1. Spirit Fanfics >
  2. Elipse >
  3. Ano Novo - e o automatismo dos anos velhos

História Elipse - Ano Novo - e o automatismo dos anos velhos


Escrita por: Kisara

Notas do Autor


Olá, amores!

Capítulo fresquinho para todos que já estavam enlouquecendo com a falta dele, rs. Thanks pelo carinho que vocês têm com essa história, pelos comentários e mensagens carinhosas que vocês deixam. Ainda estou me programando direitinho para responder tudo!

Esse capítulo aqui é bem no estilo "Tapa Buraco" - os buracos que o capítulo passado deixou, e segue a tendência de "Tóxica" - que eu admito que é um dos meus favoritos -, ou seja, tem data em todas as cenas e é totalmente não linear.

Beijo e até lá embaixo!

Capítulo 25 - Ano Novo - e o automatismo dos anos velhos


Fanfic / Fanfiction Elipse - Ano Novo - e o automatismo dos anos velhos

[31 de Dezembro de 2018.]

“Você está tentando virar a Ino?”

A voz de Naruto explodiu bem próxima de seus ouvidos, tirando-a de um transe que ela não se lembrava ao certo de ter entrado. Ela entreabriu os lábios, sem se virar para ele, pegando seu celular no armário, e o ar que expirava parecia esquentar à medida que saía de dentro dela e se encontrava com o mesmo ar que saía da boca de Naruto.

Ela girou lentamente, o casaco lilás amarrado em sua cintura batendo sutilmente na calça jeans que usava, encarou-o, piscando algumas vezes, e os cílios pesados pela quantidade enorme de máscara eram tão grandes sobre os olhos prateados que Naruto achou que poderiam alcançar as sobrancelhas dela. Os lábios pintados de um vermelho tão quente e intenso quanto o sangue que corria dentro deles, esticaram-se num sorriso suave, antes que ela o respondesse.

Ou melhor, antes que ela o ignorasse.

Porque aparentemente ignorá-lo era a resposta que ela achava que ele merecia.

E era a única que ela parecia disposta a dá-lo.

Naruto a viu caminhar a passos decididos pelo corredor de AHS. Os saltos finos e barulhentos de Hinata ecoavam em meio ao vazio do colégio enquanto ela ameaçava desaparecer de sua vista para sempre.

Bem, não para sempre.

Mas independente de quantos minutos fossem, a sensação de eternidade seria a mesma.

 

 

[28 de Dezembro de 2018, pouco depois da meia noite]

 

Hinata dissera que ia voltar.

E a preocupação o atingira quando ela parecia demorar demais para fazê-lo. Ele recolheu a mochila e o fone dela caídos no chão, em seguida o celular dela no sofá e saiu do porão desesperado, procurando por ela.

O desfecho que havia imaginado para aquela noite não envolvia o desaparecimento da Hyuuga. Os últimos acontecimentos tinham sido um tanto confusos. Tinha dado tudo certo com aquela loucura com os fones de ouvido que ele providenciara, estava dando tudo muito certo com Hinata e ele até estava conseguindo driblar o incômodo que sentia por saber que Hinata fora – ele não queria pensar na possibilidade de ela ainda ser – apaixonada por alguém.  Aquilo parecia tão absurdo! Quem, tendo Hinata como possibilidade de escolha, ainda precisaria pensar em alternativas?

Ele havia caminhado completamente desnorteado pelos corredores absolutamente silenciosos de AHS e procurado em todos os lugares possíveis, antes de irromper por uma das únicas portas do colégio que ele ainda não havia explorado. Sakura-chan e Sasuke estavam ali, claro que estavam. E ele não pôde deixar de se sentir muito grato por eles estarem vestidos – porque os amigos eram como coelhos no cio e por mais que isso, na pior das hipóteses, lhe rendesse uma ou duas piadinhas sobre não estar muito a fim de assistir o filme pornô que eles estariam protagonizando, ele tinha outra emergência no momento e não podia esperar que eles perdessem tempo com algo como se vestir enquanto Hinata estava desaparecida.

E ele chegara a murmurar uma ou outra coisa para Sakura-chan, enquanto ela ria com fosse o que fosse que Sasuke estivesse sussurrando no ouvido dela. Ele batera numa mesa, um baque e tanto!, e fizera a amiga voltar os olhos esverdeados e a testa com uma veia saltitante em sua direção.

