1. Spirit Fanfics >
  2. Don’t tell our secret (Wantasha) >
  3. Capítulo 8

História Don’t tell our secret (Wantasha) - Capítulo 8


Escrita por: ClarkeLexazinha

Capítulo 8 - Capítulo 8


Primeiro, o frio. Os pulmões inflando. Depois a força. Enfrentando-o, lutando com ele. Com mais força, mais empenho. Deslizando. Chutando. Respirando.

Mais e mais rápido. Movendo-se, movendo-se. Para longe dele. Em direção a ele. Chegando lá.

Minha voz interior cantou:

— Chegue lá, chegue lá, chegue lá.

onde?, perguntei.

Nenhuma resposta veio.

O concreto resvalou na ponta dos meus dedos ao mesmo tempo em que minha cabeça irrompia pela superfície da piscina. Meu peito doía. Cada músculo em meu corpo queimava. Por quanto tempo nadei? Por muito tempo e muito rápido. Meus olhos ardiam. Eu os fechei, agarrei-me à borda até que a tontura evaporasse. Depois me arranquei da piscina e caminhei até o vestiário para tomar um banho gelado.

— Oi, Natasha.

Dei um salto. Normalmente, eu ficava sozinha nessa parte do dia.

— Se eu tivesse a sua disciplina, poderia ser igual à sua mãe. Mas, lamentavelmente, minhas células de gordura se recusam a encolher.

Sorri para a sra. Hill.

— O que está fazendo aqui? — Minha voz soou cortante, acusadora. Do jeito como me sentia... invadida.

Por infelicidade, ela não notou. Colocando uma faixa de ginástica na testa, ela respondeu:

— Começamos um programa matinal de treinamento para os funcionários. Para trabalhar os bíceps. — Ela levantou pesos imaginários.

Amaldiçoei-a em silêncio. Meu único momento de privacidade. Eu precisava muito estar sozinha nesse instante. Para pensar. Para não pensar. Agarrei duas toalhas do carrinho da lavanderia, parado, ao lado da porta e fui em direção aos chuveiros.

A sra. Hill me seguiu.

— Chegou a estudar todos aqueles catálogos? Já decidiu onde se inscrever?

— Ainda não — respondi, girando a torneira de água quente. — Passei o fim de semana inundada de lição de casa. — O que era verdade. Estávamos apenas na segunda semana do período e eu já estava sofrendo para acompanhar o conteúdo. Motivação zero não ajudava.

— Bem, não demore muito. A maioria das inscrições deve ser enviadas antes do dia primeiro de fevereiro.

— Eu sei — alfinetei. Acalme-se, Natasha. Meu Deus. — Vou fazer isso hoje à noite. — Girei a cabeça e sorri para ela, desejando que ela fosse embora.

— Recebeu o convite?

Não respondi, apenas mergulhei debaixo do chuveiro e me desliguei.



(...)



Wan estava sentada no chão, em frente ao seu armário, lendo compenetrada uma revista dos X-Men. O copo de café estava no carpete, ao lado dela, e a caixa de donuts, aberta para o mundo.

— Você vai engordar — eu disse, antes de girar minha senha na fechadura. Não tinha como ser mais grosseira? Virei-me para pedir desculpas.

Wan não tinha escutado, ou estava me ignorando. Abri meu armário e olhei no espelho. Precisei ficar na ponta dos pés para conseguir vê-la. Ela tinha dado uma mordida em um donut de chocolate e estava agitando-o no ar, como isca para mim.

Sorri para mim mesma, sabendo que estava sendo observada. Deixando o armário aberto, fui para o lado oposto do corredor e examinei o que havia na caixa. A maioria dos donuts estavam esmigalhados ou eram sobras amassadas.

— Esses são os piores donuts que já vi. — Abaixei e escolhi um pedaço com cobertura de coco. — Não sei quanto pagou, mas você foi roubada.

Ela fechou a revista em quadrinhos.

— Como não paguei nada, digamos que foi um bom negócio.

— Donuts grátis? — Minhas sobrancelhas saltaram. — Onde?

— Hott 'N Tott. A loja do meu tio. Ou, como costumamos nos referir orgulhosamente à loja e ao meu tio, o Tesão dos Donuts.

Eu ri. E ela sorriu.

— Só consigo pegar de graça porque trabalho lá.

Os músculos da minha coxa estavam repuxando, forçando meus quadris enquanto eu ficava naquela posição. De pé ou no chão? Meus joelhos decidiram. Sentando de pernas cruzadas do outro lado da caixa de donuts, perguntei:

— E onde é esse lugar? O Tesão dos Donuts?

