Sanzu odiava quando Mikey o ignorava. Fazia dias que seu líder o tratava com frieza, como se ele não passasse de um pedaço de lixo. Se fosse qualquer outra pessoa o Haruchiyo não daria a mínima, - provavelmente a mataria - mas com Mikey era diferente.
Ele engoliu a dose de vodka direto do gargalo e sentiu o líquido queimar sua garganta. Ótimo, antes aquela ardência do que o olhar gélido de Manjiro. Ele sabia que seu chefe era alguém instável e violento, então não ficou surpreso quando ele destruiu o escritório da organização em um ataque de fúria descontrolada e matou três subalternos a tiros. O motivo? Takemichi Hanagaki.
Sanzu franziu as sobrancelhas em ódio ao lembrar do desgraçado e mandou outra dose de vodka goela abaixo.
O que Mikey via nele, afinal?
Takemichi era um ninguém. Não sabia lutar, era fraco, chorão e nunca iria retribuir os sentimentos de Manjiro. E ainda assim Mikey beijava o chão que aquele maldito pisava. Sanzu nunca conseguiu entender a obsessão de Mikey por ele, sempre o admirando de longe e zelando por sua segurança como se o infeliz valesse alguma coisa.
Quando Kakucho deu a notícia do casamento do Hanagaki com Hinata Tachibana, Sanzu acreditou que, enfim, Mikey iria superar seu "amor" por Takemichi. Mas para a sua completa desgraça, Manjiro estava mais indiferente e volátil do que jamais foi, e não abria brechas para ninguém se aproximar. Rindou e Ran até sugeriram sequestrar Takemichi antes de seu casamento, trazendo-o como um presente para o chefe. Porém, Mikey negou. Ele nunca quis forçar Takemichi a nada, o respeitava demais para fazer isso.
Sanzu, por outro lado, queria que o Hanagaki caísse e se afogasse no bueiro mais próximo. Como ele ousava escolher alguém além de Mikey? O Haruchiyo tinha vontade de matá-lo pela insolência e por fazer seu líder desprezá-lo daquele modo. Sanzu realmente queria matar alguém, poderia ser o maldito ou qualquer outra pessoa. Seu ódio era tão escaldante que a vodka que descia por sua garganta parecia um cházinho.
Ouviu passos se aproximando atrás de si, sequer olhou, pois sabia exatamente quem era.
- Vai com calma, a vodka não vai fugir de você. - Disse Senju, sentando-se ao lado do irmão.
- Cala a boca, porra.
Senju roubou a garrafa das mãos dele e colocou-a atrás do balcão do bar. Sanzu a fuzilou com o olhar, a franja rosa toda arrepiada em sua testa.
Ela deu uma boa olhada em seu irmão mais velho. Sanzu estava com os cabelos bagunçados, as roupas desabotoadas e amassadas, os olhos vermelhos de sabe-se lá que merda de drogas estava usando e as mãos machucadas - provando que já tinha arrumado briga. Senju suspirou, exausta, era a quarta vez essa semana que tinha que buscar o irmão no bar porque estava dando trabalho e acabando com o estoque de bebidas.
- Quando isso vai parar? - Ela questionou. - Qual é o seu problema, caralho?!
- Não é da sua conta. - Alcançou uma garrafa de rum já pela metade e bebeu um pouco antes de continuar: - Não deveria estar na faculdade?
- Sim, mas adivinha, Kakucho me ligou de novo dizendo que você estava fazendo merda. Você está aqui desde a noite passada, e isso foi há mais de 10 horas. - Falou irritada. - O que deu em você, hein? Já faz dias que está assim.
Sanzu revirou os olhos, não precisava de sermão. Senju bateu o punho no balcão do bar e tomou a garrafa de rum da mão dele, pouco se importando com a raiva em sua expressão. Foda-se, ela o chutaria até em casa se fosse necessário.
- Você está testando a minha paciência.
- Vou te arrastar pela rua se for preciso. - Ela retrucou.
O bar não estava movimentado, pois eram apenas 9 horas da manhã. Os funcionários - que foram obrigados a trabalhar sob a mira da arma de Sanzu - estavam tensos. Eles já conheciam o vice-presidente da Bonten e sua irmã mais nova, que parecia ser a única a conseguir domar um pouco da loucura do irmão, mas isso não os deixava mais tranquilos. Onde o Haruchiyo estivesse era certo que alguém perderia sangue.
Pena que não podiam chamar a polícia. Sendo um dos estabelecimentos que lavavam o dinheiro sujo da Bonten e recebia seus membros com frequência, denunciar as extravagâncias da segunda pessoa mais perigosa de Tóquio era pura burrice.
- Ei, me dê uma dose de tequila. - Sanzu exigiu para o barista. O homem tinha olheiras debaixo dos olhos, estava visivelmente cansado, Sanzu pouco ligava. Vendo que o funcionário não fez menção de se mexer ele ameaçou: - Quer mesmo que eu te dê um tiro?
