Quando Mikey encontrou Sanzu caído na areia da praia ele jurou que seu vice havia tido uma overdose e morrido. Mas sentiu seu corpo relaxar ao constatar que o Haruchiyo continuava vivo, apenas alterado e com pupilas tão grandes que engoliam toda a íris azul-esverdeada.
Encontrá-lo foi fácil, Manjiro apenas precisou checar o GPS do carro que ele havia roubado da própria Bonten. Ele despachou os outros para a sede na limusine - incluindo todos os seguranças - e pegou o carro restante para ir atrás de Sanzu. Kokonui e Kakucho protestaram violentamente contra a ideia de Mikey sair sozinho, sem guardas. O Sano não lhes deu ouvidos, pois o que iria tratar com Sanzu precisava ser a sós. Ele sabia que seria explosivo e não pretendia ter platéia, pois havia muita coisa que ele não queria que ninguém, além do Haruchiyo, soubesse.
Ele olhou para Sanzu, cujo brilho nos olhos refletia as estrelas, e ponderou a grande capacidade que eles tinham de destruir um ao outro.
Manjiro esperou que o Haruchiyo notasse sua presença, mas ele parecia afundado demais na própria mente. E o Sano não era conhecido pela paciência.
Mikey chutou areia na cara dele.
Sanzu se ergueu no susto, acreditando por uma fração de segundo que Mikey o estava enterrando vivo. E qual foi sua surpresa ao encontrar o Sano realmente em pé ao seu lado. O Haruchiyo apertou os tornozelos dele, verificando se era uma alucinação. Ao perceber a solidez das pernas de Mikey, Sanzu abriu um sorriso frouxo e disse:
- Vai me matar?
- Depende, o que você fez para merecer ser morto? - Ergueu uma sobrancelha.
As lembranças do que fez na festa pareciam um sonho distante, Sanzu não conseguia distinguir as coisas. Mas tinha quase certeza de que eram a causa dele estar molhado e com frio.
- Você surtou quando soube sobre mim e Kakucho, se drogou, tomou água da piscina e vomitou em South. - Mikey explicou.
- Ah.
Manjiro havia obrigado Mochizuki e Kokonui a contar a história toda quando retornou ao salão de baile e ouviu fofocas circulando entre as pessoas. Mochizuki também lhe mostrou a foto que tirou de Sanzu com a cara enfiada na piscina enquanto Koko tentava o fazer sair.
Mikey queria matar Antony por abrir o bico, aquele russo idiota não fazia ideia do que tinha provocado. O Haruchiyo agora não seria mais capaz de conviver com Kakucho, e Mikey não podia se livrar de nenhum dos dois. Isso daria muita dor de cabeça, tinha que pensar em algo para mantê-los afastados ou Sanzu cortaria a garganta de Kakucho assim que o visse de novo.
Entretanto…
- Por que está rindo? - Sanzu perguntou, ainda agarrado às pernas de Mikey.
Manjiro gargalhava. Seu peito sacudia com as risadas e seus olhos tinham um brilho de divertimento tão doentio que Sanzu sentiu-se ser puxado completamente para a realidade, ele soltou os tornozelos de Mikey e seu corpo inteiro ficou tenso.
Mikey estava rindo dele.
- Você é tão patético, Sanzu. - Desdenhou, recuperando o fôlego após a risada. - Achou mesmo que você foi o primeiro com quem me relacionei? Se eu não soubesse que é tão idiota pensaria que fosse inocente.
O Haruchiyo se levantou do chão, sua roupa estava cheia de areia, mas ele não se importou. O delírio da droga o fazia enxergar o Sano como um demônio, e o peso de suas palavras o estavam magoando.
Mikey estava o humilhando por diversão.
- Isso é uma pena, sabia? - Continuou, indiferente ao olhar de cachorro chutado de Sanzu. - Eu esperava brincar um pouco mais com vocês dois. Eu gosto de ver como vocês rastejam atrás de mim, é sério. - Seu sorriso era maligno. - Eu não amo você, seu tolo emocionado. E muito menos Kakucho. Eu simplesmente gostava do perigo de me satisfazer com ambos às escondidas, mas agora tudo acabou. Você não vai conseguir se controlar e vai matar Kakucho assim que puser os olhos nele.
Sanzu lutou para encontrar a própria voz e quando o fez disse:
- Se você sabia que isso aconteceria, então por que…?
- Por que eu fiz isso? Não é óbvio? Eu só queria me divertir. - Riu, e em seguida afirmou: - Eu queria enlouquecer você.
O Haruchiyo estava em profundo choque, se lembrou do dia em que foram ao parque de diversões e Mikey lhe disse todas aquelas coisas. Como ele poderia ser tão frio e maldoso quando Sanzu estava ali tão desamparado e vulnerável?
- Você prometeu que nunca me abandonaria… - balbuciou.
- Sim, eu realmente não vou fazer isso. Você é tudo o que eu tenho. - Mikey olhou fundo nos olhos tristes e vítreos de Sanzu. - Mas não pense nem por um segundo que eu amo você.
Aquelas palavras estavam corroendo o Haruchiyo por dentro com tanta violência que ele achou que seu coração fosse se desfazer em cinzas. Seus olhos queimaram, liberando lágrimas grossas que - de tão quentes - faziam seu rosto ferver.
- Por que está me dizendo tudo isso?
- Porque sei que, independente do que eu disser ou fizer contra você, - seus lábios se esticaram em um sorriso predatório, - você nunca vai deixar de me amar.
