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História Duskwood - Sombras do Passado (PAUSADA) - Capítulo Cinco - O Hacker


Escrita por: Riezan

Notas do Autor


Olá!
Agradeço pelos comentários lindos e aguardo por novos, isso estimula e muito a gente a continuar. Então, muito, muito obrigada por isso. Espero que gostem. Se houver dúvida, me gritem. Boa leitura.

Capítulo 5 - Capítulo Cinco - O Hacker


Fanfic / Fanfiction Duskwood - Sombras do Passado (PAUSADA) - Capítulo Cinco - O Hacker

 

Estava na floresta. Mas era diferente de qualquer coisa que já havia visto. Eu segurava a mão de uma mulher e me via junto de algumas outras crianças.

E então algo aconteceu. Me senti sendo jogada ao chão…

Eu acordei suando. Percebi que ainda não havia amanhecido. Olhei para o lado, notando que Jake não estava na cama. Acendi a luz do abajur ao lado da cama, notando que tudo estava no lugar. E silencioso.

Meu celular bipou e eu o peguei, vendo ser uma mensagem do Jake.

"Estou no porão."

Me ergui, indo em direção do meu quarto e peguei um robe, o colocando e saindo novamente. Escovei os dentes desci as escadas, caminhando até o porão, vendo a porta se abrir para mim.

Entrei e ouvi ela se fechar atrás de mim enquanto descia até o local em que ele estava. Vi Jake ali, usando um casaco por cima da blusa fina e parecendo concentrado.

— Conseguiu descansar? — ele perguntou ao me ver.

— Um pouco. — falei — Eu tive um pesadelo agora a pouco.

— Quer conversar sobre isso?

— Me vi na floresta, segurando a mão de uma mulher. Havia mais crianças ali. Então fui jogada para longe e acordei.

Jake me observou por alguns instantes, acenando de leve.

— Deve estar abalada com a ligação daquele cara. — respondeu — Ele não chegará perto de você, Halisan. Eu não vou deixar isso acontecer.

Eu nada disse, me aproximando e sentando diante dele, como havia feito no dia anterior.

— E você, descansou?! — perguntei, vendo as olheiras dele.

— Eu durmo muito pouco. — ele respondeu, sem tirar os olhos da tela do computador.

— Isso não foi o que perguntei. — falei, vendo ele arquear a sobrancelha pra mim.

— Dormi por algumas horas. Daí acordei e não tive mais sono. Então vim trabalhar. — respondeu — Estou descansado, mais do que pode imaginar. — eu arqueei a sobrancelha, como ele havia feito, não entendendo bem sua resposta — Agora serão seis horas. Quando for nove podemos ir até o Dan se você quiser.

Eu acenei.

— E se quiser, eu deixo você na Lilly e então eu falo com o Phill.

— De jeito nenhum! — exclamei — Você não disse que não me deixaria sozinha?!

— Estará com a Lilly…

— Não estarei com você. Então nem pense nisso.

Ele suspirou, revirando os olhos, mas acenou. 

— Não vai ficar mais do que o necessário lá, entendeu?!

— Jake! 

— É sério, Halisan.

— Isso são ciúmes?!

— Não, somente cuidados. — ele respondeu rapidamente, me fazendo rir — O que foi?!

— Nada não. — eu neguei com a cabeça — Não vou demorar lá, não se preocupe.

Ele embrenhou as mãos entre os fios de cabelo enquanto me observava.

— E se for?

— O quê?!

— E se for ciúmes?! — Jake elevou a voz, parecendo atordoado. Sentia que ele estava lutando internamente enquanto falava — E se eu não quiser que você vá lá principalmente porque não quero que o Phill coloque os dedinhos dele em você?!

Agora ele havia pegado de surpresa.

— Mas ele não vai colocar.

Jake acabou rindo, mas via-se de longe que o seu riso era por estar cada vez mais furioso.

— Você não conhece o Phill, Halisan. 

— E você o conhece então?! — perguntei, arqueando uma sobrancelha.

Eu vi o olhar exasperado dele, que atrapalhou-se até com o teclado.

— Lógico que não. — respondeu, rápido demais para o meu gosto — Mas eu conheço o tipo dele, Halisan. 

