“Com esta mão espantarei as suas tristezas;
Sua taça jamais ficará vazia, pois eu serei o seu vinho;
Com esta vela iluminarei o seu caminho na escuridão;
E com esta aliança eu lhe peço que seja minha.“
— Gosto do seu entusiasmo — disse para Emily e tiro a mão dela, que havia saído do braço, e a ajudo a colocar de volta. Sorrimos um para o outro.
—Recém-chegado!!! — alguém grita e de repente várias…pessoas, esqueletos, enfim, aparecerem para receber a nova pessoa morta.
Olho para frente e Emily já está levantando, então faço o mesmo que ela. Quando vou abrir minha boca para falar, a porta se escancara e de lá, sai o Mayhew. O que, Mayhew?
— Mayhew! — grito e ele me olha
— Oh, Victor
— Você...sinto muito
— Na verdade até me sinto melhor, agora a tosse parou e consigo respirar normalmente
— Ah, que bom, eu acho. Como estão todos? Minha família, a Victoria?
— No começo ficaram preocupados, mas…Victoria vai se casar hoje a noite
— Mas eu estou aqui
— Acharam um Lorde Sei Lá O Nome, e vão a casar.
Victoria vai se casar…com outra pessoa? Um lorde? Suspiro e olho para Mayhew, que está cabisbaixo
— Ah…obrigado por avisar — digo e me retiro.
Subo as escadas do bar e começo a andar pela cidade. Meu cabelo estava se bagunçando com o vento, enquanto eu sentia frio pelo fato da minha roupa estar rasgada. Suspiro e abraço meu corpo numa tentativa de me esquentar, mas não ajuda muito.
Olho para frente e uma parede com pedaços caindo está ali. Ah, verdade, é aqui que eu conversei com a Emily pela primeira vez. Dou uma voltinha e encontro as escadas, subindo as mesmas.
Termino de subir e ali está o banquinho. Sento no mesmo e olho para frente. Estranho...não tem lua aqui. Consigo ver toda cidade, e uau, ela é gigante. Cheia de prédios grandes, mas mal feitos pois estão quase caindo; todos com as luzes ligadas, várias pessoas andando e correndo pela cidade.
Será que eu conseguiria viver aqui?
Victoria se casou, ou vai se casar, então eu vou ficar sozinho. Se voltar vou ser linchado pela minha, e pela família dela. E a Emily…eu pensava que ela era chata, mas ela toca piano tão bem. Talvez eu não a conheça tão bem.
Tiro do meu bolso a flor, que havia pego na casa de Victoria. Antes eu sentia uma faísca começando a surgir quando olhava essa flor mas agora…não me significa nada.
E se eu me casasse com a Victoria? Fosse para o mundo dos vivos e a tirasse do casamento? Não me parece uma má ideia.
Assim que penso isso, minha mente me mostra a imagem de Emily. Como ela ficaria? Parece que ela gosta mesmo de mim, mas nem nos conhecemos.
Sinto meu coração bater mais rápido. Por quê isso agora? Por que eu ficaria nervoso em pensar na Emily? Estremeço no banco e volto a olhar para a cidade. Ali vejo Emily andando, falando sozinha. Provavelmente está falando com aquela larva que fica atrás do olho dela. Sorrio. Graciosa.
Ela se deita em um caixão mas logo se levanta e volta para o bar.
Quando percebo, estou sorrindo feito besta.
É muito estranho eu sorrir para uma morta?
Enfim, vou falar com a Emily sobre eu voltar para o mundo dos vivos, se ela gosta tanto de mim vai aceitar.
Desço as escadas rapidamente e em minutos chego no bar. Ainda estão festejando a chegada de Mayhew, então o bar está lotado, e uma completa bagunça. Metade das pessoas aqui está bêbada. Não suporto bêbados. Respiro fundo e entro no bar, tentando achar Emily. Sou espremido, empurrado e até socado enquanto tento andar. A única parte vazia ali é o piano, então vou até lá.
