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História Ecthelion da Fonte e Calaure - Ringarenda


Escrita por: CalaureLomelinde

Notas do Autor


Ringarenda [coração/alma gelado/a]

[Imagem: Turgon, Idril e Calaurë]


🎼 Blue Eyes 🎶 Within Temptation🎼
https://youtu.be/40jZJhxBD-M

Olhos azuis somente sorriem para o mundo
Cheios de sonhos e com fascinação
Logo ela viu que suas mãos estavam
acorrentadas e pressionadas sem nenhuma liberdade
É sempre o mesmo, eles temem sem saída
Eu não posso me libertar, eu não posso mais suportar
Está me queimando por dentro
Perdi todas minha lágrimas, não posso chorar
Sem razão, sem significado
Somente ódio
Não importa quão arduamente eu tento
Você teme a besta por dentro
Está crescendo, está esperando
Só para lhe machucar
Este coração foi machucado pelas luzes
E eu vejo seu mundo que tenta negar
Agora tudo que eu amo
morreu ou foi despedaçado
Você não pode ver os olhos deles, as mentiras por dentro
Eles desistiram, eles já não brilham
Brevemente eles terminarão com um último choro
Antes que eles tornem a brilhar

Capítulo 6 - Ringarenda


Fanfic / Fanfiction Ecthelion da Fonte e Calaure - Ringarenda

Um orc entra e amarra uma corrente em suas algemas. A risada sinistra continua, Calaurë sabe que ela não vem do orc. A elfa é arrastada por corredores cada vez mais profundos enquanto ouvia gritos de tortura. Ela parece ver sombras, vultos durante o caminho. Chegando em uma masmorra sombria, foi amarrada com os braços abertos. Tentou reagir ao ser presa pelos orcs e levou socos no estômago, que a deixaram sem ar. O som do riso ficava cada vez mais alto até que ela vê uma sombra que parecia sugar toda a luz. Tinha o formato de um enorme morcego, as enormes asas membranosas abertas. No caminho da porta até a elfa, a criatura foi assumindo algumas características físicas humanas, mas mesmo assim ainda era sinistra. Calaurë se sentiu como se nunca mais pudesse ser feliz.

A criatura se aproximou, lentamente, sorrindo e encarando a elfa. Os olhos eram totalmente negros, nenhuma parte branca, que sugavam toda a alegria. Era horrível olhar para eles, mas havia um poder ali, por mais que tentasse, Calaurë não conseguia desviar seu olhar. Sua voz era extremamente aguda, vibrada e desafinada.

— Sou Thuringwethil, mensageira do Tenente. Vim fazer você falar, responder as perguntas que Orcobal fez.

Thuringwethil sorriu ainda mais, apresentando caninos anormalmente grandes e gargalhou. Tudo o que Calaurë queria era parar de ouvir aquele som, desviar de seu olhar e se afastar daquela criatura. Tentou puxar inutilmente o braço, preso nas algemas, quando ela se aproximou ainda mais. Tentou disfarçar o arrepio de medo que sentiu quando ela segurou o seu pulso e o beijou, ou assim pareceu, até que uma dor fina a atingiu. A criatura segurava firme enquanto drenava seu sangue pelos furos de uma mordida em seu pulso. 

Assim fez durante um bom tempo e Calaurë se sentia cada vez mais fraca, percebeu que não era só sangue que ela tirava, mas também a energia, a alegria, a esperança e as boas lembranças. Agora a elfa só conseguia sentir dor, tristeza, luto e abandono. A vampira ficava cada vez mais forte enquanto se alimentava do sangue. "Sim, ela tinha que ser uma Maia, poderosa como as que conheci em Valinor, mas corrompida para o mal", pensou Calaurë, sua mente anuviada.

A elfa se sentia fraca, leve e anestesiada. Sentia que estava perdendo o controle de seu Hröa, de seu Sáma [mente]. Escutou a voz de Thuringwethil, mas percebeu que ela não falava com voz, mas em sua mente:

 — Vai responder o que o chefe dos Orcs já te perguntou? Já sabemos que é da realeza e que veio do Oeste. Qual o seu nome. Qual seu reino e rei? 

Calaurë fechou sua mente, não pensava em nada, somente na dor que sentia em seu pulso e na sensação horrível, quente e ao mesmo tempo fria, que se espalhava por seu corpo. Sabia que Thuringwethil não teria acesso ao seus pensamentos se continuasse com a mente fechada.

Não vai me contar? Não vai responder minhas simples perguntas? Eu me apresentei educadamente e você não vai retribuir? Não tem problem, eu posso te manter aqui e fazer isso para sempre, é só esperar você se recuperar. Você é uma Elda, não vai morrer, vai se curar e sempre terei mais sangue. Gosto de me sentir forte assim, vou te mostrar o motivo, vou te mostrar o meu poder.

