História Doomed (Jeon Jungkook) - O mal em forma de mulher

Capítulo 5 – Chapter Five

Quatorze dias. Já faz duas semanas que eu estava nessa casa e me adaptando a minha nova vida. Por alguns dias, ainda acreditei na possibilidade de alguém aparecer aqui e me salvar, que Minji tivesse voltado atrás e viesse me resgatar, porém, no décimo dia, me acostumei com a ideia de que não, isso não iria acontecer, e o que me restava era aceitar a forma como eu estava vivendo agora.

— Senhor, que barulho irritante! — Resmunguei sonolenta, me virando na cama para desligar o despertador, no entanto, me espantei ao ver o horário tardio. Já era uma hora da tarde. 

Com um certo custo, me obriguei a levantar da cama e caminhei até o banheiro, pronta para tomar um banho. Apesar de ter dormido por dez horas seguidas, estranhamente ainda sentia sono. Mas bem, levando em consideração a minha rotina de chegar de madrugada da boate e de estar acostumada a acordar cedo, eu tinha uma bela razão para querer me jogar naquele macio colchão e dormir pelo resto do dia. 

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— Boa tarde, Senhora Yang. — Saudei a mulher ao entrar na cozinha e como sempre, ela estava mexendo nas panelas a todo vapor.

Algumas coisas tinham mudado na minha situação, como por exemplo, agora eu não era mais a prisioneira do quarto, passei a ser da casa, ou seja, eu tinha autorização para ficar na sala, cozinha e no quintal também. Segundo Jungkook, um "presentinho" por bom comportamento. 

Contudo, acabei enfim conhecendo Yang-Min. Ela era uma mulher na casa dos cinquenta anos e muito simpática. Foi cordial comigo desde o início, e com isso, acabamos por nos tornar próximas. 

— Oh Mia! Boa tarde… — Virou-se para mim. — Pensei que fosse almoçar no quarto. Misa disse que foi hoje de manhã levar a sua refeição, mas você ainda estava dormindo. 

— É… eu acordei quase agora. — Sorri amarelo, desconcertada. 

— Tudo bem querida, você está chegando tarde… Agora sente-se, irei lhe servir. — Eu sempre dizia a ela que não gostava de mordomia e que não tinha a necessidade de me servir, porém, por conta da preguiça e do cansaço, hoje deixarei ela fazer isso sem questionar. 

Me sentei à mesa.

— Aqui, Senhora Yang, trouxe os legumes que pediu para fazer o Bibimbap para o jantar… Nossa, se a senhora visse como o mercado estava cheio e- — Dahyun falava ao entrar na cozinha carregando algumas sacolas, porém, quando me viu, calou-se e sua expressão murchou em instantes. 

— Obrigada Dahyun, pode deixar as sacolas no balcão. — Yang pediu, e assim ela fez.

— Mia, talvez você não tenha conhecimento, mas saiba que aqui nessa casa todos os funcionários seguem a risca seus devidos horários para cada tarefa, e nas minhas, acordá-la para tomar o café da manhã não está inclusa. — Dahyun reclamou seriamente. — Os minutos que perdi tentando te acordar atrapalhou nas minhas obrigações!

— O-oh, peço desculpas, não queria te atrapalhar. — Pedi envergonhada. 

— Não está em uma colônia de férias, então ponha-se no seu lugar! — Falou de forma rude. Eu sabia que ela não gostava de mim, aliás, nem fazia questão de esconder isso, qualquer um notava.

— Dahyun! — Yang a repreendeu, mas ela pouco se importou. 

— EU NÃO QUERO SABER, A RESPONSABILIDADE ERA DE VOCÊS DOIS! — Me assustei ao escutar os berros de Taehyung. Ele entrou na cozinha furioso, sendo seguido por dois rapazes que eu nunca tinha visto antes.

— Não Taehyung, a responsabilidade de verificar aquelas mercadorias era daquele moleque, sabe disso! — Um deles esbravejou.