Me sento e abaixo minha cabeça, meu corpo está doendo depois de tantos socos e empurrões que recebi, e estou com dor de cabeça.
— E ele saiu correndo. Não entendo os homens. — ouço a voz da Emily atrás de uma porta que estava ao meu lado.
Me levanto e vou até a porta, me abaixando e colocando a orelha na porta para ouvir melhor
— Homens são todos iguais, meu anjo. Mas não se preocupe, já já ele volta.
— Minha filha… — um homem, provavelmente o Velho Gutknecht
— Sim? — Emily pergunta
— Há uma complicação no seu casamento…
O quê? Penso
— Hã? Como assim? — Emily pergunta
— Os votos dizem "até que a morte os separe"
— Sim…
— Mas…a morte já separou vocês
Merda. Ele tem razão. Essa poderia ser minha chance de voltar para o mundo dos vivos finalmente
— Não tem nada que a gente possa fazer? — Ela pergunta
— Tem…mas é difícil, e irreversível
— O que é?
— Ele teria que…ele teria que se matar, e se casar no mundo dos mortos contigo novamente
Uau.
Me matar para me casar com ela. Do jeito que ela é, com certeza vai falar que vai me convencer a me matar.
— Não…eu nunca poderia, e nem pediria isso para ele, Velho Gutknecht.
Ela…ela disse não?
Olho por uma fresta de porta e ela está com uma feição triste, todos estão na verdade. Ela arruma o cabelo e suspira.
Talvez eu não a conheça tão bem…Victoria me vêm na mente, será que ela faria o mesmo por mim? E…será que eu seria feliz ao lado da Victoria?
Pensando bem, não conheço bem nem a Victoria, nem a Emily. E mesmo não me conhecendo bem, Emily desistiu de uma felicidade, pela minha felicidade e vida. Sorrio.
Eu estive enganado todo esse tempo.
Olho pela fresta novamente e ela está sorrindo triste.
Abro a porta e todos olham para mim:
— Você não precisa pedir, eu faço.
Todos me olham pasmos. Sorrio. Eu nunca tive tanta certeza na minha vida:
— Victor…eu sei que você gostaria de ficar com a Victoria. Não precisa fazer isso
— Emily…me desculpe ter te julgado tão mal. Quero te conhecer, e gostaria mesmo de me casar com você. Vamos fazer isso? — estendo minha mão para ela
Emily me olha incrédula, mas rapidamente sorri de canto a canto e coloca sua mão acima da minha. Um choque passa pelo meu braço rapidamente. Sim, eu fiz a escolha certa.
Entrelaçamos nossas mãos:
— Vamos nos casar! — grito e todos comemoram, saindo da cozinha e entrando no bar
— Emily e Victor irão se casar! — alguém diz e todos começam a bater palmas. Sorrimos e saímos do bar, indo para o centro da cidade.
Lá, subimos na estátua que havia lá. Várias pessoas estavam reunidas em volta da mesma:
— Pessoal! Emily e eu decidimos fazer isso da maneira correta. Então vamos nos casar; e no mundo dos vivos!
— Casamento no mundo dos vivos! — todos gritam e começam a andar de um lado para o outro para organizarem tudo. Desço da estátua e ajudo a Emily a descer
— Ai Victor…nem acredito nisso, estou tão feliz — ela diz sorrindo. Olhei para o rosto dela com cuidado. Ela é realmente linda — Por que está me olhando assim?
— Assim como?
— Não sei…parecia estar pensando em algo
— Ah — faço cara de pensativo — Acho que sei porque eu estava assim
— Por que?
— Porque… — me aproximo e sussurro — Estou apaixonado pela mulher mais linda do mundo
Emily cora — se é que é possível — e sorri. No mesmo momento várias mulheres puxam ela para se arrumar para o casamento. Dou risada com o pequeno desespero dela.
— Rapaz, vai se casar com essas roupas? — alguém diz e olho para trás, mas não havia ninguém ali
— Quem disse isso?