Calaurë sentiu a influência psíquica da criatura e entendeu porque ela era a "Mensageira do Tenente". Por ter o sangue de Calaurë, ela conseguia acrescentar visões na mente da elfa que ela queria transmitir. Com um leve alívio, percebeu que ela não tirava, não conseguia ler a sua mente, só criar visões.

Thuringwethil mostrou seu poder. Não era uma lembrança, a imagem realmente estava na sua frente, real, como se tivesse sido levada para onde a criatura queria. E infelizmente, Calaurë percebeu que aquilo estava acontecendo. Elfos rasgados, queimados, cegos, com membros amputados, torcidos... modificados. Os que estavam vivos e sendo torturados, gritavam na mesma hora que ela ouvia os gritos distantes, a dor estampada em seus olhos. Ela grita e chora, pede que eles os libertem. Thuringwethil falava mansamente em sua mente em meio os gritos deles:

— Você serve a qual rei? Onde é o seu reino? Quantos são seus súditos? Como é organizado o exército?

Calaurë não responde as perguntas de Thuringwethil. Entre aqueles elfos há Moriquendi, mas muitos Noldor que a elfa reconheceu, principalmente os das hostes de Fëanor e de Argon... Orcobal gritava para eles: "Revele. Segredo de forjas, espadas fortes. Revele, mostre." O elfo de olhos verdes amarrado em sua frente mantinha a expressão decidida quando negou com a cabeça. O orc corta parcialmente sua garganta e ele afoga no próprio sangue. Calaurë grita junto com a risada do orc. Ela reconhece o elfo do Helcaraxë e a triste lembrança vem em sua mente, desprovida de alegria, somando com o horror das imagens de Thuringwethil...


✴️

Calaurë atravessava o Helcaraxë, enrolada em sua capa, que pouco adiantava para o frio insuportável. Não tinha como saber se era dia ou noite ou quantas horas, dias, semanas, meses e vários anos haviam se passado desde que abandonaram as costas de Aman. Estavam além da metade do caminho. Mas ela só sabia que foram muitos e muitos dias de caminhada com poucas e breves pausas, praticamente sem dormir pelo uivo do vento e pela tremedeira do corpo, mesmo quando se reuniam e se abraçavam na tentativa de se aquecerem. Comida e água eram escassas.

Sua irmã Elenwë caminha de mãos dadas com sua filha Idril mais a frente, junto com seu esposo Turgon. Fingolfin, Fingon e Galadriel seguiam na frente de toda a hoste, Calaurë, mesmo com a visão élfica, não os via mais. Estavam dando a volta pelo lado direito de um pico de neve que surgiu no caminho. A direita, a neve se estendia em um declínio até o mar congelado. A neve afundava além do joelho, mas com a leveza dos Eldar, eles andavam sem se afundar. Isso quando não perdiam as forças e precisavam seguir por um tempo se apoiando. Estavam exaustos pela longa viagem até ali, o ritmo cada vez mais lento, avalanches faziam com que tivessem que parar e que alguns fossem perdidos.

Calaurë andava devagar, olhando para trás, tentando ver Ecthelion que tinha ido ajudar um grupo que tinha ficado para trás. O chão vibra e ela colide com um elfo que estava parado olhando para o pico nevado, e cai de joelhos. O elfo de olhos verdes, da guarda de Argon, se desculpa e ajuda ela a se levantar. Mal deu tempo dela agradecer e o chão novamente treme fortemente sob seus pés. Olhando para o pico ela vê a avalanche. Essa é gigantesca, pedras também se deslocavam da montanha. O barulho era ensurdecedor: neve desmoronando, vento e os gritos desesperados dos Noldor que eram atingidos. 

 Calaurë vê horrorizada quando, alguns metros a frente, Elenwë, Turgon e Idril são atingidos e são arrastados pela avalanche até o mar congelado, onde o chão havia se rompido com o tremor. O grito delas e de Turgon é horrível. Turgon foi soterrado, mas consegue se livrar da neve e, mesmo ferido, corre para tentar salvar as duas que foram arrastadas, e se joga nas águas gélidas. Calaurë, que estava bem mais atrás, corre em direção as águas e vê quando Turgon mergulha e volta com Idril meio inconsciente e a entrega para um dos elfos que foram até o seu encontro. Eles a levam em segurança para a margem. Turgon nada de volta até onde Elenwë afundou. Calaurë, em desespero, se joga na água, onde o gelo se abria. Dói. A água gelada são como mil facas entrando em seu corpo, mas ela continua nadando, tentando gritar o nome de Elenwë e de Turgon, dos Valar. Fingolfin grita, carregando Idril para longe da margem para evitar que ela voltasse para o mar cruel. Alguns elfos também entram para salvar os outros que foram arrastados, outros resgatam os soterrados.

