História Ele está logo atrás - 5- Tempos de colégio

Chegar em casa e fingir que tudo estava bem; era uma calúnia que nem mesmo Willis poderia tolerar. Estacionou a AWD no quintal e enfiou as chaves no bolso da calça que nem era sua.
Eram onze da noite, e o motivo de ter chegado tarde, era ter parado na sua lanchonete preferida para tomar alguma coisa quente. Alias, seu corpo tremia de frio, e ficou por lá. Recapitulando o quão cruel os alunos de Jayslick haviam sido com ela. A verdade era que Jane se sentia violada.
Violada por ter sido acusada de algo que não fez.
Violada por ter tomado banho contra a sua vontade.
Violada a ponto de agredir um rapaz.
Violada a ponto de ser mal entendida por Kyle.
Afinal ele a havia ameaçado e tentado beijá-la a força; coisa que Jane nunca permitiria.
Abriu a porta e limpou os pés no tapete; as luzes estavam ligadas, e Willis sabia que alguém estava acordado, aguardando a chegada da filha.
-Querida? -A voz de tom cortou o silêncio que pairava sobre a casa naquela noite. Ele estava com seu roupão marrom felpudo; os olhos estavam inchados de sono. Mas Tom se recusava a dormir até que sua filha estivesse bem, em seu lar.
-Oi, pai. -Jane comprimiu o sorriso e abraçou o homem, que estava tão preocupado que resmungava direto.
-O que houve minha querida? Que diabos estão as suas roupas? De quem arranjou essas?
Willis respirou fundo, se recusando a derramar uma lágrima. Apenas se afastou e olhou para seu pai, tentando passar toda a confiança que podia.
-Houve muita coisa papai, mas preciso de um chocolate quente, daqueles estranhos que só o senhor sabe fazer. -Ela sorriu e piscou.
                                      *
Jane estava com o roupão de Tom, aquecida pelo tecido grosso e macio; seu pai estava com uma camiseta cinza e shorts preto. Agora estavam sentados no banco em frente ao balcão  da cozinha, um espacinho que seu pai chamava de "bar". Ele tomava um gole de chocolate quente e passava as mãos no cabelo a cada três segundos, preoculpado e ansioso para saber o que aconteceu com sua pequena.
-Não se preocupe comigo papai, estou bem; acredite em mim. -Ela afirmou.
-Querida.-Tom negou. -Nunca estamos bem verdadeiramente.
Jane abaixou os olhos ate a caneca em cima da mesa, o líquido marrom criava uma grossa camada de nata de chocolate, por causa do frio, que adentrava pela janela da cozinha.
-Bem, as pessoas da escola não tem dado bem comigo eles... -Ela tentou esquecer Kyle. Portman era assunto para outro dia se talvez, as coisas piorasse.-Eles fazem piadinhas, me chamam de nerd, chata e bem; não me importo. -Engoliu em seco. -Hoje todo mundo da festa, menos Giulia, jogaram água em cima de mim,  e riram da minha cara, me empurraram e etc... -Jane olhou para o rosto triste de seu pai. Ela sorriu e disse: -Mas eu fiz o que o senhor disse, e faria no meu lugar; soquei um menino que jogou a agua em mim. E fui embora.
Tom assentiu lentamente, por fim; ele abraçou a filha com toda a força que possuía.
-Escute minha princesa. Não importa o quanto caçoam de você, não importa o quanto vão rir de você. O que importa pra mim é que você vai... -Ele se afastou e olhou para a garotinha. -Você vai seguir em frente como sempre fez. Você vai bater nesses idiotas e eu vou estar do seu lado pra te entregar uma cadeira pra você arremessar nas costas deles. -Ele riu junto com ela. -Eu sei que está abalada, mas nem se importa com esses Panacas. A verdade é que só os sábios agem com maturidade. E se você não sente repulsa nem ódio, você é a garota mais sábia que conheço.
Jane assentiu, respirou fundo e sorriu mas uma vez, era um sorriso triste. Mas a verdade era que seguiria em frente com unhas e dentes.
-Mas nada aconteceu, certo? -Ele perguntou a encarando por um momento. Jane Willis se perguntou se Portman era algum problema. Sim, ele era um problema pequeno. Mas logo, isso se resolveria para Jane, que estava disposta a cuidar desse assunto. Aliás, precisava mostrar que Jayslick era um lugar para Jane Willis; e que nenhum bad boy mimado a tiraria dali, por simples desejo. 
-Não papai; vamos dormir por que o senhor esta quase apagando de sono. -Ela deu um pequeno tapinha no ombro de seu pai, enquanto ele ria.
-Ah sim claro, mas agora devolta meu roupão.- Jane negou mostrando a lingua.
-Agora é meu!
-Você ja tem o seu, sua gulosa. -Tom bagunçou os cabelos da filha.
-Esse daqui é mais quentinho.-Ela inalou o cheiro do tecido e tirou rapidamente o roupão fazendo uma careta. -Credo que cheiro horrível.
Seu pai vestiu o roupão e piscou:
-Não lavo a dois meses. -Riu.
-Credo pai! Queima esse roupão. -Jane bateu nas suas costas de leve enquanto seu pai fugia em gargalhadas.