Ela repuxou o lábio.

— Depois da Speer e da Colfax. Ao lado da Washington Central.

Meneei a cabeça, ainda sem saber onde ficava. A Washington Central era como o submundo, do outro lado da cidade. O sinal do início das aulas ressoou acima de nós e enfiei o restante de donut na boca. Colocando-me de pé, corri para o outro lado.

— Aqui está o formulário — ela disse, de repente ao meu lado.

— O quê? Ah. — O título "Lésbicas, Gays e Bissexuais" saltou logo na primeira linha. Peguei o formulário para criação de clube das mãos dela e li às pressas enquanto fechava meu armário.

— Quando vai ser sua próxima reunião? — Ela perguntou.

— Na verdade, hoje. — Deslizei a folha para dentro do meu caderno. — Durante o almoço.

— Tudo bem. — Ficamos ali paradas por um momento, meio sem jeito. Meu coração estava disparado. Não sei quem se mexeu primeiro, mas começamos a andar pelo corredor juntas. Próximas. Ela parou na divisão do corredor, ou talvez tenha sido eu.

— Depois me conte o que eles disserem — Wan falou. — Vejo você na aula de desenho. — Ela olhou nos meus olhos, segurando-me em um transe. Quando me dei conta, ela já havia se afastado. Desaparecido na bruma. Respirei fundo e deixei o ar sair devagar. Por que ela fazia com que eu me sentisse balançando à beira de um precipício? Um passo em falso e eu mergulharia no abismo.



(...)



Para variar, decidi fazer a reunião do Conselho Estudantil na Pizza Hut do outro lado da rua. O sr. Olander iniciou a reunião nos informando que ele tinha recebido um pedido da administração para ajudar a organizar uma conferência sobre liderança na Southglenn High em maio. Discutimos quantas salas reservar e quais tópicos seriam interessantes. Os detalhes foram se multiplicando exponencialmente conforme a conversa prosseguia, então sugeri que formássemos um subcomitê. Bruce ofereceu a si mesmo e a mim para trabalharmos nele.

Isso custou a ele o mais ameaçador olhar de eu-preferia-que-você-não-tivesse-feito-isso. Ele sabia que meu cronograma já estava a ponto de explodir.

Também dividimos as tarefas para os projetos de serviço comunitário, antes que o sr. Olander dissesse:

— Certo. Se não há mais nada, proponho que adiemos...

— Espere — interrompi. — Tem mais uma coisa. — Enfiei a mão na mochila procurando pelo formulário. — Tenho um pedido para a criação de um clube. — Eu havia enfiado a folha no meio do caderno de literatura, que estava embaixo de tudo. — Deixe-me achar.

— Qual vai ser agora? — Bruce falou. — Comensais da Morte Anônimos?

Alguns riram. Os góticos tinham sido o último grupo a fazer um pedido para formar um clube, que fora recusado porque não conseguiram achar um orientador.

— É um grupo LGBT — falei.

Todo o ar foi sugado do recinto.

— As bichas querem um clube? Esqueça.

Quem disse isso? Meus olhos 

vasculharam. Nebula?

— Deixe-me ver. — Ela arrancou o formulário da minha mão. — A sra. Hela concordou em ser a representante docente? — Ela estalou a língua. — Sempre desconfiei que ela era uma baita sapatona.

— Nebula! Meu Deus. — Agarrei a folha de volta.

— Desculpe — ela disse, sem soar arrependida.

— Tivemos esse tipo de pedido em Mitchell, minha escola anterior — disse o sr. Olander.

— E o que aconteceu? — Perguntei a ele.

— Nada. É controverso demais.

Meu sangue ferveu.

— Então recusamos clubes porque eles são controversos demais?

Ele pareceu um pouco melindroso.

— Bem...

— Isso não é inconstitucional? — falei. — E como fica a Primeira Emenda à Constituição? Liberdade de expressão, liberdade de associação?

Nebula replicou:

— A Primeira Emenda não se aplica às escolas públicas, certo? — Ela se dirigiu ao sr. Olander, que visivelmente preferia estar anestesiando um sapo no laboratório a ter que lidar com isso.

— Espere um momento... — Minha voz se elevou.

Bruce esticou a mão por cima da mesa e apertou meu pulso.

— Não vamos ficar parecendo um monte de fanáticos intolerantes se recusarmos?

— Obrigada — eu disse para ele.

