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História Don't Look Back In Anger - Cherik - O Reino de Deus


Escrita por: 3366B

Notas do Autor


Oi! Ainda com problemas no celular t.t

Capítulo 15 - O Reino de Deus


Cap 15

Tínhamos passado a tarde inteira na piscina e eu me sentia pronto pra encarar a praia no dia seguinte, eu mal podia esperar pra sentir a diferença de boiar no mar.

Eu tava tão distraído que demorei uns segundos pra ver meu celular tocar em cima da cama.

O peguei, enquanto Erik continuava seu banho, que ele havia começado depois que terminei o meu.

O número era desconhecido mas eu não me importei muito.

- Oi!

- Aqui é a mãe do Erik, ele tá por aí?

Entrei em choque por vários segundos.

- O Erik tá aí?

Dessa vez o tom de voz direto e irritado me despertou.

- Oi, eu sou o Charles, ele tá no chuveiro.

Ela bufou do outro lado da chamada.

- Manda ele me ligar quando sair.

Antes que eu respondesse ela encerrou a chamada, ao mesmo tempo que Erik saia do banheiro com uma toalha amarrada na cintura e outra na mão que secava o cabelo.

- Por que tá encarando o celular com essa cara?

Levantei o olhar até ele ainda tentando entender o tinha acontecido, como a mãe dele tinha meu número? Aquilo era de longe o que eu esperava do nosso primeiro encontro.

- Sua mãe, deve ter acontecido alguma coisa, ela ligou no meu celular te procurando.

Os olhos dele se arregalaram.

- O que?

Ele pegou o próprio celular na cama discando e saindo do quarto em seguida.

Fiquei encarando a parede pensando o que tava acontecendo, se tava tudo bem com Erik e sua família, eu comecei a me sentir absurdamente apreensivo quando ele voltou pro quarto.

- Bloqueia o número dela!

As coisas tavam indo rápido demais e eu me senti uma panqueca sendo virada, amassada e frita ao mesmo tempo. 

- O que aconteceu? Ela tá bem?

Encarei Erik e ele estava com os olhos marejados, que merda tava acontecendo? Eu comecei a ficar gradativamente assustado.

Erik me respondeu tão cansado, que aquilo me deixou infeliz e assustado.

- Só bloqueia o número dela. Eu vou sair um pouco, só me promete que vai bloquear o número.

- QUE PORRA TA ACONTECENDO, ERIK?

A partir daí, foi como descer uma ladeira rolando, ele começou a chorar muito intensamente enquanto caminhava pelo quarto procurando sua carteira.

- Só preciso de um tempo, só preciso de um tempo.

O que eu deveria fazer? Eu tinha tentando falar calmamente, tinha tentando gritar, nada tinha surtido efeito, ele nem me encarava. Eu não sabia bem o que era ter uma mãe, mas o que uma mãe poderia dizer pra deixar um filho transtornado daquele jeito?

Ele pegou a carteira e ainda confuso fiz uma última tentativa.

- Não precisa sair, Erik, fica aqui, a casa é grande, eu vou deixar você quietinho até que você se sinta melhor.

Ele sentou na cama escondendo o rosto nas mãos.

- Eu não quero ter um acesso de raiva perto de você. Eu me sinto uma panela de pressão, não sei o que fazer, Charles.

Perguntei com calma, não queria que ele se afastasse mais ainda.

- O que você faz pra lidar com isso normalmente?

Ele levantou os olhos bem vermelhos do choro, e sorriu de um jeito meio assustador

- Eu bebo muito, Charles.

Meus dedos ficaram brancos de tanto que apertei a cadeira, respirei fundo. Eu tava estragando tudo. Calma senhor Xavier, pensa com calma. Assim que a ideia surgiu eu respondi de supetão.

- Erik, você toparia se eu ligasse pro meu terapeuta, pra você conversar com ele? É uma clínica com médicos 24horas e eles atendem emergências...

- Pode ser, eu quero tentar.

Fiquei surpreso que ele tivesse concordado tão depressa, aonde eu tinha deixado a porra do celular mesmo?

O celular tava na minha mão, peguei pra discar e percebi que tinha uma mensagem da mãe dele, eu nem gastei tempo lendo, só guardei o celular rápido no bolso, antes que Erik percebesse.

