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História Drawn in My Life - O nascimento da vilã


Escrita por: ErzaScarlet_FT e JubsAZ

Notas do Autor


Oiie gente, tudo bem com vocês?
Depois de bastante tempo estou aqui kkkk
Queria me desculpar, não vou entrar em muitos detalhes, mas 2017 foi um ano bem difícil e eu acebei entrando em depressão, nada mais fazia sentido, e eu deixei de fazer até o que eu gostava.
Felizmente, já estou me recuperando, foram longos anos...
Eu nem pretendia mais continuar, mas hoje encontrei o arquivo no word e percebi que isso é algo que eu amo e não faria sentido não terminar (faltam apenas mais 2 cap). Para vocês terem uma noção, esse capítulo já estava escrito desde 2017 e eu não tinha postado. Espero que me perdoem.
Talvez muitos ainda não acompanhem mais, porém obrigada por todos os comentários.
Atualizando para quem não lembra: Nos capítulos anteriores, Hera foi presa graças a armadilha de Annabeth, Atena, Zeus, Poseidon, Hefesto, Hermes, Afrodite e Hades foram até o Alasca tentar encontrar pistas, pois a mãe da Hazel sabia quem ela era, nessa viagem Atena foi sequestrada e Annabeth juntou as peças e descobriu quem era a chefe.
O capítulo de hoje será narrado pela Hera e finalmente esclarecerá tudo.
Notas: o que estiver em itálico e negrito, é o que aconteceu no passado.
Esse capítulo contém cenas que podem ser consideradas perturbadoras.
Em caso de violência doméstica e assédio não se cale, denuncie!
Boa leitura.
Espero que gostem!

Capítulo 49 - O nascimento da vilã


Fanfic / Fanfiction Drawn in My Life - O nascimento da vilã

Quando você sentir o meu calor
Olhe nos meus olhos
É onde meus demônios se escondem
É onde meus demônios se escondem
Não se aproxime muito
É escuro aqui dentro

(Demons – Imagine Dragons)

 

 

- Hera

 

Continuei sentada no chão, observando o teto. Aquela prisão era horrível, eu sempre pensei que ser presa fosse algo ruim, mas não imaginei que era tanto. Não acredito que aquelas crianças estúpidas conseguiram.  O pior, era ter que observar as duas mulheres que estavam ao meu lado. O uniforme delas era diferente do meu, pois eu ainda não fui julgada, mas eu serei condenada de qualquer forma.

Eu estava sentada no chão há algumas horas e ignorava o olhar das duas detentas caírem sobre mim. O cheiro de urina estava forte, fazendo o meu nariz doer. Se eu me concentrasse, conseguia ouvir a gritaria das outras celas. A voz delas vibrava nas paredes, atormentando ainda mais a minha mente.

Sem perceber, meus olhos se fecharam aos poucos. Toda a minha raiva, despertou lembranças e pensamentos angustiantes. Eu queria sair, mas como? Inconscientemente, comecei a relembrar todos os motivos que me trouxeram até aqui.

As pessoas sentem medo o tempo todo. Medo da morte, medo da reprovação dos pais, medo de não serem aceitos ou medo de serem castigados. Esse medo, é o sentimento mais poderoso de todos, é o que destrói ou transforma as pessoas. Essa sensação de pavor, me fez cometer o maior erro, alimentar os meus próprios demônios. E quando isso ocorreu, eu descobri que o inferno realmente existia, e ele estava na minha mente.

 

 

 Apesar do sol, a claridade não entrava no meu quarto e eu ainda tremia de frio, mesmo que fosse um dia quente. Talvez a angústia e o receio afloravam os meus sentimentos, bagunçando as minhas sensações. Observei o espelho que ficava ao lado da cama, observando o meu corpo, bastante desenvolvido para uma criança de doze anos, enquanto tentava ignorar o barulho que vinha da sala.

A culpa é sua! – A voz da minha mãe ecoava pelo o quarto, mesmo que eu não quisesse escutar.

Não ouse gritar comigo, sua puta incompetente. – Aquela foi a gota d’água. Prometi para mim, que aquela seria a última vez que o meu padrasto gritaria com ela.

Com aquela súbita coragem, cerrei o punho após abrir a porta do quarto, abrindo-a para um corredor estreito. Enquanto andava até a sala, a discussão aumentou.

Incompetente? Por começar a trabalhar para sustentar a minha filha? Você não faz nada em casa e eu sou a incompetente? – Minha mãe levantou a voz para ele pela primeira vez. — Eu estou cansada dos seus surtos. Eu mereço respeito e não ser gritada. – Meu padrasto riu.

Cale a porra da sua boca! – Gritou mais uma vez, apontando o dedo indicador para a face dela.

