-Gostariam de beber algo?
Stella questiona e todos se entre olham, Carter revira os olhos para mulher de vestido vermelho e eu aperto sua mão por debaixo da mesa
-Sim, por favor
Digo um pouco desesperada tentando quebrar um pouco da tensão no ar, Carter me olha de um jeito estranho eu sei e ele também sabe que eu não sou fã de qualquer bebida alcoólica que seja.
-Tomei liberdade de escolher o prato se não se importarem -Stella diz ainda sorridente-
-De maneira alguma
Helena sorriu e eu estou cada vez mais surpresa com a maneira como ela disfarça seu nervosismo, me servi de um gole pequeno de vinho e dei o melhor de mim para não fazer cara feia ao sentir o gosto.
-Pensando bem eu quero uma taça
Carter diz ao se remexer na cadeira, visivelmente desconfortável
-Esse vinho na minha opinião é um dos melhores -Evans diz ao saborear o vinho.
-Ele veio diretamente da Itália
Stella diz enquanto o garçom enchia a taça de Carter e ele não revela nenhuma expressão apenas agradece ao garçom com uma leve balançar de cabeça, aperto suas mãos novamente por debaixo da mesa para lhe passar segurança.
-Eles tem os melhores vinhos e eu não me surpreendo, os campos de uvas são maravilhosos não é benzinho?
-Sim, vocês já conheceu a Itália Lucy? -Evans questiona em uma tentativa de puxar assunto-
-Não, ainda não tive oportunidade.
-É uma pena, mas eu recomendo para vocês dois -ele aponta para mim e Carter- É um lugar magnífico
Carter ri sem humor e nega com a cabeça enquanto encara o pai, engoli seco ao perceber que essa reação não é algo que Evans esperava, Helena também parece apreensiva e mordo forte os lábios ao perceber que a taça de Carter já está vazia. Isso com certeza não é bom sinal
-Não estou surpreso que você não se lembre -Carter diz- mas viajamos para lá no meu sétimo aniversário.
Evans parece constrangido e Max parece cada vez mais surpreso pelas palavras que Carter jogou ao ar eu imagino que não vá demorar muito até que ele comece a questionar. Um pigarrear de garganta ecoou e eu percebo que vem de Helena.
-Bem, já podemos servir o jantar não é? -Stella pergunta-
-Sim, acho que é o momento certo.
Helena concorda e Stella faz um pequeno sinal para o garçom que rapidamente arrasta a pequena mesa que reservam os pratos em louças que aparentam ser feitas de cristais, a tenção no ar ainda é visivél pela maneira como Carter e Evans se encaram.
-E você Stella, se lembra? -Carter questiona e eu engasgo quando os olhos da mulher saltam-
-Com licença, podem nos dar um minuto?
Peço enquanto me levanto puxando levemente Carter pela manga da camisa
-Claro, sem nenhum problema
Stella responde e Helena parece me agradecer com o olhar, me dirijo para a área aberta do restaurante, o jardim é enorme e completamente florido por rosas brancas e vermelhas, no meio há alguns bancos dourados e uma fonte que esfria por completo o lugar, nem mesmo as margaridas ao seu redor foram capazes de aliviar a tensão em meu corpo.
-Carter, o que foi aquilo?
-Aceitar esse jantar foi um erro -ele passa as mãos pelo cabelo-
-Não foi, você tá tornando isso um erro apontar as coisas na cara do seu pai não é o melhor jeito
-Eu sei -ele bufa ao se sentar no banco- Mas ele, ele nem se quer se lembra foram tantas coisas, Lucy, ele é meu pai ou pelo menos devia ser.
-Ei -me ajoelhei a sua frente sem me importar com os olhares a nossa volta- eu imagino o quão doloroso isso é.
-Não é doloroso, é só raiva -ele nega, mas eu sei que não é bem assim-
-Que seja, você tá aqui para resolver as coisas. Então só por essa noite deixe pra lá
-Lucy -ele bufa-
-Por favor! -peço e ele respira fundo antes de responder-
-Tudo bem. -ele diz e deposita um beijo rápido em minha testa- Que especie de vestido é aquele de Stella? Por acaso ela ainda acha que é uma secretária ao auge dos vinte e um anos.