Nebula gracejou:

— E o que você acha que significa ter uma Política de Tolerância Zero?

Algumas pessoas riram.

Fuzilei Nebula com os olhos.

— Muito engraçado.

— Wan Maximoff. — Nebula esticou a folha sobre a mesa, lendo de cabeça para baixo. — Quem é ela?

— Ela é nova — falei. — Acabou de se transferir da Washington Central. — Para o grupo, acrescentei: — Obviamente, eles são mais progressistas lá do que nós aqui.

Todos baixaram os olhos, parecendo envergonhados. E deviam estar. 

Devíamos. Meus olhos focaram o nome de Wan, depois, abaixo dele, a pergunta: 

"Número estimado de membros". Quinze, ela havia escrito. Quinze? Tínhamos tantos gays assim na escola?

Nebula disse:

— Não estamos atrasados no tempo e não acho que precisemos de um clube gay em Southglenn. Só porque alguma lésbica radical quer promover a agenda dela, não acho que devamos ceder.

Estalei minha língua.

— Não é assim. Ela não tem uma agenda. Não é um tipo de feminista militante, nem nada do que está pensando. Ela é legal. Ela é ótima. — Melhor calar a boca, pensei, sentindo o calor subir ao meu rosto.

Nebula dobrou o lábio.

— O que é? — Meus olhos fixaram nos dela. Ficamos nos encarando por um momento, até que ela balançasse a cabeça e desviasse o olhar.

O sr. Olander suspirou e olhou para seu relógio.

— Temos alguns minutos. Leia o formulário, Natasha.

Li em voz alta:

— O objetivo deles é "fazer reuniões e discutir problemas e questões da comunidade gay, socializar, organizar campanhas de arrecadação de fundos para AIDS e outras..."

Alguém murmurou:

— Daqui a pouco eles vão querer distribuição gratuita de camisinhas nos banheiros.

A mão de Nebula disparou para o alto.

— Eu votaria a favor disso.

Todos gargalharam. Olander falou:

— Vou verificar a política da escola, mas, se for alguma coisa parecida com o que houve em Mitchell, teremos que negar o pedido.

— Por quê? — Gritei. Um pouco alto demais, até para os meus ouvidos.

Ele respondeu:

— É muito exclusivo. Se querem um clube com aprovação da escola, terão que permitir que qualquer pessoa se torne membro. Não apenas um grupo seleto, como esse que descreveram. Ademais, se não receberem autorização, não poderão fazer nenhum tipo de arrecadação no local.

Droga. Enfiei o formulário de volta no meu caderno. Quando nos levantamos para sair, Nebula perguntou:

— Ainda podemos ter as camisinhas grátis?

No meio da calçada, esperando o sinal para atravessar a rua, eu a encurralei.

— Por que você é tão contrária a esse clube?

Nebula deu de ombros.

— E por que você é tão a favor?

O sinal tocou e Nebula foi embora, sem esperar pela minha resposta.

O que foi bom, porque eu não tinha uma.



(...)



— Vocês vão manter um caderno para registrar suas observações diárias — Erik nos falou, arremessando uma perna sobre o banco colocado logo à frente. — Não se preocupem com precisão ou realismo. Só quero que prestem atenção em coisas do dia a dia, procurem vê-las de um outro jeito. Quero que desenvolvam sua própria abordagem da arte como expressão pessoal.

Pessoal como? Como pessoal?

Meus olhos foram direto para Wan, que estava lendo a revista em quadrinhos pousada no colo. Como eu contaria a ela sobre o clube? Talvez, ela se esquecesse de perguntar. Ou talvez Harvard me aceitasse só por ser bonita.

Erik continuou:

— Hoje, vamos fazer um exercício. Vamos tentar enxergar em detalhes o que um artista faria. — Ele fez sinal para que alguém na primeira fila apagasse as luzes e abaixasse a tela branca. Pegou o controle remoto do projetor de slides, apertou um botão e iluminou o primeiro slide. — O que vocês veem? — perguntou.

— Uma cerca.

— Dã — Steve zombou do meu lado.

Erik perguntou:

— O que mais?

— Neve.

— E?

— O vácuo, o deserto absoluto das nossas mentes — Steve sibilou.

Erik riu.

— Melhor. Mas também não vamos dar julgamento e valores sobre os outros. Concentrem-se no que podem ver. Olhem de verdade. Estreitem os olhos, se for necessário.

Sombras, pensei. Alguém gritou:

— Sombras.

— Bom.