- Me dá seu celular, vou ligar daí, assim o número já fica gravado.

Ele passou o celular e eu me afastei um pouco, fiquei de costas pra ele, puxei meu celular e procurei o número, disquei, e expliquei baixinho a situação e logo um plantonista tava na linha.

Fui até Erik sentado na cama, dei um beijo na testa dele, e entreguei o celular em sua mao, eu queria que ele soubesse que não tava sozinho.

- Me chama assim que terminar, e Erik, você não precisa se afastar, eu tô aqui por você.

Então sai do quarto e encostei a porta.

Respirei fundo um zilhão interminável de vezes.

Por fim, peguei o celular e abri a mensagem.

O que vocês estão fazendo não é certo, Charles. Se não posso colocar juízo na cabeça de Erik, talvez você tenha algum, manda ele de volta pra casa.

Eu podia ter ignorado, podia ter bloqueado. Mas ai eu nunca saberia. Encarei a porta do quarto pra me tranquilizar que Erik ainda estaria indisponível por algum tempo.

Senhora, Boa tarde!

Espero que você esteja bem, eu gostaria de entender melhor o que você quis dizer na mensagem anterior. Exatamente o que eu e Erik estamos fazendo que não é certo? Se fizemos algo errado, eu não sabia, e não quero chatea-la.

Você é tão ingênuo as vezes, senhor Xavier.

Alguns segundos se passaram eu encarava o celular com tanto afinco esperando uma resposta que achei que meus olhos eram capazes de queima-lo. Então a mensagem finalmente chegou.

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem Avarentos, nem alcoólatras, nem Caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.

Coríntios.

Eu não tinha muito contato com adultos, não como uma referência. Meus pais morreram, eu só tinha meus tios que eram ausentes, mas eu vivia numa bolha, aquele tipo de comportamento não tava no meu convívio, quando eu pensei sobre a minha sexualidade isso nem sequer se tornou alguma pauta dentro de casa, ou com o meu terapeuta, os meus amigos não se incomodaram, eu não tive que de fato sair do armário, além do fato de nunca ter tido um relacionamento, então a homofobia parecia algo distante.

Talvez por isso aquele nível de hipocrisia me causou uma crise de riso.

Eu ri baixinho porque não queria que Erik ouvisse.

Erik bebia, brigava, tava sempre metido em confusão, mas a mãe dele tava preocupada que ele não ia entrar no reino de Deus por ser bissexual? 

Mas espera, bissexual também contava? Porque  o trecho dizia homossexual, e as outras

Identidades como eles sabiam que também

 Desagradava a deus?

Comecei a pensar em Erik completamente

Transtornado e meu riso secou, talvez ouvir aquilo tantas vezes não fosse assim tão

Engraçado. Suspirei, e um pouco imprudente e impulsivo decidi responder a mensagem. Mesmo que distante eu conseguia imaginar Erik ouvindo sua vida inteira que ser quem ele era, fazia dele merecedor de ter a eternidade de torturas, me doeu pensar em Erik brincando com seus action figures de heróis querendo ser como eles, mas ouvindo que pessoas como ele só se assemelhavam a vilões.

Oi mãe do Erik, como eu disse, se estivéssemos fazendo algo errado e estava a chateando eu faria questão de parar, mas na verdade é a senhora quem está. Não vou julgar suas crenças, mas independente delas não tem direito de me mandar mensagens me condenando a um inferno que talvez eu nem acredite que exista. Por favor, pare de me chatear, ou eu irei bloquea-la.

Suspirei de novo e fui pra sala, liguei a tv e deixei num canal qualquer, minha cabeça fervilhava e eu encarava o teto tentando segurar o anseio de invadir o quarto, abraçar Erik e dizer que ele nunca iria pra inferno nenhum por gostar de uns caras.

Mas eu sabia que por mais que me conectasse totalmente com o Erik de 19 anos, esse conceito era enraizado no seu subconsciente por um Erik criança e este eu não conseguia alcançar, torci para que um profissional conseguisse.

A porta do quarto abriu e Erik colocou só um pedacinho do rosto pra fora, totalmente envergonhado.

- Bandeira branca! Estou me sentindo envergonhado pela minha atitude!

