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História Ecthelion da Fonte e Calaure - Oialae Nirwe


Escrita por: CalaureLomelinde

Notas do Autor


Oialëa Nirwë[ Para sempre marcada]


Finalmente!!! 😉

AVISOS: Tortura psicológica e carta de suicídio.

Imagem referente ao início do próximo capítulo.

🎼 The Swan Song 🎶 Within Temptation🎼
https://youtu.be/u76STEGlCXk
O inverno chegou para mim,
não consigo continuar
As correntes em minha vida são fortes,
mas em breve não estarão mais aqui
Abrirei minhas asas mais uma vez
É um sonho?
Todos que amei
chamando meu nome
O sol aquece meu rosto
Todos os dias de minha vida
vejo passando por mim
Em meu coração sei
que posso libertar
No fim, encontrarei
paz dentro de mim
Novas asas estão crescendo esta noite
Como estou subindo eu sou um com o vento
Estou desejando vê-lo novamente, já faz tanto tempo
Nós estaremos juntos novamente


🎼Stairway to the skies - Within Temptation 🎼
https://youtu.be/c_eRND2GyhM
Sete segundos ainda surgem
Não posso acreditar que ainda estou vivo
E o céu estava esperando por mim
Eu pensei que este seria o fim
Mas eu sei que você vai entender
Tudo o que está me mantendo aqui
Eu sonho com uma escada para os céus
Meu anjo está descendo do céu para me levar
Eu me estendo, mas depois você desaparece
Sempre que você chamar por mim
Saiba que eu estou logo atrás
Meus sentidos me dizem que eu mudei
Mas uma coisa ainda permanece
Estou dividido e o ódio ainda está doendo
Eu lentamente começo a perceber
Não vamos nos reunir
Eu ainda tenho que marchar através
É uma maldição
Ou uma virtude?
Eu tenho sido cegado
Por arrependimento
Perdição aguarda
Minha alma está em jogo
Eu irei encontrei a escada para os céus
No fim


🗺️Um mapinha😉
https://cdnb.artstation.com/p/assets/images/images/004/192/125/large/karolina-wegrzyn-beleriand-and-realms-of-the-north-by-sirielle-d6u0ecg.jpg?1511309280

Capítulo 17 - Oialae Nirwe


Fanfic / Fanfiction Ecthelion da Fonte e Calaure - Oialae Nirwe

Deixaram Calaurë amarrada com os braços abertos por dias, sem água e comida. Ela não conseguia se manter em pé e os braços esticados causavam uma dor horrível nos seus ombros. O furo que Thuringwethil fez em seu braço não cicatrizava e de tempo em tempo, uma gota de sangue pingava no chão.

Sozinha no escuro total, ela teme o que irá acontecer. Alguém abre a porta e ela se assusta, mas quando sente o toque do orc em sua bochecha a forçando a beber água e engolir um pedaço de alguma comida ruim, ela se sente aliviada, mesmo tendo que se esforçar para não vomitar. Por mais alguns dias ela fica sozinha, o orc não voltou.

A risada de Thuringwethil quebra o silêncio. Calaurë tenta se manter em pé, mas estava muito fraca e não consegue nem levantar sua cabeça para olhar para a Maia, que morde o outro pulso da elfa. Ela não sente o poder da presença de Gorthaur, só escuta o som agudo e desafinado que tenta tomar sua mente e sua visão...

Calaurë está em uma ravina, seria em Valinor? Não, a luz vinha da Sol, então era na Terra-Média, mas ela não consegue saber onde. Anda por um tempo sozinha, olhando em sua volta. Até que vê Idril sentada na grama a poucos passos dela. Se aproximando, ela percebe que a sobrinha estava chorando. "Itarillë [Idril] o que aconteceu, você está chorando?" Calaurë se assustou com a resposta: "Minha tia Calaurë, ela não voltou, eles a mataram." Ela sem entender diz: "Itarillë, sou eu! Não foi isso que aconteceu." A elfa chora ainda mais: "Eu não consigo falar sobre isso. Ecthelion pode te explicar." Olhando em volta, Calaurë vê Ecthelion e corre até ele e diz: "Ecthelion, sou eu, Calaurë, eu voltei!" Ele olha para ela como se nunca a tivesse visto, seus olhos vermelhos de tanto chorar não a reconhecem: "Calaurë? Ela está... Eles a mataram e deixaram seu corpo em Dor Daedeloth, em frente as portas de Angamando. Estava quase irreconhecível, havia uma carta fincada em seu peito que dizia: "Por não contar ao Rei de Arda a localização da cidade oculta." Mas... do que adiantou ela fazer isso? A cidade acabou, não existe mais alegria, todos estão de luto e choram inconsolavelmente. O rei... a sobrinha dela... nem sei o que dizer. Minha vida acabou." Ecthelion  levanta a cabeça e olha para frente, Calaurë segue seu olhar e vê um rio correndo em um precipício. O elfo corre em direção a ele. Ela corre atrás dele, mas estranhamente tropeça e cai no chão, vendo quem ela ama desaparecer no precipício. Grita em desespero pedindo ajuda. Olha em volta e percebe que está sozinha. Grita mais alto ainda, chamando o nome de todos. Todos eles se foram? Ela realmente está morta? Não, ela não está nos salões de Mandos, então está viva, precisa encontrar alguém, eles precisam saber que ela está bem, precisam acreditar nela. Ela corre por muito tempo, gritando. Ela vê alguém andando cabisbaixo, consegue alcança-lo. "Turukáno[Turgon]!" Ela grita e ele para, seu olhar mostra que ele também não a reconheceu. "Turukáno, sou eu, Calaurë, onde estamos? Onde estão todos? Itarillë sumiu. Ecthelion, o rio, precisamos encontrá-lo." Ele responde, sua voz muito baixa e triste: "Você não é a Calaurë, ela morreu e Ecthelion morreu por não suportar isso. Calaurë manteve o segredo, mas tudo deu errado, os reinos dos Noldoli foram destruídos. Só me resta minha filha e mais nada." Calaurë chorava: "Não, isso não pode ser verdade. Os outros Lordes, os guerreiros, todos os Noldor, os Sindar, eles iriam lutar. E eu estou viva, estou aqui, me escute." O rei cai de joelhos diante dela: "Tudo acabou. Elenwë morreu. Calaurë morreu" A elfa continua dizendo: "Sou eu, me escute, estou aqui para te ajudar. Vamos encontrar Itarillë e Ecthelion. Sou eu, olhe para mim." Mas o rei cobre o rosto com as mãos e chora, sem dar atenção para ela. Ela volta a correr em volta, chorando e gritando por Ecthelion...

