Pov. Leo
- Então... Está tendo problemas no Elísio? – Calipso disse forçando humor enquanto andávamos lado a lado pelo acampamento.
Olhei para ela encarando seu rosto que escondia preocupação, assim que ela percebeu meu olhar sorriu sem jeito.
- não sou tão boa em usar o humor como você. – admitiu me fazendo apertar os lábios.
Agora passávamos pelo circulo de chalés em direção a floresta, estava vazio já que todos estavam no refeitório.
- Calipso eu... Sinto muito por tudo isso. – falei com tristeza sem olha-la, mas pude ver pelo canto de olho seu rosto virar rapidamente para mim.
- Ela parece super-protetora. – comentou como se eu não tivesse dito nada.
Eu sabia que ela estava fugindo. Suspirei.
- Hazel tem seus motivos. – disse enquanto andávamos pela lateral estreita da floresta em direção à praia.
Calipso assentiu pensativa.
- tenho certeza que sim. – murmurou. – você é propenso a se meter em encrencas e ocasiões de quase morte. – ela disse mais alto para mim com um sorriso leve que fez meu coração agitar. – fiquei sabendo o que você fez, contra Gaia.
Sorri sem jeito.
- não foi nada demais.
Ela riu.
- nada demais? Está querendo ser modesto? Porque foi algo demais sim. – rebateu com seu tom briguento que eu tanto amava.
Espere, amava?
- não quero ser modesto. – falei com um sorriso contido. Ajudei ela a subir em uma roxa mais alta da floresta e com alguns passos ficamos de frente para a praia. – não fiz nada sozinho, não sofri sozinho, nem vou levar crédito sozinho. Todos passaram por muitas coisas naquela guerra, simplesmente não é justo.
Calipso ao meu lado desviou os olhos do mar e me fitou de uma forma estranha, não soube se era admiração ou outra coisa.
- você mudou. – ela disse de repente me fazendo franzir o cenho de forma que ela risse. – mas ainda é fofo.
Senti meu rosto esquentar e desviei os olhos sem jeito. Se eu ficasse olhando mais um pouco para ela, se me perdesse nas ondulações dos seus cabelos quando o vento batia e no reflexo turvo do sol em seus olhos... eu simplesmente não saberia me conter.
- no que eu mudei? – perguntei tentando disfarçar.
- você parece... – ela me analisou. – mais maduro.
Com isso eu ri. Sentei-me na beira da rocha larga e a olhei de baixo. Seu vestido azul claro ondulou com a brisa leve antes dela se sentar ao meu lado.
- não acho que consiga amadurecer em tão pouco tempo. – falei mexendo um galho no chão.
- para mim pareceu muito tempo. – ela disse me fazendo olha-la com o coração dolorido.
Calipso olhava para frente de forma pensativa e pesarosa.
- me desculpe. – falei sem conseguir me segurar. Ela não me encarou, apenas baixou os olhos. – sei que prometi voltar, sei que disse que iria te levar para conhecer o mundo, mas...
- mas não é mais comigo que você quer viajar. – completou em um suspiro dolorido. – não foi para mim que você voltou.
Peguei-me percebendo o quanto falhei com ela. Eu havia construído outro navio, eu havia me programado para viajar e conhecer o mundo, mas havia meses que Calipso não passava pela minha mente.
- sinto muito. Sei que nada que eu disser vai mudar como você deve se sentir e como as coisas são agora.
Ela finalmente me encarou. Estava seria e seus olhos me analisavam com precisão, como se quisesse analisar o quanto sincero eu estava sendo.
- você a ama? – perguntou me fazendo enrijecer. Ela sorriu sem humor. – claro que sim. Vi o jeito que você olhou para ela quando estava brigando com Percy, como esqueceu que estava com raiva e sorriu ao olha-la. – ela disse tristemente de forma que eu me xinguei por faze-la sofrer.
Enquanto eu a encarava pude ver uma lagrima discreta cair no canto do seu olho. Todo meu corpo doeu de culpa.
- Calipso...