— Eu — uma aranha aparece do nada na frente do meu rosto, sorrindo. Fofo
— Ah sim — sorrio sem graça — Bem, não tenho outro terno então terá de ser esse mesmo
— Mas está rasgado!
— Acho que não há nada que eu possa fazer
A aranha sorri e várias outras apareceram atrás dele, logo todos ficam na minha roupa e começam a costurar.
De início foi fácil, mas em alguns minutos começou a me fazer cócegas
— Pare de se mexer! Vamos acabar te espetando
— Não consigo — risos — Parar de rir — risos — Está fazendo cócegas!
No mesmo momento eles acabam de costurar e me trazem um espelho para ver.
— Uau! Ficou muito bom, parece até que é novo. Muito obrigado
— Por nada — elas vão embora e começo a ouvir várias pessoas chegando, olho para trás e todos estão indo para o mundo dos vivos, então os sigo.
Todos nos reunimos no escritório do Velho Gutknecht, começo a procurar pela Emily, e rapidamente a acho, então damos as mãos no momento em que o Velho Gutknecht quebra o ovo acima de todos e em alguns segundos estamos todos no mundo dos vivos.
— Uhu! — alguém diz e todos começam a comemorar, saindo da floresta.
— Ué — digo
— O que foi? — Emily pergunta
— Tinham bem mais pessoas no escritório, tem poucas aqui na floresta
— Acho que cada um foi para um lugar, mas vamos para a igreja que já já aparece todo mundo — ela sorri e concordo com a cabeça
Saímos da floresta e vamos para a igreja que estava próxima. A igreja estava vazia, e a porta aberta, então entramos na mesma. Quando subo no altar o Padre aparece com seu pijama:
— Victor?! — ele pergunta
— Oh padre…essa é a Emily, vou me casar com ela
— Uma…morta? — ele pergunta, apontando para ela, e seus dedos tremendo
— Isso mesmo
Ele dá um passo para trás com a boca aberta:
— Isso é pecado! — ele grita saindo da igreja e fechando a porta, impedindo qualquer pessoa de entrar
Por algum motivo em alguns minutos todos mortos (e alguns vivos também, por incrível que pareça) entraram e começaram a se sentar para o casamento ocorrer:
— Comecemos o casamento — diz o Velho Gutknecht.
Assim, todos se sentam, e a música clássica começa, anunciando que Emily entraria no momento. Olho para a porta e ali está ela. Segundos antes eu estava ao lado dela, mas mesmo assim, parecia que era a primeira vez que eu estava a vendo. Linda. Sorrio e ela sorri, andando calmamente até o altar. Estendo minha mão a ela, que coloca a mão dela acima da minha, e fica ao meu lado no altar:
— O vivo começa os votos, ok? — Velho Gutknecht diz
Pego a taça e me viro de frente para Emily:
— Com esta mão espantarei as suas tristezas. Sua taça jamais ficará vazia, pois eu serei o seu vinho.
— Agora você, Emily
—Com esta mão espantarei as suas tristezas. Sua taça jamais ficará vazia, pois… — ela diz enchendo minha taça com o veneno, mas depois simplesmente trava, olhando para algo atrás de mim
— Jamais ficará vazia, pois...pois…vazia…
Tento virar meu rosto para olhar para o que ela está olhando, mas ela impede
— Pois eu serei seu vinho — digo para finalizar os votos e tento beber o veneno, mas Emily impede colocando a mão na taça
— Emily..o que?
— Victor...meus sonhos foram roubados, e eu roubei os sonhos de outra pessoa — ela olha para algo atrás de mim e me viro para olhar
Victoria
Victoria?
— O que…o que está fazendo aqui, Victoria?