Não! – Minha mãe segurou o seu braço e afastou o seu dedo.

O QUE VOCÊ FEZ? –  A raiva o dominou. Quando vi o que estava prestes a acontecer, corri. Mas não fui rápida o suficiente. Apenas o vi empurrar a minha mãe, que cambaleou para trás, sem ter tempo para se defender dos três murros que levou logo em seguida.

PARE! – Me joguei na frente dela, ignorando todo o medo que sentia do meu padrasto. Eu não permitiria que ele continuasse a bater na minha mãe e a me abusar. Naquele momento tudo acabaria.

Você não deveria estar na cama? – Ele riu com desdém. — Ou sentiu a minha falta. – Me lançou aquele sorriso que eu aprendi a odiar. Ainda com as pernas trêmulas, tentei recuar quando ele se aproximava de mim. Cuspi em sua cara quando senti suas mãos levantarem a minha saia, mas ele apenas riu. Olhei para trás e vi que minha mãe não estava mais ali. Suspirei, ela sempre virava as costas quando isso acontecia.

Eu tenho nojo de você. – Gritei e afastei a sua mão. As lágrimas já desciam, mas eu prometi que dessa vez eu não teria medo.

Acho que podemos ir mais além dessa vez, para você mudar de ideia. – Ele me encarou, falando com a sua voz asquerosa. Gritei novamente ao sentir o meu corpo sendo jogado contra a parede. E então o medo voltou. Ele já tinha me abusado várias vezes, mas nunca chegara a concluir o ato.

Apenas fechei os olhos e chorei quando constatei que não teria força o suficiente para me livrar dele. Mas então, eu não senti mais o peso do seu corpo. Pelo o contrário, suas mãos foram soltando a minha cintura e eu escutei o barulho do seu corpo caindo no chão. Abri o olho, e me arrependi disso. A minha frente, o meu padrasto estava caído no chão, agonizando com a mão em seu pescoço, que estava sagrando.

Em frente ao chão ensanguentado, a minha mãe segurava uma faca. Comecei a tremer, totalmente sem reação. Ela me encarou com o seu rosto anêmico e o olhar distante, mas ainda esboçou um sorriso.

Ninguém nunca mais encostará em você. – Ela me olhou por mais alguns segundos depois de falar e então levantou a faca. A princípio não entendi, mas então tudo aconteceu muito rápido. Não tive tempo de agir, ela apenas cravou a faca em sua barriga e caiu no chão. Abri a boca, mas o som não saiu. Soltei apenas um grunhido e minhas pernas fraquejaram, me fazendo cair em cima dela. As lágrimas escorriam pela minha bochecha e pingavam na minha mão, que estava em cima da sua barriga. Ao olhar para baixo eu vi o sangue. Aquela coloração chamou a minha atenção e aquela foi a primeira vez que eu vi tanto sangue na minha vida e eu nunca esqueceria aquela imagem.

Ninguém nunca mais encostará em mim. – Prometi em voz alta.

 

 

Aquelas lembranças me causaram dor no estômago, mas eu não chorei. O tempo me fez aprender a controlar as minhas emoções. Aquela fora a minha primeira traição. E a minha mãe a cometeu. Ela me traiu quando não impediu o meu padrasto nas diversas vezes que ele entrava no meu quarto, e me traiu também quando me abandonou.

Tive que ir morar com uma tia depois disso, mas foi como estar sozinha. Ela vivia trabalhando e quando chegava, se trancava em seu quarto. Eu aprendi a viver isolada do resto das pessoas. Nem imaginava que isso iria continuar se repetindo durante muito tempo...

Aos dezesseis conheci um homem, não foi uma história romântica, pelo o contrário. Eu estava em uma festa para tentar esquecer a minha miserável vida, quando o encontrei. Talvez eu já estivesse bêbada o suficiente para perder a minha virgindade com um cara desconhecido, só não imaginava as consequências que aquilo me traria.

Quando descobri que estava grávida, tentei localizá-lo, mas foi em vão. De qualquer maneira eu não queria aquele filho, mas não tive coragem de abortar. Nove meses depois a criança veio ao mundo, apesar do desgosto, minha tia apoiou a minha decisão. Eu nunca quis ter filho e aquela criança nasceu doente, com o rosto de formado. Eu jamais teria como dar uma boa vida para ele.

Eu decidi abandoná-lo. Assim que cheguei em casa, o enrolei com um lençol. Minha enquanto estava no hospital, subornou uma enfermeira para não colocar o meu nome na ficha do nascimento da criança, seria como se eu nunca tivesse entrado naquele maldito hospital.

