A noite passou se arrastando.
Justin dormia com uma expressão tranquila, apoiado na parede. Minha cabeça estava apoiada em sua perna, e o resto do meu corpo estava no colchão duro.
A sala estava fria e escura, e eu tinha calafrios a cada minuto.
Não consigo aceitar o que aconteceu horas atrás. Aquela garota sorridente, que sempre foi bondosa comigo, era uma traidora.
Ela estava fingindo.
Estar usando o vestido dela nesse momento me dava tanto nojo que nem poderia descrever.
Não importa o que aconteça com nós dois, só desejo que Chaz descubra quem ela é e faça algo a respeito.
Ou melhor, de a ela o que ela merece.
-Brooke? -Ouvi Justin sussurrar. -Você está acordada?
-Sim. -Falei, o mais baixo que consegui, e senti Justin se mexer levemente.
-Chaz não vai parar até nos achar. -Ele falou, tentando passar confiança, mas sentia o medo em sua voz.
Ele está tão diferente.
Ele sempre estava com aquela armadura de durão e bad boy, mas agora eu sentia que ele era apenas ele.
-Volte a dormir. -Falei, me arrumando em suas pernas.
Por uma breve momento ele colocou uma de suas mãos em meu cabelo, mas logo a retirou.
...
Quando acordei a luz do sol iluminava o cômodo, passando por uma pequena e alta janela.
Justin ainda dormia tranquilamente.
Dei um pulo, me sentando rapidamente quando a porta foi aberta com violência. Justin também acordou, parecendo alarmado.
-Bom dia, pombinhos. Como está meu casal preferido? -Perguntou o homem, entrando na sala com tranquilidade.
Ao menos Kylie não estava com ele desta vez, por que eu sentia ainda mais vontade de matar ela do que ele.
-Hoje a mocinha vai dar uma volta comigo. -O homem disse, se aproximando de mim.
Justin ficou de pé ao meu lado, encarando o homem.
Logo mais quatro homens enormes entraram na sala, segurando Justin, enquanto o homem me levava pelos cabelos para fora do quarto.
...
Já ouviu que tudo que está ruim pode ficar pior?
Estava sentada em uma sala ministra e completamente escura. Nem um sinal de luz.
Me esforçava para não surtar, mas estava sendo muito difícil.
Não saberia dizer a quanto tempo eu estava ali. Não ouvia um som sequer a muitas horas.
Só me pergunto o que eu fiz para merecer isso.
Meus olhos estavam fechados com força quando ouvi uma voz, me fazendo dar um pulo.
A porta agora estava aberta, e o mesmo homem de sempre me encarava.
-Tenho uma visitinha mais que especial para você. -Falou, me puxando pelos braços com brutalidade.
Fiquei de pé, bufando com raiva enquanto ele me arrastava pelo longo corredor cinza.
Chegamos em uma sala, a última. Ele abriu a porta, me jogando em uma cadeira de ferro dura.
-Mas que porra! -Gritei, tentando me levantar e socar ele, mas fui emburrada de volta com ainda mais brutalidade.
Ele segurou meu rosto com força, me obrigando a encara-lo.
-Se você se mover, e te amarro com ferro quente nessa porra de cadeira, querida.
O homem se afastou de mim, saindo pela porta, a batendo com força.
Não tive coragem de me mover.
Por que ele tem tanta raiva de mim? Por causa do meu pai?
Uma traição que aconteceu a muitos anos seria o suficiente para ele alimentar todo esse ódio? Ainda mais depois de ter matado meu pai e o pai de Justin?
Depois de alguns minutos o homem voltou, e alguém, cujo rosto não conseguia ver, estava atras dele.
Desta vez o homem esboçava um sorriso debochado no rosto.
-Se comportando, querida? -Falou, sem se mover.
Fiquei em silêncio, o encarando diretamente nos olhos.
Ele deu apenas dois passos, ficando próximo a mim, acertando um tapa estalado na minha bochecha esquerda.
-Isso é por não me responder. -Falou, e eu senti meu rosto arder.
Com certeza ficaria roxo.
Tive que usar todas as minhas forças para ficar imóvel, e não pular no pescoço desse desgraçado.
-Bem, querida, te trouxe uma surpresa. Afinal, que garota não gostaria de rever o príncipe que tirou sua virgindade? -Falou, em um tom sarcástico.
Senti meu corpo todo gelar quando ele se moveu, me deixando ver o rosto do homem que estava atras dele.
Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto as lembranças vinham na minha cabeça, mas eu não derramei nenhuma.
O cara que tinha me estuprado em Londres, no verão do último ano, me encarou, sorrindo sarcasticamente.
Esse desgracado foi quem mandou esse homem me estuprar.
Ele é o culpado de tudo.
Enquanto o homem se aproximava, várias cenas vinham na minha cabeça.
Desde o estupro, até o terrível ano que se passou depois dele.
Como eu tremia cada vez que algum cara encostasse em mim. Como as lembranças voltavam, como eu bebia e cheirava cocaína desesperadamente para afastá-las.
-Não diga para ele que os outros que vieram depois foram melhores, ele vai ficar muito bravo. -O homem disse, e eu o encarei com toda a raiva que eu sentia.
Nunca mais tive nada com ninguém, e não acho que jamais vou ter.