Hinata não estava em lugar algum, ele informara, falando alto demais. Os gritos eram de desespero – e com o ambiente silencioso em que se encontravam, eles eram ainda mais ensurdecedores. Ele já havia procurado em praticamente todo lugar.

Podia ser que Hinata tivesse, quem sabe, sido arrastada por Ino para longe do colégio quando dera meia noite e todos foram obrigados a deixarem AHS. Era óbvio que haveria uma continuação da festa na casa de alguém. Mas... – Sakura parara no meio da frase...

Não havia a mínima possibilidade, pensando bem, de Hinata ter ido a qualquer lugar sem Naruto quando ele estava ali, junto dela, como ela e qualquer pessoa com um mínimo de senso sabia que tinha que ser. – e ajudava que boas histórias de amor fossem seu ponto fraco.

Afastou-se um pouco de Sasuke, tirando o celular do bolso. Nenhuma mensagem, sem sinal de fumaça, nada de estranho por ali. Saíra da sala com o Uzumaki em seu encalce, ajeitando melhor a roupa amarrotada em seu corpo e vasculharam novamente os lugares que Naruto já havia vasculhado, checando os lugares onde ele não havia checado ainda.

Sasuke não estava aparentemente interessado em procurar a namorada do melhor amigo – não podia se importar menos com o paradeiro dela, sendo sincero – e Sakura o fuzilara com os olhos ao se dar conta disso. Por fim, a Haruno ligou para Neji. Naruto não queria que ela fizesse isso – algo como Neji ter confiado a prima a ele e qualquer outro blábláblá que ela não estivesse realmente ouvindo –, mas ela ligou. Caso ele não soubesse com exatidão, tinha meios de descobrir.

E ele havia dito que ela já estava em casa. Trancada no quarto. E que Naruto era um idiota – e, sinceramente, Naruto sendo chamado de idiota era pleonasmo! – e ela parou de ouvir em certa parte, suspirando com o desespero de Naruto e achando que o amigo podia a qualquer momento começar a quebrar o colégio todo com a preocupação e todos os sentimentos aleatórios em seus olhos não mais tão azuis e agradeceu, encerrando a ligação.

Ela está em casa, avisou a Naruto e a Sasuke – não que este último se importasse –. E Isso não era exatamente uma boa notícia. Era uma notícia não tão ruim, mas longe de ser maravilhosa. Esfregou o rosto, piscando algumas vezes. Pediu para Naruto começar do começo para que ela o ajudasse a entender exatamente em que ponto ele havia sido estúpido o suficiente para afastar a Hyuuga e para que eles pensassem numa possível reversão.

E ouvir a história do começo era suficiente para que Sakura quisesse matar Naruto com as próprias mãos. Ela dera um, dois, três... – certo, parara de contar no quinto – socos na cabeça de Naruto e ele murmurava algo como “Itai, Sakura-chan” e ela queria, de verdade, que ele caísse desacordado a qualquer momento e não murmurasse mais nada.

Quem em sã consciência ficaria com uma e se diria apaixonado por outra?!

– Aparentemente, Naruto Uzumaki.

“Tira ele da minha frente agora, Sasuke!”, Sakura gritou, tentando raciocinar em meio à raiva.

“Mas você é muito burro mesmo, Naruto!”, Sasuke exclamou, balançando a cabeça. Chegava a ter pena da garota agora, nessas condições. Perdidamente apaixonada pelo cara mais estúpido do mundo.

“O que foi, Sakura-chan? Eu fiz alguma coisa errada?”, Naruto questionou confuso, massageando a cabeça.

E uma gota surgia na testa de ambos os amigos.

Sakura tentou relaxar.

– Ela jurava que estava tentando e achava que estava quase conseguindo, afinal, Naruto ainda estava vivo, não estava?

Ela respirou fundo por uma, duas...

Por algumas vezes.

“Naruto, seu imbecil!”, ela começou. “Você não faz ideia do que é estar apaixonado por alguém e tão pouco seria capaz de reconhecer se um dia estivesse de fato –, e eu não me importo que você saia por aí dizendo que é apaixonado por mim porque eu já desisti de tirar isso da sua cabeça! Mas tem pessoas que se importam! Especialmente se essa pessoa estiver com você!”, ela desenhou. Meio que literalmente, uma vez que fazia gestos tentando colocar isso na cabeça oca de Naruto enquanto pautava cada frase que dizia. “Dizer isso num momento como aquele!?”, ela bufou, queria mesmo matá-lo. “É estúpido demais. Até pra você!”