Me ergui, dando a volta na mesa e colocando as mãos na cintura. Bati o pé, vendo ele ficar cada vez mais agitado diante das minhas reações.

— Está me escondendo alguma coisa, Jake! — eu reclamei, vendo ele se erguer.

— Você está enganada, Halisan. — murmurou ele, tirando os óculos e os deixando sob a mesa e me mirando em seguida — Foi só um modo de falar.

— Você esteve escondido no porão do Aurora?!

Vi ele arregalar os olhos e em seguida rir. 

— Ai, Halisan! — falou, ainda rindo — O que eu faço com você?!

Eu tinha uma ideia do que eu queria que ele fizesse comigo, mas não diria em voz alta, principalmente, não diria para ele.

Eu bufei, me virando e saindo do local. Sentia os passos dele logo atrás de mim.

— Halisan! — ele me chamou. Eu só parei quando tocou meu ombro e me virou, fazendo com que eu o encarasse — Para, por favor!

— Eu detesto quando alguém esconde coisas de mim, Jake! — reclamei mais uma vez, vendo seu olhar para mim — E eu estou vendo que está fazendo isso comigo! Sei que há muita coisa que não pode me falar, mas me deixar no escuro com coisas que podem levar a mais pistas para encontrar a SUA irmã me deixa realmente furiosa!

O vi morder o lábio, parecendo não saber o que dizer.

— Olha…

Eu revirei os olhos, seguindo em direção às escadas do segundo andar, mas, mais uma vez, senti meu ombro sendo segurado de leve por ele.

— Halisan, você confia em mim?!

Eu o encarei, bufando, mas acenando.

— Então, por favor, esqueça esse assunto.

Cruzei os braços diante de Jake, que suspirou pesadamente enquanto aguardava minha resposta.

— Eu sempre faço tudo que você me pede! — comecei, vendo a exasperação novamente tomar sua face — Eu sempre corro atrás do que você diz pra correr. Sempre pede pra confiar em você, mas agora eu te pergunto: você realmente confia em mim?!

— É claro que confio! — respondeu.

— Não é o que parece. 

Jake praguejou, irritado.

— Eu estou aqui, diante de você, mostrando a minha cara e você ainda sabe o meu nome! Acha que faria isso se não confiasse em você?!

— Os outros já sabem teu nome e te conhecem!

— Por sua causa, mulher! — Ele praticamente gritou, irritado — Estou me arriscando pra proteger você!

Ele não iria me desarmar me fazendo sentir culpa pelo o que estava fazendo, não naquela hora em que estava furiosa! Eu não queria entender nada e, no momento, não entenderia. Pensaria nisso mais tarde, quando o remorso batesse.

— Você nunca me dá uma resposta inteira. E eu estou cansada de meias verdades, Jake! — eu me aproximei, enfiando o dedo indicador no peito dele — Mas não se preocupe, você pode não querer me dizer, mas sei exatamente a quem perguntar sobre isso.

— O que você quer dizer com isso? — ele perguntou, pegando meu pulso, quando tentei me afastar.

— Vou ter muito o que conversar com o Phill quando o encontrar. Isso que quero dizer! Se você não quer me dar respostas, então irei atrás delas.

Eu puxei meu braço, mas ele não me soltou. Vi seus olhos brilharem, como se queimassem, em fúria. Mais uma vez eu puxei meu braço e estava prestes a reclamar com ele, quando o senti me puxar para junto de seu corpo.

— Eu não quero que você pergunte nada referente a mim a ninguém, Halisan. — Jake sussurrou, me mantendo contra seu peito — Meu problema com Phill é unicamente por sua causa! Não quero ele arrastando as asas pra cima de você, apenas isso!

— Meio que você já disse isso! — rosnei, mirando seus olhos — O que não está me contando?!

O silêncio de Jake me fez ficar mais irritada do que já estava. Me desvenciliei dele, indo em direção às escadas. Mas antes de chegar ao primeiro degrau, novamente meu braço foi pego e eu me virei, sentindo a mão livre de Jake segurar minha cintura e antes que eu reclamasse, sua boca uniu-se à minha.