Por muito tempo ela gritou e correu até que tudo ficou escuro. Ela pensa: "Estou em Mandos? Ou em algum reino? Ou de volta a Angband? Eu realmente tinha saído? Ondolindë [Gondolin] e os outros reinos realmente foram destruídos?" 

Tudo permanece escuro e em silêncio. As imagens e tudo o que ela ouviu está claro em sua sua mente. Ela chora ao se lembrar da reação deles: "Se eu voltar, eles não vai mais me reconhecer? Acreditam realmente que eu morri? Ecthelion sentiria, ele saberia a verdade. Ou não?"

Dias se passaram, estava cada vez mais fraca. Sua mente a atormentava, não tinha mais certeza de onde estava, se estava viva, se estava acorrentada. As imagens voltaram, uma fortaleza sendo consumida pelo fogo, gritos e sons de batalha. Por um momento ela fica aliviada por aquela não ser Gondolin, mas quando vê um elfo muito ferido lutando contra os orcs ela grita. Era Maedhros. Himring estava derrotada. Vários elfos estavam mortos no chão. Então a visão muda. Ela está em Angband em sua cela. Gorthaur está com Maedhros. "Torture ela ou você morre." O elfo nega e Gorthaur Finca sua adaga no braço do elfo, que a puxa e anda em direção a elfa. Calaurë está imóvel, não acreditando no que via. Ela serra os dentes e morde os lábios para não gritar quando Maedhros começa a cortar a sua pele lentamente. Ela sente as lágrimas descerem pelo seu rosto. Queria implorar que ele parasse, mas se ele parasse ele seria morto. Calaurë observa os cortes, são precisos, como ela só viu uma vez. "Russo!" a elfa o chama, mas ele não olha. Maedhros com certeza olharia para alguém que o chamasse pelo seu epssë Russandol. Não podia ser ele! 

Calaurë grita, com toda a força que resta, sente o ar vibrar em sua volta. Vê Thuringwethil se afastando dela e tampando os ouvido e Maedhros se transformando em Gorthaur. Ela sente a raiva do Maia, suas algemas queimam e a elfa cai no chão. Ela escuta ele chamando os orcs, mas não entende a ordem.

Vários orcs a rodeiam, e começam a espanca-la. Ela ficou encolhida, tentando proteger o rosto com os braços, enquanto eles cobriam seu corpo com pontapés. Eles só param quando ela mal se mantém consciente.

Calaurë não consegue manter os olhos abertos, não consegue se mexer e nem pensar, as costelas quebradas dificultam sua respiração. Ela solta um gemido abafado quando a amarram de braços abertos e Thuringwethil a morde. Era muita dor, muito sofrimento e, quando vê aqueles que amava em sua frente também sofrendo por sua morte, ela implora para aqueles elfos a ajudem, sua voz falhando com o sangue que saia de sua boca e nariz. Calaurë achou que nunca ia implorar para que parassem de torturá-la, para que a curassem, mas naquele momento, sua família e amigos que estavam na sua frente, eram sua única Estel [esperança].

Gorthaur percebeu que quando o Hröa dela estava dilacerado e quebrado, ela aceitava e acreditava mais nas visões, implorava por ajuda, implorava para que eles a salvassem, que a tirassem dali. E assim, ele sempre a torturava com a ajuda dos orcs, a ponto de deixá-la quase inconsciente antes que Thuringwethil bebesse seu sangue e mostrasse as visões, enquanto ele assumia a forma dos elfos.