 

Você realmente vai fazer isso? – Minha tia perguntou enquanto eu encarava a criança em meu braço. Talvez ela tivesse algum problema genético, o que explicaria o fato do seu rosto ser tão feio e estranho, mas eu não quis perguntar aos médicos. Não queria ligação nenhuma com aquela criança.

Sim. Pegue-o e entregue para algum orfanato. Diga que o encontrou em frente a um prédio, como se a criança tivesse sido jogada da janela. Se um dia ele descobrir quem eu sou, não irá querer ter nenhum contato com uma mulher que ele acha tentou mata-lo e isso será bom. Agora saia da minha frente e não conte a ninguém. – Falei sem olhar para ela.

 

Minha tia me lançou um olhar julgador, antes de pegar a criança que estava nos meus braços. Antes que ela levasse eu peguei uma caneta e risquei o seu braço pequeno.

 

“Hefesto”

 

Acho que ele tem pelo menos direito a um nome. Quando terminei, fiz sinal um sinal com a cabeça para minha tia e ela apenas suspirou, virando as costas me deixando sozinha na sala enquanto a observava levar o filho que jamais irei conhecer.

Assim que me certifiquei que estava sozinha, me sentei no chão e abracei minhas pernas, sentindo as lágrimas descerem pela minha bochecha.

Sinto muito, Hefesto. Você precisa de alguém melhor que eu.

 

Reviver momentos antigos é uma experiência divertida, não sinto mais tristeza, apenas raiva. Raiva de todos aqueles que mentiram e me abandonaram, raiva da pessoa que eles fizeram eu me tornar.

Não sinto nada ao lembrar de Hefesto. Naquela época eu realmente senti remorso, mas hoje não sinto. Eu passei tanto tempo tentando bloquear minhas emoções, que acabei deixando de senti-las.

Há apenas um sentimento bom que eu não consegui bloquear: O meu amor por Zeus. E eu me odeio por isso.

 

Por que eu tenho que fazer isso? Já é estranho o meu pai biológico só ter aparecido agora que eu tenho vinte anos. – Encarei o homem que recentemente descobri que era o meu pai. — Casamento arranjado? Em que século estamos, dezenove?

Minha querida, ninguém se casa por amor. Eu sou dono de uma grande empresa e Cronos é um dos homens mais ricos dos Estados Unidos. Se unirmos as nossas empresas será incrível, mas eu sei que ele só seria meu sócio se tivesse um incentivo maior. – Me explicou impaciente. — Apenas venha na festa de hoje à noite. Quem sabe ele não vale a pena?

Ok, eu vou. – Cansei de discutir. — Mas eu garanto que não me casarei com... Como é o nome dele mesmo?

Zeus. – Respondeu.

(...)

Segurei a taça em minha mão, dando alguns goles naquele Champagne que nem era tão bom assim. Festa de gente rica é sempre chata. Todas aquelas pessoas com roupas formais e conversas chatas estavam me entediando. Olhei para frente e vi um homem parado perto da piscina. Ele me chamou atenção por não estar de terno. Pelo contrário, estava de calça jeans e uma camisa básica. Algumas pessoas lançavam olhares de reprovação, mas eu gostei da sua atitude ousada.

Seu cabelo preto estava bagunçado e quando ele levantou a cabeça, me surpreendi. Ele não era extremamente bonito, mas com certeza chamava atenção. Seus olhos azuis eram penetrantes e quando me encarou, senti que ele seria capaz de descobrir todos os meus segredos. A sua postura era séria, apesar da roupa. Ele parecia ser um líder nato.

Aí está você, venha! – Meu pai me puxou, quase me irritei por ter que parar de olhar para aquele homem, no entanto, senti uma aflição ao perceber que o meu pai estava me levando na direção dele.

Deuses.

Hera, esse é Zeus.

Não acredito em amor à primeira vista, mas aquele homem me despertou alguma sensação nova. Minha consciência me dizia para eu correr, mas o meu corpo não quis obedecer.

 

Como eu queria ter obedecido a minha consciência. Ri secamente ao lembrar do momento em que conheci Zeus, fazendo as minhas companheiras de cela me encararem. Eu não me importei. Eu estava rindo, porque no momento em que eu conheci Zeus, eu conheci também a minha destruição.

 

Como assim vai sair? – Indaguei. — É a nossa noite de núpcias.

Hera. – Ele riu. — O nosso casamento não é de verdade, o que você esperava?

Mas antes... – Tentei argumentar.

Antes eu precisava atuar de maneira convincente. Eu queria que o meu pai fechasse negócio com o seu e agora que isso aconteceu, não preciso mais fingir que sinto alguma coisa por você. – Aquelas palavras me atingiram de uma maneira que não sou capaz de explicar.