O homem correu para preparar a bebida, a colocando em cima do balcão quando pronta. Sanzu estava prestes a pegá-la quando Senju envolveu o copo na mão e virou a tequila dentro da boca, fazendo careta em seguida.
- Só mesmo bêbada pra te aguentar.
- Você é um pé no saco, irmãzinha. - Sibilou.
- Já disse que vamos embora, você não vai beber mais nada hoje.
- Você não é minha mãe.
- Acha que eu queria estar aqui? - Apontou o dedo indicador para a cara dele. - Eu deveria estar na minha aula de Anatomia, mas ao invés disso estou aqui conversando com meu irmão idiota, bêbado e chapado.
Sanzu apoiou a testa nas mãos, tonto. As pílulas de êxtase ainda explodindo em glitter na frente de seus olhos. Senju era a "irmã que deu certo", nas palavras de Takeome, e Sanzu era a "ovelha negra". Ela entrou na universidade para cursar Medicina, enquanto ele se afundou ainda mais no mundo das gangues. O equilíbrio perfeito. No entanto, Sanzu sabia que ela se arriscava sempre que aparecia por ali para buscá-lo. Senju sabia se defender muito bem, tinha até fundado a própria gangue na época da adolescência, mas contra uma arma de fogo não havia muitas alternativas de sobrevivência além de correr e rezar para não ser atingido pelas balas. O Haruchiyo havia tentado se afastar dela, mas Senju se recusou a abandoná-lo. Mesmo quando ele agia como um cuzão.
- Mikey ficaria zangado de te ver aqui vadiando ao invés de ir trabalhar. - Senju apelou para a única coisa que faria Sanzu ceder, a possibilidade de aborrecer ou decepcionar o líder da Bonten. - Soube que ele vai resolver algo importante hoje e se seu vice não aparecer… Bom, alguém sempre pode ser o substituto.
Sanzu se contorceu no banco do bar, abominava sequer pensar em Mikey escolhendo alguém para o substituir. Ele sabia que estava faltando com seus deveres ultimamente, mas Manjiro estava tão afundado em seu luto por Takemichi que dificilmente notaria a ausência dele. O Haruchiyo cerrou o maxilar com força, Mikey o estava ignorando. Contudo, ele sabia que a Bonten tinha algo para resolver de noite, e ele precisava estar preparado.
Preparado para matar alguns traidores e lidar com a tortura silenciosa de Mikey.
Sanzu se ergueu do banco, se segurando no balcão para não cair, ao se equilibrar recolheu seu blazer abandonado no encosto do assento e o vestiu, escondendo a arma no cós da calça. Irritado, ele disse:
- Você sabe onde me deixar.
Senju sorriu, guiando-o para fora do bar. A luz do dia incomodou os olhos sensíveis de Sanzu, então ele pôs o óculos de sol que estava guardado no bolso de seu terno. Uma das lentes estava rachada, resultado da briga de bêbados que se envolveu horas atrás. Senju praticamente o jogou dentro do carro no lugar do passageiro e pisou no acelerador em direção a zona mais rica da cidade.
Ela o deixou duas quadras antes de sua casa, pois não podia se aproximar mais do que isso. Sanzu se despediu dela com um aceno de mão torto e foi embora a passos trôpegos. Ele tinha muita resistência a drogas e álcool, mas tinha que admitir que havia exagerado nos últimos dias.
Depois de assustar um gato de rua e vomitar na lixeira mais próxima, o Haruchiyo finalmente chegou em casa. O luxuoso prédio que servia como sede da Bonten, onde os membros sêniors viviam. Haviam duas coberturas no topo, uma era dele e a outra de Mikey. Todo o prédio era monitorado, as autoridades não tinham coragem de colocar um pé além dos limites do território.
No hall de entrada ele viu os irmãos Haitani saindo pelo elevador principal e vindo em sua direção com sorrisos zombeteiros.
- Pensei que já tinham te matado e jogado no rio, Sanzu. - Riu Rindou, circundando seu vice-presidente como um chacal sentindo cheiro de sangue.
- Ainda não é nem horário de almoço e nosso superior já está bêbado, que péssimo exemplo. - Ran complementou.
- A sorte de vocês é que minha cabeça está doendo como o inferno, por isso ainda estão respirando. - Sanzu retrucou, os enxotando com um gesto impaciente.
Os irmãos riram, Sanzu gostava de os comparar com hienas. Os deixou ali, seguindo para seu elevador particular no canto esquerdo do hall. Seu andar era o trigésimo segundo, iria demorar para chegar.
- Tente não cair dentro do elevador. - Rindou o provocou.
Sanzu lhes mostrou o dedo médio enquanto as portas metálicas se fechavam.
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