Gorthaur era: Ecthelion, Glorfindel e Turgon; Ecthelion, Elenwë e Idril; Fëanor e Curufin; Maglor e Maedhros; Turgon e Ecthelion; Todos os Fëanorion; Ecthelion e Elenwë... Todos aqueles que que estavam nas lembranças que compartilhou com Gorthaur. As vezes eles falavam que ela estava morta e sofriam na sua frente pelo luto, sem recolhecê-la. Outras vezes eles ficavam felizes em vê-la e diziam que aquele sofrimento teria fim se ela os levassem de volta a Gondolin,mostrando o caminho que só ela lembrava. Mesmo sendo tentador, ela não cedia, mesmo achando que seu Fëa ainda estava ligado a seu Hröa por pouco.

Calaurë estava sempre tão machucada que não sabia quando a realidade virava ilusão. Isso se repetiu tantas vezes que ela lentamente foi percebendo alguma coisa errada com aqueles que apareciam em sua frente: o brilho em seus olhos, suas atitudes e palavras egoístas. Eles não podiam ser aqueles que amava, ela não queria mais vê-los, mesmo não sabendo ao certo o que estava de errado com eles. Então aconteceu...

Ela não respondia e não olhava mais nos olhos de Ecthelion-Gorthaur, nem mesmo quando ele falava que a amava e a tocava. Não ficava mais triste de ver sua irmã Elenwë-Gorthaur ou culpada por abandonar Idril-Gorthaur. Não tinha mais admiração e reverência por Turgon-Gorthaur. Não se importava mais com Fëanor-Gorthaur falando que ela era fraca por ainda estar ali. Não sorria mais quando os sete Fëanorion-Gorthaur apareciam, animados, dizendo que ela era forte e podia sair dali se dissesse o que era pedido... Nenhuma daquelas pessoas eram reais. Só estavam maculando suas boas lembranças. Os elfos antes felizes agora choravam pelo luto de sua morte nas visões... 

Por mais que soubesse que aquelas visões eram mentiras, pensava: "É isso que vai acontecer comigo se eu não contar, vão me matar e deixar meu corpo nos portões de Angamando. É isso que Ecthelion vai fazer quando descobrir, vou ser responsável pela morte dele. E Itarillë...". Ela não sentia mais nada, nenhum sentimento. Antes, uma mente repleta de cores e brilho, agora era branca, vazia, sendo tomada e rabiscada de negro.

Gorthaur percebeu que precisava mudar seus métodos novamente. Ele segura o braço dela que Thuringwethil não estava mordendo e o quebrou. A dor foi tão forte que Calaurë gritou até ficar rouca. Quando conseguiu abrir os olhos, ela vê que está em Máhanaxar e na sua frente estão Manwë e Varda. O desejo que fosse real a engana, ela corre até eles e ajoelha, dizendo: "Rei e Rainha de Arda". Mas eles não sorriem ao vê-la, como sempre faziam. Na verdade, a expressão deles era estranha, espanto e talvez... raiva? Ela pensa: "Eles não olhariam assim para mim. Pelo menos não antes... de seguir e me ligar ao destino dos Noldor, aqueles que mataram seus parente. Os Valar me perdoariam? Não quero pensar assim, mas as vezes acho que esqueceram daqueles que sofrem aqui em Endor[Terra-Média]. Não tenho saída, fugir daqui é impossível. E Valinor está fechada para mim, nunca irei conseguir retornar para pedir perdão aos Valar. Então só tem uma forma para ir para Valinor: Mandos! E se eu já tiver morta quando me levarem até Moringotto, então eles não vão deixar meu corpo nos portões. Ecthelion não vai me encontrar e vai achar que ainda estou viva, ele vai viver..."

Calaurë não sabia, mas o olhar de Manwë e Varda na sua frente era como Gorthaur se lembrava deles, olhando para ele com preocupação e desprezo quando ele escolheu seguir Melkor. Mas foi por essa visão que Calaurë tomou sua horrível decisão. 

Quando foi novamente deixada sozinha, seu corpo despedaçado, ela murmurou com as poucas forças que a restavam, como se escrevesse uma carta de despedida:


Por favor, me perdoem! Manwë, Varda e todos os Valar do oeste...

Atar [papai] Ingwion e Amil [mamãe] Insil, como dói olhar para o passado, quando tudo era alegria, quando estávamos juntos, a família perfeita. Como sinto falta de vocês. As canções de Amil. Atar e seu jeito rigoroso e ao mesmo tempo amoroso. Por favor, não julguem meus atos, eu lutei, eu tentei. Eu lutei até não conseguir mais. Enfrentei o que nunca imaginei que conseguiria. Tudo o que eu queria é que ficassem orgulhosos de mim, mas... não consigo ir mais além. Eu amo vocês...

Elenwë, por que deixamos Valinor? Em busca de uma vida feliz, onde derrotaríamos juntos o inimigo e construiríamos nosso reino juntamente com os Noldor que amávamos? Mas agora entendo: ninguém deveria ter deixado Aman! Não conseguiremos sozinhos derrotar o inimigo, pois vi sua força. E você está nos salões de Mandos. Não consegui te salvar. Estou tão arrependida! Eu devia ter ficado do lado de nosso Atar e te convencer a ficar em Taniquetil...