Calaurë nadava o mais rápido que conseguia, Turgon já estava no lugar onde sua esposa foi vista pela última vez e mergulha. Ela tinha que chegar até lá. Ela tinha que chegar até lá antes que fosse tarde demais. Tinha que... Ela sente seu coração gelar, como se atingido por uma flecha de gelo, quebrado, vazio, partido. Tinha que chegar até lá, ela precisava, não podia estar sentindo aquilo. Após um bom tempo, Turgon emerge para respirar e torna a submergir, demorando mais tempo. Calaurë tenta imitá-lo, precisa fazer alguma coisa. As águas são escuras e ela não enxerga nada, o frio e o desespero a paralisam, congela o sangue. Ela tenta nadar de volta a superfície e não consegue, a sensação em seu corpo e mente a impedem. Sente a água fria entrar em seus pulmões e sua consciência sumir, só pensava em sua irmã. Alguém a agarra e a leva para cima, ela tosse tentando recuperar o fôlego. Ela não vê Turgon. Tossindo e tentando se soltar, ela fala, sua voz não passando de um sussurro sem voz:

— Elenwë! Me ajude! Minha irmã, preciso salvá-la, preciso salvá-lo. Turukáno [Turgon]! Elenwë!

Mas o elfo atrás dela a segura mais firme e grita com outro: 

— Laurefindelë [Glorfindel], encontre-o. Tire ele daqui. Não deixe ele mergulhar novamente.

O elfo loiro responde:

— Sim Ecthelion, leve ela para a margem.

Glorfindel mergulha atrás de Turgon. Calaurë é levada para fora d’água, não consegue se livrar do elfo que a segurava. Na margem, ela tosse segurando o peito e a garganta, que queimavam, olhando em direção onde viu os cabelos dourados do elfo desaparecerem, fica apreensiva. Demorou além do esperado, mas Glorfindel voltou a superfície com Turgon, desacordado, e o trouxe para a margem. Após fazerem algumas manobras Turgon voltou a respirar, tossindo grande quantidade de água pelo nariz e pela boca. Ele estava desinquieto enquanto os elfos o cobriam, olhando para as águas e em seu redor, chamando por Idril e Elenwë. Idril se arrastou até o pai, envolta por vários cobertores. Calaurë percebe que Ecthelion a abraça firmemente, mesmo ele também tremendo, como se soubesse que ela poderia tentar voltar para as águas atrás da irmã. Outros elfos trazem cobertas e os cobrem. Ela não olha para Ecthelion, não quer olhar para ele. Ecthelion percebeu que era impossível o resgate de Elenwë e que perderiam Turgon e Calaurë se ele e Glorfindel não os tirassem das águas. Ela sabia que ele a tinha salvado, mas queria voltar para as águas, queria sua irmã de volta. Elenwë não podia ter... a elfa não queria aceitar, mesmo tendo sentido o vazio em seu coração quando o Fëa [alma] de Elenwë ia para os Salões de Mandos, para Valinor,  de onde nunca deviam ter partido. Era para elas ficarem para sempre juntas: Elenwë, Calaurë e Idril, com Turgon e Ecthelion. Era por isso que Calaurë estava indo para a Terra-Média, para ficarem juntos. Não tinha lágrimas nem palavras para expressar o que Calaurë sentia. Ela se arrastou até onde Turgon abraçava Idril, que chorava e gritava chamando a mãe. Próxima deles, Calaurë deixou seus sentimentos tomarem conta de seu Hröa e de seu Fëa despedaçado. Não reconhece sua própria voz, que gritava e lamentava. O coração gelado e despedaçado. A dor, a falta, o vazio, nunca sentidos ou imaginados antes...

Eles ficam na borda das águas. Congelados, de frio e de tristeza, lamentando os muitos elfos que foram perdidos. . .

✴️


Calaurë nunca mais seria feliz, estava muito fraca, respirava com dificuldade. Além das lembranças ruins que tomavam sua mente, Thuringwethil continuava tirando seu sangue e mostrando visões torturantes de Angband. Doía, de uma forma mais intensa que a tortura física. Não conseguia esconder as lágrimas. A criatura gargalhava: 

— Então você conhecia os que te mostrei? Eram seus parentes? Amigos? Que pena. Então você é realmente uma Noldo! — E acrescentou para os orcs. — O Tenente falou que vai dedicar um tempo com essa elfa. Então infelizmente terei que dividir. Até lá, levem ela para as forjas e a tratem... com a atenção devida. Mas lógico, isso após ela se recuperar, acho que tirei quase todo o sangue de seu Hröa. Não é engraçado? Agora ela tem motivo para ficar calada.

Calaurë pensa: "Faz isso parar, não quero ver isso, dói não poder fazer nada, como foi em Alqualondë, como foi no Helcaraxë... Os elfos torturados. Será que aquele será meu destino aqui? Morrer dilacerada? Mas não importa! Não contarei nada. Nunca trairei Rei Turucáno [Turgon], nunca trairei o Reino de Ondolindë [Gondolin], nunca trairei aqueles que amo, nunca trairei Itarillë [Idril], nunca trairei Ecthelion! Valar, Ecthelion, me dêem forças."

A música, ela escuta aquela melodia tocada em uma flauta. Sorri em meio ao tormento. Aquela música tão bela, tão conhecida.


 



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