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História Dr. Manhattan A profunda aceitação de ser caos - Extra Ordinário.


Escrita por: zuttoo

Notas do Autor


Muito prazer, apresento uma das minhas histórias favoritas, escrita originalmente pelo consagrado mestre Alan Moore. Para quem não conhece a história original não há spoilers, visto que o filme já começa depois do eventos narrados. E para os que conhecem, vão perceber que entro em detalhes que não estão presentes na história original, mas que eu imaginaria que tivessem acontecido. Espero que gostem da narrativa e, sobretudo, interajam com a produção. Se gostarem pretendo continuar. Criticas produtivas são mais do que bem vindas. Grato pela atenção! :D


Boa leitura,
Zutto.

Capítulo 1 - Extra Ordinário.


Fanfic / Fanfiction Dr. Manhattan A profunda aceitação de ser caos - Extra Ordinário.

Manhattan, Nova York. 1960.


TIC TAC, TIC TAC.

O RELÓGIO DA EXISTÊNCIA TEM SUAS PEÇAS TODAS NO LUGAR. PARA ELE CONTINUAR GIRANDO, É PRECISO MORTE, NASCIMENTO E O BOM E VELHO ACASALAMENTO. NÃO SE ENGANEM, TODA ORDEM DO UNIVERSO ESTÁ NISSO. O RESTO É ENGANAÇÃO. ANTES DE TUDO, CONTUDO, DEVO IR DIZENDO. NÃO SE ENFASTIE NEM SE ABORREÇA COM A MINHA DESCRENÇA, DESCONHECIDO INTERLECUTOR. ELA NÃO É ORIUNDA DAS TORMENTAS QUE VI E VIVI. PROVÉM DAS INÚMERAS E PARALISANTES NOITES QUE ACORDEI TRÊMULO COM O CORTANTE FRIO QUE JAMAIS SENTI.


Todo começo de semana parecia ser a mesma coisa. O cansado script se repetia mais uma vez. Embriagado de desânimo e apatia, o cansaço crônico era denunciado pelas olheiras de quem dormira pouco. Colocando em pratica um mecanismo regressivo que desenvolvera para acordar. O relógio começava a despertar as seis e dez. Levantava os olhos com resistência e desligava o alarme que voltaria a tocar novamente em dez minutos. E assim sucedia até o ultimo instante em que o tempo podia tolerar tal inércia. Tinha a impressão de viver sob certa conspiração, sentindo-se fatigado na maior parte do tempo. Mas todo mundo deve sentir o mesmo, acreditava. O ritual da manhã obedecia a um roteiro arrastado. Os primeiros pensamentos do dia começavam a consumi-lo impetuosamente. Possivelmente o banho quente era o ponto alto da sua manhã previamente sentenciada. Mais uma semana, ou menos uma? É assim que um homem começa seu dia, dizia para si. Gozava dos últimos segundos de paz ante a tortura que viveria nas horas que se desenrolariam a seguir. Os demais movimentos eram automáticos. Entre escovar os dentes, procurar pelo par de sapatos brancos, passar a camisa igualmente branca e ajeitar o cabelo diante do espelho, realocava a massa cinzenta e suas conexões neurais para outra direção. O corpo estava ali. A cabeça, quase sempre, em outra dimensão. Quando finalmente estava pronto, paramentado com um branco inexpressivo que o encobria do pescoço aos pés, já estava atrasado o suficiente para queixar-se de qualquer coisa. Não tomava café, nem assistia ao noticiário da manhã. Comprimia seu cronograma habilmente para poder dormir o quanto a física e o espaço-tempo permitisse. Uma mochila nas costas, uma maleta na mão e uma ansiedade no peito que se aproximava a angustia. Os passos apressados acompanhavam a velocidade da agitação mental. Talvez um beijo compreensivo antes de sair tornasse tudo menos desesperador, pensava. Talvez. Bom dia, dizia para dentro, um som quase inaudível. Era um mexer de lábios quase que obrigatório. Essas pessoas. Todos carregavam aquela mesma expressão indisposta de quem parecia ter uma arma apontada no cóccix forçando-os a estar ali. Entrou rapidamente para organizar suas coisas em seu Box evitando o máximo de troca de olhares. Os Boxes eram separados por uma estrutura de plástico circundada com um metal gélido branco cor de neve. Era mais simbólico do que prático. Sendo perfeitamente possível ver praticamente qualquer coisa  do outro lado estando em pé. Deixou suas coisas sob a bancada de mármore e posicionou-se alguns passos diante de um espelho próximo. Enquanto ajeitava sua touca descartável na cabeça, sentia a adrenalina começar a percorrer seu sangue. Tudo tinha que funcionar impecavelmente. Qualquer erro poderia se tornar uma grande tragédia. Sabia exatamente o peso que suas ações poderiam exercer. Também sabia que precisava estar calmo e lúcido. Sua respiração estava controlada. Lavou as mãos pensando no que deveria fazer a partir daquele instante.

