História Domingo de Manhã - Capítulo Único

Acordei com o barulho irritante do toque do celular e abri os olhos com dificuldade piscando até me acostumar com a escuridão. Olhei ao redor confuso e, tentando me esticar sem sair do calor confortável do grosso edredom que me protegia do frio infernal daquela madrugada, tateei a mesa de cabeceira em busca do aparelho.

— Alô? — Disse com a voz rouca, pigarreando logo em seguida ao tentar clareá-la.

— Tá com voz de sono... Eu te acordei, não é? — A voz baixa e arrependida de Baekhyun trouxe um pouco mais de clareza à minha mente. — Foi mal... Se quiser pode voltar a dormir e depois me ligar quando estiver acordado.

— Está tudo bem. — Ri, espreguiçando-me sob a coberta. — Você não deveria estar curtindo as maravilhosas férias europeias com sua família, Byun Baekhyun? — Ironizei magoado. Ele me alertara que era para não o incomodar durante a viagem então estranhei por ser ele mesmo a me ligar. — O que houve?

— Eu fiquei entediado. — Suspirou. — Eles decidiram esquiar hoje.

— Entediado? — Arqueei a sobrancelha, incrédulo. — Mas você adora essas coisas, Baekhyun! Não foi você mesmo que decidiu viajar praí?

— É só que... Eu descobri que prefiro estar aqui. Perturbando você num domingo de manhã. — Prendi a respiração sem ao menos perceber e pisquei algumas vezes tentando assimilar o que ele dissera, o Baekhyun que eu conhecia nunca diria algo do tipo, mas antes mesmo que tivesse a chance de responder, ele continuou: — Engraçado, não é? Quando de repente nada mais na sua vida parece fazer sentido e você descobre que aquela pessoa especial que te prende à realidade está a quilômetros de distância e tudo que você precisa é ouvir sua voz. Mesmo que ela esteja rouquinha e meio fanha por culpa do sono. — Riu soprado.

— Baekhyun, eu...

— Não fala nada, Sehun. Só... Me escuta. — Fez uma pausa que quase fez meu coração saltar pela boca. — Desculpe por não ter falado por todo esse tempo e por não ter coragem de te dizer pessoalmente, sou um idiota, eu sei.

— Três anos, Baekkie. — Respondi com a voz embargada, naquele momento as lágrimas já escorriam pelo meu rosto, manchando os lençóis. — Três longos anos de promessas vazias e absolutamente nada me preparou pra esse momento.

— Não chora, minha criança. — Disse suavemente me fazendo chorar ainda mais alto pelo modo carinhoso que poucas vezes usara para me chamar. — Você sabe que eu sempre odiei te ouvir chorando, ainda mais se o motivo for eu.

— São lágrimas de felicidade. — Funguei tentando inutilmente secar o rosto. — Eu estou feliz, Baek. Por você finalmente tomar coragem de se abrir, porque você sabe, eu te amo e nunca escondi, mesmo em todas as vezes que você me tratou friamente ou se agarrou com Kyungsoo claramente tentando fazer com que eu me sentisse mal.

— Shh... Isso é passado. A partir de agora quero que esqueça tudo isso e se concentre apenas em mim e no que eu tenho a dizer. — Respirou fundo, provavelmente reunindo forças para prosseguir. — Amo você, Oh Sehun. Com todas as suas manias e trejeitos, juro que não mudaria nenhum dos seus hábitos, nem mesmo os que mais odeio, porque eles te definem e te fazem perfeito pra mim e me fazem te amar cada vez mais e eu daria qualquer coisa pra estar aí agora e poder ver de perto o sorriso tímido que sei estar em seus lábios nesse momento e suas bochechas coradas de vergonha.

— Você me conhece tão bem que as vezes me assusta. — Murmurei risonho escondendo com a mão as bochechas avermelhadas. — Quando você volta?

— Semana que vem, no domingo. — Suspirou cansado.

— Eu não sei se posso aguentar até lá, hyung. — Fiz um bico emburrado, rolando pelo colchão. — Vai ser uma tortura até lá.

— Você vai sobreviver. — Riu divertido.

— Fala isso porque aí é menos um dia pra você. — Resmunguei manhoso.

— Falo isso porque é a verdade. — Retrucou. — Minha criança mimada... Como pude ser tão idiota durante todo esse tempo? Se eu não fosse tão cabeça dura você podia estar aqui comigo nesse momento.

— Você é mesmo idiota, hyung. — Disse em tom sério e ri quando ele choramingou do outro lado da linha me acusando de ser cruel. — Hyung... Eu vou te buscar no aeroporto. — Disse animado. — Quer dizer... Eu posso, não é? — Perguntei duvidoso mordiscando meus lábios.

Baekhyun sempre odiou o fato de que eu fosse grudento demais e por vezes brigou comigo sobre aquilo, o que por muito tempo me deixou receoso em tentar uma aproximação maior e me fez pensar mais antes de agir quando o assunto era ele, então me senti meio desconfortável enquanto esperava sua resposta com medo de que ele me rejeitasse mais uma vez, mesmo depois da bonita declaração que fizera. Depois de tomar tantas porradas da vida aprendi a acreditar apenas naquilo que via e enquanto ele não me dissesse aquilo pessoalmente, eu me negava a acreditar.

— Claro que pode, na verdade deve. — Expirei aliviado sem perceber que havia prendido o ar durante o tempo que ele levara para responder. — Vou ficar muito feliz em ver esse rostinho sonolento depois de quase um mês.

— Baekkie... Você bebeu? — Questionei com o cenho franzido em confusão. — Parece tão diferente do costume e geralmente você fica assim porque bebeu. Me diz que você não está falando todas essas coisas da boca pra fora porque está embriagado. — Arregalei os olhos assustado e sentei na cama. — Você não aceitou biscoitos mágicos de algum europeu e agora está viciado e não para de usar, né? Você não precisa disso Baekkie, não importa o que seja, eu posso te ajudar a superar! — Meu monólogo foi cortado por sua risada escandalosa e eu fingi estar ainda mais confuso e assustado pela reação exagerada. — Não segue pra luz, Baekkie, ela está tentando te enganar!

O nível das risadas só aumentou e eu fiquei em silêncio apenas escutando a risada aguda de Baekhyun.

— Não foi você que bebeu, Oh Sehun? — Disse depois de um tempo, meio ofegante. — Senti falta dessas suas ideias idiotas, fazia tempo que você não brincava assim comigo. — Ele se interrompeu quando alguém chamou seu nome, distraindo-o. — Espera um pouco, Hun. — Pediu antes de afastar o telefone, como pude perceber pelos murmúrios abafados que se seguiram. Ele respondeu algumas coisas que eu não pude identificar e levou mais alguns segundos para que voltasse a se dirigir a mim. — Desculpa Hun, mas eu tenho que ir. — Disse pesaroso. — MinYang quer que eu vá à cidade e você sabe como ela pode se tornar bem insistente às vezes.

— Tudo bem, hyung — Murmurei conformado. — Mas não esqueça que eu vou lá te esperar, ok?

— Nunca. — Respondeu com a voz risonha. — Te vejo no domingo de manhã, minha criança.