Ela esfregou mais uma vez o rosto. Sasuke não parecia ter muito que dizer, ele estava somente concordando. Chegava um ponto na vida que eles, sendo os melhores amigos de Naruto, achavam que já estavam preparados para a próxima vez que não ter um cérebro pudesse atrapalhar o Uzumaki.

Mas ao que parecia, esse ponto não existia.

Sempre se surpreenderiam.

“Sakura-chan, eu –”

“Naruto, o que diabos você ainda está fazendo aqui?”, Sakura piscava, perguntando incrédula, travando uma batalha consigo mesma. Ela já estava muito apegada a Hinata e era até verdade que Naruto era o melhor amigo dela, mas, ainda assim, desejar Naruto a alguém era ser uma boa amiga? “Vá atrás da Hina, você precisa reparar a palhaçada que fez! Ouvir o imbecil que está com você se declarar apaixonado por outra, é tudo o que uma garota jamais gostaria de ouvir!”, ela suspirou quando ele a olhou sem entender. Não adiantava dar sermões no amigo, ele não era capaz de entendê-los! “Você não percebe, não é?”, ela pausou, frustrada. “Se a Hinata estava com você e era tão óbvio assim que você era o primeiro a estar com ela, o mínimo que ela podia esperar era que os seus pensamentos estivessem nela!”

Naruto arregalou os olhos azuis, parecendo finalmente entender algo naquilo tudo que havia sido dito. Ele assentiu e saiu correndo para fora do colégio, sem nem ao menos se despedir dos amigos.

“Sakura”, Sasuke chamou, apoiando-se na parede do corredor do colégio e cruzando os braços, observando a namorada encará-lo. “Essa garota... A Hinata”, ele começou e ela assentiu, incentivando-o a continuar. “Acha que ela vai perdoá-lo?”

Sakura franziu o cenho, antes de abrir um pequeno sorriso, era bom ver que, enfim, Sasuke se importava com o caso dos amigos. E Naruto e Hinata eram tão bonitinhos juntos, não eram? Como não se importar com eles?

“É claro que vai, Sasuke. Ela é completamente apaixonada por ele!”, ela explicou e vendo a interrogação nos olhos ônix do namorado, emendou: “Não me pergunte como ou por quê.”, riu baixinho.

“Ótimo!”, Sasuke descruzou os braços, uma linha fina e divertida que era quase um sorriso – talvez fosse um, se você fosse criativo ou otimista o suficiente para imaginar que sim –. “Ele é responsabilidade dela agora, ela não pode simplesmente nos devolvê-lo!”

E a baixa risada de Sakura de repente ficou alta demais.

– Em especial porque os corredores estavam realmente muito vazios.

 

Ele estivera ali, no quarto de Hinata, na madrugada passada pela primeira vez. E as coisas estavam um pouco diferentes de uma madrugada para outra, precisou admitir. Da outra vez que estivera ali, não havia aquela pilha de roupas jogadas no chão, Hinata não estava chateada com ele e, claro, ela estivera ali, junto com ele.

Passou a mão pelos cabelos dourados, bufando. Após a conversa com Sakura-chan, ele saiu do colégio e dirigiu rumo à Mansão Hyuuga numa velocidade não permitida. De início, ele pensou em bater na janela de Hinata e implorar para que ela falasse com ele, mas a janela estava aberta e ele era otimista o suficiente para achar que, talvez, fosse um convite para que ele fosse até ela.

Então ele entrou.

E a aguardou por ali, inicialmente de pé, depois sentado na cama dela, depois de pé de novo. Inquieto, ansioso. Ele podia sentir o cheiro de shampoo de maçã que estava sempre grudado nela invadindo suas narinas como se estivesse em cada canto do quarto, como se estivesse misturado no oxigênio. Muito provavelmente ela estivera ali há pouco. Aonde ela teria ido?

Não precisou pensar muito – graças a Selene!, ele não era bom nisso!

Ele ouviu o som da porta do quarto dela se abrindo, pôde ver a descrença no olhar dela ao encontrá-lo ali. Parado, na frente dela, esperando que ela dissesse qualquer coisa, mesmo que fosse ele quem devesse dizer algo.