Era primavera de Março, Os Estados Unidos seguia seu vertiginoso plano de enfraquecer e transformar os sonhos socialistas da União Soviética em migalhas das piores intenções. Em 1960, o mundo vivia o auge da gélida tensão entre as duas superpotências globais. A URSS, a pouco, acabará de conquistar com sucesso o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik 1. Em contrapartida, o governo americano aumentou, sem precedentes, os investimentos aos departamentos de pesquisa e tecnologia. Jonathan Osterman estava à frente do projeto Manhattan. Trabalhava na ala oeste, a base secreta envolvida nos estágios avançados de testes finais do processo de fissão nuclear através da quebra de núcleos de átomos instáveis, o que viria a ser a primeira bomba nuclear americana.      


Havia um ar delator na manhã daquela segunda-feira. Algo sério já estava em pleno curso. Jonathan apertava as mãos encarando-as enquanto atravessava os andares mais restritos no subsolo sul, senta cada milésimo de segundo esvair entre os dedos. A pressão intrínseca comprimia sua arcada dentária enrijecia como placas tectônicas em oposição. Palpitava ao inevitável confronto direto com o desalento iminente. As semanas que antecederam aquela manhã conspícua, estiveram focadas em roteiros, revisões e repetidas simulações. A sequência de procedimentos estava incutida em cada dobra da superfície encefálica. A primeira simulação programada de uma micro explosão nuclear. A pressão por resultados, pelos escalões superiores, encurtou diversos níveis de procedimentos prudentes até aquele dia. John não estava muito confiante com as possíveis consequências daquela demonstração. Resistiu até onde pode, sendo contrariado em consecutivas discussões. O clima antagônico na equipe técnica era inconfundível. O laboratório estava sobrecarregado pela atmosfera conflituosa que constituiu-se desde as últimas semanas. Jonathan sentia-se como se os anos dedicados ao estudo cientifico não significava realmente muita coisa. Todas aquelas ordens atrás de ordens e os excessos de conteúdos confidenciais que circulavam entre seus superiores o tiravam de sério. Odiava os militares e, sobretudo, o odiava o fato de ter que trabalhar para eles. Estúpidos fardados, pensava enquanto cumprimentava secamente o general Gillian.

Jonathan mal conseguia encarar alguns de seus colegas da equipe direta. Instruía as operações de iniciação do reator nuclear enquanto podia sentir seus batimentos cardíacos acelerarem em descompasso. O começo do fim, pensava. Reconhecia a própria voz embargada de tensão. Inicializar fase Beta  24C, proferia ao tempo em que fitava a Doutora Laurie. Talvez a única razão para continuar envolvido naquele ambiente sórdido. A sala de demonstrações especiais separava o reator dos espectadores e técnicos através de uma grande janela de vidro, revestida por contentores de chumbo que preveniam qualquer possível vazamento de radiação. Os instrumentos estão calibrados, mencionou Laurie. Atrás do blindado, o imponente reator Stellarator lançava sinalizadores de luz e som de turbinas. John estava com os olhos vidrados no painel controlador. Velocímetros e indicadores relatavam diversos dados por segundo. U-235 à 0,7% aumentando, declara Jonathan. Tudo parecia estável e dentro dos padrões de normalidade.

 

Urânio -235 passando para estado de excitação à 3%, registra Laurie. John analisava friamente os relatórios operacionais enxugando o suor da testa com a manga do jaleco.
– Muito bem senhores, anuncia John. Como podem ver, estamos estabilizando nossa transformação de urânio em potente fonte de energia. Com essa quantidade, continuou John, temos capacidade suficiente para alimentar a usina inteira…
– Com todo respeito, Doutor, interrompeu o general. Nós já conhecemos bem esse número. Mas estamos interessados em acompanhar o potencial máximo do nosso gerador.
John enrijeceu.
– General, isso é impossível. Os testes do sistema de refrigeração ainda são inconclusivos o suficiente e eu não poderia…
– Jonathan Osterman, acho que o Doutor não está entendendo. Poupe-nos dos seus procedimentos acadêmicos. A intenção deste comitê de supervisão é muito específica. E não vamos tolerar mais nenhum minuto de atraso. Agora, nos mostre. – Determinou o general cruzando as pernas.