Por que você queria tanto que o meu pai fechasse esse negócio já que você não queria casar comigo?

Por nada... – Encolheu os ombros.

Você realmente acha que eu sou burra? – Foi a minha vez de atacar. Eu sabia que eu era descartável para ele, mas não deixaria ele se livrar de mim tão fácil. Ele provavelmente irá achar que eu sou louca, mas adivinhe? Eu sou. — Você acha que eu não percebo as suas ligações para os seus irmãos? Você acha mesmo que eu nunca ouvi o que você sempre cochichava com Poseidon no seu escritório quando eu ia te visitar? Você não presta, Zeus. Você já é rico, para que tentar roubar o meu pai e o pior...Por que roubará o seu próprio pai?

Do que você está falando? Acho que a rejeição realmente enlouqueceu você! – Ele tentou disfarçar, mas deu para ver que eu o tinha assustado.

Eu não sou estúpida, Zeus. Eu sei que meu pai só aceitou o casamento, se dividíssemos tudo caso houvesse separação. O que não seria vantajoso para nenhum de nós dois. Mas agora eu te darei um novo motivo. Se você me deixar, eu contarei tudo. Antes do nosso casamento eu já sabia as suas intenções e acredite, eu tenho como provar.

Você está blefando! – Falou tentando se manter firme.

Você vai arriscar? – Falei ainda mais firme e percebi que as minhas palavras o atingiram. — Eu ficarei calada desde que você continue o casamento e me deixe participar do seu esquema de desvio de dinheiro, porque eu sei que é isso que você vem fazendo. – Ele arregalou os olhos, surpreso. Acho que nunca imaginou que eu iria me oferecer para isso. — Você não presta, Zeus. Mas adivinhe? Eu também não. E no fundo, você sabe que será vantajoso ter a minha ajuda. – Falei. Ele pareceu considerar a minha oferta. Zeus  sabe que com a minha ajuda, tudo será mais fácil. Eu tenho todas as informações valiosas do meu pai. Ele planejava fazer com que eu estivesse tão apaixonada, ao ponto de falar tudo. Agora, será muito mais fácil para ele.

Amanhã conversamos, vou dormir. – Falou caminhando na direção da cama do hotel.

Não vai sair? – Perguntei com um sorriso vitorioso.

Não. – Respondeu sem olhar parra mim. Pobre, Zeus... Não vai ser tão fácil assim se livrar de mim.

O seu celular tocou e ele o tirou do seu bolso. Encarou a tela e sorriu levemente. Ainda que não mostrasse os dentes, ele sorriu. Meu humor mudou. Eu não precisava ser vidente para saber quem mandara aquela mensagem. Eu sabia perfeitamente o motivo desse sorrido. Eu sabia que a mulher que mandou isso, era a mesma que ele se encontrava as escondidas quando namorávamos. Era a única pessoa que o fazia sorrir, eu tinha inveja disso. Eu queria que ele olhasse para mim como ele olhava para ela. Eu queria que ele me amasse, como a amava. Eu sabia que quem mandou a mensagem fora Beryl Grace, a mulher que eu mais odeio.

Se vamos agir como marido e mulher agora, eu também quero a sua fidelidade. Se você continuar se encontrando com essa sujeitinha, eu juro que...

Se você encostar um dedo nela, eu mato você! –  Ele gritou e agarrou o meu braço, me encarando com os seus olhos azuis. Ele parecia ter o poder de me punir pelos os meus pecados e naquele momento eu tive medo, mas não abaixei a cabeça.

Não se eu matar você primeiro. – Ele riu, mas pude que ver que eu tinha o assustado. Ele estava em dúvida se aquilo fora um blefe ou uma ameaça. Eu realmente não seria capaz de fazer isso, mas não queria que ele pensasse que eu era inofensiva.

Boa noite. – Falou e dessa vez realmente se deitou na cama.

Boa noite, meu amor. – Me senti vitoriosa. Ele iria ficar comigo de qualquer jeito. Se não fosse por amor... seria por medo.

 

Meu coração estava acelerado. Era incrível como depois de anos, Zeus ainda tinha o poder de me deixar assim. Depois da minha ameaça, ele começou a me levar para as reuniões. A princípio, estava com o pé atrás, mas eu já sabia de muita coisa, ele não podia correr riscos. Pouco a pouco, eu já estava ao seu lado em todas as reuniões e com o tempo, o que não passava de ideias, começou a acontecer. Desviávamos milhões de todas as vendas das empresas dos nossos pais, que tinham se unificado. Zeus e eu até estávamos bem, mas tudo que é bom... dura pouco.

