História Double Love - Familiaridade

–Boa noite- a voz de barítono encheu o lugar, era sonora e melodiosa. Fez-me pensar em como era agradável ouvi-lo o que me deixou em pânico.

–Boa noite Thorin-Gandalf respondeu por mim, minha voz não saia.

–Todos compareceram?-Thorin deu um pequeno sorriso. Morto. A palavra que definia aquele singelo puxar de lábios - Onde está nosso anfitrião?

–E-esse seria eu-falei automaticamente, fazendo aqueles olhos encararem meu rosto-Singelas desculpas, estava... Atordoado. Os outros 11 estão na cozinha.

–Você é o advogado especialista, de boa confiança e o melhor na área?-ele perguntou debochado-Você mais parece um padeiro do que advogado.

–Olha aqui Senhor.. -dei conta que não sabia do nome desta pessoa rude, que invadia casa alheias e ainda tinha a petulância de fazer piadas sobre pessoas gordinhas.

–Oakenshield-uma voz sussurrou no corredor, virei vendo Fili (e mais o resto do povão atrás dele olhando-me pasmos) me dando um gesto positivo com as mãos. E o sorriso de orelha a orelha dizia que ele queria ver a briga acontecer.

–Obrigado-respondi me virando novamente para os dois a minha frente-Sr.Oakenshield, está na minha casa, e me deves o mínimo de respeito, afinal veio atrás do meu serviço.

–Ahn?-ele falou surpreso-Vejo que és bem disposto pra um tico de gente.

–Como é?-perguntei já com o rosto vermelho de raiva, por que ficava com raiva dele tão rápido? Não sou assim-Quer saber esquece, vou fingir que não ouvi isso de alguém presunçoso.

–Que bom que se entenderam-Gandalf levou ele até a cozinha servindo uma cerveja, quando todos seguiram os dois e o corredor ficou vazio, me apoiei na parede, à mão no coração, tentava parar o ritmo enlouquecido, podia ouvir o Tum-tum louco e desenfreado.

–"Apenas coincidência” - sussurrei pra mim-"Um pouco de coincidência".

–Mestre Baggins?-Bofur apareceu na porta me olhando desconfiado-Você está bem?

–Sim, só pensando... nas consequências-respondi sorrindo-Me dê um minuto já estou indo.

Bofur acenou positivamente, ele era uma boa pessoa, todos ali eram boas pessoas, mas não era minha mente que pensava, era meu coração que dizia e isso me assustava, para mim a razão tem que ser antes da emoção. Caminhei novamente para a cozinha onde todos estavam sentados olhando para o homem de olhos azuis. Quando me viu ele levantou, por incrível que pareça aquela súbita mudança assustou-me tanto que guinchei.

–Peço desculpas pelo meu ato recente-ele falava automaticamente, sua boca falava algo que não queria o rosto travado numa carranca, já sabia como ler os gestos de pessoas, fazia parte do trabalho, o desconforto em se desculpar, talvez até uma singela humilhação.

–Sei que não sente-respondi sentando-me na cadeira a frente dele.

–Você tem uma língua muito afiada-ele rebateu sentando novamente.

–Gosto dele-Kili sorriu para mim e depois apontou com o polegar para o “Senhor Mal-educado” - Ele pode ser carrancudo no começo, mas aos poucos se acostuma.

–Não preciso “acostumar”. Creio que ainda estou aqui só como ouvinte do caso-falei olhando Gandalf que tossiu envergonhado quando Oakenshield lançou um olhar amedrontador para ele.

–Pensei que já tinhas aceitado!-o “Senhor Mal-educado” rebateu-Gandalf...!

–Ele vai pegar o caso, está apenas se fazendo de difícil - ladrou meu padrinho apenas o olhei mortalmente, assim claro vou pegar o caso por pena. Vai sonhando.

–Minhas palavras foram: se o caso for bom e complicado o pegaria-falei estalando os dedos.

–Ah esse é difícil Sr.Baggins -Kili falou- Muito difícil, já tentamos vários advogados, alguns desistiram e outros morrer.... AI... Quem diabos me chutou?

E começou uma discussão na mesa, Oakenshield brigava com os sobrinhos, irmãos brigavam entre si, Gandalf tentava ajudar, Bofur batia na mesa dizendo para dizerem verdades, a coisa estava um pandemônio. Uma verdadeira família. Aquilo me fez rir, tanto que estava lagrimando, fazia tempo que não ria tão verdadeiramente. Meu riso foi contagiante, logo Bofur ria, Bombur gargalhava, Gandalf sorria mostrando os dentes amarelados, Kili e Fili lagrimavam com sorrisos estampados nas suas faces adolescentes.

