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História Don’t tell our secret (Wantasha) - Capítulo 5


Escrita por: ClarkeLexazinha

Capítulo 5 - Capítulo 5


As lentes de contato precisavam ir embora. Por que eu queria usá-las, afinal? Ah, sim, para acentuar minha beleza extraordinária. Quem eu estava tentando enganar?

Meu cabelo ainda estava encharcado quando irrompi pelas portas do vestiário feminino. Um sopro de ar congelante me acertou ao mesmo tempo em que o técnico Shang-Chi se materializava na porta, vindo do estacionamento dos professores.

— Natasha! — Ele chamou. — Exatamente quem eu queria ver.

Esperei para que ele me alcançasse.

— Você nada os duzentos metros em revezamento? — Ele perguntou. — A Claire quebrou o braço praticando snowboarding no fim de semana, e nossa primeira competição é na sexta-feira. Eu detestaria se a equipe tivesse que se retirar do campeonato.

— Ai. — Me encolhi pensando em Claire. Depois, em mim. — Professor, você viu o meu nado borboleta. Está assim tão desesperado?

— Acho que sim.

Revirei os olhos.

— Tudo bem, mas só vou fazer isso pela glória da Southglenn High.

Ele deu um soquinho no meu braço e desapareceu para dentro do vestiário masculino. Corri pelas escadas. Ela já estava ali no armário, com o enorme copo de café pousado em uma caixa de donuts ao lado dos seus pés. Com fones de ouvido, ela agarrava um livro da prateleira quando começou a se balançar com a música, daquele jeito como as pessoas fazem quando não tem ninguém olhando.

Isso me fez rir.

Os olhos dela se abriram e ela sorriu, virando para mim. Indicando os fones, perguntei:

— O que você tá ouvindo? — Deixei a mochila da natação perto do meu armário.

Wan atravessou o corredor dançando e puxou um dos fones para que eu pudesse ouvir. Precisei me inclinar para escutar e nossos rostos se tocaram por acidente. Nós duas demos um salto para trás, como se tivéssemos tomado um choque. Ela arrancou os fones e os encaixou na minha cabeça.

Não reconheci a música. Cobri as orelhas com as mãos para abafar o ruído, enquanto Wan segurava seu CD player, balançando a cabeça no ritmo imaginado. Ótima banda e com vocalistas femininas. O ritmo era contagiante e me fazia querer dançar. Então dancei. Girei a minha senha na fechadura e abri a porta no mesmo ritmo. Quando a música terminou, devolvi os fones para Wan.

— Elas são boas — comentei. — Esse som não me é estranho. Que banda é essa?

— Dixie Chicks. Aqui, ouve esta. — Ela encaixou os fones de novo em mim e colocou outro CD com rótulo caseiro.

Era um grupo diferente, de heavy metal, o tipo de coisa que o Bruce gosta de ouvir. Minha expressão deve ter mudado porque a Wan começou a rir.

Tirei os fones.

— Quê?

— Essa é a banda do meu irmão — ela falou. — Bem ruim, né?

— Não tão ruim assim.

— Mentirosa.

Devolvi os fones de ouvido e ela voltou na direção do seu armário. Do outro lado do corredor, me perguntou:

— Quer um donut? Tenho um monte aqui.

Meu olhar baixou para a caixa pousada no chão, onde se lia “Hot ’N Tott Donuts”.

— Não, obrigada.

O sinal de entrada soou e me apressei para pegar os livros da manhã. Com um olhar de relance no espelho, flagrei Wan me fitando enquanto bebericava seu café. 

Meu estômago gelou.

Fechei a porta do armário e me virei, colidindo com um grupo de alunos. Meus livros saíram voando. Os corpos eram todos atléticos, vestiam shorts esportivos e aparentemente seguiam na direção da pista de corrida. Dois deles pararam e se desculparam, ajudando a recolher minhas coisas. Notei que Wan havia ficado ali, parada, observando.

Droga, pensei, isso é culpa sua. Traga essa bunda pra cá e me ajude.

Ela deve ter lido meu pensamento, porque veio passeando pelo corredor e falou:

— E aí, vocês querem um donut?

Como urubus esfomeados, eles empilharam os livros em cima de mim e atacaram a caixa de donuts. Lancei um olhar perigoso para Wan e ela caiu na risada.