Notou que Hinata deixou cair o porta-retrato que segurava e abriu a boca, pronta para falar com ele – sobre o quê exatamente ele não tinha ideia –, mas ele se deu conta de que não queria ouvir. Não ainda. Naquele momento ele só queria tocá-la, confortá-la nos braços dele. Foi o que tentou fazer, esticando os braços e a abraçando. Estava respirando no pescoço dela, mas na verdade a estava respirando. Podia sentir o cheiro dela nele, nela e em todos os cantos do quarto – não como se estivesse mesclado no oxigênio, mas como se fosse o próprio oxigênio –. Suas digitais acariciavam a pele das costas dela por cima da blusa.

Ele se perguntou, mentalmente, se às vezes Hinata também tinha aquele desejo: de que o tempo parasse.

“Eu sou um idiota, não sou?”, ele havia perguntado. E não precisava de uma resposta – ele, o cara que raramente sabia a resposta de algo, tinha uma resposta para aquilo. “Me perdoa?”, ele questionou – e para isso, sim, ele necessitava de um ‘sim’.

A verdade é que ele não fazia ideia de como fora que isso acontecera – talvez o tempo tivesse parado mesmo por alguns milésimos de segundo para ele e ele tivesse perdido algo nesse meio –, mas o rosto dela estava descansando no peitoral dele e ele se viu obrigado a erguer a cabeça dela pelo queixo por um instante para que o encarasse.

Ele a fitou com cuidado, enquanto ela não respondia. O rosto dela estava manchado pelas lágrimas e pela maquiagem borrada. Os olhos prateados estavam perdidos em nuances de vermelho. Avermelhados por causa dele e do quanto ele era um imbecil. Suspirou.

Fez a pergunta que cada célula do corpo dele queria fazer:

“Deixa eu cuidar de você?”

 

 

[28 de Dezembro de 2018, em torno de 7h00min]

 

Ino não devia ter dormido muito mais do que umas duas horas quando a mãe batera na sua porta. De início, ignorara, chegando até a esconder a cabeça debaixo do travesseiro, apertando o mesmo contra seu cérebro, querendo que o som das batidas da mãe abaixasse ao ponto de não mais existir. A necessidade de silêncio, no entanto, esvaiu-se quando a voz da mãe fora ouvida:

“Ino, a Hinata está aqui!”

A Yamanaka tirou o travesseiro de cima dela e se concentrou em ouvir algum som. A cabeça estava doendo um pouco e o quarto pareceu iluminado demais quando ela abriu os olhos, de modo que foi obrigada a fechá-los e entreabri-los bem devagar. As íris azuis estavam sensíveis demais à decoração que ela mesma tinha feito para o cômodo.

Aguardou em silêncio por um tempo, sem ousar se levantar. Não era a primeira vez que a mãe usava Hinata como motivo para fazê-la acordar tão cedo em um dia que estivesse precisando dela e ela não era nenhuma idiota para cair mais de uma vez no mesmo truque.

“Hina, querida, é melhor você mesma dizer que está aqui. Minha filha não acredita em mim!”, a senhora Yamanaka gritou do outro lado da porta, alfinetando Ino, fazendo-a revirar os olhos já bem abertos.

Duas batidas suaves foram ouvidas na porta. Certo, mas ainda não era suficiente.

“Ino, sou eu, Hinata”, Ino ouviu, franzinho o cenho.

Era quase suficiente, mas a mãe podia muito bem estar com um gravador, não podia? Vai saber e –

“É melhor eu voltar outro dia, não quero incomodar –”

OK, era a Hinata!

Somente ela para já estar ali, na sua casa, naquele horário, querendo falar com ela, tendo interrompido seu sono e, ainda assim, achar que podia ir embora e estaria tudo bem.

“Já estou abrindo!”, Ino gritou com a voz meio enrolada. Ela calçou uma pantufa vermelha em um dos pés, piscando e desistindo de calçar a outra no outro pé – era uma missão muito difícil achá-la naquelas condições.

Arrastou-se até a porta do quarto destrancando-a com muita dificuldade. Girou a maçaneta e os olhos quase se fecharam sozinhos de tanto sono, no processo.

Ela recebeu um olhar não muito amigável de sua mãe e sabia que teria boas explicações para dar assim que estivesse um pouquinho melhor. Bocejou, permitindo que Hinata passasse pela porta.

Foi só quando a Hyuuga fechou a porta e se sentou na cama, esperando que Ino fizesse o mesmo, que a loira tivera o choque que o estado de Hinata demandava que ela tivesse.

“O que aconteceu com o seu cabelo?”, Ino questionou, espantada. Piscava muito rápido e até se beliscou, esperando acordar logo daquele pesadelo. As madeixas longas e bem cuidadas da amiga se resumiam, naquele instante, a camadas desiguais de azul, num corte improvisado que os deixaram na altura do pescoço.

