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História Easy Love - 11. Juntas


Escrita por: Thabielivers

Capítulo 11 - 11. Juntas


Fanfic / Fanfiction Easy Love - 11. Juntas

Termino de passar meu rímel e analiso todos os ângulos possíveis e imagináveis, procurando falhas na maquiagem daquela noite. Quando me dou por satisfeita, a tela do meu celular acende com uma notificação e meus olhos quase saltam do rosto ao perceber o horário. Passava um pouco das 20h e Gabie já tinha mandado mensagem avisando que estava chegando.

Se fosse qualquer outra pessoa nessa situação, já estaria pronta e esperaria na portaria. Mas como é comigo, o desespero de ainda não estar nem vestida é real, por isso, saio estabanada e apressada do banheiro pra vestir a saia branca, quase escorregando por estar calçando meias.

Luto contra o zíper da saia, batalho contra o cinto preto e colocar o top marrom parecia uma guerra. Estar atrasada era algo normal pra mim, mas estar atrasada, nervosa e tremendo era um combo que eu nunca havia experimentado, então muito obrigada, Gabriela Fernandes, pelo mimo.

20h12. Meu telefone toca, a foto da Gabie acende na tela e eu sorrio que nem uma babaca. Faltava calçar apenas meus tênis e vestir o kimono florido, logo, em poucos minutos, eu estava pronta e ainda não havia atendido as ligações da Gabie. Não queria ouvir por estar atrasada, então deixei pra retornar quando estava completamente vestida e já dentro do elevador. No segundo toque ela atendeu.

- Isso porque eu falei pra não se atrasar, Meneghim - falou brincando.

- Esperava alguma coisa diferente de mim? - pergunto e o elevador para no térreo. Ela ri do outro lado da linha.

- Eu te conheço, por isso fiz nossas reservas pra mais tarde. Não dá pra confiar em ti com horários. - sinto o sorriso em sua voz.

- Olha, uma ofensa de graça. Faz mais, tô adorando. - me faço de ofendida e ela ri mais uma vez.

- Sério, cadê tu, Meneghim? - pergunta quando eu saio pelo portão do prédio. - Deixa, já te vi. Tchau. - desliga antes que eu possa falar mais alguma coisa.

Me viro pra rua e olho pros lados procurando aquela maluca, mas não vendo nada, até que uma movimentação do lado esquerdo me chama atenção e eu vejo aquela mulher maravilhosa vindo até mim. Meu coração para de bater por alguns segundos e quando volta ao trabalho, parece uma bateria de escola de samba, mas ela estava tão linda que ninguém poderia me julgar pelo papelão que eu estava passando na frente do meu prédio.

Ela vestia um top preto que deixava parte da sua barriguinha branca de fora, por cima usava uma jaqueta de couro que eu sabia ser sintético, porque ela nunca compraria couro original. A calça jeans de lavagem escura era de cintura alta e tinha as pernas dobradas pra emoldurar o all star preto de cano longo. O estilo bad girl que ela ostentava naquela noite seria minha morte, mesmo eu sabendo que ela era um neném por dentro.

Não percebi o momento em que ela parou bem na minha frente e beijou minha bochecha, só senti o calor do corpo dela emanando pro meu.

- Oi. - ela fala, tímida e levemente corada.

- Oi. - respondo talvez tão tímida quanto ela.

Fico na ponta dos pés e retribuo o beijo na bochecha, o que faz ela corar ainda mais. Ela me estende a mão para seguirmos até o carro e ao chegar, ela abre a porta pra mim com um sorrisinho de canto e segue pro lado do motorista, fato que eu não estava acostumada. Gabie entra, põe o cinto de segurança, fica parada um tempinho pra respirar fundo e logo liga o carro com muita cautela, e eu? Eu estava toda encantada observando toda sua concentração pra não errar nada na hora de dirigir.

Descobri naquele momento um hobby: observar a Gabie dirigindo. Seus anéis reluzindo com as luzes dos postes que passavam, seu olhar de concentração adornado pelas sobrancelhas franzidas, sua boca contraída quase em um biquinho e que às vezes variava pra uma mordida no lábio inferior e todos os tiques nervoso de batucada no volante que ela tinha quando parava no sinal vermelho.