Turukáno [Turgon], sempre serei fiel a você, meu rei e cunhado. Me perdoe se falhei. Prometi cuidar de Itarillë [Idril] e prestar serviços a Ondolindë. Mas em uma coisa não falhei: sua Cidade permanece oculta. Dê a todos a proteção e o cuidado que não pude dar...

Itarillë, você está cada vez mais bela. Minha princesinha, cuide da pulseira que deixei com você, aquela que Ecthelion me deu, e se lembre de mim. Me juntarei a sua mãe agora...

Ecthelion, meu amor, você é aquele que meu destino foi ligado. A profecia de Irmo dizia que ficaríamos para sempre juntos, mas vejo que fiz as escolhas erradas e acho que isso mudou o destino. Queria ainda acreditar que não fomos esquecidos pelos Valar, que podemos ter Amdir [esperança] e Estel [fé]. Você me deu forças até agora, como nesse momento, que estou ouvindo nossa melodia, exatamente como você tocava para mim. Mas nunca me senti tão sozinha. Não sinto mais nada, perdi a emoção e isso me despedaça. Não sou mais eu, e eu odeio o que me tornei. As sombras são o que resta e as lágrimas são em vão. Meus olhos não mais brilham, tudo o que eu tinha de mais valioso foi tirado de mim e eu me entreguei a escuridão. Só quero poder sonhar novamente, um Fëa livre, sem mentiras e enganações. Poder lembrar do que realmente foi real, onde sentimentos verdadeiros existiam. As feridas em meu Hröa já estão eternizadas em meu Fëa e nunca serão curadas, não depois que passei 16 anos aqui. Não posso me libertar, então não consigo mais suportar. Eu não sei viver na escuridão e não consigo mais seguir em frente sem você, me perdoe ...

Námo, por favor, acolha meu Fëa despedaçado em Mandos e que... o Único... Ilúvatar, me perdoe por essa decisão...


Calaurë sabia como conseguir o que queria. Após alguns dias, os orcs voltam e a prendem suas algemas na parede. Thuringwethil chega como de costume antes de Gorthaur. A Maia fura seu braço e ela escuta a melodia aguda e desafinada em sua mente novamente, como aconteceu por anos. Não consegue mais se lembrar de outras músicas e das melodias de Valinor. A visão começa, um lugar diferente que lembrava o lugar que o Maia, ainda como Mairon, a tinha mostrado na própria lembrança dele. Então, ela se lembra do tema, aquela frase musical que ela escutou em sua lembrança, mas que era cantada por Aulë, um reflexo da Grande Música, do Ainulindalë. Ela respira com dificuldade, mas consegue cantar as 16 notas. Sua mente clareia e Calaurë pensa em Ecthelion, escutando junto a música, o tema deles, a Profecia de Irmo. Ela a canta, entremeando de uma forma perfeita as duas melodias. A imagem em sua frente fica borrada. Ela se sente forte, sente no fundo de sua própria mente o controle e continua cantando.

 A Maia levanta um pouco a cabeça para olhar para ela e depois morde com mais força em seu pulso, mas a elfa não demonstra reação, continua cantando, o som afastando as visões. Mesmo cantando, ela ainda ouve a melodia de Ecthelion. A criatura para novamente e diz irritada:

— Pare agora de cantar! Sinta meu poder nas visões.

Calaurë sorri, sem emoção, e responde:

— Não vejo nada, você é fraca. Se fosse mais forte me afetaria.

— É isso que veremos!

Thuringwethil ainda mais irritada, fura o outro pulso da elfa, tirando boa quantidade de sangue. Calaurë se sentia cada vez mais fraca. Quando parava sua canção a visão da Maia ficava forte e era ainda difícil manter o controle em sua mente, então ela continuava cantando com a voz falha.

— Pare de cantar! Você está me irritando! Quer morrer?

A elfa pensa: "Sim!" A Maia solta o pulso da elfa e segura seu pescoço a enforcando. Calaurë olha para Thuringwethil, sua canção um sussurro. Quando a elfa percebe que lhe faltava ar, ela provoca a criatura dizendo:

— Você continua fraca. Quer me subjulgar assim? Não vai conseguir, você é uma criatura corrompida, fraca e sem poder!

Thuringwethil solta um forte urro, segura nos cabelos da elfa, puxa sua cabeça para o lado e crava com raiva os dentes em seu pescoço. A elfa volta a cantar, os visões ficando insuportavelmente nítidas pois a Maia ficava mais forte tirando mais sangue. Calaurë se concentra na sua Canção de Poder, que parece criar uma leve proteção contra a magia da criatura, mas estava perdendo muito sangue, um leve torpor começou a tomar conta dela, a dor de seus pulsos e pescoço diminuindo, a respiração ficando cada vez mais pesada. Ela sorri e calmamente aceita seu destino. Não consegue mais cantar e mal respira e, mesmo assim, a Maia ainda estava presa em seu pescoço com as mãos puxando seus cabelos, deixando que tudo se transformasse em uma reconfortante névoa...

— Thuringwethil! O que você está fazendo?

"Essa voz, por favor, que não seja ele! Deixe ela continuar...", pensa Calaurë quando sente alguém arrancando a Maia dela. Estava ficando inconsciente, seu corpo em completo torpor. Alguém pega seu queixo e levanta seu rosto, ela não consegue abrir os olhos.