“Cortei”, Hinata explicou, olhando para os pés. Ela traçava círculos com o polegar no dedo indicador, num gesto inquieto. “Mas acho que não sou muito boa nisso”, ela abriu um sorriso fraco e entristecido, levando os dedos que não traçavam círculos em si mesmos, aos cabelos mal cortados. Tinha umas mil coisas passando pela cabeça dela, Ino podia supor, mas ainda estava chocada demais para tentar adivinhar quaisquer dessas coisas. “Acho que eu não sou boa em nada, na verdade.”

“Do que é que você está falando, Hina?”, Ino cortou, estava cedo demais para lidar com autodepreciação. “O que aquele Idiota Loiro aprontou?”, ela arriscou, devia ter imaginado que não era possível que aquele imbecil tivesse uma ideia de gênio como aquela festa brega – e brega era a cara de Hinata, sem querer ofender – com os fones de ouvido sem equilibrar a balança com um pouco de estupidez!

“Eu... Ele...”, Hinata começou, mas não conseguiu continuar. Ino nem havia percebido em que momento os olhos da amiga tinham enchido de água, mas não perdera o instante em que as lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela.

Os olhos de Ino se arregalaram e seu primeiro impulso foi o de abraçar Hinata, que não a abraçou de volta. Só chorou mais. E mais, e mais.

E Ino apenas aguardou.

Ela não conseguia pensar no que de fato Naruto poderia ter feito para deixar a amiga naquele estado, estava ocupada demais focada, a cada lágrima de Hinata em seu pijama, em pensar numa forma diferente de fazê-lo pagar. Não queria simplesmente matá-lo, ele precisava sofrer no processo. Enterrá-lo era uma opção, claro. Desde que ele ainda estivesse vivo no processo.

“Está tudo bem”, Ino tranquilizou, acariciando os cabelos dela, mas suspirou, tendo outra ideia de consolo para a amiga. “Olha, se você não vai me contar o que aconteceu, eu vou obrigá-lo a me dizer!”, ela exclamou, afastando o corpo de Hinata do seu e se levantando, meio aos tropeços.

Não tinha se dado conta de que as coisas ainda estavam girando ao seu redor, vislumbradas pela visão embaçada, mas tentou não se importar com isso.

E ela bufou quando chegou à maçaneta e Hinata não dissera nada.

“Mas o quê? Você não vai nem tentar me impedir de matar aquele idiota? Agora estou preocupada de verdade!”, ela deixou claro. “Anda logo, conta o que houve e se não me contar, eu juro que vou te arrastar pelo que sobrou dos seus cabelos e vou fazer você dizer diretamente para ele o que estiver entalado aí na sua garganta bem como vou dizer tudo que está entalado na minha!”, ameaçou, cruzando os braços.

Tinha umas duas Hinatas diferentes no ângulo que ela via e ela não quis descruzar os braços para esfregar os olhos e descobrir qual das amigas era de verdade e qual era uma projeção do seu sono – achava que a cara emburrada que ostentava combinava melhor com aquela postura e resolvera mantê-la.

Hinata arregalou os olhos prateados, olhando para ela com a boca aberta.

“Eu, eu... Eu ia falar com ele, Ino.”, ela começou, a voz embargada pelo choro. “Eu peguei o carro do Neji e... Bem, de início eu não ia falar com ele, mas depois eu resolvi que iria.”, ela interrompeu os movimentos circulares dos dedos, optando por outro gesto um tanto automático dela: o encostar de um indicador no outro. “Eu cheguei a ir até a casa dele. Parei o carro do lado de fora, mas não desci. Eu... Eu só não quero vê-lo”, ela explicou, olhando para Ino com uma determinação e uma dor nos olhos que fizeram com que a Yamanaka ficasse em dúvida se a Hyuuga não queria vê-lo agora ou nunca. “Então eu vim para cá.”, ela se abraçou. “Eu só quero que isso passe, Ino. Isso que eu sinto por ele... Eu só queria que passasse.”

Ino suspirou, aproximando-se da amiga, inicialmente sentando-se do lado dela, mas depois esticando o corpo e deitando-se no colchão. Deu um tapinha ao lado de si, para que Hinata entendesse que também deveria deitar ali.