Aquilo era horrível, mas era verdade. Sanzu não sabia quem era sem Mikey, jamais conseguiria viver em um mundo onde o outro não existisse. Doía demais saber que Manjiro não sentia um terço de tudo isso, dessa necessidade alucinada.
- Eu tenho alguns vídeos íntimos meus com o Kakucho - sorriu com a mentira, - posso te mostrar se quiser.
- Pare! - Gritou, tapando os ouvidos com as palmas das mãos e sacudindo a cabeça. - Pare de me provocar! Pare de fazer isso comigo!
Mikey riu, Sanzu estava enlouquecendo de verdade. O sofrimento dele era tão divertido que o Sano imediatamente quis jogá-lo de volta ao chão para cavalgar sobre o seu colo, ele gostava de ver o Haruchiyo fora de si. Aquilo lhe dava um tesão inexplicável.
- Mas devo dizer uma coisa - falou Manjiro, sabendo perfeitamente bem que Sanzu estava escutando. - Eu gostei do que fez com o South, aquele idiota arrogante. Ele me disse que tomará o poder no submundo e fará de mim um cão, me pergunto se isso significa que serei a puta dele. - Sua expressão era puro desdém. - Se por acaso isso acontecer acho que seria uma boa ideia deixar ele me foder na sua frente, - o rosto de Sanzu era algo tenebroso naquele instante, - o que você faria se te forçassem a assistir isso, hein?
O Haruchiyo permaneceu mudo, seu corpo todo tremia de ódio e sua mente parecia estar entrando em colapso. Percebendo que ele não reagia, Mikey provocou mais:
- Talvez ele nem precise me derrotar para conseguir isso, posso ir até a sede dele agora e…
Ele não conseguiu terminar de falar, pois Sanzu o agarrou pelo pescoço e o derrubou no chão, montando sobre o Sano com uma raiva tão profunda que contorcia suas feições.
Mikey não conseguia respirar, as duas mãos de Sanzu o sufocavam com força, pequenas veias abriam em seus olhos manchando a parte branca com o vermelho do sangue. Ele não queria reagir, mas seu corpo estava ficando dormente. Então o Sano sorriu, ergueu uma mão e acariciou o rosto de Sanzu. O Haruchiyo afrouxou o aperto em volta do pescoço fino dele, mas não o libertou, ainda estava imerso na nuvem de ódio.
- Vai me matar? - Falou Mikey, citando a mesma frase que Sanzu havia dito quando o encontrou jogado na praia.
- Eu quero muito. - Suas mãos tremiam, mas, quando ele voltou a apertar o pescoço do Sano, a força diminuiu consideravelmente.
- Você realmente enlouqueceu por causa de tudo o que eu disse? - Sua garganta arranhava conforme ele falava.
Sanzu curvou a cabeça para baixo e algumas lágrimas caíram no rosto de Mikey. Aquilo lhe pareceu prova suficiente de que o Haruchiyo de fato estava perdido na escuridão da raiva e do desespero. Mikey abriu um sorriso sincero e disse:
- Que bom. Isso significa que você realmente me ama, - fechou os olhos momentaneamente. E quando os abriu, concluiu: - Estou tão feliz.
O Haruchiyo olhou confuso para ele, incapaz de entender aquela mudança brusca de comportamento. Há menos de um minuto Manjiro tinha lhe humilhado e tratado pior do que lixo, porém, agora o olhava de um jeito doce e carinhoso, como se Sanzu fosse a pessoa mais preciosa do mundo.
- O que…? - Sanzu não conseguia formar uma frase decente.
- Eu não quero ninguém além de você, Sanzu - o assegurou. - Mas assim como você gosta de ferir meu corpo eu gosto de ferir seu coração, você entende?
Então o olhar de Mikey se tornou tão louco e tão demente quanto o de Sanzu.
- Desde que começamos nossas brincadeiras... Não! Desde que nos conhecemos eu sempre soube que você era meu - se corrigiu. - Nós somos iguais. Porque ainda que você também me machuque, - tocou com as pontas dos dedos as mãos de Sanzu, que seguravam seu pescoço, - eu não conseguiria te deixar.
- Isso significa que você também pode me amar? - Murmurou com o coração desesperado.
- Não faço ideia, - confessou. - Mas pretendo descobrir.
O Haruchiyo tirou as mãos do pescoço dele, ficou de joelhos na areia e agarrou os próprios cabelos enquanto gritava:
- Eu te odeio! Eu te odeio tanto, porra! - Seus olhos estavam fechados com força, mas isso não impedia as lágrimas de escaparem. - Você não pode fazer isso comigo! Não pode me tratar desse jeito!
Mikey sentou-se e agarrou o rosto de Sanzu, seus olhos negros dominados por uma presença perturbadora, e obrigou o outro a encará-lo.
- Como não? - Disse com seriedade, incapaz de compreender a aversão de Sanzu. - Você é meu, posso fazer o que quiser com você. Assim como você pode fazer o que quiser comigo.
O Haruchiyo não estava com lucidez suficiente para levar aquela conversa adiante, a droga ainda tomava seu organismo. Porém, a última fala de Mikey lhe despertou a atenção. Mikey estava dizendo que era seu. Claro, não nas circunstâncias que Sanzu gostaria, mas ainda assim ele disse.
Sanzu sentiu o corpo pesado, os sentidos falhando. O Haruchiyo se viu incapaz de distinguir os traços do rosto de Mikey, as substâncias alucinógenas estavam cobrando o preço. Sanzu despencou para frente e Mikey o amparou em seus braços, o escuro tomou sua mente e a última coisa que ele ouviu antes de apagar por completo foi uma única frase de Mikey sussurrada em seu ouvido.
- Você é meu.
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