Eu rio, porém não digo nada mas mentalmente sou obrigada a concordar, ficamos mais alguns minutos ali apenas tomando fôlego e logo subimos novamente. O prato estava posto para todos nós e a conversa na mesa parecia girar em torno de Max, respiro fundo e aperto as mãos de Carter pela última vez antes de nos sentarmos.
-Espero que não tenhamos nos atrasados tanto -digo ao me sentar novamente-
-Claro que não querida, esperamos por vocês -Evans diz e ele parece menos tenso do que antes
-Bem, escolhemos um prato típico de Boston para comemorar a ida de Carter
Evans diz e Carter engole seco, o prato é uma especie de macarrão com queijo e um molho que eu não consigo especificar mas o cheiro é conquistador, o jantar começa em silêncio e a comida está realmente divina.
-Então Max, é a primeira vez que vem a Califórnia? -Helena questiona-
-A Califórnia não, porém nunca fui a outro canto que não seja Los Angeles -ele diz-
-E está gostando de Carolina do Norte? -eu questiono para fazer a conversa render-
-Sim, as praias são maravilhosas e diferentes das de Los Angeles.
Evans parece satisfeito com a conversa entre Max e Helena, é possivél perceber de longe o quão orgulhoso ele se sente em relação a Maxwell
-E o que você gosta de fazer mini Evans? -Carter questiona e Stella ri, agradeço mentalmente pelo o apelido ter sido considerado hilário-
-Eu gosto de internet, criar programas, hackear contas e tudo mais.
-Ele é parecido com você -Evans diz-
-Nessa idade Carter vivia hackeando o sistema da escola e mudando suas notas para A
Helena diz e todos riem, Carter era realmente uma criança terrível.
O jantar parecia correr bem, Max se divertia com as lembranças de Carter que eram compartilhadas na mesa e até mesmo Carter sorria com algumas delas. Embora Evans não se lembre dos momentos mais importantes para Carter, ele se lembra de coisas diferentes e fez questão de demonstrar isso.
-Você mora aqui Carolina do Norte, Lucy? -Evans questionou-
-Não, eu me mudei para Los Angeles a pouco tempo, porém passei minha vida toda aqui
-Em Charlotte suponho?
-Sim
-Lucy é filha dos Whitersides -Helena diz e seus olhos saltam-
-Uou, seu pai detestaria ouvir isso mas você não se parece nenhum pouco com ele -Evans revela e eu rio-
-Então, você o conhecia? -meu coração se aperta mas não me contenho em saber mais sobre meu pai
-Ah claro, fizemos o ensino médio juntos. -fico surpresa isso é uma novidade-
-Todos nós -Helena diz- seus pais e também os pais de Jacob
-Oh Ashley e Tom, foi uma tragédia o que houve com eles.
Evans diz e eu posso ver o quanto esse assunto mexe com ele, alias com Helena também. Eu nunca cheguei a conhece-los e obviamente Jacob também não mas as lembranças que eles deixaram parecem ser tão agradáveis.
Stella não parece está se divertindo muito com Helena e Evans revivendo velhas memorias mas nenhum dos dois parecem perceber isso.
-E Jacob? -Evans questiona-
-Aah, ele ainda mora aqui -digo- E em breve vai ser papai
O sorriso quase atravessa meu rosto, se eu pudesse espalharia essa novidade para o mundo inteiro, não consigo nem descrever em palavras o quão feliz eu estou por ele.
-Minha nossa! Eu me lembro dele tão pequeno pregando peças no halloween.
-Já faz anos Evans. -Carter diz rudemente e os dois trocam olhares novamente-
-E você Lucy? -Max questiona chamando minha atenção e amenizando a tensão-
-Eu?
-O que gosta de fazer?
-Bem, eu não sou tão esperta como você com computadores meu passa tempo é mais na ponta dos lápis
-Uou, você é desenhista? -seus olhos brilham e eu sorriu-
-Podemos dizer que sim
-Que maneiro -ele diz-
-Maxwell -Evans o repreende e eu não entendo porque-
-Quero dizer, é bem legal
Tento entender o que tem errado com a gíria e mentalmente sou obrigada a concordar que Evans está criando um clone de si mesmo. Me livro desse pensamento quando a sobremesa é servida.