— E quem estava responsável por ficar de olho nele? — Kim perguntou irritado.

— Eu tinha carregamento para receber, não ia ficar bancando a babá de um pirralho! — O que estava calado até então, vociferou. — Por que não designou a função para o Siwoon?

— Não foi eu que dei a ordem, caralho! — Taehyung passou as mãos pelo cabelo, impaciente. — Jungkook está voltando hoje de Incheon, não vão querer recepcioná-lo com essa notícia, certo?

— O que quer que a gente faça?

— Vocês e aquele garoto vão procurar por cada um daqueles pacotes, mesmo que tenham que revirar essa cidade inteira! — Eles concordaram e logo se retiraram do cômodo. Era impressionante como estavam alheios a nós três, ou simplesmente não se importavam de terem telespectadores. 

Taehyung passou o olhar por nós três. Yang e Dahyun disfarçaram e começaram a mexer nas sacolas, já eu continuei encarando ele. 

— Ah Dahyun, eu estava mesmo querendo falar com você. — Ele disse.

— Pois não, Senhor? — Ela sorriu. 

— Eu queria muito saber o porquê você não levou a correspondência às oito da manhã como costuma fazer?

— Eu estava ocupada levando a refeição para ela a pedido da senhora Yang. — Me encarou com uma expressão de desagrado. 

— E qual foi a sua dificuldade para não levar a correspondência depois? — Kim perguntou, dando passos lentos em direção a ela. — Aliás, você trabalha para mim, a preferência é minha.

— Eu sei Senhor, mas ela não estava acordando e eu-

— Acha que está tendo muito trabalho?

— N-não senhor, eu-

— Se é tão inútil a ponto de não ter capacidade para fazer uma simples tarefa como levar a correspondência a mim e o café da manhã da Mia no mesmo dia, acho que devo demiti-la. — Falou na pura ignorância, com uma voz fria. Dahyun arregalou os olhos, espantada. 

— N-não, senhor Kim, por favor não faça isso, eu te imploro. — A voz dela soou embargada. — E-eu tenho família para sustentar, p-pessoas que dependem de mim, por favor… — Quanto mais ele se aproximava, mais ela se afastava.

— Aqui não é uma casa de caridade, você é paga para trabalhar, se não o faz, então é rua. — Taehyung encurralou seu corpo contra o balcão atrás dela. Vi quando o corpo de Dahyun estremeceu, ela estava com medo.

— Por favor senhor, por favor… — Dahyun abaixou a cabeça, começando a chorar. 

— Taehyung, a culpa foi minha. — Falei de repente, me levantando e me enfiando entre os dois. Eu não deixaria ele tocar nela, além de não poder deixá-la levar a culpa por algo que eu fui responsável. — Dahyun perdeu o tempo dela tentando me acordar, eu fiz ela se atrasar… a culpa é toda minha. 

Ele riu nasalado, negando com a cabeça. 

— Saía Dahyun. — Escutei ela respirar aliviada e em seguida sair praticamente correndo da cozinha. 

— Não deveria ser tão boazinha Mia, ainda mais com quem não gosta de você. Irá se arrepender depois. — Ele falou.

— Como pode ser tão insensível? — Me zanguei. 

Taehyung inclinou-se para frente, deixando nossos rostos perigosamente perto. Senti meu corpo arrepiar sob seu olhar intenso, e quando reparei, meus olhos tinham descido até sua boca. Ela tinha um formato charmoso e, apesar dos seus lábios serem finos, pareciam macios e convidativos. Desviei o olhar raspando a garganta, na tentativa de disfarçar e afastar os pensamentos não-desejados e estúpidos. 

— Nunca mais entre no meu caminho. — Decretou ao se afastar, deixando a cozinha. 

Soltei o ar que eu prendia, olhando para Yang. Ela apenas maneou a cabeça, voltando às suas tarefas. Bufei.

— Que cara imbecil. — Sussurrei. 

♤

— Mia, por que a Chaeyeon está te encarando com aquela cara? — Moon perguntou, olhando para a garota. 