–É bom ver que se diverte nessa bagunça-o Oakenshield falou sorrindo, ele sorria de verdade e não mecanizado ou morto como o vi fazer com Gandalf. Kili e Fili o olhavam surpreso.

–Bom me conte o que puderem do caso-falei limpando o canto dos olhos onde permanecia molhado das lagrimas de alegria.

–Entendo, podemos contar algo assim: Minha família vem de um lugar distante da cidade principal, eles vem de uma vila bem famosa e rica que talvez você conheça Erebor, lá as pessoas ganhavam dinheiro trabalhando em minas, então meus ancestrais montaram uma grande franquia que vendia verdadeiras joias para pessoas que tinham como pagar, não importava da onde vinha o dinheiro ou quem era a pessoa, por anos e anos vivemos felizes na nossa cidade/empresa, porém num dia nefasto, um homem chamado Smaug, roubou tudo da minha família, usurpou o lugar do meu avô, o matou e junto disso matou toda a cidade e seus filiados. Hoje ele tem ganhado dinheiro apenas vendendo joias para a realeza, tem trabalho escravo e infantil acontecendo naquelas minas. Passei anos escondido tentando achar um jeito de ter de volta o que é meu por direito. Balin acha que o tempo é agora. Então viemos recorrer a sua ajuda.

Todos na mesa me olhavam atentamente, "Smaug... Smaug me lembra...", como sou idiota, levantei da cadeira, corri até a sala pegando a pasta e voltando para a cozinha onde todos cochichavam. Abri a pasta encontrando meu objeto de pesquisa.

–Me diga Senhor...

–Só Thorin-ele interrompeu amigavelmente, fazendo meu rosto ficar vermelho para minha sorte ninguém reparou meu nervosismo.

–Ok, Thorin... Você sabia que está com um processo em andamento?- perguntei observando seu rosto que num dado momento entendeu a pergunta e mudou drasticamente.

–O que?-ele perguntou surpreso- De quem?

–Do Sr.Smaug- falei jogando os papeis na mesa, algumas folhas com o rosto de Thorin e seus sobrinhos- São acusações seríssimas. Digo até que ele tem fortes álibis.

–Você só pode estar brincando-Thorin rosnou-Você trabalha pra ele?

–Na verdade... Não, tentaram me contratar ainda estou pensando no caso-respondi verdadeiramente, algo estava faltando nessa história.

–Quais as acusações?-Balin perguntou tentando segurar um Thorin que me olhava mortalmente.

–Roubo, difamação, injúria, atentado ao pudor, sequestro e homicídio qualificado como o mais recente-respondi mostrando todos os papeis restantes- Tem algo que não está sendo contadas de ambas as partes. Quero apenas um motivo para acreditar em vocês, ter confiança...

–Se não quiser acreditar, foda-se-Thorin gritou batendo na mesa-Falei que era um erro chama-lo, poderíamos resolver de maneira menos “legal”...

–Você provavelmente ia preso-falei sem um pingo de emoção, no fundo estava triste por ele não confiar em mim, estava triste por vê-lo tão alterado- Se você não confia em mim, que “seria” seu advogado, não tem por que seguirmos adiante com essa conversa.

–Senhor Baggins... -Fili sussurrou-Por favor, nos ajude...

–Estou tentando-respondi com voz baixa e já guardava os papeis tudo na pasta- Mas sem confiança não podemos progredir, guardar segredos? Nem pode sonhar com isso, teria que saber tudo da vida de vocês...

–Vai sonhando que contaria as coisas para você-Thorin rebateu.

–Pois ai está o problema Thorin- falei com a voz alterada, cara teimoso e idiota- Você irá cai por ser "ignorante e presunçoso”- falei entre dentes saindo da cozinha.

–Sr.Baggins volte aqui-Thorin andou atrás de mim.

–Não se preocupe Thorin, não vou pegar o caso de Smaug, quero ficar longe dessa... Confusão-falei andando mais rápido até a escada que me levaria aos quartos acima.

–Mandei esperar- ele quase corria atrás de mim, e eu corria para longe dele, foi quando sentir o puxão na minha blusa e bati a cabeça na parede. É o que lembro antes de apagar.

