História Dreaming About Heaven - That Guy

-Charlotte, acorda. - disse minha mãe.

-Já tô indo. - digo com voz cansada.

-Você disse isso há 10 minutos atrás. Vamos logo, estamos atrasadas.

Essa é a minha rotina toda terça-feira, eu chego da escola as 14:00 da tarde, tento dormir, mas logo sou acordada pela minha mãe. Não sei qual a necessidade de irmos a igreja católica, minha mãe é espírita, e eu agnóstica. ENTÃO PORQUE ELA ME OBRIGA A IR? 

Tomei um banho rápido e desci. Minha mãe me encarava com um olhar da morte. Tenho 16 anos mas ela me trata como se eu tivesse 8. Já tenho idade o suficiente para escolher a religião na qual eu quero seguir.

No carro eu coloquei meus fones, o que minha mãe odiava, ela diz que isso me faz ignorar o mundo afora, e que não gosta de me ver escutando essas coisas "satânicas". Qual é? Nem todo rock é satânico, e prefiro isso a escutar as músicas idiotas e vulgares desse mundão que é o nosso Brasil.

Lá foi tudo igual, eu com a cabeça em outro lugar, minha mãe querendo que eu leia o livrinho católico dela e respondendo as coisas que o pessoal geralmente responde após o padre falar alguma coisa. É sempre a mesma chatice, a não ser por um garoto alto e pálido que me olhava com um sorrisinho bobo a cada 5 minutos aproximadamente. Eu já estava incomodada, e meio que sem jeito.

Tá, ele era lindo. Tá, ele parecia um nerd, e admito que isso me atrai um pouco. Tá, eu não beijava ninguém havia um ano. Foco Charlotte, foco. Você não pode se distrair com esses prazeres carnais.

Depois da missa, eu pedí para andar um pouco pelo parque que ficava ao lado, e disse que voltaria de táxi, pois minha casa era perto dali.

Enquanto estava andando, ouço uma pessoa chamando por alguém, mas não parecia ser na "minha língua", então eu só ignorei. Logo sinto uma coisa tocando meu ombro e me viro. Era o garoto da igreja. Levei um susto, e fiquei um pouco sem graça ao vê-lo.

- Qual seu name? - ele disse um pouco sem jeito e eu sorrí.

- Você pode falar em inglês se quiser, eu entendo um pouco. A propósito, me chamo Charlotte, e você?

- Thank God! Eu me chamo Shawn. Shawn Mendes.

- Prazer. Então, o que faz aqui? No parque, no país...

- Eu vou fazer um show por aqui amanhã.

- Você é cantor? Que legal. Que tipo de música você canta?

- Sim. Bom, não sei bem o meu estilo, mas acho que seria pop.

- Ah... Bom, acho que não conheço você nem suas músicas, não faz muito meu estilo. Digamos que eu escuto rap, rock...

- Uau, uma garota de atitude.

- Pois é.

Ficamos em silêncio por alguns segundos até eu quebrar o silêncio e ser meio sutil.

- Então, sem querer ser indelicada mas... porque você está aqui comigo? E o que foi aquilo na igreja? - ele ficou um pouco corado. Eu quis rir, ele era tão fofo, mas tentei me manter séria.

- Eu queria conhecer a cidade e bom, meu pai não iria querer me mostrar porque ele também não conhece aqui muito bem, e porque eu não queria ver minha mãe e minha irmã fazerem compras o dia todo. Isso é muito chato!

- Concordo mas... e a outra pergunta?

- Que pergunta?

- Porque ficou me encarando na igreja?

- Ora vai dizer que não sabe? - fiz cara de desentendida. - Digamos que você chamou minha atenção, não é como as outras. E para ser sincero, és realmente uma bela moça senhorita Charlotte.

Naquele momento senti meu rosto arder e meu coração palpitar muito rápido. C-A-R-A-M-B-A!

- Você parece um pimentão Charlotte - ele disse rindo, o que me fez rir junto.

- É que não costumo receber elogios, se é que isso foi um.

- Duvido, linda como é, todos devem deseja-lá. E sim, foi um elogio.

- Obrigada, eu acho. - ele riu, enquanto caminhávamos pelo parque, e eu olhava para baixo, pois tenho medo de olhar nos olhos dele e... você sabe. Caminhamos o dia inteiro, rimos, e bom, foi tudo bem divertido. Shawn era um cara legal, legal até demais... Logo ele começa a ficar com fome, e eu também.

- Hot dogs - ele grita - Você pode pedir pra mim Charlotte? Não falo português muito bem. - ele ri.

- Okay, não se preocupe.

Eu peço o cachorro quente para ele, e uma porção de batata fritas vem de brinde.

- Você não vai comer? - ele pergunta.

- Não, melhor não.

- Ta sem dinheiro? Se quiser eu pago pra você.

- Não, olha, não estamos em um encontro, então não precisa pagar por mim. E mesmo se fosse um, eu não gostaria que pagassem por mim. Obrigada.

- Tudo bem, mas você vai comer um pedaço. Você ta pálida, deve ser fome. E... um cara não pode apenas ser gentil?

- Eu não gosto de cachorro-quente e... PARA DE EMPURRAR NA MINHA BOCA, TÁ ME SUJANDO TODA. E não, um cara não é gentil com você a não ser que queira seu corpo nu, e você não quer isso né Shawn? - ele engasga de tanto rir. Aquilo foi engraçado.

- Você é hilária Charlotte.

- Tá, me passa logo essas batatas fritas, você tá muito gordo. - rimos, depois ele me olha com um olhar que me faz corar.

- O que foi? - eu pergunto.

- Nada - ele diz e olha pro nada, envergonhado.

Logo uma multidão de garotas histéricas corre em nossa direção. Algumas pediram autógrafos, outras fotos, e ele atendeu a todas, que carinhoso. Uma garota me olhou de cima a baixo com uma cara de deboche enorme, já estava com medo do que viria por aí.

- Vocês estão num encontro? - ela pergunta.

- Não não, apenas estou mostrando a cidade para ele.

- Espero que não mostre o caminho para sua boca, vadia.

Eu fiquei furiosa.

- Olha aqui, você não me conhece, não tem o direito de falar assim comigo, eu nem conheço ele ok? Foi por acaso, então vaza daqui antes que eu termine nossa "conversinha" na justiça. - logo após ela foi embora.

- O que aconteceu? - Shawn pergunta ao ver a expressão em meu rosto.

- Nada demais, não se preocupe.

Ele viu um pessoal com umas roupas bem vulgares, e dançando funk. Juro que ele estava de boca aberta diante daquela cena. Tadinho, Brasil já começou a assutá-lo.

- Você dança daquele jeito? - ele pergunta dando gargalhadas.

- Aí meu Deus, não. Que horror, isso é ridículo, parece que elas querem dar para o primeiro que aparece.

[...]

Eu não conseguia parar de encará-lo, nossa, aquele seu jeito bobo, é realmente tão cativante. Mas não posso me apaixonar, de forma alguma.