Ela estava tão concentrada no trânsito, que nem se tocou que eu estava quase toda virada no banco para encará-la, então saquei meu celular e bati algumas muitas fotos dela. Não vou negar, coloquei uma delas como foto de fundo no whatsapp, mesmo meio escura como tinha ficado, mas ainda assim dava pra ver nitidamente que era ela e todos os seus trejeitos no volante.

Alguns minutos depois, ela estaciona e eu tiro os olhos do book que eu tinha feito dela no meu celular para perceber a fachada do lugar em que paramos. Quando reconheci o restaurante, abri o maior dos sorriso e me virei pra Gabie.

- A gente vai jantar aqui? - tentei conter a animação.

- Vamos, quer dizer, eu fiz nossas reservas, mas se tu quiser a gente pode comer em outro lugar, não tem problema. - desanda a falar e eu seguro a risada. - Eu devia ter perguntado antes, pode ser que tu nem esteja com vontade de fondue, eu sou muito ruim nisso. - começa a falar mais consigo mesma do que comigo e eu intervenho.

- Ei. - coloco minha mão na coxa dela e ela me encara. - Tá tudo bem. Foi a escolha perfeita, eu tava morrendo de vontade. Sem contar que é o nosso restaurante de casal já, né? - sorrio pra ela que me olha aliviada.

Gabie é muito insegura quando quer e isso me deixa muito puta da cara, porque ela não consegue ver que ela é o ser humano mais perfeito que existe e só consegue se colocar pra baixo. Só que se depender de mim, eu vou fazer ela ver todo dia o mulherão da porra que eu arranjei.

Descemos do carro e logo ela se põe ao meu lado pra segurar minha mão enquanto entramos no local. Ela dá o sobrenome dela na entrada e nós sonos guiadas pelo garçom até uma mesa nos fundos do restaurante, onde eu sabia que eram feitos os momentos românticos que eles disponibilizavam e só de pensar na Gabie ligando pro restaurante só pra reservar esse momento pra gente, me dá vontade de chorar de emoção.

Eu tinha conhecimento do nível de romantismo daquela garota e eu sabia que não era do mesmo grau que o meu, então eu nunca esperaria nada do tipo vindo dela, qualquer coisa que ela fizesse já ganharia meu coração. Mas, sentada ali, naquela mesa cheia de pétalas de rosa, com um balão de gás hélio em forma de coração balançando ao nosso lado e até com um ursinho de pelúcia que eu me segurei pra não apertar, eu vi que ela se importava muito com a minha reação e queria se esforçar pra fazer os meus gostos.

Após servir uma taça de vinho pra cada uma, o garçom se retira e ficamos apenas Gabie e eu naquele espaço. Seus olhos verdes me fitavam intensamente e eu retribuia o olhar com a mesma vontade, o silêncio não era um problema entre nós, nunca foi, e hoje não seria diferente. Eu poderia ficar olhando pra ela sem dizer nada pelo resto da vida, só absorvendo a beleza que ela emana unicamente por existir, mas naquele momento eu sentia a necessidade de externar meus pensamentos sobre o nosso encontro e a surpresa que ela me fez.

- Eu tô tentando, mas não consigo te imaginar ligando pra cá e pedindo toda essa produção pra ter um encontro comigo. - comento apoiando o cotovelo esquerdo na mesa e repousando o rosto na mão.

Ela dá um sorriso tímido.

- Confesso que eu bati cabeça pensando no que a gente poderia fazer, até pensei em pedir tua opinião, mas queria fazer surpresa. - ela dá de ombros. - Aí eu cheguei a conclusão de que não precisa ser diferente do que a gente é de verdade, então achei que o Blackpot seria uma boa opção.

- Merda, Gabie, por que tu é tão fofa? - me estico sobre a mesa e aperto as bochechas dela, que vira o rosto e joga o cabelo pro lado.

- Não faz, vou ficar sem graça e nem orna ficar sem graça contigo no meio de um encontro. - ela ri.

- Ué, e por que não? - franzo o cenho.

- Porque isso vai acabar em um vídeo futuramente, certeza. Sem contar que tu já me viu em várias situações piores, não tem porque eu ficar sem graça. - justifica.

- Concordo contigo, mas minha cabeça não aceita que eu já te conheço há anos e continua me fazendo sentir como se tudo fosse novo. - confesso.

- De certa forma, é tudo novo, Thali. A gente tá se conhecendo de novo só que em uma nova perspectiva, sabe?