— Viu o que você fez? Quer matá-la? O que te levou a fazer isso? — Silêncio. Ele grita. —Responda!

— Essa inútil me irritou! Ficou me chamando de fraca. Mas eu não sou! Sou mais forte que ela e posso provar! Sou a mais...

— Mas você quase a matou. Não podemos apresentar ela assim para o mestre. Dê seu sangue para a elfa!

Calaurë sentiu alguém tocando seu pescoço.

— Não podemos perde-la sem ter a resposta! Você quer ver a fúria do Rei de Arda? Faça! Agora!

A elfa ouviu um protesto. Então, alguém tampou sua boca, estavam tentando sufoca-la? Sente um puxão para trás em seus cabelos que a faz abrir a boca. O gosto metálico fez ela ficar enjoada enquanto era forçada a beber o sangue da Maia. O líquido estava quente em seus lábios, mas assim que engolia, ficava estranhamente gelado, seu corpo começou a tremer. Calaurë ainda escutava, muito baixo, a melodia de Ecthelion e sentia o efeito da canção em seu corpo, tentando bloquear aquele gelo.

— Chega! Isso não está adiantando! O que você fez com ela? Vou levá-la até Melkor! Você que se explique e aguente a sua fúria depois.

As correntes romperam e alguém a pegou no colo bruscamente, andando rapidamente. Calaurë sorria enquanto perdia os sentidos e todo o som a sua volta se transformava em silêncio...


Não sinto dor, não consigo entender os barulhos e conversas que eu ouço. Essa clara luz. Valinor. São as árvores! Mas elas ainda existem? Queria conseguir abrir os olhos. A pura e clara luz está se transformando, ficando vermelha. Está em toda minha mente. Em meu Fëa. Puxando como garras e me trazendo para a consciência. Queima. Dói. Tento bloquear, não permitir que essa luz vermelha como fogo, como sangue, invada minha mente. Mas é como em uma corda bamba, e eu estou muito fraca. A dor está aumentando, estou sentindo a luz e o poder em meu Hröa, se conectando e entrelaçando, até que fique insuportável... 

Abro os olhos respirando profundamente. Alguém me segura em pé, meus pés não tocam o chão. A luz pura, prata e dourado, está na minha frente. Estou nos salões de Mandos? Mas não deveria ser assim, não era para ter dor. E a luz vermelha, o que era...? Eu tento gritar quando minha visão foca, mas não consigo encontrar força para isso. Moringotto [Morgoth] me encarava. Estou diante dele. A esperança dá lugar para o desespero. A luz vinha das Silmarilli em sua coroa de ferro. Ele tocava meu peito e dali vinha a luz vermelha. Minha respiração acelerou quando aquela luz se intensificou, queimando minha pele, puxando cada nervo do meu corpo, da minha mente. O peso em meu peito fazia minha respiração ficar superficial. A dor era insuportável e eu não conseguia me mexer, nada além dos olhos que estavam mantidos abertos contra minha vontade. O poder na minha cabeça se intensificou, indo contra meus escudos mentais.  A voz dele está em minha mente:

"Achou que eu deixaria você ir para os irmãos Fëanturi antes de você me dizer o que preciso? Não! Aqui nem comamorte você tem escapatória. Agora, seu Fëa está ligado a esse Hröa que foi marcado por mim. Parte de mim está em você. Você é minha, para sempre!"

Morgoth gargalha e a dor atinge o máximo quando ele toca toda sua mão enegrecida em mim. Meu Hröa não vai aguentar essa força, o poder dele em cada nervo. Vou ser sufocada, esmagada, destruída... Minha mente não vai tolerar toda essa tortura e horror... Meu Fëa... Eu preciso... Escudo... Minha força... Meu amor... Valar... Misericórdia...

Aquela insuportável sensação diminuí, mas a horrível queimação em meu peito continua, se espalhando em choques pelo meu corpo. O que ele fez comigo? Fico aliviada quando percebo que consegui manter o escudo em minha mente. Meu segredo ainda estava a salvo.

Moringotto desvia o olhar e diz para quem me segurava:

"Mairon, deixe-a em uma cela isolada. Ela tem um escudo mental interessante. O Hröa dela vai demorar voltar a reagir. Traga-a assim que isso acontecer, estou curioso."

Então era Gorthaur que me segurava. Novamente, escuto a voz de Moringotto em minha mente:

"Você terá muito tempo para refletir. Seu Hröa nunca será o mesmo. E seu Fëa? "

Moringotto olhava para sua mão que ainda tinha um brilho avermelhado quando Gorthaur me arrasta para fora do salão do trono. É uma sensação horrível estar consciente, sentir cada dor e ver tudo sem poder mexer nenhum músculo, sem poder lutar ou ... chorar. Tentava não pensar no que aconteceu enquanto o Maia me levava cada vez mais para cima por longo corredores. Ele me joga no chão e caio deitada de costas, um orc prende meus punhos e tornozelos em correntes no chão.  Gorthaur diz:

"Meu Senhor foi misericordioso. Mas agora você vai realmente saber o que é ficar presa."