Os dias costumavam ser assim antes do inferno.

                           * * *

UM DIA DEPOIS

Jane Willis estava nova em folha depois de curtir o ultimo dia com seus pais e Candysse no Divercion'plaza; um lugar com muitos jogos novos e antigos localizado no sul da cidade, onde ficava o centro da Califórnia. Sentia sua bateria sentimental renovada após tanto jogar com Candysse, que para ser sincera; ganhou poucas vezes de Willis.
Jane deslizou para o quarto de seus pais em passos curtos e leves, naquele momento todos estavam tomando café da manhã na cozinha. Mas naquele momento era a oportunidade de mostrar para sua mãe o quão o casaco do exército dela combinava com a filha. Jane pegou o casado de tecido grosso e mesclado em tons verde escuro,  claro e musgo, se deparou com a calça de sua mãe, do mesmo estilo; e quando dera por si, Jane ja estava furtando o chapéu.
Avançou em disparada para o quarto e se vestiu. Willis não gostava da ideia de ir para um exército, mesmo que segurar em armas pesadas parecia a melhor sensação; o uniforme do exército era o sonho de consumo da garota.
Jane vestiu a calça que se ajustou muito bem em suas pernas, vestiu o casaco aberto e deixou a mostra a sua regata branca que usava por baixo. Calçou as botas velhas de couro marrom escuro, colocou o boné na cabeça, e se aproveitou do batom vermelho. Para Jane, ela estava linda. Mas sabia que ninguém veria dessa forma.
Desceu as escadas com as mochilas nas costas.
-Bom dia família que eu amo tanto! -Jane abriu os braços para a mãe na sua frente, que a encarava boquiaberta. Candysse parecia atrasada mas parou no tempo encarando a irmã. Tom cuspiu o café que bebericava.
Talvez o dia não esteja favorável para usar coisas sem pedir. Pensou Jane Willis, forçando um sorriso.
-Você esta a coisa mais linda. -Diandra abraçou a filha. Jane ainda estava surpresa demais para devolver o abraço.
-Olhe só para ela Tom. Esta se parecendo comigo quando entrei no exército. -A Mãe disse aos pulos chamando a atenção de Tom. -Exceto claro, pelo cabelo. -Mamãe ajustou o boné enquanto sorria.
-Querida você esta um arraso. -Papai piscou.
-Jane, se eu não te conhecesse diria que é uma delinquente. -Candysse brincou, mas Willis se sentiu imensamente ofendida, botou a mão no peito, fingindo estar chocada.
-Ainda bem que nos conhecemos.-Sorriu.
-Bem. -Candysse se afastou da mesa se levantando, ela vestia uma blusa social e calça preta. -Tenho que ir, vou ter um seminário para apresentar hoje.
-Boa sorte meu anjo. -Mamãe a abraçou e papai fez o mesmo.
-Vai se sair muito bem! -Tom garantiu.
-Prevendo o futuro papai? -Candy sorriu.
-Prevendo os fatos meu bem. -Ele piscou.
Candysse abraçou a irmã e saiu pela porta, tinha seu próprio carro; um modelo atual e moderno, mas nâo era o carro do ano. Willis admirava a simplicidade que Diandra e Tom colocaram sobre a família. Como se fosse uma regra de anos.
Tom ligou a televisão quando ja estava na sala; Jane agradecia a mãe pelo café da manhã, bacon e torradas. 
Após alguns minutos papai voltou para a cozinha com um pouco de preocupação.
-Vejam só, antes de ontem um homem foi atropelado, na rua setenta e sete. Parece que não sobreviveu ao impacto e morreu na hora. -Ele coçou o bigode. -O mais estranho é que a rua setenta e sete é cheia de câmeras nas lojas de conveniência que filmam as ruas; mas elas não filmaram nada.
   