Sorri verdadeiramente, era tão bom ve-lo melhor, mesmo que ainda houvesse um pouco de tristeza ali.

Respondi rindo

- De branco só minha cueca, serve como bandeira pra você?

Ele saiu do quarto sorrindo pra mim e se sentou ao meu lado no sofá.

- O mundo dos suricatos tá interessante?

Encarei de fato pela primeira vez a tv.

- Eu não tava prestando atenção. Tá tudo bem?

Estiquei o braço preguiçosamente e segurei sua mão, queria que ele soubesse que eu estava ali.

- Sim, é so que as vezes a minha mãe pode ser bem difícil.

Ele suspirou. Então respondi

- Quer falar sobre isso?

Erik me encarou, tentei evitar qualquer expressão de julgamento no meu rosto, pra ele saber que estava aberto a ouvi-lo.

- Charlie, eu quero, mas é difícil. Eu nunca consigo explicar isso tudo em palavras.

- Por que não começa então com os fatos? O que aconteceu hoje?

Aproximei minha cadeira de frente pra ele, e sentei no seu colo, me mantendo bem atento nele.

- Eu liguei pra minha mãe, eu não tava preocupado, eu sabia o que ela ia fazer. O que eu e você temos, não é algo que eu queira esconder, eu quero mesmo é gritar pro mundo, que tô tendo um lance não nomeado com o cara mais incrível que conheço.

Ele acariciou minha cabeça e me deu um beijo na bochecha. Então continuou.

- Charlie, tem sido difícil, ela tem me questionado pelos cantos, indagado como era a garota com quem eu tava saindo, eu vinha tentando disfarçar, mas eu não quero... Então eu só falei que você era o garoto mais incrível e inteligente do universo. Então, ela tem mandado uns pastores lá em casa...

Ele começou a chorar e eu o abracei, mas antes que eu pudesse interrompe-lo ele continuou

- Eu não posso te defender do mundo, Charles, mas ninguém vai ofende-lo na minha frente. Eu só tô tão cansado. Eu não aguento mais ouvir sobre o acidente. Eu sei, sei que sou um estorvo, e se você quiser se livrar de mim eu vou só embora de bom grado, então eu posso ignorar quando falam de mim, mas não farei isso quando falam da gente.

As frases eram confusas, e eu tentei moldar o que ele tinha dito num contexto claro, beijei o topo de sua cabeça, depois beijei sua bochecha, levemente deixei meus lábios tocarem suas marcas de lágrimas, desgrudei meus lábios dele com cautela, eu queria toca-lo em todos os lugares pra que ele se sentisse amparado, protegido.

- Eu sei que você quer me defender porque gosta de mim, mas você precisa saber que eu também gosto de você, e também quero te defender, talvez eu não mande bem com os punhos, mas eu mando bem com as palavras, então quando forem situações que te machucam aqui ou aqui (apontei sua cabeça e depois seu coração) pode deixar eu te proteger também?

Ele me apertou no seu colo, jogou a cabeça no meu ombro e gemeu.

- Sim, por favor me proteja.

Ele riu em seguida, então baguncei seu cabelo.

- Que bom que concordamos nisso, porque tenho algo pra te dizer.

Ele de repente me encarou alerta e surpreso

- O que foi?

- Não é nada demais, eu só quero te contar que não bloqueei sua mãe, ela não vai me mandar mais nada, acho que chegamos num consenso, mas acho que ela vai demorar um pouco mais do que eu esperava pra gostar de mim.

Ele suspirou e ficou em silêncio uns segundos.

- Honestamente, eu não tenho condições de lidar com isso essa noite, então tudo bem se você me abraçar bem forte e a gente ficar assim, assistindo os suricatos, então amanhã quando estiver melhor, você me mostra essas mensagens e aí a gente vê o que faz.

Continuei sentado no colo dele, abraçando bem apertado.

- Erik, tudo bem, mas antes da gente mergulhar nós suricatos você pode olhar pra mim um segundo? Eu preciso te dizer algo importante.

Ele encarou meu olhos timidamente, eu achei fofo mas aquilo deixou claro como ele estava se sentindo fragilizado e exposto ali. Então continuei.

