Capítulo Único; Ele É Mansinho
Estava parado sobre o calçadão da praia. O vento forte bagunçava o meu cabelo, mas eu não me importava com isso, agora não. Criei uma mania há alguns meses, e essa mania era observar um rapaz que todos os dias às 6:37hrs caminhava junto de seu pastor alemão pela orla da praia. Tudo começou de uma forma cômica, quando eu, Kim Taehyung, fui intimado e obrigado por meu melhor amigo — e vizinho — a acompanhá-lo em uma de suas caminhadas matinais. Lógico que eu protestei, berrei e quase me joguei no chão como uma verdadeira criança mimada. Mas isso não adiantou, afinal estou falando de Kim Seokjin.
Mesmo com resmungos e birras da minha parte, acabei por ceder às vontades do outro. Ainda consigo me lembrar do sorriso vitorioso que o mais velho tinha naquela hora. Sim, eu queria meter um soco no rostinho lindo do meu hyung, e só não fiz isso porque ainda prezo pela minha vida. Contudo, tinha que agradecer ao outro por ter me obrigado, porque foi graças a isso que eu conheci minha paixonite, ou melhor, amor da minha vida.
Estaria eu sendo muito precipitado? Talvez, mas quem liga, afinal.
Me questiono o motivo de durante todos esses meses não ter me aproximado dele, não sou alguém introvertido e tímido, mas acho que abortar um completo estranho do nada não seja uma boa ideia, principalmente porque o moreno nunca está só. Eu amo cachorros — e morro de amores por aquele cachorro, não é só o dono que é bonito não — até criaria um se a síndica do meu prédio permitisse, mas ela é a encarnação da coisa ruim em carne e osso com menos de um metro e cinquenta. Sério, aquela mulher me odeia, devo ter feito algo horrível para ela em outra vida.
Algumas pessoas passeavam de bicicleta pela ciclovia, outras caminhavam pela área destinada aos pedestres, e também havia uma parcela de pessoas se exercitando. Tirei o aparelho celular do bolso do meu casaco, faltava um minuto para sua chegada. Olhei ao redor para ver se o corredor estava perto, mas nada foi encontrado.
Um, dois, três, cinco, dez minutos. Nada.
Ele está doente? Aconteceu algo com seu cachorro?
— Será que ele não vai vim hoje? — murmurei para mim mesmo, olhando a tela do celular pela milésima vez. Suspirei fundo, estava cansado de esperá-lo.
Me levantei frustrado, na intenção de voltar para minha humilde residência, porém, a cena a seguir seria cômica, se não fosse trágica: Eu, Kim Homem Mais Bonito Do Universo Taehyung, um homem lindo de vinte e quatro anos, vendo um cão — um velho conhecido, que eu até ficaria feliz em vê-lo se fosse em outra ocasião — grande de pelagem caramelizada e preta, correndo em minha direção como um caminhão desgovernado.
Mãe, pai e as oitenta e quatro pessoas que sempre curtem minhas fotos no instagram, saibam que eu amo muito vocês. Não se esqueçam de mim nem da minha beleza resplandecente.
Já estava esperando o pior, coloquei as mãos sobre o rosto para tentar me proteger, sentia que minha morte estava cada vez mais perto. Senti algo se chocar contra meu corpo, o que me desequilibrou e me levou ao chão. Sim, a morte estava extremamente perto de mim. Engoli a seco ao sentir o hálito quente próximo ao meu rosto, esperava uma mordida ou algo do tipo, mas o que eu recebi me surpreendeu.
Eu estava recebendo um ataque, um ataque de lambidas.
— De novo isso, Taeyang? Por que você tem essa mania, hein? — escuto voz rouca e afobada, e meu corpo inteiro se arrepiar.
Abro meus olhos quando percebo que as lambidas tinham cessado, e a cena seguinte fez meus olhos se arregalarem e sem dúvida alguma eu sustentava uma expressão confusa e surpresa. A brisa bateu sobre os cabelos do dono do cachorro, e foi impossível não suspirar enamorado quando as madeixas negras se chocaram sobre seu rosto.
Tão lindo.
— Você está bem? O Taeyang te machucou? — ouço ele perguntar e começo a encará-lo. O fito sem conseguir piscar os olhos, aquilo só podia ser um sonho.
— O-o que? — me sinto como um idiota tentando processar a situação toda. Pelo menos finja ser alguém normal, Taehyung — E-estou bem sim, n-não se preocupe.
Balança a cabeça, parecendo aliviado e me lança um sorriso e estende a mão em minha direção. O encaro sem entender, mas logo notei que ainda me encontrava no chão — mais um dia normal na vida de Kim Taehyung. Sorri constrangido e aceitei sua ajuda.
Eu queria segurar aquela mão por mais tempo, é macia.
— Me desculpa pelo ocorrido, o Taeyang acabou escapando e não consegui contê-lo. Você deve ter se assustado, não é? Me desculpe, por favor.
— Ah… — sorri de forma abobalhada. — Como eu já disse, não tem problema.
Au, au
O cachorro — que descobri há pouco se chamar Taeyang — latiu e mais uma vez eu me assustei. Se eu não morrer de um ataque cardíaco, possivelmente será de susto.
— Não precisa ter medo, ele é mansinho.
Ele é mansinho, repeti para mim mesmo.
— Certo. — o rapaz coçou a nuca. — Como é seu nome?
— Taehyung. Kim Taehyung. — falei, tentando a todo custo manter o contato visual.
— Nome bonito, igual o dono. — deu um sorriso aberto, fazendo meu coração errar algumas batidas. Ele tem um sorriso bonito, parece um coelhinho. — Meu nome é Jeon Jeongguk, mas pode me chamar de amor da sua vida.
Quase me engasgo com o ar. Minha paixonite estava flertando com a minha pessoa? Céus, se isso for um sonho, por favor não me acorde.
— Você também é bonito, Kookie.
De onde essa coragem está vindo? Continue, por favor.
Conversamos sobre algumas coisas, peguei o número do Jungkook porque eu não sou bobo e eu já estava planejando nossa lua de mel. Ok, talvez eu tenha exagerado um pouquinho, mas vamos deixar isso para depois.
— Infelizmente vou ter que ir agora, tenho que ir trabalhar daqui a pouco. — diz se levantando, e seu companheiro peludo fez o mesmo, balançando o rabinho incansavelmente. Mesmo com o susto de mais cedo, eu ainda acho ele uma gracinha.
— Ah, tudo bem, então. — forcei um sorriso mais falso que nota de três.
— Quando chegar em casa te mando uma mensagem.
— Tchau, Jeongguk-ssi. Tchau, Taeyang-ah. — ditei o nome da última de forma ridiculamente fina, e ele latiu mais uma vez e abandonou o rabinho. Alguém me dá um potinho para guardar ele e o seu dono? Acho que meu coração vai explodir de tanta fofura.
— Tchau, Tae. — depositou um beijinho na minha bochecha e saiu com a pastor alemão ao seu lado.
Pisquei sem reação, observando eles se misturarem em meio a multidão — olha só, até rimou. – Se isso for um sonho, foi o melhor de toda a minha magnífica existência. E, mais uma vez, sorri como um verdadeiro idiota que eu era. Não vejo a hora de contar a novidade para o Jin.
Taeyang é mansinho, quem é bravo é você, Jeongguk.
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