Eu esqueci qualquer coisa que se passava em minha mente, no momento que senti os lábios quentes dele junto aos meus. Sua mão, que segurava o meu braço, foi de encontro aos meus cabelos, enquanto me puxava para mais junto de seu corpo com a outra que ele manteve na minha cintura.

Isso era algo que eu imaginava desde que havia me dado conta de que estava atraída por Jake. E agora não conseguia acreditar que realmente estava acontecendo.

À medida que o ar ia faltando, ele separou-se lentamente de minha boca, encostando sua cabeça na minha.

— Eu te prometo que contarei tudo a você quando chegar a hora. — sussurrou ele, ainda me segurando contra seu corpo — Até lá, suplico que aceite as minhas meias verdades. E que me perdoe por isso. Por favor, Halisan…

Eu nada disse, apenas acenei de leve. Por agora, não conseguia pensar em nada além do que ele havia acabado de fazer. E, novamente, Jake voltou a tomar minha boca, mas agora com mais calma, segurando meu rosto com suas mãos.

Definitivamente, eu não queria que aquele momento acabasse. Estava eufórica e, ao mesmo tempo, furiosa, pois não queria que ele me beijasse apenas para eu calar a boca ou me desarmar. Queria que fosse por vontade própria.

E aquele pensamento pesou sobre mim de tal forma que achei que fosse me esmagar. Quando nos separamos, eu retrocedi alguns passos, o encarando. Jake me olhava de forma diferente, seus olhos continuavam em chamas, mas agora não era de fúria.

Parecia luxúria.

Porém, eu não sabia se aquele momento havia sido real aos dois ou somente para mim, pois Jake sabia manipular as coisas para que tudo saísse dentro do que ele planejava. E só o pensamento sobre isso começava a me atormentar.

— Mas não pense que, só por ter me beijado, esquecerei tudo isso! — eu avisei — Jamais colocaria você em risco, Jake, mas não é certo o que está fazendo comigo.

— Halisan…

— Nunca mais me toque se não for porque você quer isso. — sussurrei — Não brinque com os meus sentimentos, por favor.

Eu não esperei resposta, subindo as escadas rapidamente e indo até o meu quarto. Me sentei na cama, abraçada a um travesseiro, me sentindo uma criança mimada e até mesmo culpada. Sabia que não havia sido justa com ele, com relação a estar se arriscando por minha causa, mas… eu também sabia que ele me manipulava para conseguir as coisas mais facilmente. No fim das contas, ambos estavam errados e isso doía. 

Observei a sombra dos tênis dele por baixo da porta e esperei para ver se ele faria algo. Por fim, ouvi Jake suspirar.

— Me desculpe, por favor. — ouvi ele falar baixinho — Não queria te magoar…

Eu nada disse, fechando os olhos, atormentada.

— E, só pra saber… é lógico que te beijei porque eu queria. Jamais te usaria dessa forma, Halisan… Me desculpe se eu fiz você pensar dessa forma.

Ouvi o som de seus passos sumirem no corredor e ali eu fiquei, encolhida na cama, em um mar de confusão que não sabia pra qual lado saltar.

 

***

 

Passava das nove da manhã quando eu saí do quarto, totalmente arrumada para encontrar com Dan. Desci as escadas, vendo Jake sentado no sofá da sala. Ele me olhou, mas manteve-se em silêncio. Já estava arrumado também, o que me fazia pensar que deveria ter visto minha movimentação pelas câmeras.

— Além do hospital você vai querer passar no Aurora? — ele perguntou, erguendo-se.

— Esse horário está fechado. Vou deixar para ir mais tarde. — respondi

Achei que fosse reclamar, porém, ele apenas acenou, indo em direção da porta lateral, que dava para a garagem. O vi jogando sua mochila nas costas e segui ele até o carro. Jake apertou o controle que estava nas chaves e entrou enquanto a garagem se abria. Me sentei no passageiro e em silêncio saímos da casa.

Observei a paisagem enquanto a gente saía da cidade. O hospital que Dan estava, fica nos arredores de Duskwood. Por vários minutos o silêncio reinou dentro do carro, me causando uma ansiedade absurda.

— Peço que não entre comigo. — pedi a ele, o encarando de esguelha.

— Não entrarei. Sei que Dan não gosta de mim. — ele respondeu — Melhor não gerar conflito agora, ainda mais se quer tirar alguma informação dele.