- Eu sei, mas qual é, Gabie? Eu já te vi sem maquiagem, acordando toda cagada e tu já me viu vestida de pereba ao vivaço e fazendo a merda da capivara. - rebato.

- Ei, não fala assim da capivara. - defende em meio a risadas. - Mas, na real, eu nem sei. Na minha cabeça tá tudo tipo "tô calma por ser a Thali, mas ao mesmo tempo nervosa por ser a Thali". Eu sei que se der algum micão, no futuro a gente vai rir disso, mas eu não consigo evitar de ficar aterrorizada de pagar algum mico na tua frente. Dá pra entender? - vira a cabeça de leve pro lado esquerdo, meio em dúvida.

- Cara, te entendo totalmente. Tipo, eu tô tranquila porque é tu, minha melhor amiga, mas tô extremamente ansiosa por ser tu, a mulher que eu tô apaixonada. - meu rosto esquenta e ela abre um sorriso maroto.

- Apaixonada, é? - ergue as sobrancelhas. - Bom saber.

Reviro os olhos e solto uma leve risada.

- É, apaixonada. Caso eu não tenha deixado claro ainda: eu estou apaixonada por ti. - falo sério e ela agora me encarava com um olhar indecifrável.

Gabie coloca sua mão com a palma virada em cima da mesa, convidando a minha mão pra se juntar à dela. Quando a toco, um arrepio percorre meu corpo e eu sorrio abertamente, alternando meu olhar entre nossas mãos juntas e os olhos da mulher na minha frente.

- Bom, caso eu também não tenha deixado claro: eu estou apaixonada por ti, Meneghim. - falou dando ênfase em cada palavra, fazendo meu sorriso quase rasgar meu rosto.

- Fala de novo? - peço e ela assente.

- Eu estou completamente apaixonada por ti, Thalita Meneghim.

- Merda, isso é muito bom de ouvir, Gabie. Se eu pudesse, teria gravado esse momento.

- Não precisa, eu vou fazer questão de te dizer todos os dias daqui pra frente. - ela garante e eu puxo nossas mãos juntas pra dar um beijo em cada um dos dedos pálidos dela.

- Você é linda, sabia? - pergunto e ela, pela primeira vez, desvia o olhar.

- Que isso, Thali? Não faz assim do nada, eu ainda não aprendi a reagir elogios. - mesmo à luz de velas, eu percebo o rubor nas bochechas dela.

- Eu sei que não, mas vai ter que aprender. Vou te elogiar todos os dias até tu acreditar em mim. - afirmo.

- Eu acredito. - ela volta a me olhar.

- Então agradece o elogio me olhando nos olhos. - arqueio as sobrancelhas.

- Ai, Thalita, para.

No momento que eu iria insistir, nosso garçom volta trazendo as carnes, pães e alguns vegetais para a primeira parte da refeição. Logo atrás dele, vinha um outro rapaz trazendo o recipiente que o fondue ficava, com o fogo já aceso esquentando o queijo. Tudo isso sendo organizado em cima da nossa mesa, enquanto eu fitava Gabie como uma maluca, mas é que era um amor ver ela toda concentrada nos rapazes arrumando o jantar, como se estivesse se certificando que estava tudo certinho e nada estivesse fora do lugar.

Quando eles foram embora de vez, deixando a garrafa de vinho em um balde com gelo na nossa mesa à pedido de Gabie, ela me olhou meio que procurando aprovação no meu olhar e tenho certeza que encontrou, porque eu estava amando cada segundo planejado por aquela mulher, mas eu também teria amado se ela tivesse me levado pra comer dogão na esquina da casa dela.

O clima entre nós não poderia ser melhor durante o jantar, as risadas preenchiam aquele lugar e a leveza do momento seria algo que eu levaria pra vida toda. Tudo com a Gabie era mais fácil, até um primeiro encontro, coisa que eu nunca fui bem. Mas jantar com ela no nosso restaurante de fondue favorito, no meio de pétalas de flores, ursinhos de pelúcia e gargalhadas soltas era a prova de que era ela e sempre seria ela.

No final da noite, quando já estávamos na parte das frutas mergulhadas no chocolate, Gabie fala que não acabava ali e que ela tinha outra surpresa pra mim. Eu, que odiava surpresas, estava começando a amar por conta daquela garota na minha frente. Ela teve todo um cuidado comigo a noite toda, até mesmo me servindo morangos na boca depois de arrastar sua cadeira pro meu lado.