(…)



Erik devolveu nossos desenhos. Havia um recado grudado no meu, que dizia: “Venha falar comigo depois da aula”. Minha pulsação acelerou. Será que ele ia me convencer a desistir? Eu já devia ter feito isso. Obviamente, ele deve ter percebido que eu estava só fazendo hora ali.

Não estava sendo bom para minha ansiedade ver que Agatha havia sentado ao lado de Wan novamente. Ou será que Wan tinha guardado o lugar para ela? Wan estava mostrando seu desenho para Agatha e rindo. Ambas riam. E daí? Por que isso me atormentava? Steve também ria e me mostrou o desenho dele, que parecia ter sido feito por uma criança de dois anos. Acima do desenho, Erik tinha escrito: “interpretação minimalista interessante”. Não é que eu estivesse com ciúme ou coisa parecida. Por que estaria? Wan tinha o direito de escolher suas amizades. Eu só queria que ela escolhesse a mim.

Cale a boca, cérebro.

Erik se lançou em uma explicação sobre os diversos usos do lápis, do carvão e dos marcadores, depois demonstrou os efeitos que se podia atingir com cada um. Tentei anotar, mas não sabia bem o que escrever. Ele disse para experimentarmos, assim que comprássemos nossos materiais.

Esperei o estúdio esvaziar antes de me aproximar de Erik. Ele levantou os olhos de sua mesa, onde conferia os nomes da lista de presença, distraído. Sorriu, inexpressivo.

— Você queria falar comigo? — Mostrei a ele meu desenho.

— Ah, sim. Quase esqueci. — Ele examinou a folha por alguns segundos, antes de voltar a olhar para mim, balançando a cabeça.

Ah, Deus, pensei. Não fique bravo. Por favor, não fique bravo. Odeio quando as pessoas se enfurecem comigo.

— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou.

Meu rosto ficou em brasas.

— Ah… Hã… Eu só precisava fazer mais uma eletiva antes de me formar e…

— Você não deveria estar em desenho avançado?

— Hein?

Levantando de súbito e quase me causando um ataque cardíaco, ele se sentou em cima da mesa e abraçou uma perna.

— Vamos lá! — Ele disse. — Quem você está tentando enganar?

Engoli em seco. Foi como engolir um limão.

— Aparentemente, não você — acrescentei rápido. — Eu nem sei o que está querendo dizer.

— Esta maçã. — Ele apontou para o meu desenho.

— Sim?

Um sorriso se infiltrou no rosto dele. Ele saltou da mesa, o que me deu mais palpitações, e então começou a folhear um portfólio ali ao lado, até encontrar o que procurava. Abriu espaço sobre a mesa. Perto do meu desenho, ele colocou mais três ou quatro.

— Percebe alguma coisa?

Fitei-os por um instante.

— Não.

Ele franziu a testa.

— Não consegue ver a diferença?

Conseguia. Quero dizer, o meu era… abrangente. Assim como todos os outros, eu havia desenhado a maçã. E então me dei conta.

— Ah, você queria só a maçã?

Erik deixou a cabeça cair para trás e gargalhou.

Não era justo.

— Pensei que você queria que desenhássemos o banco, e a mesa e o cavalete atrás dela…

Erik deu um tapa na própria testa.

— Meu Deus, ela nem sabe que é um gênio!

Meus olhos baixaram.

— Fala sério.

Ele realmente quis dizer isso? Comparei meu desenho com os outros de novo. Era melhor. Parecia mais realista. Eu havia feito alguns desenhos por conta própria ao longo dos anos, só como passatempo, retratando animais e pessoas. Nunca pensei em mim como uma artista.

Erik observou o nome na minha folha de desenho e falou:

— Natasha. — E levantou sua cabeça cabeluda: — Você deveria considerar uma transferência para uma turma mais avançada. Nível II ou III.

— Mas eu tenho que fazer isso?

— Não, mas não sei o que você vai aproveitar de Desenho Nível I. Além do básico.

Ponderei um pouco. Não por muito tempo.

— Vou ficar, preciso saber o básico. Com certeza vou aprender alguma coisa.

Ergui a mão para pegar meu desenho, mas Erik o puxou para si.

— Por favor! — Ele disse, agarrando meu desenho junto ao peito. — Posso ficar com este? A primeira das suas magníficas obras de arte?

Ele era tão esquisito.