Sorrindo, ele sai batendo a porta. Sinto o frio do chão de pedra nas minhas costas, um contraste horrível com a queimação em meu peito, como se tivesse um ferrete. A sensação esmagadora tornava minha respiração difícil, como se uma pedra estivesse em cima de mim. Mas eu mantenho minha consciência, mesmo sem conseguir me mexer. Meus olhos estavam vidrados, e através de um buraco na parede eu vejo a fumaça das Thangorodrim que cobriam qualquer sinal do Lua, Sol ou estrela. 

O tempo para nas colinas de ferro.

Não sei mais quanto tempo passou. Dias, semanas, meses, ano? O que ele fez comigo? Qual poder maligno usou? Já desisti de tentar lutar contra a força que paralisa meu corpo. Meu Hröa continua ligado ao meu Fëa mesmo sem água ou comida por tanto tempo. Maitimo [Maedhros] teria passado por isso? Algum dia vou conseguir livrar meu corpo disso? Voltarei a ter controle? Será que eles conseguem me forçar a falar as informações que guardo tão profundamente em minha mente e que estão salvas pelo juramento? Se fizerem eu falar, o inimigo vai chegar até a cidade protegida e vai ser minha culpa, todos os Gondolindrim, todos aqueles que eu amo... Mas se ele tentar entrar na minha mente agora... Não! Isso não pode acontecer, é únat [algo impossível de ser ou de ser feito]. Eu fechei minha mente, não cedi, mentive a porta trancada, a chave protegida. É um axan [Lei de Eru], Moriñgotho não pode tomar aquilo que pertence ao meu Fëa [espírito], minha Sanar [mente]. Mas seria ele capaz de me forçar a abrir minha mente? Não! Preciso me manter forte, mesmo sem o controle do meu Hröa [corpo]... Preciso ter esperança. As lembranças de Valinor podem me ajudar. Posso me lembrar das ondas de Alqualondë, da música... Se pelo menos essa horrível queimação em meu peito diminuísse, talvez eu conseguiria continuar pensando em coisas boas. Mas a dor é constante e se espalha cada vez mais, assim como os pensamentos ruins e a falta de esperança...

Gorthaur tinha razão, estou presa dentro da minha própria mente...

Se eu conseguisse me mexer, gritar, chorar, me arranhar, qualquer coisa para aliviar a queimação no meu peito...

Ecthelion, queria tanto que a música que eu escuto em minha mente fosse real...

Tenho medo de pensar e entender o que Moriñgotho disse: "Seu Fëa está ligado a esse Hröa que foi marcado por mim. Parte de mim está em você. Você é minha, para sempre!"...

 Valar, por favor, tenham misericórdia, não suporto mais. 

Como eu gostaria que a melodia que eu escuto fosse real. Gostaria de sentir esperança, de sentir alegria, assim como quando via Ecthelion tocando essa música, nossa música...

A marca em meu peito, as sombras se fecham e tiram a luz de mim. Estou desaparecendo. Essa força que me mantém presa, não tenho controle sob meu corpo, não consigo respirar. Estou perdendo a luta contra essa dor interior. Não sei mais no que acreditar, não sei mais o que é real, tudo está desmoronando. Mas não posso me perder em minha mente. O segredo tem que estar escondido para sempre, não importa quanto tempo passe, quantas vezes terei que cair, meus pensamentos estarão fechados. Mas até quando irei suportar? Valar, por favor, tenham misericórdia. Me mostre o que é esperança, pois temo que está já tenha desaparecido...

A música parece ter mudado. Não conheço essa melodia, mas ao mesmo tempo ela parece familiar. A música de Ecthelion está sendo tocada junto? Quem poderia saber essas músicas? Quem aqui nesse inferno estaria tocando... Não! Não pode ser ele, mas essa luz só pode ser das Silmarilli. Minha respiração acelera em desespero. Sinto um vento. Consigo fechar meus olhos, a luz intensifica, queria poder gritar. 

Com medo abro os olhos e vejo a luz de Anar [Sol] entrando por um pequeno buraco na parede de pedra, os vapores que a tampavam devem ter sido tocados pelo vento, um vento poderoso que só pode ter sido enviado por Manwë. A sensação do calor da Sol em minha pele congelada é reconfortante. Me assusto quando percebo que consigo me mexer. Lentamente e sem jeito por estar tanto tempo imóvel, olho para meu peito que ainda queimava dolorosamente desde que Moringotto me tocou. Minha respiração acelera quando vejo a marca horrenda. Brilhava como se houvesse fogo vivo formando de uma lemniscata, um "8 deitado", o símbolo do infinito. Finas linhas pretas como veias saiam do símbolo e se espalhavam pelo meu corpo. Chorei em desespero. Essa dor, a marca, iria desaparecer? Teria coragem de tocar nessa coisa horrível que agora fazia parte do meu corpo?

Tremendo, levantei minha mão direita para tocar a marca, mas parei quando percebi que havia algo diferente. Minha mão brilhava, o mesmo brilho dourado de quando a Maia Arien a segurou. Me lembro de quando ela me curou em Lórien e sinto esperança em meu coração. Toco a marca e sinto um calor reconfortante quando o brilho da minha mão passa para a marca fazendo uma falha dourada no infinito vermelho. A Sol é novamente encoberta pelas nuvens negras de fumaça.