-Você cursa alguma faculdade? -Stella questiona-
-Sim, eu faço artes visuais
-Em Stanford -Carter acrescenta e Stella e Evans batem pequenas palmas-
-Você deve ser, se me permite dizer estupidamente talentosa -Stella diz e minhas bochechas coram-
-Sim, ela é
Carter diz, seu sorriso é tão sincero que faz meu coração disparar
-Você tem sorte -Max diz ao dar uma colherada na torta a sua frente e todos riem-
-Então, você não vai para Boston junto com Carter? -Stella questiona-
-Não, eu... -me perco em minhas palavras-
-Na verdade temos que conversar sobre isso Evans. -Carter diz e eu vejo Helena engolir seco-
-Ah, não se preocupe, olhe só, eu trouxe todas as documentações que você irá precisar
-Evans. -Helena diz mas o senhor continua-
-A chave também está aqui dentro junto a documentação da casa -ele estende o envelope pardo- Ela é espaçosa, são três andares
-Evans. -Helena diz novamente-
-Eu sei que vai dizer que não precisaria de tanto, mas espaço é bom.
-Evans -foi a vez de Carter dizer-
-Toma, pode pegar -o sorriso no rosto de Evans era enorme-
-Eu não irei
-Como assim? -o sorriso do senhor desaparece lentamente-
-Eu não irei para Boston.
-Como não? -sua voz se altera- É claro que você vai está tudo aqui, se você queria outra empresa sem ser a cede você devia ter me falado antes.
-Não, Evans você não está entendendo, eu não vou pra Boston e pra nenhuma das suas empresas.
Evans gargalha e Max parece está assustado e confuso, Helena está apreensiva e eu penso em algo que eu possa dizer para amenizar a situação mas não acho que minha voz seja bem vinda nesse momento.
-Você não tem escolha Carter. -Evans impõe e bebe um pouco mais o vinho em sua taça-
-Como é que é?
-Você. Não. Tem. Escolha. Eu financiei anos dos seus estudos e para que? para nada. Nada. E você Helena? Está de acordo com isso? -ele questiona e ela parece nervosa-
-Evans ir pra Boston, trabalhar com negócios, não é o que ele quer.
-Sinto muito se como seu filho eu não tenha atingido suas expectativas mas eu não vou me submeter a me tornar tão mesquinho e hipocríta como você
-Filho? -Max grita na ponta da mesa e um breve silêncio se faz-
-Vem querido, mamãe vai conversa com você lá fora
Stella diz ao pegar na mão de Max, e o pequeno encara o pai e depois Carter antes de deixar o local, passo as mãos pelo cabelo, estou me sentindo completamente impotente e eu odeio essa sensação.
-Olha só o que você fez! -Evans se levanta, ele está vermelho e posso ver as veias de seu pescoço saltarem-
-O que? Contei a verdade ao seu robozinho?
-É isso não é? Você está bravo pelo Max, está com ciúmes
Carter gargalha alto atraindo olhares do outro lado, as pessoas observam através do vidro e comentam sem nem ao menos serem discretos mas eu não me importo e Evans não parece nem notar.
-Ciúmes? -ele ri novamente- Impossivél Evans, você não é tudo isso, você nem se quer é um pai de verdade pra mim, aliás pra mim você não é nada
Ele se levanta e toco seu braço, sussurro seu nome mas ele não parece escutar. Helena também está de pé porém ela se matem na ponta da mesa estando visivelmente entre Carter e Evans.
-Carter, você está passando dos limites
-Limites? -ele ri irônico- não existem mais limites mãe. E sabe porque? Evans quebrou todos eles tendo a cara de pau de oferecer essa droga de jantar.
Carter puxa a toalha da mesa, fazendo os talheres voarem pela a sala de vidro, eu me esquivo mas ainda sim o vinho derrama sobre o meu vestido branco, meu olhos saltam eu nunca vi Carter tão fora de si dessa maneira e eu estou começando a me assustar ao imaginar o rumo que essa discussão pode levar.
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