Ela estava com seu braço ao redor dos meus ombros e eu estava com a cabeça deitada em seu peito, o silêncio pós comida estava me dando um pouquinho de sono, mas eu estava determinada a descobrir aonde íamos depois daqui.

- Poxa, Gabie, uma diquinha só. - faço biquinho olhando pra ela.

- Negativo, Meneghim, não adianta vir com bebexinho pro meu lado, não. - continua firme na surpresa.

- Fala bebexinho de novo. - peço e ela revira os olhos.

- Bebexinho. - repete.

- Acho a coisa mais fofa, faz mais. - volto a deitar em seu ombro.

- Tu tem uns gostos meio estranhos né?

- Claro, pra gostar de ti, né? - zoou.

- Que mal, retira. - fala se fingindo de ofendida.

- Retirei já, tu é normalzinha. Perdoa. - beijo seu pescoço e ela se arrepia.

- Acho que tá na hora de ir, tu não acha? -se levanta nervosa e estende a mão pra mim.

Eu rio e me levanto.

- Não precisa ficar nervosa, amor. - me dou um tapa mental quando percebi como chamei ela.

- Amor? - ela enlaça os braços ao redor da minha cintura e eu me escondo no ombro dela, com os braços ao redor do pescoço dela.

- Desculpa? - minha voz é abafada pelo material da jaqueta que ela usava.

- Na verdade, não. Tava esperando um "pitiquirica", até onde eu sei tu não chama os @ de amor.

Eu fico sem graça e me afasto um pouco dela, sorrindo amarelo.

- Thalita... - ela fala meio desconfiada.

- Ai, me deixa. - puxo meu celular do bolso da saia e desbloqueio a tela, procurando o contato da Gabie no whatsapp e abrindo a janela dela.

Estendo o aparelho pra ela e Gabie me larga pra focar na tela, então eu começo a brincar com a sola do meu tênis no chão enquanto ela processava a informação.

- Não acredito que meu contato é "Pitiquirica", Thalita. - me olha e ri. - Desde quando?

- Desde ontem? - meu rosto parece estar pegando fogo.

- Tá, mas e essa foto do papel de parede? - ela pergunta com a sobrancelha direita erguida

- Achei sexy tu no volante, ué. Não pode? - cruzo os braços.

É a vez dela de pegar o celular no bolso da calça e desbloquear.

- Já que tu me mostrou isso, nada mais justo que eu me expor também. - fala dando toques na tela e me estendendo o celular.

Eu pego o aparelho e gargalho quando vejo o que tem na tela. Meu contato era "amor", um coração azul junto de uma estrela e a tela de fundo do whatsapp dela era a foto que eu tinha postado no stories no dia que ela terminou com o Theo. Nós duas éramos muito goiabas mesmo.

- Isso que eu chamo de metas de casal. - digo e devolvo o celular pra ela com uma mão e com a outra a puxo pra perto pelo passador da calça jeans dela.

- Concordo, mas então, apelido carinhoso liberado já? - ela volta a me envolver pela cintura.

- Eu que tinha que te perguntar, os apelidos que eu uso te irritam. - falo e dou um selinho dela.

- Agora que é comigo, eu juro não me irritar. Na verdade, achei a coisa mais amorzinho o meu contato no teu celular. - ela admite dando de ombros. - Acho que eu só odiava porque não era comigo antes e sim com os lixo que tu namorava.

Eu rio e jogo a cabeça pra trás.

- Não era tu a senhora "não tenho ciúmes"? - provoco.

- Ei, eu nunca disse isso. - ela defende.

- Disse sim, se tu admitiu que é ciumenta uma vez na vida, foi muito.

- Ai, tá bom, sou ciumenta sim. Muito taurina eu. - fala com a voz de blogueira que me faz revirar os olhos.

- Nossa, super taurina. Quando eu olhei pra ti eu pensei: touro, certeza. - encorporo a blogueira que há em mim e nós começamos a zoar.

Depois de pagar a conta, voltamos ao carro e ela dirige em silêncio sabe se lá pra onde, mas desde que fosse com ela eu iria até o inferno. Vez ou outra ela me olhava e sorria, por saber que eu sempre estaria encarando ela, apaixonada por aquela mulher concentrada na direção.