                          * * *

A moto roncou quando Jane Willis entrou no estacionamento a fim de encontrar uma vaga. Nada que não pudesse esperar, além de ver os alunos a encarando com um pingo de curiosidade.
"Como estava Jane depois daquele dia?"
"Aposto que esta com os olhos inchados de tanto chorar"
Willis virou para estacionar a moto na vaga que havia encontrado. Era difícil encontrar um lugar, afinal, todos os alunos tinham carros.
Tirou o capacete e soltou um suspiro antes de descer do veículo. Balançou as chaves com os dedos enquanto a menina determinada se dirigia para dentro da escola.
O vento batia forte naquele instante; zunindo no ouvido de Willis.
-Quer mais um banho? -Alguem gritava a distância, antes mesmo da garota entrar no local, as risadas não cessavam.
-Quer mais um soco? -Ela se virou para o garoto, e disse alto. Agora reconhecia como o garoto que havia batido na festa; era Connor. As risadas agora, haviam se voltado para ele. Jane negou com a cabeça, pedindo calma para si mesma.
Um ronco se instalou loucamente pelos arredores de Jayslick, a ferrari cinza avançou para o estacionamento e derrapou habilmente para uma vaga vazia. Os garotos de Jayslick urraram e gritavam "Aguia negra". Era esse o time de basquete.  "AGUIAS NEGRAS". Mas se sabia de quem eles se referiam. Algumas meninas acenavam quando Kyle saiu do carro. Portman usava óculos escuros, os cabelos bagunçados, vestia uma camiseta cinza que destacava seu corpo forte. E quando ele olhou para Jane Willis; ela ja entrava na escola.
A diversão só acaba quando eu disser que acabou.
Essas palavras ecoavam loucamente no psicológico de Willis que andava a passos largos pelo segundo andar. Entrou na sala de Física, dando de cara com Giulia.
Jane não era o tipo de garota que culparia a amiga, por não ter ajudado ela na festa, aliás, o que havia acontecido era culpa de outra pessoa.
Rolpher se levantou abalada e abraçou a amiga fortemente, a garota de cabelos curtos fez o mesmo.
-Céus Jane! -Ela murmurou estarrecida. -Me perdoe por favor.
-A culpa não foi sua Rolpher. -Willis sorriu enquanto se sentava em sua cadeira.
-Claro que é! Eu devia ter colocado ordem na festa.
-Mas. -Jane adicionou para que Giulia continuasse.
-Mas eu me acabei no sétimo copo. -Revirou os olhos e bateu a mão na testa. -Jane eu ia subir mas o Kyle me chamou para beber com ele e acabei me dando mal.
-Kyle? -Ergueu a sombrancelha e cruzou os braços. -Não posso cuidar da sua vida, mas você esta sendo levada demais em relação a ele.
-Festas são para se divertir.
-E eu me diverti muito. -Jane disse sarcástica.
-Me descu... -Giulia olhou para Jane dos pés a cabeça. -Traje maneiro.
-Obrigada. -Ergueu a cabeça. -Não fuja do assunto Giulia Rolpher.
Ela revirou os olhos e riu.

Giulia estava perdoada pela sua falta de responsabilidade. Assim, as duas passaram as aulas estudando e conversando sobre o que haviam feito no dia seguinte após a festa. Giulia havia ficado o dia inteiro de ressaca; e Jane contou da sua feliz visita na Divercion'plaza. 
-É sério! Olhe só para ela, que horrível.-Alguém no fundo havia comentado. Jane podia ouvir que estavam falando dela.
Aquilo fazia Willis lembrar que Kyle estava espalhando mentiras para a escola. Dizendo coisas que ela nunca disse, e para piorar; as pessoas acreditavam. Pelo simples fato de que Kyle Portman era o cara.

                         * * *

Jane e Giulia se dirigiam para o primeiro andar apos o termino das aulas. Se tratava da aula extra, ou aula extra para divertimentos. No primeiro andar ficava a aula de natação, mas Giulia contava que o professor não dava aula, apenas ajudava os alunos e estes podiam nadar livremente.
Apesar de que os alunos não  gostavam de gastar seu tempo nadando.
-Antes todo mundo queria nadar nas aulas extras.-Disse Giulia, aborrecida. -Agora, duas ou três pessoas ficam aqui, desde o ano passado.
-Isso é bom. -Willis deu de ombros. -Assim temos mais espaço na piscina.
As duas gargalharam e pararam em frente a porta dupla de ferro marrom que Jane abriu. De cara, a moça encontrou a piscina. Ela era enorme, tão grande quanto imaginava, aos lados o piso era de concreto, depois quando se afastava da piscina; o piso se alongava numa madeira cor caramelo, assim como as arquibancadas pequenas em ambas as laterais, mais ao fundo. Uma tela de cronometragem se pendia na parede acima em frente a elas, e as luzes estavam desligadas. Porém, tudo era suavemente iluminado pelas janelas e pela segunda porta do outro lado do local, que segundo as observações de Jane, dava para a quadra de baseball e basquete. Mesmo que, haja mais uma quadra de basquete no segundo andar. 