Jonathan Osterman estava completamente atônito. O General Gillian já não fazia nenhuma questão de manter a máscara falsa que carregou por meses. Estava sendo ordenado por um leigo para assumir riscos imensuráveis. John simplesmente não estava interessado em explodir a secção sul da Usina de Manhattan inteira, muito menos de fragmentar fascinante presença da Doutora Laurie em milhares de pedaços.

– General Gillian Walker, como responsável técnico eu me recuso. Diante de tais instruções, prosseguiu, somente o chefe de estado maior poderia autorizar tamanho nível de risco.
Gillian Walker levantou-se abruptamente.
– Tudo bem, Doutor. Você fez sua escolha. Posso não passar por cima da sua posição, mas  tenho o poder necessário para destitui-lo do cargo de diretor chefe agora mesmo. Doutor Robert Teller é o novo responsável.
– Isso é a merda de um grande equívoco! – protestou John. A equipe estava paralisada em perplexidade.
Robert Teller, um mexicano presunçoso já estava a disposição do mais alto general americano. Mal podia conter seu riso cínico enquanto colocava-se diante do painel controlador.
– Aumente a concentração em 90%, Doutor Teller. Estamos atrasados – Pressionou o general.
Laurie parecia consternada a ponto de implodir. Jonathan a tranquilizou segurando sua mão.
– Aumentando atividade reacional à 30% – proclamou Robert Teller.
– Por Deus, Teller! Não conhecemos as condições máximas de condensação da turbina. – Interpelou John em um última tentativa de desespero. Tarde demais. O aumento bruto de concentração nunca havia sido testado em tamanha frequência e os novos relatórios apontavam irregularidades internas de pressão comprometedoras.
– Código 15, oxigênio em consumação total. Nível crítico na temperatura interna. – Relatou com preocupação um operador.
O comitê de supervisão já estava em pé, prestes a sair da sala quando Robert Teller começou a girar as chaves principais e auxiliares freneticamente.
– Concentração de Urânio -235 à 50, 60… 70% aumentando! – Berrou um auxiliar em pânico.
– Abortar procedimento de concentração, abortar procedimento. Código 13. Evacuação… – Teller estava fora de si.
As turbinas do reator pareciam descontrolada, gerando leves tremores nas instalações do prédio. Os sinalizadores clamavam por urgência. Os oficias já estavam bem longe e apenas parte da equipe permaneceu na sala de controle. Jonathan reassumiu enquanto Teller patinava pelos corredores de emergência. Laurie, ao telefone interno, pedia a evacuação total da Usina Manhattan. Nenhum controle parecia conter os índices de concentração que permaneciam aumentando.
– 83%, John! Temos uma bomba nuclear em curso – anunciou Laurie apavorada.
John não teve muito tempo para decidir o que faria a seguir. Ordenou aos gritos:
– TODOS FORA DAQUI, AGORA. – Empurrava seus colegas para fora.
– John, vamos sair daqui. O que é que você pode fazer? Venha conosco. – Laurie acrescentou aos prantos.
– Laurie, eu te amo como nunca amei alguém na minha vida. Mas você tem que sair. Só temos uma chance. Vou desligar a chave central e isso vai ocasionar uma implosão cinética pro núcleo de segurança. Você precisa sair agora. – Manifestou John em tom confiante. E assim o fez. Trancou-se na sala de controle enquanto encarava Laurie pela última vez. Voltou ao trabalho. Sentia cada  milésimo de segundo pulsar em sua já condenada existência. 89%, John puxou a trava manual de segurança, uma implosão em série originou o colapso do reator nuclear que foi tomado pelo alto grau de calor. Em quatro milésimo de segundo depois, Jonathan Osterman estava completamente desintegrado. Comprimia a palma da mão no vidro quente da explosão, como se de encontro a uma barreira espiritual, esfaqueado pelo mesmo vertiginoso, bem intencionado e doído senso de exclusão o teria torturado, caso estivesse morto. Mas espera, eu não estou?


Continua.

 


Notas Finais


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