Chaeyeon estava como garçonete hoje e sempre que vinha ao bar ou não tinha pedidos para atender, ela fazia questão de me encarar friamente. 

— Aish, pensei que fosse coisa da minha cabeça! — Resmunguei. 

— Não, ela está te olhando como se quisesse te comer viva.

Me sentei em uma banqueta, soltando um longo suspiro. 

— Ela estava na porta dos fundos hoje mais cedo e me viu saindo de um carro com o Taehyung. — Contei.

— Ela viu? — Arregalou os olhos.

— É tão ruim assim? — Perguntei, franzindo o cenho.

Moonbyul olhou ao redor e depois inclinou-se na minha direção, se aproximando o tanto que o balcão entre nós permitia. 

— Você sabe que aqui não trabalham só garçonetes e dançarinas, certo? — Ela começou.

— Sim, há garotas de programas também.

— Exato, mas não usamos esse termo pois hoje em dia é visto como uma ofensa, então aqui falamos garotas VIPS. — Me explicou. — Há quatro meses, uma garota, Choi Mina, veio trabalhar aqui nessa área específica. Ela era muito bonita e logo chamou a atenção dos homens, inclusive do Taehyung. Não demorou muito para eles começarem a ficar e três semanas depois Chaeyeon ficou sabendo disso. Chae bateu tanto na garota que o rosto dela ficou deformado. Ela teve que ser levada para o hospital às pressas. — Arfei chocada.

— Ah, e para a minha sorte, ela parece me odiar. — Ri de forma amarga.

— Ela sempre teve essa obsessão estranha pelo Kim, tanto que nenhuma das garotas VIPS se envolve com ele. — Continuou. — Na verdade, todas as garotas evitam respirar perto dele.

— Ela é meio doida da cabeça. — Indaguei. 

— Deve ser maldição de família todos os Lee serem um bando de fudidos. Chaeyeon… Jihoon… — Moon riu.

— Jihoon? — Tombei a cabeça para o lado, confusa. 

— Chaeyeon é sobrinha dos donos da boate, Jihoon e a irmã dele, a senhorita Lee. — Ela revirou os olhos em total desdém. — A nossa amada chefe que você terá o desprazer de conhecer logo logo. 

— Ninguém ali salva? 

— Tudo cobra do mesmo ninho. — Negou com a cabeça. — Mas não se preocupe Mia, se aquele projeto de piranha mexer com você, eu acabo com ela. 

— Oh! Muito obrigada. — Gargalhamos.

As horas foram passando gradativamente e quando notei, já estava perto das três da manhã, ou seja, logo meu turno se encerraria. 

Entreguei três pedidos a Moonbyul, me sentado enquanto esperava ela preparar as bebidas. Quando olhei para o lado, vi Taehyung e Chaeyeon se agarrando como sempre, nada novo sob o sol. No entanto, o que me chamou a atenção foi reparar que ela estava me encarando fixamente, enquanto beijava o pescoço de Kim. Chae sorria de forma vitoriosa, passando a se esfregar contra o corpo dele. 

Não entendi porque ela estava fazendo aquilo, querendo me mostrar que Taehyung era "seu", mas de qualquer forma, aquela cena me deixou desconfortável, então depois de pegar as bebidas com Moonbyul e entregar para os clientes, resolvi matar meus últimos minutos no banheiro dos funcionários. 

Tirei o uniforme e vesti as minhas próprias roupas, aproveitei também para limpar a maquiagem que Hyuna tinha feito em mim.

Me assustei quando de repente alguém começou a desferir socos contra a porta do banheiro. 

— Tem gente! — Falei, mas nada adiantou, na verdade, a pessoa pareceu ficar mais nervosa. 

Indignada, destranquei a porta e antes que pudesse abri-la, a pessoa de fora fez isso primeiro. Não tive muito tempo para raciocinar, só vi quando Chaeyeon entrou rapidamente no banheiro, fechando e trancando a porta atrás de si novamente. 