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Mas que merda, muita merda. Aquele maldito advogado baixinho escorregou no tapete quando puxei a blusa dele. Bom à culpa é minha, assim como ele desistir do caso... Seria culpa minha ele também me tratar diferente? Não, a culpa não é minha, ele que é fraco e teimoso. Não posso simplesmente confiar num advogado-padeiro.

–Tio, o que você fez?-Fili foi o primeiro a fazer escândalo minha cabeça latejou só de pensar na confusão e os falatórios sobre minha personalidade.

–Meu deus, o senhor matou o advogado?-Kili gritou fazendo Gandalf aparecer depressa.

–Thorin o que você fez?-o cinzento pergunta enquanto me ajuda a leva-lo para o quarto- Nossa única salvação...

Bufei enquanto carregava Bilbo escada acima, entrei no primeiro quarto de porta aberta que vi. O quarto de Bilbo não é estranho para minhas memórias, na verdade a casa e ele não são estranhos, e isso me faz ficar um pé atrás com ele, parece que o conheço há tempos. Os olhos verdes, cabelos castanhos cobreados, a face cansada e é fofo, "MEU DEUS TÔ ACHANDO UM HOMEM FOFO?”,bem o corpo é fofinho, poderia segura-lo a noite toda. As orelhas eram um pouquinho mais pontudas que o normal, não deixava feio, ele parecia um gnominho. “Tenho que parar com essas ideias”.

–Você já pode larga-lo Thorin-Bofur entrou no quarto me analisando, me deixou inquieto, parecia que eu ia matar aquele coitado.

–Já estava fazendo isso, apenas ajeitando ele nos lençóis-argumentei sensatamente, chega de brigas por hoje, claro até eu descer as escadas para todos me atacarem com palavras de censura.

Deixei a luz do abajur ligado, Bofur saiu do quarto, quando me virei para sair, ouvir algo parecido com o som de quando alguém está fungando baixinho e virei para olhar o que era me surpreendeu ao constatar que Bilbo se mexia na cama alterado, a mão no coração, lágrimas desciam dos olhos dele, não pequenas lagrimas, mas grossos fios pratas que brilhavam. Ele gemia agonizado. Por impulso protetor, fui até ele.

–Shhhh... Shhhh... Acalme-se Bilbo. Estamos aqui-falei baixo, fazendo carinho nos seus cabelos macios. E beijei sua testa- Acalme-se pequeno.

Bilbo parou de chorar, ele se envolveu num casulo, sorri de lado, há quanto tempo eu também dormia assim? Sozinho, sem ninguém, abandonado... Esquecido. Conhecia o sentimento como qualquer outro, talvez seja isso que me faz parecer que o conheça, a atmosfera de solidão rodeia a casa, assim como a minha. Levantei, sai do quarto fechando devagar para não acordar ele. Quase minha alma sai do corpo ao ver Gandalf.

–Não pense que passou despercebido por mim Thorin.

–Nada passa despercebido por você-falei olhando torto-Vamos embora?

–De manhã-ele respondeu-Me preocupo com ele.

–Bom, ele é bem sozinho né?-perguntei como quem não quer nada, estava sondando o campo. O sentimento de familiaridade ainda estava lá, as mãos formigavam pelo toque rápido, era estranho ter esse sentimento. Algo como querer e não poder.

–Um pouco- o cinzento sussurrou- Ele tem alguns amigos. Mas está assim por que perdeu os pais recentemente.

–Hun... Entendo-então ele não era tão sozinho como pensei, fechei meus punhos com certa raiva- Vamos ficar, mas sairemos cedo.

–Aposto que ele não pegará o caso-Dwalin apareceu e bateu na minha costa-Thorin tens que controlar seu gênio, assusta qualquer pessoa.

–Tsk, me faltava-rebati de lado- Não faço apostas.

–Pois aposto que ele pegará o caso e vencerá-Gandalf falou confiante, ou seja, mau sinal ele vai ganhar. “Dwalin não caia nessa”.

Fomos andando até a cozinha, muitas apostas foram feitas entre a companhia. Mais as duas principais foram: Bilbo não pegaria o caso (10) VS pegaria o caso (1) e ganharíamos (4) VS perderíamos (7). Não sei como esse bando de tagarelas conseguia brincar com coisas serias. Peguei-me sorrindo de leve lembrando a astúcia de Bilbo. "Não, você não vai ficar lembrando-se desse pequeno bastardo, insolente, travesso, pequenino, foco Thorin, além do mais ele é HOMEM. Nunca me apaixonaria por um ser com pênis. Já bastam meus problemas."