 

Eu não acredito nisso. Já não basta você ter me traído uma vez e ter tido um filho com aquela vaca, você ainda teve outro.  Você me conta que teve outro filho com ela há dois anos, diz que vai brigar pela guarda deles e quer que eu concorde com isso? – Gritei e já sentia os meus olhos encherem de lágrimas.

Ela está completamente louca! Ela o perdeu e Thalia fugiu de casa. Não posso deixar os meus filhos continuarem com ela. – Ele falou em desespero.

Ela está louca por sua culpa! Ela enlouqueceu pelos remédios que você deu a ela! – Falei com os dentes trincados. Nesse mesmo momento, Zeus agarrou o meu pulso e me empurrou contra a parede, segurando-me com força. — Você está me machucando.

Ela está louca por sua culpa, não minha. Se você não tivesse começado a segui-la e ameaça-la, ela não estaria louca. Os remédios eram calmantes, eu a estava protegendo de você, mas agora ela surtou de vez.  Eu preciso encontrar os meus filhos e trazê-los para cá. – Falou encarando os meus olhos e depois me soltou. Comecei a passar a mão no meu pulso, tentando me livrar da dor.

Então os filhos que você teve com outra mulher virão morar aqui? – Suspirei. — Tudo bem, Zeus. Faça o que quiser. – Dei de ombros e caminhei na direção da porta.

 

Zeus ficou tão concentrado em pegar o celular e ligar para os advogados, que não me viu sair. Assim que passei pela porta, senti a raiva aumentar. O meu rosto estava esquentando, então eu me concentrei em continuar andando.

Assim que cheguei na casa dela, senti vontade de chorar. Deuses, como eu a odiava.

Bati na porta, sem sucesso, então resolvi girar a maçaneta, que para minha surpresa estava aberta. Beryl está tão louca, que provavelmente deve ter se esquecido de fechar porta. Assim que entrei, me deparei com ela sentada no sofá, com o cabelo bagunçado e uma aparência cansada. Sua pele estava mais pálida que o normal e as suas olheiras deixavam os seus olhos azuis assustadores. Ela balançava o corpo para os lados freneticamente enquanto assistia tv.

Meus...meus filhos. Meus... filhos.  – Repetia a mesma palavra várias vezes, enquanto arrancava alguns fios do seu cabelo loiro.

Parece que a sua loucura piorou, querida Beryl Grace. – Falei irônica, a amante do meu marido arregalou os olhos quando me viu e levantou-se.

O quê... – Ela parecia não saber o que falar, como se tivesse perdido totalmente a sanidade.

Você conseguiu. – Ri com desdém. — Você conseguiu perder os próprios filhos, agora com certeza Zeus vai odiá-la e as crianças também. Eu venho aqui lhe dá um último aviso. Parece que as minhas ameaças não foram capazes de manter você longe, então preste atenção no que eu vou falar. – Suspirei enquanto a encarava. — Fique longe do meu marido, ou eu juro pelos Deuses... – Caminhei até ela e segurei o seu braço, forçando-a a olhar em meus olhos. — Que eu mato você.

Você é doente. – Foi a única coisa que ela falou antes de se soltar dos meus braços e sentar novamente no sofá, repetindo o que estava fazendo antes de me ver. Ela parecia não notar mais a minha presença, mas quando eu a encarava, podia ver que estava chorando.

Saí de lá com as mãos trêmulas. Apesar da ameaça e mesmo que eu a odiasse, acho que jamais seria capaz de matar alguém.

Teve um dia ruim, minha querida? – Uma voz falou atrás de mim. Virei para ver quem era e me deparei com uma mulher velha, com aparência assustadora.

Quem é você?

A vida é tão triste. – Ela falou, ignorando a minha pergunta. — Zeus não presta. A família dele também não. Aquele homem estúpido destruiu a minha vida, mas ele vai ter o que merece. Meus dias de vida estão acabando, mas eu já planejei tudo e já deixei uma pessoa responsável. Ela vai se vingar, quando chegar a hora certa.

Você está bêbada ou algo do tipo? – Perguntei assustada.

Meu nome é Gaia e em breve, eu sei que você se juntará a ela.

Desculpe, mas eu não estou interessada. – Falei e me virei. Essa mulher provavelmente deve ser louca. Tentei sair, mas ela segurou o meu braço.

Quando você realmente entender a necessidade disso... – Ela me entregou um cartão que tinha o seu número. — Ligue para mim. – Depois me soltou e foi embora.

Fiquei parada encarando o cartão. Essa conversa não fez o menor sentido para mim. Quem é essa mulher e por que ela odeia tanto o meu marido a ponto de planejar uma vingança? Ou ela é apenas uma louca que não sabe o que fala? E quem é essa pessoa que ela deixou responsável por tudo?