Ela enxugou o rosto rapidamente e respirou fundo se levantando.
- tudo bem. Acho que esse é meu destino afinal. – ela limpou o vestido e me olhou de cima. – sempre me apaixonar e sofrer por um semideus que já tem um alguém, que não me ama o suficiente.
Com isso as palavras de Afrodite voltaram a minha mente fazendo sentindo. “Apenas lembre-se filho de Hefésto que quando se parte algo sempre haverá uma parte maior e irregular. O mesmo acontece com um coração que é partido em dois. Não há partes iguais no amor.”
Partes iguais... é isso que ela quis dizer? Que se pode amar mais de uma pessoa, mas não da mesma forma? Não da mesma intensidade?
Levantei rapidamente e corri até Calipso que já havia descido a grande rocha e andava em direção ao acampamento de novo.
- Ei... – segurei seu braço a fazendo parar e me olhar, mas logo me arrependi disso. Calipso estava chorando. – Calipso... – soltei o ar com peso no coração e a puxei para um abraço.
Ela não disse nada, apenas chorou em meus braços silenciosamente por um tempo.
Eu a deixei chorar, não só porque não sabia o que fazer, não só porque desculpas não iriam adiantar, mas porque eu queria que ela melhorasse de alguma forma.
Depois de um tempo ela se recompôs e limpou o rosto se afastando de mim. Estávamos no estreito da floresta, mas ainda assim rodeados de arvores e ninfas que teriam que fofocar depois.
- me desculpe por isso. – ela disse sem jeito me fazendo quase sorrir.
- não é você que tem que se desculpar aqui. – falei sentido e ela me olhou com um sorriso torto.
- Não se culpe por isso e não pare sua vida por mim Leo. Está tudo bem, pelo menos agora eu sei que você está bem e conseguiu derrotar a “cara de terra”. – ela sorriu me fazendo rir.
- acredite, ela ficou bem derrotada. – destaquei e ela riu de forma doce e linda.
Começamos a andar de volta ao acampamento enquanto conversávamos.
- o que você vai fazer agora? – perguntei curioso. – quero dizer, agora no mundo real.
Ela suspirou pensativa.
- quando sai de Ogigia perdi meus poderes, então acho que sou uma mortal comum agora. – me surpreendi ao ouvir isso e a olhei com certo desespero que a fez rir. – não me olhe assim. Talvez eu possa ter uma vida normal, estudar, trabalhar, casar e ter filhos... – disse fantasiosa o que fez meu coração apertar.
- talvez você deva ir ao Júpiter. Mesmo sendo mortal agora, ainda é filha de um titã. Pode ser perigoso. – falei receoso e ela parou me fazendo reparar que já estávamos fora da floresta e dali podíamos ver os chalés e o refeitório.
Os campistas já estavam fazendo suas atividades diárias a qual eu estava fugindo neste exato momento.
- me falaram de la. Nova Roma. Percy contou que é incrível. – ela disse como se tentasse imaginar.
Ao ouvir o nome dele eu estreitei meus olhos para ela.
- Percy hein? Vocês conversaram bastante? – perguntei tentando soar indiferente.
Ela sorriu.
- um pouco. Acho que ele se sente culpado também e está fazendo o que pode pra ajudar, mas a namorada loira me da arrepios. Ela me olha como se fosse arrancar minha cabeça.
Com isso eu ri.
- Annabeth é firme e difícil, mas é uma pessoa boa. E você não pode culpa-la por sentir ciúmes. – falei a encarando e ela deu nos ombros olhando distante.
- não culpo. – segui seu olhar encontrando ao longe Percy e Annabeth treinando esgrima. – isso parece tão distante pra mim... – ela disse como um pensamento alto quando a olhei e assim que ela percebeu sorriu sem jeito. – você me levaria lá? – fiz uma cara confusa. – no acampamento júpiter.
Com isso todos os meus sensores de perigo piscaram e apitaram um enorme alerta vermelho.
Acampamento Júpiter ainda mais com a Calipso seria como pedir para Hazel terminar comigo, além da possibilidade de morrer.