Eu acenei de leve.

Em menos de meia-hora Jake estacionou o carro em um local mais tranquilo. O vi olhar os arredores enquanto jogava o capuz sobre a cabeça. Eu fiz o mesmo, olhando os arredores também. Agora, de fato, eu estava mais desconfiada do que o normal.

Vi uma banca de flores ali no estacionamento e não resisti, comprando um belo buquê de margaridas. Acabei rindo só de pensar na cara que ele faria quando me visse com as flores.

Voltei para junto de Jake, que arqueou a sobrancelha para aquilo, mas apenas riu, fazendo eu sorrir também.

— Permaneça com o celular ligado o tempo inteiro, ok?! — pediu Jake, enquanto a gente se dirigia para a entrada do hospital — Me responda ou irei atrás de você. Se estiver com algum problema apenas diga "ativar Nym-os". Irei até você na mesma hora.

Eu o encarei, surpresa.

— Sério que você consegue ativá-lo desta forma apenas com comando de voz? 

— Sim. No momento que você disser isso ele ativará e eu serei avisado. — Jake ergueu o tablet — Receberei sua localização e estarei ouvindo tudo que você disser. 

Eu não conseguia disfarçar a minha surpresa diante daquilo. Jake era, sem dúvida, a pessoa mais inteligente que já conheci. Era incrível como ele tinha habilidades com eletrônicos e sistemas. O homem era um gênio.

Pedimos informações sobre Dan no posto de atendimento e lancei um olhar ansioso para Jake, que tocou na minha mão, apertando-a de leve.

— Não fale com ninguém além do Dan. Se alguém puxar assunto com você me avise, por favor. Toma cuidado, Halisan, não quero que nada aconteça com você.

Eu acenei, apertando de leve a mão dele em resposta.

— Obrigada por tudo, Jake.

Ele sorriu, me soltando.

Segui para o elevador, indo até o andar em que Dan estava. Não foi difícil encontrar o quarto em que ele estava e logo já estava batendo de leve na porta.

— Não tem ninguém. — ouvi a voz rabugenta de Dan falar.

— Está pelado? — perguntei, rindo internamente, esperando a resposta do senhor azedo.

— Depende de quem for. 

— É um enfermeiro barbudo.

— Então pode entrar.

Eu abri a porta, vendo ele deitado na cama, tendo alguns fios presos no corpo e o bipe dos aparelhos em sua volta. Ele me encarou arqueando a sobrancelha e quando viu o buquê de flor nas minhas mãos, começou a rir.

— Não acredito nisso! — exclamou, sentando-se quando eu entrei e fechei a porta. Me aproximei de Dan, entregando as flores e recebendo um abraço caloroso dele.

— Eu disse que te traria flores ainda. 

— E eu duvidei. — resmungou.

— Não são iguais as florzinhas que você cuidou na floricultura, mas…

— Quem te contou isso?! — ele resmungou, rabugento, me fazendo rir.

— Um passarinho que andou beijando as flores de lá me contou.

— Filhos da puta!

Eu me sentei na lateral da cama, não segurando a risada ao ver ele praguejar. Segurei sua mão, fazendo-o me encarar e sorrir com carinho.

— Bom ver que você está bem. — ele murmurou — Aquele cara tá cuidando bem de você, né?! Porque se não…

— Está sim, Dan. Ele está colocando a segurança dele em risco pra me proteger. 

O olhar do Dan se tornou mais amável e então sorriu.

— Acho bom que seja assim. E fico feliz de te ver por aqui. As visitas estão cada vez mais difíceis desde o ocorrido. 

— Eu sinto muito pelo Richy. — murmurei — Não gosto nem de pensar no que vi aquele dia, Dan…

— Eu imagino. — ele respondeu — Eu também sinto demais. Era meu amigo, no fim das contas, mesmo quando a gente se estranhasse.

— Faz parte de ser uma família.

Dan acenou.

— Eu preciso conversar com você sobre algo sério.

— Por que acho que não vou gostar disso?! 

— Quero que seja sincero comigo, ok?

Ele suspirou.