Resolvi afastar esses pensamentos e guardei o cartão no bolso, isso deve ser bobagem.

 

 

Bobagem? A imagem do meu encontro com Gaia ainda era nítida na minha mente, pena que ela morreu sem que pudéssemos ter muito contato. Mas tudo aconteceu como ela planejou e muitas coisas ainda irão acontecer. Encarei a grade que estava na minha frente, me mantendo presa dentro daquele lugar fedorento. Isso com certeza não fazia parte dos planos, aquela filha de Atena me paga.

Atena... Todo o meu corpo foi tomado por uma onda de raiva. Eu a odiava tanto quanto odiava a Beryl. Ela me traiu como todos os outros, mas a sua traição me machucou porque ela era minha amiga. E além de ficar do lado deles, me abandonou no pior dia da minha vida...

 

 

Eu encarava Jason enquanto dormia. Eu não conseguia odiá-lo. Seu cabelo era loiro como o da sua mãe, mas ainda assim ele se parecia mais com o pai. Diferente de Thalia, que apesar de ter o cabelo, a postura e os olhos do pai, parecia muito com a sua mãe. Ele era diferente, me fazia acreditar que realmente podíamos ser uma família.

Meu herói...

Tire as suas mãos do meu irmão. – A voz irritante de Thalia Grace ecoou pelo quarto.

Nós somos uma família agora, esqueceu? – Debochei. Thalia riu sem mostrar os dentes e me mostrou o dedo do meio.

Um pai ausente. Dois filhos de outra mulher e uma louca, realmente somos uma bela família.

Cale a sua boca. Não ouse levantar a voz para mim. – Fui na sua direção, eu estava com tanta raiva que bati em sua face. Me arrependi totalmente. Aquela garota me tirava tanto do sério, que as vezes eu esquecia que era só uma criança.

O seu rosto ficou marcado, mas ela não chorou. Pelo contrário. Levou a mão até o local e sorriu, me encarando com aqueles olhos me lançando o mesmo olhar de pena que Zeus me lançava as vezes.

Acho que a louca da minha mãe tinha razão em uma coisa. Você é o ser mais desprezível que existe. – Ela cuspiu no meu braço e saiu do quarto.

Desci as escadas e fui atrás dela.

Estou indo trabalhar. – Falei quando a encontrei. — Se precisar de qualquer coisa, fale com as empregadas.

Não precisa fingir que se importa. – Thalia revirou os olhos.

Não respondi.

(...)

Entrei na empresa e fui surpreendida pela secretária.

Zeus a espera na sala de reuniões. 

Apenas balancei em confirmação e fui ao seu encontro, imaginando o que ele iria me dizer. Assim que cheguei, vi que a sala já estava aberta. Zeus estava em pé, Poseidon e Hades estavam sentados conversando com uma mulher que eu não sabia quem era.

Olá... – Falei assim que entrei chamando a atenção de todos.

Sente-se. – Zeus falou rapidamente apontando para uma cadeira que estava ao lado de Poseidon, de frente para a tal mulher.

Essa é Atena.

 

Minha amizade com Atena floresceu desde aquele primeiro encontro, nós passávamos dias conversando e sorrindo. Eu fiquei contente porque dentro de todo o caos que era a minha mente, eu finalmente encontrei uma amiga que eu confiava. Eu dividia todas as minhas dores com ela e contei os detalhes mais absurdos que já haviam acontecido comigo.

Eu a apoiei quando ela se apaixonou por Poseidon, mesmo ambos tendo uma família construída. E permaneci ao seu lado quando ele partiu o seu coração e ela começou a odiá-lo. Tudo estava indo bem, mas em um dia tudo mudou.

Atena foi a traição que mais me magoou e foi o estopim, graças a ela, hoje eu só penso em vingança...

 

 

Atena e eu andávamos juntas após tomarmos um café.  A rua estava fria, estava um pouco escuro, porém nos divertíamos tanto que nem ligávamos. Ela era inteligente e organizada, possuía uma grande sabedoria e me dava os melhores conselhos. Eu não poderia imaginar minha vida sem a minha melhor amiga.

Um barulho me tirou completamente dos meus pensamentos, quando eu olhei para trás, vi que dois homens estranhos nos seguiam.

Tudo aconteceu muito rápido.

Eu puxei Atena e disse que estávamos sendo seguidas, nós corremos e eles vieram atrás. Senti o tremor nas pernas quando um deles me segurou por trás e o outro segurou a minha amiga. Naquela hora, eu comecei a lembrar do meu padrasto e de todas as vezes que ele me abusou. Senti o medo, a raiva, a tristeza e angústia me dominar. Eu gritava, tentava me soltar e chorava. Tudo em vão.

