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História Doses - Capítulo único


Escrita por: tangence

Capítulo 1 - Capítulo único


Ele tem um sorriso lindo e branquinho, dentes alinhados como os meus nunca foram, e os cabelos em desalinho combinam com o restante da perfeição. Mas ele tem dores, é claro que tem. Todo mundo tem e ele é alguém no mundo.

É por saber disso que, vez ou outra, quando acontece uma dessas crises, eu me sinto em posição de contá-lo o que está acontecendo. Ele é bom, como um super-herói, ele me entende. Não digo esses problemas pequenos que surgem dia após dia, esses que doem um pouquinho e descem para o fundo num bailar lento, assentando no acúmulo de mágoas que eu vou chorar só muito mais tarde, pois estes diminutos distúrbios eu sempre guardei para mim, numa busca por não incomodar ninguém. Sei que não me amo, sei que é preciso. E sei que incomodo. Tenho certeza que incomodo. Porque sendo eu preguiçoso em ouvir os problemas alheios, jamais mereceria que os outros ouvissem os meus.

Mas acontece, de hora em hora quando resumimos a vida em um mês, de começar a pingar num balde já muito próximo de estar cheio. Pinga e chia, um, dois, três, e eu não sei qual dessas gotas pequenas o fará transbordar; ainda assim uma hora ele transborda.

É nessa crise, essa estourada, às vezes engatilhada por um riso a mais ou a menos, por duas palavras ditas de mal jeito, às vezes por uma foto e outras vezes por um respingo de café: essa crise eu conto à ele.

Ele vê, não é necessário dizer nada. Ele, com esse sorriso simpático, bonito demais para passar despercebido, parece decepcionado porque não disse nada antes de estar prestes a morrer.

Nesse momento de fraqueza, de decepção acumulada, de falta de amor próprio, de falta certeza, falta de um chão para pisar, eu como inseguro, como atrapalhador de trânsito, concordo em me abrir da próxima vez. Eu vou contar tudo, cada gota que cai e cada frustração que decanta e se acumula no fundo. Ele é lindo. Presumo que saberá o que fazer. Eu acho que ele, com seus problemas, é óbvio que os têm, vai entender.

Mas nessa próxima vez eu chego de fininho, manso, me acomodo bem próximo, conto sobre a palavra dita de mal jeito e a mancha que café.

“É mesmo?”

Aqueles olhos lindos não servem para observar e o sorriso alinhado está lá por conforto, para não me incomodar. Não sei se ele se importa com esses pormenores meus.

São duas gotas no balde cheio, elas pingam e chiam, um, dois, três, quatro…

E a crise recomeça em dosagens.


Notas Finais


se você chegou até aqui: obrigada, você é foda, e eu sei que dar amparo é tão difícil quanto conseguir
isso é baseado em fatos, aliás


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