Havia um garoto sentado na arquibancada. Jane estreitou os olhos até ele, através das lentes dos óculos, e pode perceber que era Kenan.
Giulia assoviou piscando para Willis.
-Ja temos alguém para nadar...
-Ola meninas. -Uma voz grossa as chamou atrás dela, após se virarem Rolpher abraçou o homem alto, meio velho e barbudo.
-Treinador George! 
-Giulia. -Ele fingiu animação, mas estava prestando atenção em Jane.
-Garota nova? -Ele perguntou para Willis quando Rolpher se afastou animada.
-Sou Jane Willis. -Se apresentou em um aceno. -A gente queria participar da aula extra de natação.
George riu e apontou para a amiga ao lado.
-Ela não pode. Você sim.
-O que? -Giulia fechou a cara, indignada com o que acabava de ouvir. George porém só deu um longo suspiro e checou a prancheta em suas mãos.
-Com todo o respeito; mas... Rolpher, você é lider de torcida, o festival começa daqui alguns mêses, as aulas extras para as lideres de torcidas são sómente para treinos.
-Mas um dia por semana treinador! -Implorou. -Por favor.
-Nem pensar Giulia. -Ele ignorou.-Da última vez que deixei você participar de outra aula extra, você não treinou as garotas e a apresentação foi um desastre o ano passado.
-Você sabe muito bem que as pernas da Lana é uma maior que a outra. -Torceu o nariz.
-Eu gostaria que houvesse mais pessoas na ficha de natação, infelizmente só temos duas. Você-Ele apontou para Willis. -E ele.-Indicou para Kenan que os observava de longe.
-Se quiser mais pessoas então me deixe entrar. -Rolpher resmungou.
-Pensando bem. -Fez uma pausa, e em seguida uma esperança nos olhos castanhos de Giulia. -Realmente estou feliz por haver poucos alunos. Ano passado, urinaram na piscina e nem o filtro deu conta. -Jane riu sem parar.
-Tudo bem, vou viver minha vida chata e entediante como líder de torcida. -Rolpher jogou os braços pra trás.
-Lembre-se que você escolheu esse caminho.
Giulia olhou desapontada para Willis.
-Desculpe, vou chamar as meninas. Mas você ficará bem. -Garantiu.
-Tudo bem. -Piscou.-Sobrevivo sozinha.
-Até amanhã.-Giulia olhou feio para o treinador e saiu de nariz empinado, não era a única chateada. Jane queria passar um tempo livre com a amiga.
-Muito bem, sabe nadar?-George se virou para Willis apressado.
-Sim. -Ela concordou.
-Não force muito a respiração dentro da água, grite caso aconteça alguma coisa estarei por perto. -Ele disse checando o relógio. -Preciso treinar os garotos do basquete.
-Bem perto. -Jane cruzou os braços desaprovando a atitude do treinador.
-Aquelas duas portas no fundo são os vestuários, banheiros e duchas para homens e mulheres. Tem um estoque de uniforme e natação no armário dos fundos.
-Tudo bem. -Ela assentiu lentamente enquanto George saia de seu campo de visão. Willis não sabia se ficava indignada pela atitude apressada do treinador, ou por ser só ela ali. Ignorando o fato de Kenan estar presente também.
Ela andou ate a porta das meninas e adentrou o local bem limpo e organizado. Havia armarios brancos com bancos nos cantos para apoio e descanso, logo atrás encontrou algumas duchas e nos fundos finalmente um armário semi-aberto, onde pegou um uniforme empacotado tamanho M. Entre maiô e shorts com top. Jane optou por excluir o maiô, que a incomodava. Vestiu o uniforme preto depois de guardar sua roupa no armário e saiu.
O barulho de água anunciava que Kenan estava usando a piscina. Ele era esguio, forte; sua pele era branca, seus olhos azuis e seus cabelos castanhos batiam até o pescoço. Ele parecia um vocalista de uma banda de rock, mas não possuia tatuagem. Jane Willis manteve distância entre ela e ele; a piscina se dividia em seis raias, ele nadava em uma ponta, enquanto Willis deciciu mergulhar na outra. A garota pulou na água gelada que entrava em choque com a sua pele. A sensação a fez lembrar da festa de sábado, mas a única diferença era que Willis queria água em seu corpo.
Começou com um nado sereia, que amava fazer. A água cuidando de seu corpo relachava seus músculos enquanto ela voltava para a superfície, para retomar oxigênio.
Kenan não parecia ser um aluno estudioso, não era a melhor pessoa, porque aliás, nunca a defendeu de qualquer insulto vindo de seus amigos.
Mesmo que ela não precisasse ser protegida.
Jane notou que o garoto nunca olhava para ela e mantinha-se focado. Vez ou outra, ele batia as mãos com tudo na parede da piscina e resmungava com a dor.
Willis tentou ignorar e aproveitou para curtir a água, enquanto olhava para o teto. Tinha evitado cruzar o caminho com Kyle. E se perguntava: Quando que isso acabaria?