— Fui eu quem contou tudo a polícia. — resmungou, antes mesmo de eu perguntar — Me desculpe, Halisan, mas estava assustado, eu sei que meu carro foi sabotado, mesmo que o Richy não tenha achado nada. Já andei de carro muito mais bêbado do que aquilo e nunca tive problemas. No dia que conversei com Alan, eu estava estressado. Havia acabado de receber a visita do Phill e estava desconfiado até dele, então…

— Então fez merda achando que era o melhor jeito de se proteger. — completei — É compreensível, Dan. Só aconselho a falar com a Jessy. Se você realmente gosta dela e não quer ela magoada com você, abra o jogo. Abra seu coração ou acabará tendo muitos problemas. Lembre-se que Phill, apesar dos defeitos que tem, é irmão dela. E ela o ama. E eu tenho certeza absoluta que ele não está envolvido na morte da Amy e nem no desaparecimento do Hannah. Está escondendo informações, mas não é o nosso culpado.

Dan acenou, suspirando.

— Desculpe por isso, acho que ferrei as coisas até mesmo para você. 

— Iremos contornar isso. O que Phill veio fazer aqui?

— Não tenho ideia. Eu não apareci pra ele também.

Eu acenei, sem nada a dizer. Por algum tempo eu conversei com Dan, ouvindo suas piadinhas e algumas teorias. Por fim, já estava quase no fim do horário de visita. 

Me ergui, arrumando minhas roupas, indo em direção de Dan para me despedir, quando uma batida na porta nos chamou a atenção. Logo em seguida um homem entrou.

Eu gelei no mesmo instante, ainda mais ao ver o uniforme da polícia que ele usava.

— Estou interrompendo? — ele perguntou.

— Não, claro que não. Já estava de saída. — encarei Dan, suplicando com o olhar que ele nada dissesse que nos comprometesse, principalmente o Jake. Ele acenou minimamente. Eu beijei seu rosto de leve — Se cuide, logo volto pra te ver.

— Halisan?

Eu encarei o homem, que sorriu, oferecendo a mão. Maldição, poderia ter ignorado e ele achado que era outra pessoa. Mas daria no mesmo e então teria a certeza de que eu não queria falar consigo por estar escondendo coisas.

— Sou Alan Bloomgate. É um prazer finalmente te conhecer.

Eu sorri sem jeito, apertando a mão oferecida.

— Difícil de conseguir contato com você. — ele comentou, soltando minha mão — Vim aqui conversar com Dan sobre a marca na porta do quarto, imaginaria tudo, menos encontrar você por aqui. Faz tempo que chegou na cidade? Dan me disse que você não é alemã.

Eu olhei de esguelha para Dan, que se encolheu na cama. Queria matar ele, mas nada disse. Me voltei para o homem diante de mim e sorri forçadamente.

— Cheguei ontem. — falei — Peço desculpas por ter lhe deixado no vácuo, mas estava enrolada com o meu trabalho. Precisei colocar tudo em dia antes de vir para cá.

— Imaginei que estivesse ocupada com algo. — eu senti naquela sua resposta o que realmente ele queria dizer e tentei empurrar Jake para o fundo da minha mente. Não poderia dar bandeira, ainda mais por ele estar ali, correndo o risco de ser encontrado pelo Detetive — Mas já que está aqui, o que acha de conversarmos? Não tomarei muito do seu tempo. Você está com alguém aqui no hospital?

— Com Aaron. — respondi, lembrando do que havia combinado com Jake — Está me esperando na sala de espera.

— Presumo que seja alguém da Itália?

Era notável que ele queria informações do meu acompanhante. Mas eu não daria bandeira, não poderia. Pela segurança do Jake, eu não poderia.

— Ele mora na Itália, mas é espanhol. — respondi — É meu namorado, Detetive.

Ele sorriu, acenando.

— Você por acaso tem tido contato com um hacker procurado pela justiça ultimamente? Soube de fonte segura que você mantém contato direto com um elemento que afirma ter presenciado o sequestro de Hannah Donfort. Eu realmente estou muito interessado em saber o que ele viu, isso pode nos levar até o assassino.

Eu queria matar o Dan. Queria MUITO matá-lo, realmente.

— Eu não sei nada dele, Detetive. — respondi, trocando o peso de uma perna para outra, totalmente desconfortável — Tudo que sei é que meu número parou no celular do Thomas e que foi Hannah quem enviou a ele.