Deito minha cabeça no chão de pedra e lágrimas ainda escorrem pelo meu rosto. Sinto uma mistura de sentimentos: esperança pela Sol ter aparecido, força pelo poder de Arien ter se manifestado, mas também medo de descobrir o que a marca significa. 

Consigo me mexer e até me sentar, mas não tenho forças suficientes para levantar. Me deito, fecho meus olhos e respiro fundo, me apegando no leve alívio da queimação da marca e na esperança: Manwë ouviu minhas preces. Busco lembranças de Valinor, de Lórien, de cura... 

O vento me desconcentra e há outra luz. Sinto um calafrio quando penso na possibilidade de ser Moringotto. O que ele faria comigo se descobrisse que a marca agora tem o poder de Anar? Abro os olhos e sorrio. Vejo Iþil [Lua] pelo pequenino buraco na parede. A luz reflete em minha pele, minha mão esquerda brilha, a que tocou os tonéis de Silpion [Telperion], o brilho de Tilion. Toco novamente na marca em meu peito e assim como os brilhos dourados, os prateados se transferem para a marca vermelha, causando outra falha. Iþil é novamente encoberto.

Os brilhos se juntam, como se um atraísse o outro, e se espalham pelas linhas negras as tornando mais claras, como cicatrizes de queimaduras. Sinto o total controle do meu Hröa [corpo]. A marca, agora com duas falhas, ainda se mantinha vermelha e a dor da queimadura se mantinha constante, um pouco mais tolerável.

Sinto o terceiro vento e vejo Valacirca, as estrelas de Varda. Me sinto forte, como nunca me senti aqui. Me levanto e cambaleou, cada passo doía após tanto tempo imóvel. Quando as estrelas somem ouço alguém se aproximando. Rapidamente me deito assim como me deixaram, fecho meus olhos. 

Escuto uma música, um tema de quatro notas que nunca havia escutado antes. Muito baixo, canto as notas e sinto meus braços formigarem como aconteciam nas... Canções de Poder! Mas é muito mais intenso, mais forte, mais poderoso.

A porta abre e alguém grita: "Calar!". Respiro aliviada quando reconheço a voz do orc. Abro meus olhos e canto mais alto a melodia, sentindo a vibração do som se espalhar pelo meu corpo, além dele... As correntes das minhas algemas e tornozeleiras se quebram antes que o orc chegasse até mim. Olhei para ele que estava paralisado e assustado ao sentir o poder da canção e vi que ele carregava uma adaga na cintura. Me coloquei de pé com um pulo, agarrei a adaga e degolei o orc.

Estranhamente, eu sabia o que tinha que ser feito. Era minha única chance. Tirei as armas e as armaduras e, repetindo baixinho a Canção de Poder, esfolei o orc. Quando terminei, vesti sua pele, a armadura e posicionei suas armas na cintura. Enquanto fazia isso, ele assumia alguns traços da minha aparência. Posicionei ele deitado onde eu estava antes.

Com coragem e esperança que há muito tempo não sentia, sai pelo labirinto de corredores de Angamando. Pela primeira vez, eu sabia por onde ir nos corredores que antes pareciam todos iguais. A melodia se repetia em minha mente, me guiava. 

Virei em um dos corredores e cheguei em uma das forjas de armas. Os Quendi [elfos] que me viam fugiam de mim, se encolhiam e tremiam. Isso despedaçou meu coração. Foi muito difícil manter meu disfarce. Comecei a repetir mentalmente: "Se eu sair daqui, eu juro: irei voltar para resgar vocês." Queria chorar e dizer isso alto. Um deles fugiu tão rápido de mim que  deixou sua Lanterna Fëanoriana para trás. A luz pareceu piscar, como se me chamasse. Em um impulso, eu a peguei e escondi nas vestes.

Quando mais eu seguia, mais orcs eu encontrava. Se não fosse pela melodia constante em minha mente, teria ficado desesperada. Mas de alguma forma eu sabia como agir. Fui até onde os orcs espiões se reuniam para sair de Angamando em uma missão. Com a Canção de Poder, todos me enxergam como sendo um orc. Um dos chefes dos orcs. Eles me cumprimentaram e me entregaram um arco e estranhas flechas com as pontas farpadas e repletas de um líquido viscoso. "A surpresa é pronta. Invencível. Caminho?" Eu respondi com a voz rouca: "Dorthonion" O orc perguntou: "Certeza tem?" Estranhamente eu sabia como reagir. Saquei minha adaga e coloquei no pescoço do orc, que era mais baixo e gritei com a voz rouca: "Esquece? Questiona? Morrer!" O orc negou com a cabeça, eu o soltei e outros riram dele. 