Linhas, espaços, formas, contraste, superfícies ásperas, superfícies lisas, frio.

— Natasha! — Erik chamou meu nome.

Eu me encolhi.

— O que você vê?

— Hum... — Engoli em seco, depois expus meu ponto de vista.

Ele avançou para o próximo slide. Eu estava certa? Flagrei a Wan olhando para mim e sorrindo. Acho.

Continuamos esse exercício por mais quinze minutos, até que Erik esgotasse os slides e nós esgotássemos nosso entusiasmo. Assim que as luzes acenderam, ele disse:

— Vamos repetir a tarefa da semana passada. Foi minha culpa não ter dado mais instruções a vocês. Fazia anos que não ensinava Desenho Nível I, como vocês podem imaginar. Novamente, escolham um único objeto na sala para desenhar. Concentrem-se na forma. Examinem o objeto cuidadosamente, com mais atenção do que qualquer outra coisa que já tenham observado. Sintam-se livres para caminhar e buscar inspiração. Vou tocar um pouco de música. Espero que ela desperte a criatividade que há dentro de vocês. — Ele colocou um aparelho de som em cima do banco e apertou um botão.

Música clássica começou a tocar.

Era tranquilizante. Eu nunca ouvia música clássica. Bruce a chamava de musa do sono. Ele também detestava country.

Certo, escolha algo. Uma cadeira, a porta, um vaso de cerâmica na prateleira. Nada muito interessante. Observei o ambiente algumas vezes mais. A única coisa que continuava voltando ao foco da minha visão era a nuca dela. Havia textura ali. Forma, movimento, interesse. Abri meu caderno e comecei a desenhar.



(...)



Ela estava esperando por mim no corredor depois da aula. Ótimo. Levando-a até um canto ao lado do bebedouro, falei:

— Eles recusaram.

— Não. — Ela deu um tapa teatral no peito. — Que surpresa! — Encarando o horizonte, ela estreitou os olhos e disse: — Este lugar me dá nojo. Odeio aqui. É como se todos os homofóbicos estivessem exilados nesta escola.

— Não, não estão. — Devia ter uns dois.

— Ninguém nem sequer se assume aqui. Você já se perguntou por quê? — Os olhos de Wan encontraram os meus.

— Eu... eu acho que é porque não tínhamos gays aqui.

Ela deixou escapar uma risada.

— Natasha, abre os olhos.

Abri, e só enxerguei a ela. Wan balançou a cabeça.

— Qual foi o motivo de terem nos rejeitado?

— Eles não rejeitaram você. O sr. Olander disse que não era inclusivo o bastante. Os clubes oficiais precisam estar abertos a todos os estudantes. — Peguei o formulário. — Talvez você pudesse acrescentar...

— Héteros. — Wan meneou a cabeça. — Uma aliança gay e hétero, certo? Nossa, vou ter que aumentar a estimativa de membros para dezesseis. — Ela pegou a ficha das minhas mãos. — Nós não queremos uma aliança gay e hétero. Pelo menos, eu não. Não poderíamos discutir coisas que realmente importam, como sair do armário, como lidar com o preconceito. E sexo.

Minha boca ficou seca de repente.

— Certo, isso faz sentido. Vou tentar de novo. — Estiquei a mão para pegar de volta o formulário.

— Não quero incomodar você — ela disse.

— Wan, não.

Ela rasgou a folha em dois. O sinal soou e ela foi embora.

— Wan — chamei, indo atrás dela. Ela começou a correr. Segui ela pela escadaria, depois a perdi de vista. Abaixando de encontro ao corrimão, fechei os olhos e lutei contra o ruído de estática na minha cabeça.

— Não é incômodo — murmurei acima do ruído interno. — Eu vou lutar por você.



(...)



Havia uma eletricidade no ar naquela tarde, as pessoas cochichavam.

Antes que a aula de economia começasse, captei um fragmento de conversa atrás de mim; meus ouvidos foram alfinetados com as palavras: "clube gay".

Virei a cabeça e vi uma garota enfiando o dedo na garganta.

Então era isso. As notícias voam, pensei. E podia apostar que sabia quem estava alimentando os rumores.

— Natasha. Ah, que bom. — Nebula correu atrás de mim depois da aula. Eu estava indo para o treino da equipe de natação. — Preciso falar com você — ela disse.

Virei-me para ela.

— Por que está contando pras pessoas sobre o clube LGBT? O que conversamos no Conselho Estudantil é assunto particular.

Ela recuou.