Alan acenou, sorrindo de leve.

— E você não está investigando por conta própria?

— Estou sendo ameaçada através de ligações de um desconhecido. — eu respondi, fazendo agora ele arregalar levemente os olhos — Ele me manda vídeos, ameaçando pessoas que se tornaram importantes pra mim. Em uma chamada que eu estava, inclusive, atacou a Jéssica e me mirou nos olhos enquanto ela estava caída no chão, no meio da cidade. Em outra estava também em uma vídeo-chamada com o Richy quando foi atacado… — minha voz embargou ao falar dele — O vi sangrar, tentando falar até ter que desligar o telefone pra pedir ajuda a ele. Então é lógico que quero respostas. O homem ameaçou me matar, matar eles — apontei para Dan — E não sei se o Richy está vivo ou morto, ou a própria Hannah. Eu quero pegar esse maldito e trazer essa garota e o meu amigo de volta para então entender o motivo dela ter enviado meu telefone para o seu namorado. Dar um fim nisso tudo e poder voltar a viver em paz sem a sombra de um monstro querendo me matar 

Alan me observou por alguns instantes, para então acenar de leve. 

— Gostaria de falar com mais calma com você. — ele comentou, entregando para mim um cartão — Como está na cidade não será difícil me encontrar ou me responder. Apareça na delegacia, e te levarei para tomarmos um bom café na melhor cafeteria da cidade. Prometo que será uma conversa informal, eu preciso estar por dentro dessas ligações que você anda recebendo e tentar entender qual papel você faz nisso tudo. E também saber o que aconteceu na chamada em que houve o ataque do amigo de vocês. — Alan sorriu, oferecendo a mão para mim mais uma vez — Não se preocupe, você não é uma suspeita, só preciso encaixar alguns fatos antes de dar o passo seguinte na minha investigação. E após essa conversa informal a chamarei para testemunhar sobre o ocorrido com o Richy.

— Certo.

— Halisan. — encarei Alan, que agora estava sério — Eu realmente gostaria de falar com você. Caso contrário terei de te intimar formalmente para depor. E realmente, quero conversar com você sem a sombra disso sobre nós. Será o melhor a se fazer.

— Eu entro em contato com você.

— Estarei aguardando então. — respondeu, voltando a sorrir — Tenha um bom dia.

Eu acenei, sorrindo de leve e apertando a mão oferecida. Me despedi dos dois e saí do quarto, indo em direção ao elevador. Em minutos estava no térreo, buscando ansiosamente pelo Jake.

Não demorou muito para ver ele conversando com uma criança no banco de espera.

— Podemos ir? — perguntei, parando diante dele.

Jake sorriu, mas seu semblante mudou ao ver minha expressão.

— Aconteceu alguma coisa?

— No carro te explico, só precisamos sair daqui, Jake.

Ele se ergueu e então seguimos para o estacionamento, entrando no carro rapidamente.

— Então, o que foi que aconteceu? — perguntou, enquanto dava partida no carro.

— Alan apareceu no quarto. — respondi, vendo a expressão dele mudar — E me encheu de perguntas.

Enquanto seguíamos para nossa casa eu contei sobre o que havia conversado com Dan e como havia me deparado com Alan. Eu via a tensão no rosto de Jake e sentia o medo se instalar em mim. Não me perdoaria se Jake fosse preso por minha causa.

— Você seguiu o plano certinho, Halisan. — falou Jake, enquanto entrava com o carro na garagem e esperava o portão fechar para então sair do carro — Eu tenho os documentos certinhos, ele vai me investigar e saberá que sou um cidadão espanhol, formado em fotografia e que mora algum tempo na Itália.

Eu apenas acenei, saindo do carro, em silêncio. Mas senti meu braço ser pego delicadamente e me virei, vendo a expressão estranha no rosto de Jake.

— Está assustada? — perguntou ele. Eu acenei de leve — Não se preocupe, ele não tem nada contra você.

— Eu não estou com medo por mim, Jake. — falei, segurando as mãos dele entre as minhas — Estou com medo por você. Não me perdoaria se algo acontecesse e eles te pegassem.