- ãhn... talvez, não sei. – respondi enrolado e ela franziu as sobrancelhas pra mim.
- por quê? Você não tem autorização para ir lá? – provocou.
Respirei fundo.
- quase isso.
Calipso pegou minha mão me surpreendendo, eu a olhei em impulso e encontrei seus olhos fixos nos meus. Ela estava mais perto do que eu pensei me fazendo gelar no lugar.
- é por causa dela? Ou porque não quer correr o risco de ficar sozinho comigo? – perguntei de perto, eu podia sentir seu hálito fresco e seu cheiro aflorado e doce.
Os dois. – respondi mentalmente, mas não consegui dizer nada.
- Leo... – ela apertou minha mão de forma firme, presente, o que me causou um arrepio estranho. – apesar... você... ainda me ama? – sua voz saiu baixa e quase falha.
Enrijeci sem evitar, minha cabeça girou enquanto ela me encarava esperando uma resposta.
- eu...
- você deve ser a Calipso. – uma voz fina soou ao nosso lado, nos fazendo afastar e olhar.
Piper tinha um sorriso simpático e nos observava como uma cobra de olhos esverdeados.
Graças aos deuses por ter aquela garota como amiga.
Afastei-me mais de Calipso soltando sua mão.
- Calipso, essa é a Piper. Ela é minha amiga. – apresentei me recompondo.
Elas trocaram um aperto de mão e Calipso a olhava de forma estranha e analítica.
- uma das melhores eu diria. – Piper disse presunçosa me fazendo rir.
- a mais convencida também. – falei em brincadeira, ela me deu um olhar divertido.
- você é filha de Afrodite? – Calipso perguntou por fim nos fazendo a olhar.
- tão obvio assim? – Piper quase pareceu ofendida.
Calipso não pareceu levar isso como algo bom e fez uma careta.
- deve ser porque esbanja amor rainha da beleza. – brinquei e Piper sorriu para mim mesmo não estando convencida.
- Anne me pediu para achar você já que eles estão tendo algum problema com o mini Argo. – Piper disse como se tivesse acabado de se lembrar.
- eles já vão? – perguntei e ela assentiu. Virei-me para Calipso. – você poderia ir. – propus e ela me encarou seria, pareceu se ofender com isso.
- não se você não for. – ela impôs birrenta e eu murchei.
Piper puxou o ar entre os dentes.
- hum... não é uma boa ideia. – ela disse para Calipso que a ignorou e continuou a me encarar.
- Calipso... – choraminguei, mas ela não cedeu.
- Leo. Pelo menos isso. – disse jogando baixo.
Porque essas mulheres conseguem ser tão persuasivas?
Respirei fundo.
- vou ver o que posso fazer. – falei cedendo e ela abriu um lindo sorriso largo.
- você é o melhor. – Calipso disse me beijando no rosto rapidamente antes de sair correndo para a casa grande.
Piper me olhou fulminante.
- na arte de ser imbecil você é mestre Valdez! – ela disse nervosa com seus braços cruzados.
- sou mestre em muitas coisas Pips. E o que eu poderia ter feito?
Ela fechou a cara para mim.
- não é o que você poderia ter feito e sim o que vai fazer. Só os deuses sabem o que vai acontecer se você for até la, ainda mais com a Calipso! Céus! A Hazel vai...
- eu sei, eu sei! – falei a cortando. Não precisava daquilo, estava ciente das minhas bagunças.
- olha só Leo, você é como um irmão pra mim e sabe disso, então eu vou com você e não ouse dizer não. – ela desafiou e quando não disse nada continuou. – só te desejo boa sorte para conversar com sua namorada que está nos olhando neste exato momento.
Segui o olhar de Piper e avistei Hazel perto do seu chalé de braços cruzados nos olhando.
Suspirei criando coragem.
- se eu morrer finja que você não me avisou. – disse a Piper que revirou os olhos antes que eu seguisse em direção a minha namorada para uma conversa mortal.
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