- Erik, sabe o que você sente quando nos beijamos, quando nos tocamos, rimos juntos ou cuidamos um do outro? Todos os nossos momentos, são incríveis, mesmo quando discutimos ou entramos numa confusão. Tudo isso faz a gente se sentir muito bem, e não faz mal pra ninguém, viver isso, ser isso, não é errado. Não pode ser.

- Por que tá dizendo isso, Charles?

- Eu gosto de observar você dormindo, existe um vinco na sua testa, que eu nem sabia que podia ser desfeito, mas se desfaz quando você dorme, eu gosto do seu rosto relaxado, gosto porque eu não vejo culpa ou medo nas suas expressões. Achei que se você soubesse (coloquei dois dedos na sua ruga de expressão e massageei), ou se você ouvisse isso pelo menos, essa ruga iria diminuir.

Ele sorriu, exatamente aquele sorriso criado por Deus pra acabar comigo, mas dessa vez eu quase podia ouvir as onomatopeias do meu coração se rachando pra estilhaçar.

- Quer que eu saia do seu colo? Suas pernas tão doendo?

Ele esfregou a cabeça no meu peito como um filhotinho

- Não, eu gosto quando você tá no meu colo.

Eu também, não ia dizer isso em voz alta, mas eu também gosto de estar no colo dele, é quentinho e aconchegante.

Nós nem comemos nada naquele dia, caímos no sono no sofá da sala, ouvindo os suricatos, eu dormi literalmente em cima dele, e ele me abraçou forte com medo que eu rolasse pro chão. Eu achei que seria uma noite complicada, cheia de ansiedades, vômitos e pânico. Mas não foi, apenas ficamos juntos aproveitando o quão bom eram esses momentos, eu sentia como se os problemas tivessem sido suspensos por uma noite.

Depois disso, os problemas voltaram e a gente lidou com eles como deu, Erik ainda não tinha me pedido pra ver as mensagens quando a viagem acabou e nem quando voltamos. O percurso de volta foi silencioso, e eu fiquei preocupado quando ele desceu do carro. Eu não queria que ele voltasse pra casa, eu não poderia protegê-lo ali.

- Erik?

Ele deu a volta no carro, e se abaixou pra ficar na altura da minha janela e me encarar.

- Você tá bem?

- Uhum...

Era uma resposta muito curta e muito simples, ele pareceu perceber, então se aproximou e me deu um selinho.

- Vai ficar tudo bem, Charlie.

Segurei firme no braço dele, desesperado por não saber que palavras usar, se eu o amarrasse e levasse pra bem longe dali, seria errado?

- Eu espero que sim, porque ainda quero que você me leve pra boiar no mar.

Ele sorriu longe, como se aquilo tocasse uma lembrança profunda demais nele. Eu tava realmente preocupado, quando ele entrou em casa eu pensei em fazer vigília ali, pra garantir seu bem estar.

Eu sei que errei naquele momento quando abri a portado carro, mas 16 anos devem garantir um ticket de cagadas por imaturidade.

Fui até a porta da casa dele, e encarei novamente aquele degrau, depois pensei nas mensagens de sua mãe, e avaliei o quanto eu não era bem vindo ali.

- Charles?

Encarei a voz que vinha atrás me chamando, uma senhora de coque alto, saia comprida e sapatilhas se aproximava. Rapidamente notei a Bíblia debaixo do braço.

Meu estômago despontou e eu percebi que erra crasso eu tinha cometido. Quem eu pensava que era, pra acreditar ser capaz de conversar com ela?

Seu tom não demonstrou qualquer coisa, o que só me deixou ainda mais ansioso.

- Quero mesmo conversar com você e Erik, quero deixar algumas coisas esclarecidas.

Ela passou por mim e abriu a porta.

- Filho, você pode ajudar seu amigo aqui no degrau de entrada?

Quando ela gritou como se a casa fosse uma mansão e não uma simples casa de 4 cômodos, enfatizando o quanto eu era incapaz de entrar numa casa, ou como Erik era “meu amigo” eu quis só correr dali, mas quando Erik, meu namorado, apareceu no batente da porta do seu quarto, totalmente pálido, eu pensei, “bora” senhor Xavier você é bom com as palavras, você pode proteger Erik. E assim sorri pra ele, dando uma leve piscadinha de que tava tudo bem. Mesmo que não estivesse.



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