Jake sorriu de leve, erguendo a mão e acariciando meu rosto com carinho.

— Não se preocupe com isso, Halisan. Ele não tem prova alguma de que sou esse hacker procurado. Só precisamos ter todo cuidado do mundo sobre esse assunto. 

Eu ainda não conseguia me convencer sobre aquilo e não escondia o medo.

— Ok. — respondi, acenando de leve, porém, não dizendo o que realmente achava.

— Vem, eu vou fazer algo para a gente comer.

Pouco depois, estávamos na cozinha outra vez. Larguei minha bolsa no balcão, bem como Jake largou a mochila.

— Farei algo que sou mestre em fazer. — comentou, enquanto girava pelo local e eu permanecia sentada junto ao balcão, apenas observando-o.

— E o que seria? — perguntei.

— Omelete. — ele riu, me fazendo rir também — Não sou conhecido por fazer pratos chiques.

— Então faça sua omelete e a noite prometo fazer o meu macarrão. Só compre o vinho.

— Fechado. — falou ele parecendo mais empolgado com a ideia do que eu.

Vi ele pegar os ovos e algumas coisas que havia comprado antes da minha chegada e então começar a preparar a omelete.

Apoiei minha mão no rosto, apenas observando. 

— Qual sua idade, Jake? — perguntei, vendo ele me olhar de esguelha.

— Eu tenho vinte e cinco anos. Mesma idade da Hannah. Sou um pouco mais velho, mas somente alguns meses de diferença.

— Nossa, as mães de vocês engravidaram praticamente juntas.

— Sim. Ele abandonou minha mãe quando soube que a esposa estava grávida. Minha mãe sofreu pra caramba, mas respeitou a decisão dele. Então descobriu que também estava grávida. Foi embora e me criou sozinha. Só soube que era um filho bastardo quando ela morreu, quando eu tinha doze anos.

— Sinto muito por isso, Jake.

Ele sorriu, mas via-se de longe que não era um sorriso descontraído.

— Depois disso, vivi em lares temporários, e, por último, em um orfanato, que me chutou quando completei dezoito anos.

— Você fez faculdade? Estudou depois que saiu desse lugar?

Ele negou com a cabeça, me deixando surpresa.

— Eu aprendi tudo sozinho, Halisan. Nunca tive chance de estudar além do que um adolescente faria. Aprendi pesquisando, trabalhando na área, sempre fiz tudo sozinho, tudo que sou hoje foi por ser alguém que buscou saber, tanto como um hacker quanto como alguém que aprecia artes, história ou cultura. Com dezenove anos já montava e desmontava computadores e sistemas sem muita dificuldade. Sempre fui bom em todas as áreas, sejam humanas ou exatas, só não curto muito a biológica. 

Ele realmente era um gênio. Agora não tinha dúvidas disso.

— Com vinte anos eu já tinha criado o Nym-os. Desde então só o tenho aprimorado. Foi nessa época que roubei um banco.

Eu arregalei os olhos enquanto ele ria alto.

— Se as pessoas soubessem que não precisam necessariamente invadir um banco para conseguir dinheiro, não seriam pegas facilmente.

— Usou um computador?! — perguntei, ainda em choque.

— Sim. Só precisei ir a uma agência, usar um cartão modificado e fiz a mágica acontecer. 

— E como você se tornou procurado? Foi descoberto?!

Jake permaneceu em silêncio por algum tempo, até me encarar. Eu suspirei, imaginando que não receberia mais informações dele.

Mas então, ele desligou o fogo e veio até mim, se inclinando sob a mesa e ficando com a face bem próxima ao meu. Jake segurou a lateral do meu rosto e tocou meus lábios de leve com os dele.

