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História Efeitos Colaterais H.S - Capítulo 1


Escrita por: Darkemons_

Capítulo 2 - Capítulo 1


27/09/2016

Ele tinha as mãos enrugadas postas em cima da mesa e entrelaçadas, enquanto eu escutava os seus pés baterem no chão impacientemente. Os cabelos grisalhos mostravam o quão velho ele parecia e sentado aqui, pude observar que ele sempre pigarreava antes de falar.

Eu, por outro lado, estava terrível. Dois meses haviam se passado. Dois meses e eu continuava do mesmo jeito, tentando trazê-la de volta. As cores dela, os sons, os toques. Nada nunca vai ser igual. Eu ainda conseguia enxergá-la em alguns dos meus devaneios, mas era tão longínquo. Eu queria mais, eu precisava de mais. Era quase como se eu ainda conseguisse sentir os fios ruivos que roçavam em meu rosto todos os dias pela manhã. Conseguia sentir a ponta de seus dedos gélidos que tocavam o meu corpo, todavia, esse era um dos privilégios que já não tinha mais.

- Você não pode se culpar, Harry.

- Mas a culpa é minha. Eu sempre faço tudo errado.

A sala estava escura e eu mantinha os meus olhos fechados enquanto via as cores brutas se formarem em minha mente.

- Você precisa entendê-la, Harry. Ninguém é obrigado a ficar, precisa aceitar os motivos dela, não há nada mais que possa ser feito.

- Foi por causa desse maldito distúrbio!- Minha voz estava calma, todavia eu conseguia sentir o cheiro do meu desespero pairando sobre o ambiente.

- Se você a ama de verdade, precisa deixá-la ir.

- Você sabe como é perder alguém? - Minha respiração se acelerou. - Eu não consigo, simplesmente não posso! É como se estivesse perdendo um pedaço de mim, o pedaço que faz todo o resto funcionar. Você precisa me ajudar, eu não sei mais o que fazer.

Minhas mãos deslizaram sutilmente até a xícara de café e eu dei um gole na bebida ainda quente. Ela tomava café todas as manhãs.

- Você não tem outra escolha a não ser seguir em frente.- Ele disse por fim.

Ficamos ali, sentados. Eu esperando. Esperando que uma cura caísse do céu como um meteoro e ascendi um cigarro. Quando acabei, ascendi outro e depois outro. De repente, o maço inteiro.

- Eu preciso ir. - Ele falou antes de sair.

Peguei três comprimidos e ignorei o jeito irritante com que minhas mãos tremiam. Tomei os três e mais um para dor de cabeça. Comprimidos viraram meu novo vício, e não me parecia que eu conseguiria sobreviver sem eles dali pra frente.

Sentado no sofá, liguei o rádio com o controle para não precisar me levantar e fiquei ali. Esperando por algo que nunca vinha até ver o sol sumir por trás dos edifícios bem desenhados. Quando entrei no chuveiro, só havia espuma. Espuma e água quente.

- O ápice do meu dia.- Murmurei para mim mesmo, já que provavelmente aquela seria a única vez que eu me levantaria sem ser para buscar comida.

Assim que voltei para o sofá, tomei outro comprimido. Aparentemente é isso que minha vida se tornou.

Puxei um dos meus cobertores jogados e bebi com o canto dos lábios o resto do café que sobrara na xícara.

Quando vi que a chuva começou a socar minha janela, fechei as cortinas e pedi comida por telefone. Pizza. Pensei. Ela pediria Pizza, como sempre.

Nos últimos três dias, quatro psicólogos diferentes me procuraram, no entanto, eu infelizmente não me encaixava nos critérios para fazer parte das suas pesquisas para escreverem artigos sobre a sinestesia. Todos pensavam que era uma dádiva. Mal sabiam eles!

Comi quatro pedaços de pizza e deixei a caixa em cima da mesa. Quando a música que tocava no rádio parou de me agradar, desliguei e procurei por um cigarro. Lembrei então que fumei o maço inteiro.

Coloquei as minhas botas e saí a caminho do bar mais próximo. Quando pisei na calçada, estava molhada. Puxei o meu casaco e coloquei a touca, por mais que eu odiasse casacos com gorros. Eles eram horríveis, porém quentes, então eu teria que conviver com os dois lados da moeda. O sinal estava aberto, então eu esperei o fluxo contínuo dos carros que corriam em meio os limites da rua. Atravessei pela faixa de pedestres e entrei no estabelecimento, a procura do maço mais barato.

Quando cheguei em casa, fiz outro café. Comi mais um pedaço de pizza e ascendi um cigarro, todavia, fiquei observando enquanto o fogo consumia o pequeno bastão até que as pontas dos meus dedos se queimaram. Peguei um livro, mas não li nem três páginas e coloquei de volta na mesa. Fiquei deitado no sofá encarando o teto do meu velho apartamento e desfrutando do único sentimento que me impedia de ser tomado pela nada. Dor. A minha cabeça estava prestes a explodir, mas eu me contive para não tomar mais comprimidos.

Prendi meu cabelo que já estava quase em meus ombros em um coque desajeitado e voltei a me apoiar no encosto do sofá. Eu não queria dormir e provavelmente nem conseguiria se tentasse. Eu costumava sonhar com ela, e sempre que sonhava, tinha ataques. Eles se tornaram impossíveis de controlar desde que não a tenho mais.

Olhei para janela e me deparei com a cidade iluminada. Peguei o maço afim de ascender o que me pareceu ser meu vigésimo sexto cigarro no dia, mas pensei melhor e, por fim, larguei a caixa.

Ela se foi. Pensei. Eu preciso aceitar, preciso viver.

Assim que se encontraram, se olharam. Assim que se olharam, suspiraram. Assim que suspiraram, se apaixonaram. Assim que se apaixonaram, destruíram-se.


Notas Finais


Me digam o que vocês acham szsz


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