Como ainda existia o cerco a Angamando, não daria para ir por Dor Daedeloth no sul. Tivemos que ir pelo norte, pelas Ered Engrin. As montanhas congeladas eram de difícil travessia. A pele e a armadura pesava em meu corpo. Minha perna quebrada tantas vezes, inclusive na última tortura, doía, me fazendo mancar e andar com dificuldade. Com alívio, percebi que os outros orcs também tinham dificuldade. Um deles, que carregava vários suprimentos e armas pesadas, escorregou e caiu em um enorme precipício. Me lembrei de Elenwë e de todos que pereceram no Helcaraxë. Senti uma profunda tristeza, mas a melodia se repetiu e novamente senti esperança:" Eu consegui atravessar o Helcaraxë, conseguirei passar por isso também, com a ajuda dos Valar! Eles não se esqueceram de nós... "

Como ainda existia o cerco a Angamando, não daria para ir por Dor Daedeloth no sul. Tivemos que ir pelo norte, pelas Ered Engrin. As montanhas congeladas eram de difícil travessia. A pele e a armadura pesava em meu corpo. Minha perna quebrada tantas vezes, inclusive na última tortura, doía, me fazendo mancar e andar com dificuldade. Com alívio, percebi que os outros orcs também tinham dificuldade. Um deles, que carregava vários suprimentos e armas pesadas, escorregou e caiu em um enorme precipício. Me lembrei de Elenwë e de todos que pereceram no Helcaraxë. Senti uma profunda tristeza, mas a melodia se repetiu e novamente senti esperança:" Eu consegui atravessar o Helcaraxë, conseguirei passar por isso também, com a ajuda dos Valar! Eles não se esqueceram de nós... "

— Dividir!

Um dos orcs gritou e nos dividimos em grupos de cinco. Passar pelas encostas das Ered Wethrin foi fácil depois do desafio de atravessar as Ered Engrin. 

A noite mais uma vez chegou e facilitou a travessia pelo Ladros. Um dos orcs veio correndo de um dos outros grupos e disse: 

— Ir Aglon.

Eu tinha que fazer eles seguirem na direção de Anach. Sabia que seríamos atacados, mas se eu sobrevivesse e conseguisse despista-los, chegaria até a Cidade. 

— Não!

Eu gritei sem pensar. Mas pela expressão do orc era isso que o orc que achavam que eu era teria feito.

— Eu, ordem! Anach. Escurecer. Dividir.

O orc resmungou e se afastou. Os quatro que faziam parte do meu grupo me seguiram. Os orcs não acenderam fogueiras para não descobrirem nossa localização. Comiam a carne da caça crua e eu só fingia que estava comendo. Minha força vinha da magia em meu corpo. 

Era difícil não ver as coisas nojentas que os orcs faziam , não ouvir as coisas horríveis que eles falavam. A quantidade de ameaças. Se não tivéssemos que ficar escondidos, com certeza estariam se matando. Mas o pior de tudo são os planos que eles fazem de quando conseguirem atacar algum reino: como vão saquear, torturar os prisioneiros e matar os fracos.

Não posso pensar na Cidade, nem naqueles que eu amo pois talvez eu demonstre algum sentimento. Preciso não pensar em nada, não prestar atenção no que os orcs fazem e falam. Preciso me desligar. 

Anoiteceu e seguimos por Dorthonion, a floresta de Pinheiros nos ajudou. Os orcs quando queriam conseguiam ser silenciosos e furtivos com a ajuda da escuridão.

Estamos próximos das Ered Gorgoroth. Essa é a área de Angaráto [Angrod] e Ambaráto [Agenor], seu exército com certeza já sabe da presença dos orcs. Mas eu também vou ser vista como um orc. Se eles atacarem, vão me perseguir, até me matar. Preciso controlar meu desespero. Sussurro para meu grupo: 

— Rápido! Para Anach!

Eu andava o mais rápido que toda aquela pele de orc e minha perna deixavam. Estava cada vez mais perto da passagem. O mapa do caminho que eu teria que prosseguir estava claro na minha mente. Logo eu veria aqueles que eu amava .

Trombeta. Isso claramente foi uma trombeta. A trombeta da casa de Angaráto! Tentei disfarçar meu sorriso. Gritos. Os orcs estão desesperados. Eu corro o mais rápido que consigo. Ouço sons dos cascos dos cavalos correndo. Olho rapidamente para trás e vejo os orcs cai do mortos no chão, as heráldicas de Angaráto coloridas entre os pinheiros. Precisava ir mais rápido. Não sei quanto tinha conseguido avançar por Anach. As flechas passavam zunindo. Sinto uma dor forte na minha perna. Era uma flecha élfica. Estão me caçando. Eu sou um orc. Não posso ter ido tão longe para morrer como um orc.



Notas Finais


Sobre ela se "vestir" com a pele de orc, usei como inspiração essa parte de Beren e Lúthien:
"Já Beren põe pele de lobo,
ao solo cai e baba, improbo,
de língua rubra, esfomeado;
com pena, anseio a seu lado
vê vulto de horror, morcego
que vai se erguendo, dessossego,
e arrasta, estala a asa sua."

E a imagem:
https://disk.yandex.ru/a/ZE9M2u5y3VVtCJ/5af0a9af404b0da945e3c8d9

A melodia que Calaurë escuta para a fuga, sim, pensei na melodia do quinto elemento de Frozen 2. KKK


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