Não demora muito e nós chegamos em um portão fechado com cadeado. Eu olhei ao redor procurando sinais de onde era ali, ficando chocada ao perceber que nós estávamos no Morro das Pedras. O horário de visitação já tinha acabado há horas, mas Gabie estava com o celular no ouvido esperando alguém atender, ela deve ter algum plano ou sei lá.

Quando esse alguém misterioso atende, Gabie é completamente monossilábica e, logo, um senhor de meia idade abre o portão, acenando com a cabeça pro carro, permitindo a nossa passagem. Gabie entra com o veículo e para embaixo de uma árvore no amplo estacionamento, eu ainda não estava entendendo nada.

- O que a gente tá fazendo aqui, Gabie? - pergunto segurando seu pulso enquanto ela soltava o cinto de segurança.

Ela me dá um sorriso reconfortante e responde.

- Cê já vai entender, estrelinha. - falou, saiu do carro e eu fui atrás.

Ela já estava conversando com o senhorzinho quando eu a alcancei.

- Tudo certo então, Ramon? - ela pergunta com as mãos nos bolsos.

O senhor acena em positivo e entrega uma chave pra ela e eu continuo sem entender nada.

- Você pode deixar comigo outro dia, menina Gabriela, mas cuidado pra não deixar ninguém ver vocês. - ele me olha e sorri gentil. Eu retribuo, mas antes de falar alguma coisa ele dá meia volta e segue para o casarão, que era o retiro onde ficava o morro.

Gabie volta pro carro e abre o porta malas, eu seguia em seu encalço como uma sombra, totalmente perdida só seguindo o fluxo. Ela pega uma mochila preta e um lençol grande de piquenique, me estendendo também uma lanterna enorme.

- Gabie, tu se importa? - pergunto.

- Quê? - fecha o porta mala e tranca o carro.

- Em me explicar, se importa? - falo seguindo a garota que ia em direção a lateral do casarão.

- Então, quando meu pai era vivo, ele trazia minha mãe pra esse lugar. Não sei como ele sabia da existência disso ou como ele conseguia entrar, mas depois que ele virou estrelinha, mamãe começou a trazer eu e o Manuca aqui uma vez por ano. - fala seguindo por uma trilha que meio que entrava nas árvores, não chegava a ser fechado, mas precisava da lanterna. - A vista dali de cima no morro é linda, mas nesse lugar é mais ainda.

Paramos em um portão de metal com trinco e ela usou a chave que o senhor entregou pra ela pra abrir o portão.

- E quem é aquele senhor? - pergunto sentindo uma brisa fria me atingir.

- Ele é tipo o segurança daqui ou alguma coisa assim. Foi ele que me liberou pra usar esse lugar, dei sorte de ele ainda trabalhar aqui e ser um romântico incurável. - se vira pra mim com um brilho no olhar e para de andar. - Minha mãe fez amizade com ele pra continuar a trazer a gente aqui. Então, preparada? - ela parece ansiosa.

- Claro. - respondo mais ansiosa ainda.

Ela tira algumas folhas do caminho e me dá a passagem, vindo logo atrás de mim. Quando eu olhei em volta, o choque me atingiu. Estávamos em cima de um morrinho de pedras com a vista pro mar batendo na areia, cercado de verde e as luzes da cidade ao fundo. Me viro pra Gabie e meu queixo estava caído.

- Lindo né? Olha pro céu. - ela aponta pra cima e desliga a lanterna.

Com a escuridão da noite, as estrelas brilhavam de uma forma que nunca se veria no meio da cidade. Enquanto eu estava encantada pelas estrelas e pelo mar, Gabie estendeu a toalha no chão e se sentou, me chamando pra sentar no meio das suas pernas.

- Achei que combinava trazer a minha estrelinha pra ver as outras estrelinhas. - ela fala e me aperta em seus braços.

Eu viro meu rosto em sua direção e deixo um beijinho em sua bochecha.

- Quem diria que existe uma Gabriela Fernandes romântica aí dentro. - falo em tom de brincadeira.

- O que a gente não faz quando tá apaixonada, né não? - responde rindo.

- Mas isso aqui é mil vezes melhor do que recadinho em coraçãozinho de cartolina, né, Gabie. Isso aqui é outro nível teu que eu não conhecia.