Não... — Tentei falar, mas a minha voz não saía.

Atena era uma estrategista nata, enquanto o homem que a segurava olhou para mim, ela jogou a cabeça para trás acertando o seu nariz em cheio. Ele a soltou e pegou no seu nariz que sangrava. Ele estava furioso, mas a essa altura ela já tinha pegado uma pedra e o ameaçava.

 

Deixe-a. Nós já temos a que precisamos. — Olhei confusa para eles e apenas a vi correndo. Eu gritei por ela, sem acreditar que ela me deixaria sozinha. Eu imaginei que ela chamaria ajuda, mas a ajuda nunca chegou.

Ela foi embora e me deixou sozinha e o que aconteceu em seguida, foi pior que a morte.

 

Acordei em uma calçada na mesma rua, provavelmente desmaiei. Eu estava com dor de cabeça e com a roupa rasgada. Levantei com medo. Olhei ao redor e vi que ainda estava sozinha. Peguei no meu bolso e não senti meu celular.

A empresa de Zeus era longe dali, mas eu fui andando sem conseguir pensar em nada. A essa altura eu apenas chorava e tentava esquecer o que aconteceu. Eu precisava de ajuda. Zeus poderia me odiar, mas não admitiria isso. Ele iria matar aqueles homens.

 

Tudo estava apagado, imaginei que apenas ele estaria trabalhando. Afinal, Zeus sempre fica até tarde. Apenas o segurança estava na frente e me deixou entrar ao me reconhecer, ele me perguntou se eu estava bem, mas eu apenas o ignorei e entrei.

Adentrei o elevador e passei os segundos mais lentos da minha vida. O que eu iria fazer agora?

As portas se abriram e me tiraram dos meus pensamentos. Assim que eu saí do elevador, vi que a porta da sala dele estava entreaberta. Eu estava quase entrando quando ouvi uma voz que me fez parar.

 

Você a deixou sozinha como eu pedi?

Com quem ele estava falando?

Sim. Você prometeu que aqueles homens não fariam nada de verdade com ela. — Era a voz de Atena.

Mas fizeram! Senti raiva e ânsia de vomito enquanto ouvia aquela conversa.

É claro que não, eu apenas queria assustá-la. Pedi para eles forjarem um assalto, assim ela ficaria debilitada e passaria uns dias atordoada e aí não iria perceber nada. — Meu marido falou rápido e eu fiquei tentando processar tudo o que eu estava ouvindo.

Já fiz a denúncia e mandei as provas, a essa hora a polícia já está investigando e o pai dela está ciente. Eu gostava muito dela, mas se ela realmente estava desviando dinheiro, a justiça deve ser feita. Nada além da justiça!

Você fez bem. Seu senso de justiça é enorme, em breve essa criminosa estará atrás das grades e meu pai e meu sogro não serão mais enganados.

CRIMINOSA? — Eu empurrei a porta e entrei gritando. Eles deram um salto devido ao susto repentino. — Você comandava tudo...

Hera, não adianta mentir. Zeus me contou tudo e afirmou que você tentaria jogar a culpa para outra pessoa, mas acabou. Eu gostava tanto de você, Hera. Mas corrupção é algo que eu não tolero. Era você que mandava os emails, conversava com os seus contatatos, era na sua conta que o dinheiro sujo entrava... O seu pai não vai deixar que te prendam, você sabe. Ele não prestaria queixa, mas a afastaria de tudo dele e tiraria o seu nome do testamento e você provavelmente não iria mais morar com ele, mas o pior de tudo, vai ser a decepção que ele sentirá por você... —As palavras dela me atingiram em cheio.

Então eu entendi tudo. Zeus foi mais esperto, ele me deixou participar e tomar a frente, mas ele planejava na verdade que eu assumisse toda a culpa, assim os nossos pais confiariam nele por ter alertado o esquema e ele continuaria fazendo tudo às escondidas. Ele usou a inteligência e o senso de justiça de Atena para me pegar e eu caí no jogo.

Eu gritei. Chorei. Falei que roubei sim, mas ele estava por trás de tudo. Então respirei fundo e as lágrimas pararam de cair. O ódio me dominava.

Eu saí correndo dali e ninguém me impediu. Eu estava revoltada e perdida. Meu coração estava acelerado e eu só pensava em matar todos eles. Eles mentiram, me enganaram. Eu fiz tudo por Zeus e ele me descartou como uma carta de baralho.

Eu estava correndo na rua sem me importar mais com nada, minha mente só pensava em vingança.

Eu parei a corrida e me lembrei do encontro estranho que tive com aquela mulher chamada Gaia. Eu olhava tanto para aquele cartão com o número dela tentando entender o que era aquilo, se eu deveria me preocupar ou não, que até decorei.