— Você vai se casar? — ela pergunta
— Vou…é
— Victor — Emily me chama e me viro para ela
A mesma chega perto de mim:
— Eu te amo Victor, mas você não é meu
Lágrimas começam a brotar nos meus olhos
— Emily…eu gosto de você. Na verdade, eu te amo Emily. Estou mesmo disposto a isso tudo
— Você gosta dela, Victor? — Victoria pergunta e me viro para ela
— Victoria…um dia com a Emily rendeu muito mais do que a minha vida toda; coisas que eu nunca senti, e ela é tão divertida. — olho para ela e ela está triste — Me desculpe, de verdade, mas eu a amo
Victoria respira fundo
— Eu…eu entendo — ela sorri triste e no momento as portas da igreja são escancaradas pelo…Lorde sei lá das quantas que estava no ensaio do meu casamento com a Victoria. O que ele está fazendo aqui?
— Victoria! Você está casada comigo, não ouse me trocar! — ele grita e Victoria revira os olhos
— Você só quer o dinheiro dos meus pais! Saiba que quando essa loucura acabar, nós nos divorcearemos pois contarei tudo o que ocorreu
Ele trava
— Divórcio? Eu ficarei devendo para os seus pais! Não!
— Sim! Agora vamos sair daqui pois estamos atrapalhando um casamento
— Casamento? Chama isso de casamento? — ele olha para o altar e seu olhar para em Emily
Emily arregala os olhos, assim como o Lorde faz
— Emily?
— Você…
— Me diga, Emily, o coração ainda pulsa depois de uma desilusão? — ele sorri sarcástico
Emily cria uma feição irritada.
Ah…esse Lorde é o que matou ela.
Na mesma hora que eu entendo isso, todos nossos amigos entendem e se levantam para apanhar o Lorde. Mas o Velho Gutknecht os para:
— Estamos no mundo dele, não podemos fazer nada por ora
Lorde me olha:
— Você que minha Victoria quer se casar, é? Está se casando com uma morta? — ri alto e começa a se aproximar de mim — Acho que…se você sumir, eu poderia ficar com a Victoria sem ela reclamar feito uma criança — ele sorri e pega uma espada que estava enfiada no peito de um anão morto — Que tal?
Alguém me joga um garfo, e começamos a lutar.
Toda vez que ele investia com a espada, eu segurava com o garfo, e assim ficamos por um tempo, de um lado para o outro, até que; ele consegue bater no meu garfo me deixando desarmado.
Caio no chão pois não tinha visto a escada que dava para o altar. Lorde sorri e segura a espada para enfia-lá em mim. Fecho os olhos esperando a dor chegar; mas nada acontece.
Abro meus olhos e Emily está a minha frente, recebendo a espada na costela:
— Você roubou tudo de mim. Não vou deixar que roube mais nada — ela retira a espada da costela e enfia rapidamente no coração do Lorde. Retirando e colocando várias vezes, até que o mesmo cai no chão e quando levanta o rosto, está com a pele azul.
Todos sorriem:
— Agora podem pegá-lo — diz o Velho Gutknecht
Assim, todos mortos se levantam e vão para cima do Lorde, entrando num quarto e fechando a porta do mesmo.
Me levanto e vou até Victoria:
— Victoria…me desculpe, mas ficarei com a Emily
Victoria sorri:
— Compreendo e apoio
— Vamos finalizar o casamento? — Velho Gutknecht pergunta e Emily e eu vamos até o mesmo
Pego a taça:
— Com esta mão espantarei as suas tristezas. Sua taça jamais ficará vazia, pois eu serei o seu vinho. — digo, sorrindo
Emily levanta a garrafa com o veneno, mas não coloca na taça, pois já havia, então apenas levanta a garrafa:
— Com esta mão espantarei as suas tristezas. Sua taça jamais ficará vazia, pois eu serei o seu vinho. — ela diz e sorrimos um para o outro
Levanto a taça e nos olhamos. Viro a taça rapidamente. Minha visão começa a ficar embaçada e caio no chão.
Me levanto e Emily, Velho Gutknecht e Victoria estão me olhando:
— Funcionou? — pergunto
— Meu filho…você está azul — Velho Gutknecht diz e todos sorrimos
Volto ao lado da Emily e a beijo; um beijo sedento. Finalmente, seremos felizes.
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