— Tudo bem — acenei para ele. — Usa isso pra revestir a gaiola dos passarinhos.

Ele arfou.

— Guardarei como um tesouro.

Maluco, decidi enquanto saía de lá. Totalmente pirado da massa cinzenta.



(…)


Mamãe me ligou na hora do almoço para me lembrar de passar no Centro de Orientação Vocacional. Por que ela não me comprava logo um pager ou então uma tornozeleira eletrônica igual àquelas que os condenados usam? Ela também disse que havia um envelope me esperando em casa. Pelo entusiasmo em sua voz, eu era capaz de adivinhar que ela já tinha aberto ou então sabia qual era o conteúdo da carta. Ela desligou antes que eu conseguisse perguntar.

A sra. Hill estava em uma reunião quando cheguei no Centro de Orientação Vocacional.

A porta estava entreaberta, e ouvi o diretor, sr. Reynardi, rosnar:

— Aquele moleque é perigoso. Não o quero nesta escola. Se você não fizer isso, Maria, vou chamar a polícia. — Ele irrompeu da sala, quase me atropelando como uma retroescavadeira. — Com licença — murmurou.

Eu estava contente por não ser o assunto daquela discussão.

— Natasha, aí está você — a sra. Hill disparou para fora do escritório. Ela parecia esgotada, como sempre. — Tenho um pacote de guloseimas pra você. Catálogos, fichas de inscrição, formulários para pedidos de bolsa e livros informativos. Você recebeu seu convite?

— Meu o quê?

Ela tapou a boca com a mão.

— Eu não falei isso.

Observei a caixa pousada sobre uma cadeira dobrável ao lado da porta e soltei um suspiro. Mais alto do que deveria. A sra. Hill franziu a testa.

— Você está bem? Parece cansada. — Ela fez menção de tocar meu rosto.

Afastei-me e forcei um sorriso.

— Estou bem. Vou levar essas coisas. Ah, você teria um catálogo da Western State?

— Você não está pensando em ir para lá, está? — Ela ficou horrorizada.

— Não é pra mim, é pra a Nebula.

— Ah, bom. — Ela passou por trás de mim indo em direção à porta; os catálogos das universidades estaduais estavam empilhados ali, junto à parede.

Acompanhando-me pelo corredor, a sra. Hill se lançou em um imenso discurso sobre todas as bolsas acadêmicas e auxílios do governo para os quais eu poderia me candidatar, e como as minhas médias escolares eram altas o bastante para me colocar na maioria das instituições. Uma instituição, ponderei, soava mais interessante do que uma universidade. Chegamos ao cruzamento do corredor e ela acrescentou:

— Coloquei na parte de cima as informações das escolas que oferecem os programas de pré-advocacia.

— Pré-advocacia? Quem disse que eu quero fazer isso?

— Ah! — A sra. Hill se encolheu diante do meu tom incisivo. — Achei que fosse o seu objetivo cursar a faculdade de direito. Sua mãe disse que…

Foi tudo o que precisei ouvir. Murmurei um agradecimento e saí a passos pesados em direção ao meu jipe. Para o meu próprio espaço, no meu próprio tempo.

— Natasha, espere — alguém me chamou, às minhas costas.

Eu já tinha aberto a porta de saída e precisei segurá-la quando estaquei.

— Você tem um minuto? — Wan perguntou, surgindo ao meu lado.

Olhei meu relógio por cima da caixa de duas toneladas que carregava. Droga, já estava dez minutos atrasada para o trabalho.

— Claro — respondi, transparecendo minha frustração.

— Você é uma péssima mentirosa — ela disse. — Devia treinar mais.

Fiz uma careta.

Ela jogou a mochila sobre o ombro.

— O que são essas coisas? — Ela apontou para a caixa.

— Besteiras de faculdade. Você quer?

— Claro. — Eu não estava falando sério, mas, de qualquer forma, ela me aliviou do peso da caixa. Agora, podia me esquecer dela.

— E onde você vai fazer faculdade? — Ela perguntou enquanto andávamos juntas.

— Não sei. Não sei nem se eu quero fazer. Para onde você vai?

— Não tenho certeza. Provavelmente a Metro Urban. Não pensei muito nisso ainda, até porque estou no primeiro ano.

— Ah, é? — Isso me surpreendeu. Ela parecia tão mais velha. Mais madura.