— Sei disso. Eu não disse nada. — Ela pareceu ofendida e soou ressentida de verdade. — Olha, o Peter e eu estávamos pensando se você e o Bruce não gostariam de sair com a gente na sexta à noite. Bem, eu estava pensando. — Nebula engoliu em seco. — A gente só sai com os amigos do Peter e eles são tão... Não sei. Chatos. Os pais da Hope Van Dyne estão fora e ela vai dar uma festa na sexta à noite. Vocês vêm com a gente?

— Hã, claro. Tudo bem. — Senti-me tonta. Culpada por tê-la acusado. — Sexta? Ah, espera. Tenho uma competição de natação na sexta.

O rosto da Nebula ficou sombrio, como se ela achasse que eu estava mentindo.

— É, tenho — falei.

— Tudo bem, tanto faz. Só queria que você passasse algum tempo com o Peter. Conhecesse ele melhor. Ele é muito legal, Natasha. Sei que você ia gostar dele, se desse uma chance.

— Eu gosto dele. — Isso não era justo. Não era essa a questão.

Os olhos da Nebula resvalaram no chão.

— Você acha que ele é muito novo pra mim. Sei disso. Mas ele não é. Ele é maduro para a idade que tem. É o primeiro cara que conheci que não quer só ir pra cama comigo, entende? Ele se importa comigo. Ele me ama. De verdade. — Nebula soava ansiosa, carente. As palavras da Carol ecoaram em minha mente: "ela pensa que você a está julgando".

— Talvez a gente possa sair no sábado à noite? — Eu disse a ela. — Ir ao cinema ou coisa assim. — De qualquer forma, eu detestava festas. Eram só desculpas para encher a cara e transar com um monte de gente.

Nebula se animou.

— Legal. Tudo bem. Podemos ir jantar primeiro. — Ela me abraçou. — Obrigada, Natasha. Desculpe pelo que aconteceu mais cedo — ela disse. — Na reunião. Você me conhece, eu nasci pra ser a advogada do diabo. — Os olhos dela brilharam.

Fiquei observando enquanto ela se distanciava. Desde quando? O único lado que Nebula sempre tomava em um debate era o seu próprio. Havia momentos em que eu não a entendia. Não a entendia nem um pouco.

Quando atravessei as portas ao final das escadas, vi Wan perto da máquina de refrescos, diante de corredor dos armários. Ao lado dela, estavam dois caras da equipe de ginástica, acho. A porta da academia estava aberta. Alguma coisa na expressão dela fez com que eu apressasse o passo.

Conforme me aproximei, um dos caras se apoiou na máquina, acima da cabeça da Wan, e falou:

— Vamos lá, só um beijo. Experimente, você vai gostar. — Ele fez beicinho e soltou estalidos de beijo.

Wan se enrijeceu.

— Sai de cima de mim — ela falou. — Qual é o seu problema?

— O problema não é meu.

O outro cara agarrou o braço dela e a empurrou contra a máquina.

— Sentiu isso? Hã?

— Ei! — gritei, correndo pelo restante do caminho. Os dois viraram o rosto na minha direção. — Deixem ela em paz! —Coloquei-me entre eles. — O que acham que estão fazendo?

Os rapazes recuaram.

— Nada. Era só brincadeira.

Wan disparou em direção às escadas.

— Wan, espere. — Deixei os fortões para trás.

Ela já estava na metade da escadaria quando agarrei seu braço. Virei-a e disse:

— Você está bem? — Mas ela estava tremendo. Meu Deus.

— Doentes, Natasha — ela disse. — As pessoas daqui são doentes.

— Nem todo mundo. Dois caras. — Estreitei meus olhos na direção deles. — Cretinos.

Ela balançou a cabeça e continuou a subir os degraus.

— Wan. — Não consegui segurá-la. — Vamos denunciá-los por assédio sexual.

Ela parou no alto das escadas e se virou.

— Não — ela disse. — Não. Isso só vai piorar as coisas.

— Não podemos deixá-los escapar impunes.

— Podemos, sim. — Ela engoliu em seco. 

— Eles vão vir atrás de mim.

O rosto dela empalideceu e ela estremeceu.

— Esquece isso. — Ela passou por mim e saiu pela porta do lado leste.

— Oi, Nat. — Duas garotas da equipe de natação se aproximaram. — É melhor irmos pra natação ou o Shang-Chi vai nos mandar ficar correndo em torno da piscina de novo.

— Certo. — O medo dela ainda pulsava através de mim. Cega, desci as escadas cambaleando.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...