomos mais a muitos parques, tenho um carinho com tipo de brinquedo até hoje. 

Quando dei por mim, já estava sentada no balanço e o operário travava  a barra de segurança. 

Aos poucos a roda começou a girar, e nós fomos subindo cada vez mais. A visa daqui de cima é incrívelmente linda - pensei. 

Léon: concordo com você - foi quando percebi que pensei muito alto, ao ponto de falar e nem ter percebido. 

Violetta: você não me falou qual a razão para ter me trago aqui - indaguei sem tirar os olhos das luzes lá embaixo. 

Léon: lembra quando eu te disse que te achava uma pessoa incrível antes mesmo de começar a rolar algo entre nós? - assenti focando minha atenção nele - foi aqui, naquele pequinique que percebi isso. Lá embaixo está cheia de pessoas assim como você, que se perdem no próprio brilho e não sabem se encontrar de volta para poder brilhar de novo. Você, violetta, tem um brilho dentro e fora de você, que irradia por onde passa. Cada luz acesa que você pode ver - apontou para as luzes da cidade que davam para ver quando chegamos aon topo da roda novamente - representa uma ou mais pessoas, são vidas preciosas que importam para alguém. É isso que quero que você perceba hoje; alguém precisa de você, mesmo que você não perceba e não entenda o porquê disso. Alguém gosta de te ver, de receber mensagens suas, de saber como você está, de ver você, alguém se importa com você. Eu me importo com você. 

Não soube o que falar diante de tudo o que ele acabou de falar pata mim. Qualquer palavra que sair da minha boca não serão suficientes para as que ele acabou de proferir para mim. 

Violetta: Eu também me importo com você Léon, muito… mas não quero te machucar porque… 

Léon: porque daqui há cinco meses você irá embora para o país do lado? - assenti abaixando o olhar - Violetta, eu prefiro passar esses cinco meses com você e me divertir ao máximo do que perdê-los por temer do futuro. Eu quero ficar com você, entende? 

Violetta: por que comigo? - há tantas outras garotas por aí, por que comigo? 

Léon: porque o seu brilho chamou a minha atenção, e agora estou totalmente rendido. 

Levatei o olhar novamente e toquei meu nariz no seu suavemente. Uma de suas mãos segurou minha cintura com cuidado, enquanto a outra madsageva aminha bochecha. 

A respiração de Léon aos poucos se mistoriu com a minha e o ar, para mim, foi ficando bem mais leve. 

Eu já não me importava com o frio que fazia a cada volta, com o medo do futuro - pelo menos não agora -,  e nem com o medo de nosso tempo aqui acabar e termos que descer. 

Para falar a verdade essa última questão é o de menos, vi quando Léon deu vários ingressos a mais para ficar comigo aqui tempo suficiente, ou mais que suficiente pra nós. 

Beijar Léon, abraçar Léon… são coisas que me deixam boba a cada vez que acontecem com mais frequência. Hoje sinto que não quero perdê-lo nunca, porque me sinto totalmente a vontade com ele. Não tenho medo de ser quem sou, sinto que ele está aqui comigo com toda a sua cautela e carinho, e que vai me dar colo sempre que eu precisar - e as vezes, nem quando eu precise. 

Sinto que, de um jeito ou de outro, ele estará comigo até quando eu voltar para o meus pais. Ele é o Léon Vargas, e além de todo o efeito que causa em mim, ele tem o seu jeito certo de ser e ter as coisas. 

Não quero desistir de nós, espero que ele também não desista.