Ela disse que iria entender a necessidade disso e agora eu entendo. Ela falou que Zeus acabou com a vida dela, bem ele acabou com a minha também. Eu o amava, mas a essa altura isso não importava mais. Eu queria que todos eles pagassem, até mesmo o homem que eu acreditei ser o amor da minha vida.

Fui até o telefone público mais perto dali e digitei o número. A mulher que atendeu tinha uma voz diferente.

Eu queria falar com a... Gaia. Meu nome é Hera. — Falei com receio, isso era uma loucura talvez aquela mulher fosse apenas uma louca.

Ela morreu, mas eu estou no comando agora. Diga aonde você estar e eu irei te encontrar...

 

(...)

 

Uma mão me tocou e eu pulei nervosa, lembrando do que havia acontecido mais cedo. Olhei para trás e vi uma mulher loira assustadora, ela tinha o olhar vazio. A loira me olhava de cima a baixo.

Que pena que você esperou chegar a esse ponto... Mas não se preocupe, em breve eles se arrependerão. Gaia e eu preparamos essa vingança há muito tempo. Meu pai morreu por culpa dele. Vai ser algo demorado, mas eles irão pagar.

Eu não estava entendendo nada da conversa, mas o seu olhar me convenceu. Nesse momento eu nem me importava mais, agarraria qualquer oportunidade de vingança.

A maior fraqueza dos pais são os filhos. — Ela continuou. — E nós vamos atrás deles.

— Quem é você? - Perguntei receosa.

May Castellan.

 

Me lembrar do meu encontro com a chef ainda me causa arrepios. Depois desse dia nós passamos a nos encontrar várias vezes e sonhávamos com a nossa vingança. Nós planejamos forjar a morte dela e do seu filho, assim ela agiria por trás sem suspeitas e as pessoas só conheceriam a mim. Quando o filho dela finalmente descobrir quem ela é, com toda certeza ficará do nosso lado. O seu marido, Hermes também faz parte da equipe. Nós sonhávamos com o dia que todos os nossos inimigos iriam se reunir, ele fingiria estar do lado dele e então executaria a parte final do plano: sequestrar Atena.

Pobres crianças, mal sabem eles que família e a morte não é algo tão confiável...

Levantei a cabeça e quase tive um susto, ela estava na minha frente, como se tivesse saído dos meus pensamentos e se materializasse ali. Eu ia perguntar como ela entrou, mas lembrei que May possui muitos contatos. Levantei para encarar a loira que estava atrás das grades.

 

— Nós estamos com Atena, o plano deu certo apesar da sua incompetência em cair nas armadilhas de uma adolescente. — Ela sorriu secamente enquanto falava. — Agora eles vão atrás de mim e a essa altura, se a filha de Atena for esperta o bastante para juntar as peças, ela vai saber quem eu sou. Tudo saiu como o planejado, eles irão atrás de mim, Luke ficará do meu lado e nós vamos matar os pais dele.

Eu sorri, o meu momento finalmente chegou. Eu iria ver o sofrimento deles. Eu mesma iria matar a vaca da Atena.

— E quando você vai me tirar daqui? — Perguntei e ela riu em resposta. Arqueei a sobrancelha sem entender.

— Bem, você se mostrou incompetente e eu estou decepcionada. Você fez um bom serviço, mas agora eu não preciso mais de você.

Olhei confusa e ri, aquilo só podia ser brincadeira, mas ela permanecia séria. Ela fez um sinal com a mão e as duas detentas que dividem a cela comigo vieram na minha direção.

— O que está acontecendo? Vocês a conhecem? — Perguntei e dei passou para trás, receosa.

Uma das mulheres puxou uma faca e eu arregalei os olhos. Aquilo não podia estar acontecendo, eu comecei a gritar, mas os guardas dali fingiam não ouvir, todos eram aliados de May.

— Adeus, Hera. Está na hora deles conhecerem May Castellan e coitados deles, porque se você é um demônio, eu sou o próprio inferno.

Derramei lágrimas enquanto a observei ir embora. Aquela mulher virou e tudo ficou em camera lenta. Eu caí no chão depois que ela cortou a minha garganta e eu sangue espirrou, minha respiração ficou lenta. Eu apenas ouvia um zumbido e sentia o sangue sair pela boca, a dor era horrível. Minha visão começou a escurecer...

Então é assim que a minha história acaba. Começou com traiçao e acabou com uma pior ainda...


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
Até a próxima!
E aí? Acertaram quem era a chefe?
Para quem acompanha a outra fic, em breve estarei atualizando também.
Um beijo!


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