Escrita por: LomelindeCalaure
Calaurë foi levada para uma masmorra mais profunda, foi amarrada com os braços abertos. Tentou reagir ao ser presa pelos orc e levou alguns socos no estômago. O som do riso ficava cada vez mais alto até que ela vê algo escuro. Uma sombra que parecia sugar toda a luz e tinha o formato de um enorme morcego. No caminho da porta até a elfa ela vai assumindo algumas características físicas humanas. Ela sentiu grande tristeza.
A criatura parecia beijar o pulso de Calaurë, até que a dor a atingiu. Thuringwethil drenava seu sangue pelos furos de uma mordida em seu pulso acorrentado e assim fez durante um bom tempo. Calaurë percebeu que não era só sangue que ela tirava, mas também a energia, a alegria, a esperança e as boas lembranças. Agora a elfa só conseguia sentir dor, tristeza, luto e abandono. A vampira ficava mais forte quando se alimentava de sangue. Sim, ela tinha que ser uma Maia, poderosa como as que ela conheceu em Aman, mas corrompida para o mal.
Após se alimentar, Thuringwethil diz em uma voz doce e melodiosa na mente da elfa: “Vai responder o que o senhor dos Orcs já te perguntou ou posso acabar com você aqui mesmo? Vou te mostrar como gosto de fazer, ainda mais quando Mairon [Sauron] se une a mim”
Calaurë entendeu porque ela era chamada de “Mensageira de Sauron”. Tinha uma grande influência psíquica e conseguia fazer os outros terem as visões que ela queria e eram muito reais. Mas uma coisa aliviava a elfa, a criatura não conseguia ler a mente dela.
Thuringwethil mostrou seu poder, não era uma lembrança, era como se a imagem realmente estivesse na sua frente. E infelizmente, Calaurë percebeu que aquilo foi real. Elfos rasgados, queimados, cegos, com membros amputados e torcidos. Ela grita e chora, mas não responde nada. Alguns estão vivos, ela sente a dor deles em seus olhos. Tinha elfos Moriquendi [Que não foram viram a Luz das árvores]. Mas muitos Noldor que a elfa conheceu, principalmente os das hostes de Fëanor e de Argon. Um deles, com olhos verdes, afoga no próprio sangue com uma garganta parcialmente cortada. Ela o reconhece do Helcaraxë e a triste lembrança vem em sua mente, somando com o horror das imagens de Thuringwethil...
*
Ela atravessa o Helcaraxë, está enrolada em sua capa, que pouco adianta para o frio insuportável... O chão vibra novamente sob seus pés e outro avalanche começa, mas esse é gigantesco. O barulho ensurdecedor de blocos de neve desmoronando, vento e os gritos desesperados dos Noldor que eram atingidos. Ela desequilibra e cai de joelhos, um elfo com olhos verdes, da guarda de Argon, a ajuda a levantar e ela agradece. Sua irmã Elenwë caminha de mãos dadas com sua filha Idril mais a frente, junto com seu esposo Turgon. Ela vê horrorizada quando são atingidos, o elfo cai no chão, mas as elfas e outros elfos em volta são arrastados pelos blocos da avalanche até uma das lagoas que se abriam bem abaixo. Turgon, mesmo machucado, correu para tentar salvar as duas e se jogou nas águas gélidas. Conseguiu agarrar Idril e entregar para Fingolfin, na margem. Indo contra o pedido do pai, ele agora tenta nadar até onde Elenwë afundou. Calaurë sai correndo em desespero e se joga nas águas para também tentar salvar a irmã. Alguns elfos também entram para salvar os outros que foram arrastados. Alguém tenta impedi-la, mas ela desvencilha e continua, nadando atrás de Turgon, mas ele já está no lugar onde sua esposa foi vista pela última vez e mergulha. Após um bom tempo ele emerge para respirar e torna a submergir. Na terceira tentativa alguém tenta segura-lo, mas ele luta até se soltar e afunda novamente. Calaurë tenta imitá-lo, precisa fazer alguma coisa. As águas são escuras e ela não enxerga nada, o frio a paralisa, como se mil facas tivessem entrando em seu corpo. Tenta nadar de volta a superfície e não consegue, sentindo a água entrar fria em seus pulmões e sua consciência sumir. Alguém a agarra e a leva para cima, ela tosse tentando recuperar o fôlego. Ela não vê Turgon, luta tossindo e dizendo: “Minha irmã, preciso salva-la, me ajude”. Mas o elfo atrás dela fala com outro: “Laurefindelë [Glorfindel], tire ele daqui”. O elfo loiro responde “Sim Ektelion [Ecthelion], leve ela para a margem” e mergulha atrás de Turgon. Calaurë é levada para fora d’água e tosse segurando o peito e a garganta, que queimam. Fica olhando em direção onde viu os cabelos dourados do elfo desaparecerem, ficando apreensiva.
Demorou além do esperado, Glorfindel volta a superfície com o outro elfo desacordado e o leva para a margem. Após fazerem algumas manobras Turgon volta a respirar, tossindo grande quantidade de água pelo nariz e pela boca. Eles ficam na borda das águas, congelados, de frio e de tristeza, lamentando os muitos elfos que foram perdidos. Ela percebe que Ecthelion a abraça desde que a resgatou. Ela afunda o rosto em seu peito. Não quer olhar para ele, mesmo sabendo que só tinha salvado ela de se afogar. Ecthelion percebeu que era impossível o resgate de Elenwë e que perderiam Turgon e Calaurë se ele e Glorfindel não os tirassem das águas. Ela não consegue agradecer, não agora. Se arrasta até onde Turgon abraça Idril. Vários elfos cantam, choram e gritam em desespero pelo luto. Ela reconhece a própria voz gritando, seu coração em pedaços, o vazio, a dor, maior que tudo o que ela já passou...
*
Calaurë sentia como se jamais fosse voltar a ser feliz, estava muito fraca. Doía como uma tortura física. Thuringwethil continuava com as visões torturantes e gargalhava: "Então você conhecia os que te mostrei? Eram seus parentes? Que pena. Então você é uma Noldor!" E acrescentou para os orcs: "Mairon vai dedicar um tempo com essa elfa. Até lá, levem ela para as forjas e a tratem normalmente. Mas lógico, isso após ela se recuperar, acho que tirei quase todo o sangue de seu Hröa. Não é engraçado? Agora ela tem motivo para ficar calada."
Calaurë pensa: "Eu não quero ver isso, dói não poder fazer nada, como foi no Helcaraxë e em Aqualondë. Então é isso que vai acontecer comigo quando encontrar þauron** ou Morgoth? Mas não importa! Não contarei nada. Nunca trairei Rei Turucáno [Turgon], nunca trairei o Reino de Ondolindë [Gondolin], nunca trairei meu amor, Ektelion [Ecthelion]!"
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