A segunda nevasca que havia sido antecipada pela previsão do tempo nunca aconteceu, mas uma ventania ártica varria redemoinhos de lixo da cafeteria por todo o estacionamento. Wan abaixou a cabeça, apressando-se comigo até o jipe.

— Já que você é presidente do corpo discente, será que poderia me dizer por que não existe um clube LGBT em Southglenn?

Ela precisou elevar a voz contra o vento para se fazer ouvir.

— Um o quê? — Gritei.

— LGBT! — Ela gritou em resposta.

— Um o… — Ah. Eu registrei. — Acho que… ninguém nunca propôs.

— Bom, eu pretendo — ela disse. — Como faço isso?

Chegamos ao jipe e Wan equilibrou a caixa na maçaneta, segurando o boné de beisebol na cabeça com a mão livre.

— Entre — falei. — Não dá pra conversar aqui fora. — Destravei a porta e peguei a caixa. Ela entrou e se esticou sobre os bancos para abrir a minha porta.

Dei a volta e descarreguei a caixa na parte de trás, depois pulei para dentro e tranquei a porta.

— Deus, odeio esse vento! Não ligo para o frio, mas não suporto o vento.

— É, eu também. — Wan observava o interior do jipe, seus olhos pararam no equipamento de camping do Bruce, atrás do meu banco. — Isso é seu ou é dele?

— O jipe? É meu. Bem, na verdade, é do banco. Mas estou deixando me extorquirem por mais nove ou dez anos.

Ela sorriu.

— E sobre o clube LGBT? — Por debaixo da aba do boné, os olhos dela subiram para encontrar os meus.

— Ah é. — Me acomodei para encará-la. LGBT. — O que é mesmo o T?

— Transgênero — ela disse. — Provavelmente deveria incluir também um Q para Queer ou Questionando. E também um I para Intersexo.

Intersexo? Eu precisava conferir esse no dicionário.

— Ok. Bem, você tem que encaminhar um requerimento se deseja formar um clube oficial na escola, que, suponho, é o que você está propondo. Você vai precisar declarar uma missão… — Por que o meu coração estava tocando um solo de bateria? O frio. Era isso. Girei a chave na ignição e liguei o aquecedor. — E vai precisar de um orientador docente.

— Como quem?

— Qualquer um. Qualquer um que concordar.

— E por que não concordariam? — Ela rebateu.

— Eu não disse que não concordariam — retruquei. Não era isso que queria dizer, foi um reflexo. — Só estou tentando explicar como se faz, certo?

Ela meneou a cabeça e depois se virou para olhar além da janela.

— Você acha que vou conseguir autorização? — Ela perguntou.

— Não sei, por que não conseguiria?

Ela caiu na risada.

— O que foi?

Ela se virou de novo para mim e balançou a cabeça.

— Onde consigo um formulário?

— Vou arrumar um pra você. Por que acha que não conseguiria autorização?

A cabeça dela se inclinou para o lado.

— Ah, eu não sei. Sexto sentido?

Ela estava sendo sarcástica. Por quê? 

Quero dizer, nós nunca tínhamos recebido uma proposta para a criação de um clube gay. Possivelmente, porque não havia muitos gays na nossa escola. Dois agora, contando com ela.

— Vou pegar um formulário pra você amanhã.

Um canto dos lábios dela repuxou.

— Legal.

— Quer uma carona? — Verifiquei meu relógio. Já ia para vinte minutos de atraso. Detestaria se a Laura me achasse uma irresponsável.

— Não precisa. — Wan falou. — Estou com meu carro.

— Qual é o carro? Levo você até lá.

Wan segurou a maçaneta da porta.

— É o Neon azul. Estacionado bem aqui, ao seu lado. — Ela me disparou um sorriso e saltou para fora. Fiquei parada no mesmo lugar enquanto ela socava o motor e saía rasgando da vaga. O para-choque traseiro estava forrado de adesivos: “ÓDIO NÃO É UM VALOR DE FAMÍLIA, AS MINAS ARRASAM.”

Na moldura da placa do carro lia-se: LINDA DEMAIS PARA SER HÉTERO.

Senti uma vontade enorme de segui-la. 

Mais do que uma vontade, uma necessidade.

— Uma necessidade? — questionei meu cérebro em voz alta. — Mina, a única coisa que você precisa é levar essa bunda pra trabalhar.



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