— Para ver que realmente confio em você. — sussurrou — Eu trabalhei desde os meus dezoito anos com um cara perigoso. Era alguém da máfia. Ele queria um sistema que protegesse o dinheiro dele e as merdas que fazia, Halisan, por ser alguém de influência no senado americano. Eu criei o Nym-os para ele. Foi quando descobri que era um filho da puta que escravizava garotas e fazia tráfico com elas aqui na Europa, para outros figurões da política. Eu desviei quase toda a fortuna dele para uma conta secreta e dei um jeito de liberar as garotas que tinha encontrado no sistema. Sou caçado desde então por esse cara, pois ele não gostou muito do que acabei fazendo. Além disso, eu invadi o sistema de segurança do governo e fiz uma denúncia, dando provas do que havia acontecido e feito. O homem agora precisa se esconder, assim como eu. Ele fazia parte do alto poder de alguns países, que não curtiram muito a minha intromissão, porque com o que fiz, vários poderosos caíram junto com ele. E esses mesmos homens engravatados também estão atrás de mim, mesmo que a maioria tenha sido presa, ainda controlam muita coisa de dentro das prisões. O governo me considerou altamente perigoso por conta do que havia feito. O resultado disso é eu fugindo o tempo todo por ter desmantelado uma quadrilha politicamente poderosa em vários países, que nem a inteligência secreta deles havia conseguido. Isso tudo apenas com vinte anos. Por isso, quando digo, que o governo é o menor dos meus problemas, porque realmente é.

Ele se calou, voltando a se erguer, observando meus olhos. Estava em estado de choque com o que ele havia me contado. Não conseguia crer que alguém tão novo já havia feito tudo aquilo.

— Além disso, o serviço secreto quer colocar as mãos no Nym-os. Ele é um sistema de segurança que invade outros sistemas de segurança sem deixar rastro. Eles só sabem alguma coisa referente a mim por conta de eu ter me exposto para denunciar esses caras.

— E o roubo no banco, né? — sussurrei, sentindo minha voz mais fraca do que o normal.

— Não deixei rastros. Desse crime não posso ser acusado. E o dinheiro que eu desviei dessa gente está muito bem guardado. Não há como me rastrearem através dele. Eu não deixo pistas e nem rastros. Quando Nym-os me avisa que eles estão próximos eu dou jeito de ir para outro lugar. Além disso, eles só sabem o meu nome, quando trabalhei com esse cara, fazia trabalho a distância, de um país para outro. Ele não conhece meu rosto, só meu primeiro nome. E é por isso que a polícia não pode colocar as mãos em mim. Se eu for pego por qualquer um desses caras que eu destruí, seria morto no mesmo dia. Claro, depois de ser torturado para dizer onde eu deixei o Nym-os e o dinheiro deles.

Eu permaneci em silêncio, remoendo tudo que havia ouvido dele e me sentindo grata pela sua sinceridade. Agora entendia perfeitamente os motivos que ele tinha para estar sempre fugindo e o medo de me colocar em risco.

— Os caras que tentaram me hackear então…?

— São hackers desse cara. Constantino usa outros hackers para me caçar. Mas eu sou melhor do que a ralé dele. — eu acabei sorrindo ao ver ele falar aquilo com desdém — Ele até tenta, mas jamais conseguirá nada além de engolir minha poeira. 

Me ergui da bancada e dei a volta pelo balcão, parando diante do Jake, que tocou meu rosto novamente.

— Obrigada. — murmurei — Seu segredo está seguro comigo.

— Eu sei. — respondeu baixinho — Você se tornou, em tão pouco tempo, a pessoa mais importante da minha vida, Halisan. E eu te peço uma coisa… — Jake segurou meu rosto com a ponta dos dedos — Que me perdoe por estar escondendo coisas de você. Entenda que é para sua segurança. E que me escute quando o dia chegar.

Eu nada disse, apenas o abraçando com força. Senti seus braços me envolverem com carinho.

Era difícil de acreditar que havia me apaixonado por um foragido do governo e da máfia em tão pouco tempo. E que a cada dia que passava, mais mergulhada no mundo dele eu estava.

Mas não me arrependia nenhum pouco disso, muito pelo contrário.


Notas Finais


Colocarei aqui duas playlist. Uma que eu criei e outra que algumas meninas do face fizeram. Roubei algumas músicas, pois a playlist é maravilhosa.

A minha: https://open.spotify.com/playlist/2RhSMpGWtFXOfr3uQrF01Z?si=5a035cdc813b4d81

A delas: https://open.spotify.com/playlist/1DWehAH7HrHauhtbDali1s?si=27631c28c6ac47bf

Se houver dúvida, me gritem. Espero que gostem. Comentem, isso estimula o autor a continuar.
Obrigada e até mais!


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