— O que faz aqui? — Perguntei perdida.

— Eu queria falar com você.

— Não podia esperar eu sair? — Ergui uma sobrancelha, sem reação. 

— Não Mia, o nosso assunto tem que ser tratado de forma sigilosa. — Ela sorriu de forma maldosa.

— E que assunto nós duas teríamos para resolver?

Chaeyeon bufou.

— Eu odeio pessoas lerdas, sonsas, fingidas e ingênuas... — Foi se aproximando de mim enquanto falava, até me encurralar contra a parede. — Resumindo, eu odeio pessoas como você.

— Você não me conhece, então não fale o que não sabe! — Me irritei. 

— É, não te conheço, mas conheço as da sua espécie. — Chae riu. — Sempre tão carentes e necessitadas de atenção, que se jogam pro primeiro homem que vêem, sem se importarem se ele carrega uma aliança no dedo.

— Ah, está insinuando alguma coisa, certo? E tenho certeza que tem haver com o Taehyung. — Revirei os olhos. 

— Huh, você não é tão burra quanto eu pensei. — Um sorriso presunçoso surgiu nos seus lábios. 

— Não que seja da sua conta, Chaeyeon, mas eu e o Taehyung não temos nada… — Falei. — Mas se tivéssemos, eu sei que não há uma aliança no dedo dele. — Seu sorriso foi se desmanchando lentamente, como areia entre os dedos. — E é muita ingenuidade sua pensar que um dia ele vá colocar uma no seu. 

Escutei ela rosnar, e logo o seu braço estava contra a minha traqueia, me impedindo de respirar. 

— Escuta aqui sua vadia de merda, se eu ver você perto dele de novo, eu faço questão de te dar como presentinho pra algum velho tarado desse lugar! Imagina só como iriam adorar ter uma virgenzinha inexperiente para brincar. — Murmurou rente ao meu rosto, gargalhando de forma diabólica. — Não me subestime Mia, não irá querer me ter como inimiga, ou eu irei antecipar a sua ida para o inferno.

Quando ela me soltou, acabei caindo no chão de joelhos, tossindo enquanto puxava desesperadamente o ar para os meus pulmões. Com os olhos cheios de lágrimas, ergui minha cabeça para encará-la de baixo. Chaeyeon sorria de forma tranquila.

— O meu recado foi dado, e se for um pouquinho esperta, irá me obedecer. — Ponderou, saindo do banheiro como se nada tivesse acontecido. 

Me levantei lentamente, tentando abafar os meus soluços. Me olhei pelo espelho, vendo o estado caótico que meu rosto estava, além de ver meu pescoço vermelho. Quis gritar, berrar, espernear e fazer um escândalo, mas apenas me contive, tentando aos poucos conter as lágrimas. 

Cinco minutos depois eu saí daquele banheiro e estava prestes a voltar para o salão da boate, até sentir uma mão segurar o meu pulso. Me virei, assustada.

— Porra Mia! Onde estava? Fiquei te procurando feito um idiota! — Taehyung esbravejou, me encarando raivoso. Por algum motivo, fiquei aliviada por ser ele. — Sabe que não pode sair da minha vista! 

— Eu só vim me trocar, desculpe. — Sussurrei, abaixando a cabeça para que ele não visse meu rosto molhado.

Me afastei e comecei a caminhar na frente. Como reflexo, olhei para todos os cantos daquela boate vendo se eu achava Chaeyeon, mas não, nenhum sinal dela. A passos rápidos fui para o fundo da boate, onde Doyun esperava com o carro.

Do momento em que saímos da boate até chegarmos em casa, eu percebi Taehyung me encarando algumas vezes, mas eu nunca retribuía os seus olhares furtivos, apenas encostei a cabeça na janela e comecei a contar os segundos para me distrair.

Eu não sabia se Chaeyeon estava apenas blefando e fazendo ameaças só para me assustar, entretanto, eu não pagaria para descobrir, pois ela tinha conseguido o que queria… Eu estava morrendo de medo.