- Ai, não faz assim, os corações foram bonitinhos. - ela faz biquinho.

- Foram, claro, com certeza. - irônica toda. - Sem querer cortar nosso romance, Gabie, mas... - falo desenhando padrões no braço dela ao meu redor.

- Ih, lá vem. Fala, Meneghim.

- Tô com fominha. - sorrio sem graça.

- A gente acabou de comer, sua imensa. - ela gargalha.

- Lembra que a gente não tem estômago em primeiro encontro? - faço referência à alguns vídeos nossos.

- Eu bem vi tua falta de estômago devorando quase um boi com queijo e todo o estoque deles de morango com chocolate. - se estica e puxa a mochila preta pra mais perto de nós duas. - Mas como eu conheço o bichinho que eu crio, te trouxe uns sanduíches de casa.

Ela tira um isopor pequeno de dentro da mochila, tirando dos pacotinhos de papel alumínio e me entregando.

- Tem suquinho também? - não me faço de rogada e peço mesmo. Ela revira os olhos, mas puxa uma garrafinha térmica com suco de laranja.

- O abuso é grande, né, Thali? - zomba, mas eu estava muito concentrada saboreando o meu sanduichinho. 


- Minha mãe que fez pra gente, porque eu meio que contei que ia sair contigo.

Eu me engasgo com um pedaço do pão e começo a tossir loucamente. Ela fica nervosa e abre a garrafinha térmica, me estendendo pra tomar um pouco de suco. Quando passa a sensação de morte, eu pergunto:

- Como assim "meio" que contou? Ou contou ou não contou. - encaro a garota.

- Ela meio que já sabia. - Gabie fala baixo.

- Meu deus, Gabriela, para com esse negócio de "meio" e me explica direito essa porra.

- Olha a boca, Meneghim. - briga.

- Até parece que tu não adora quando eu falo palavrão. Pensa que eu não te noto, é? Agora, desembucha. - falo e Gabie cora.

- Sei lá, ela tava no meu quarto enquanto eu tava começando a me arrumar e perguntou o que eu iria fazer. Daí eu expliquei que eu iria jantar contigo e depois te trazer pra cá. Quando eu saí do quarto pronta, ela já tinha preparado a mochila e me deu um abraço. No meio do abraço ela solta no meu ouvido um "bom encontro, fiz um lanchinho pra Thalita. Espero que ela goste". E SAIU, TÁ LIGADO? - ela termina de contar e eu não sabia se ria ou se chorava com a fofura.

- Ela só saiu? - perguntei dando mais uma mordida no sanduíche.

- Ela só largou a mochila na minha mão e foi pro quarto, eu fiquei no meio da sala igual uma pateta processando tudo.

- Mano, nossos pais só podem ter algum poder mediúnico assim, só isso pra explicar. - conspiro.

- Eu acredito mais na teoria do Rafa mesmo. - ela dá de ombros e abre a boca, pedindo meu sanduíche. À contra gosto, dou um pedaço pra ela e reviro os olhos.

- Da gente ser super trouxa indiscreta? - pergunto.

- Eu não diria trouxa, mas já que tu disse... - ela deixa por isso mesmo.

- Pelo menos tua mãe não apostou nada com ninguém igual meus pais.

- A parte boa disso tudo é que a gente não vai passar o problema de se assumir, porque eles já sabiam mesmo e aparentemente tá tudo de boa por eles. - Gabie pontua.

- Verdade, né? - concordo e dou uma pausa. - Não sei, tá sendo tudo tão fácil com a gente que eu tô até meio desconfiada.- suspiro. - Eu sei que isso é péssimo e que eu deveria agradecer por estar sendo tão descomplicado, mas não te sobe uma desconfiança também? - pergunto.

- Vou te confessar que sim. - Gabie fita o horizonte. - Mas não vou ficar me questionando o motivo de estar dando tudo certo, vou só aproveitar contigo o tempo bom e se vier tempestade, a gente passa por ela juntas, né? - desvia o olhar pro meu e pisca o olho direito, sorrindo pra mim.

- Juntas. - respondo.


Notas Finais


O romantic moment do blackpot existe, vocês podem pesquisar pra ter uma ideia. O morro existe também, mas não a parte que elas ficam, às vezes a realidade não ajuda na ficção né mores.


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