-Ela está quieta demais, não acha? -O cara perguntou para o homem, que concordou com a cabeça.
-Hoje não, vamos com calma nessa tortura. O melhor ficará para o final. -Falou, dando um sorriso diabólico.
Não, mil vezes não.
Eu prefiro ser torturada, prefiro morrer, prefiro passar por qualquer coisa do que por aquilo de novo.
O homem me pegou pelo braço, me levantando e me arrastando de volta para a sala em que Justin estava.
Assim que abriu a porta ele me empurrou, saindo e nos trancando novamente.
Justin se levantou do outro lado da sala. As marcas em seu rosto e corpo ficavam ainda piores e mais evidentes durante o dia.
-Brooke, está tudo bem? -Ele falou, se aproximando e correndo seus olhos por mim, verificando se eu estava machucada.
Concordei com a cabeça, mordendo meu labio com força, mas logo comecei a chorar.
E não era um choro qualquer.
Eu desabei, de joelhos no chão, e chorei como nunca tinha feito antes, pior que um bebê.
Justin ficou alguns segundo parado na minha frente, mas logo se abaixou e me abraçou.
Enterrei meu rosto em seu pescoço, soluçando, e ele me abraçou com força.
-Eles fizeram alguma coisa com você? -Perguntou.
-Não... Quero dizer, mais ou menos. -Falei, tentando me controlar. Eu nunca tinha contado o que tinha acontecido para ninguém, ninguém mesmo.
Eu estava em um racha, e seria presa se prestasse depoimento sobre o estupro. E seria um escândalo enorme parabéns minha mãe.
Tirei meu rosto do pescoço de Justin, me afastando para encara-lo.
-Aconteceu alguma coisa, você está péssima... -Ele falou, me fazendo rir.
Fiquei séria, fazendo Justin levantar uma sobrancelha e me encarar.
-Eu nunca... Contei isso para ninguém. -Falei. Eu precisava contar para ele. -Eu fui estuprada. O cara que me estuprou está aqui.
Encarei ele nos olhos, e não consegui decifrar sua expressão. Parecia uma mistura de ódio com pena.
Ele me abraçou, e eu me senti segura, como não me sentia a muito tempo.
-Quando nós sairmos daqui vamos atrás desse desgracado e mataremos ele da pior forma possível. -Ele disse, me fazendo rir.
Me soltei dele, e ele sorriu para mim.
Deus, ele é tão bonito. Mesmo com rosto machucado, ele continua lindo.
Ele está tão... Diferente.
-Por que você está assim? -Falei, e ele arqueou uma sobrancelha.
-Assim como? -Perguntei.
-Sei lá... Sem ser um babaca. -Falei, e ele fez uma cara de ofendido.
-Quando alguma pessoa prova que se importa comigo, eu não deixo mais ela sair do meu lado. -Falou. -Além disso, Brooklyn Fields, a senhorita é uma gatinha.
Eu estou rindo em um cativeiro, com um Justin Bieber legal e gentil, que disse que não vai mais me deixar sair do seu lado, e que eu sou uma gatinha.
Me inclinei para a frente, sem acreditar no que eu estava fazendo.
Colei meus lábios com os de Justin devagar, e ele levou sua mão até minha nuca, me puxando com força.
Sua outra mão foi para minha cintura, e ele a apertou.
Pela primeira vez depois do que tinha acontecido eu não senti medo ou dessespero. Eu me sentia segura.
...
O restante do dia foi arrastado e desesperador. O medo de que o homem fosse voltar a qualquer momento me esmagava.
Justin dormia, encostado na parede, e minha cabeça estava apoiada em seu ombro. Uma de suas mãos estavam em volta da minha cintura.
Eu não sei dizer o que está acontecendo com ele, mas é algo bom.
Fechei meus olhos, tentando dormir, quando escutei uma explosão.
Um barulho muito alto, que fez eu e Justin levantarmos em um pulo.
Ficamos de pé, nos encarando. Minhas mãos tremiam devido ao susto.
Justin fez sinal para eu ficar quieta com o dedo e eu concordei com a cabeça. Ele andou até a porta lentamente, encostando seu ouvido nela.
Andei até ele e escutei algumas vozes.
-Entraram! Chame os outros. -O homem de sempre falou, em voz baixa.
-Checamos as guaritas, senhor. Estão todos mortos. Explodiram tudo. Você precisa fugir. -Um guarda disse, e o homem saiu xingando em outra língua.
Ouvi barulhos de disparos.
-Aqui! -Alguém gritou.
Quase chorei de alivio ao reconhecer a voz da Bella.
Nos afastamos da porta e logo alguém começou a dar marretadas. Em poucos minutos a porta tinha sido derrubada.
Chaz, Bella, Ryan e... Kylie.
-Ela! -Gritei, avançando contra Kylie, mas Bella me segurou.
-Nós sabemos, e ela vai pagar. -Ela disse, seria. -Mas foi ela quem nos trouxe aqui.
Encarei as duas, até que cedi e dei um abraço apertado em Bella.
-Você está bem? -Chaz disse, me dando outro abraço.
-Sim. -Falei, me controlando para não chorar de alegria.
-Vem. -Justin disse, segurando minha mão com força. -Nós vamos para casa.
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