A Hyuuga assentiu, deitando-se ao lado de Ino. Era um fato: estavam cansadas demais, ambas. Ino, da madrugada passada, dos efeitos dos vestígios de álcool em seu organismo. Hinata, aparentemente da vida.

Permitiram-se fechar os olhos e Ino jogou o cobertor por cima delas.

“Você me explica melhor mais tarde, tudo bem?”, a Yamanaka intimou Hinata, que somente piscou em assentimento.

 

[30 de Dezembro de 2018]

 

Naruto não via Hinata desde que ela o mandara embora de seu quarto, na madrugada do dia 28 de Dezembro – e ela sequer havia ido à aula naquele dia, ao entardecer; Sakura-chan havia dito que ela estava bem, que Ino também tinha faltado à aula na sexta, então supusera que elas estivessem juntas, ligara para a Yamanaka para ter certeza e era exatamente isso que havia acontecido. Assistir a filmes no aniversário de Hinata era como um ritual necessário entre as duas e já que a festa dos fones tomara todo o dia 27 de Dezembro, elas tinham adiado o evento para aquele dia.

Mas ele não estava realmente satisfeito com isso.

Não estava satisfeito com nada daquilo, sendo sincero.

Para começo de conversa, ele não entendia porque Hinata o expulsara naquela madrugada. Ele refizera mentalmente os passos que dera e não conseguia pensar em nada que a fizesse tomar aquela atitude. Ele não esperava que ela transasse com ele ou fizesse algo por ele nem nada, ele havia entendido o que Sakura-chan dissera e ele nem precisara de esforço para ir de acordo com o que a amiga o incentivara a fazer. Ele só queria que Hinata relaxasse, que ela se esquecesse por alguns instantes de que ele era um idiota, que ela se esquecesse de tudo. Que ela só sentisse. Ele, literalmente, só estava pensando em Hinata naquele momento.

 

“Não se mexa”, ele pediu, observando-a estreitar os olhos. “Eu sou um idiota”, ele repetiu, os lábios dele se aproximando da orelha dela, a língua roçando em sua cartilagem. “E eu sei que você ainda está abalada, então não vamos longe demais”, ele explicou. “Eu só quero que você relaxe”, ele pediu, segurando os cabelos dela e os afastando da lateral do pescoço dela, depositando um beijo suave ali. “Eu não costumo pensar muito”, ele começou, a língua deslizando pela pele alva dela. “Mas eu estou pensando agora.”

E ele mordiscou seu queixo, antes de se sentar e continuar fitando-a.

“Em você. Só estou pensando em você”, ele sorriu com o canto dos lábios e ela fechou os olhos enquanto ele a tocava.

Hinata estava usando roupas muito justas e não havia como negar o quanto aquilo o excitava. Geralmente o que ela vestia era sempre largo demais em seu corpo e por vezes ele se pegava imaginando como seria delinear as curvas que ela escondia. Ele chegou a tremer com a expectativa, iria finalmente tocá-la. Por inteiro.

Os dedos dele caminharam, de início, pelo rosto dela. Sentiram as pálpebras fechadas sobre seus olhos, o nariz pequeno, a boca não muito carnuda, mas um pouco maior que a dele, a curva sutil de um sorriso que despontava suave na linha dos lábios.

Não pôde evitar o próprio sorriso quando os seios dela reagiram de imediato às digitais dele e ele vislumbrou com o canto dos olhos as bochechas dela ruborizarem por perceber que ele havia notado o efeito que estava causando.

E ele não deixou os seios dela tão imediatamente assim. Não, de forma alguma. Nem poderia, ele era fascinado por eles. Não cabiam em suas mãos, não cabiam em sua boca, mas ele se lembrava do gosto da sua língua envolvendo os mamilos dela e dos gemidos que ela não conseguira conter na noite passada. Ah, adoraria repetir o ato! Arrancar com os dentes aqueles botões nos quais o dedo mindinho dele raspava, mas ele se conteve. Tinha outros planos para aquele momento, planos que não envolviam se deixar levar pelos seus próprios desejos.

Pressionou o mamilo proeminente dela entre o indicador e o polegar fazendo Hinata arfar; deu atenção ao outro seio com a outra mão, antes de continuar descendo os dedos pelo corpo dela.

Não tinha pressa, mapeava, delineava cada detalhe dela. Contornava as curvas, explorava as partes planas; num experimento, deixou que um de seus dedos afundasse no umbigo dela, atento às reações dela. Tudo por cima das roupas, como se a estivesse redesenhando – por mais estúpido que isso fosse, afinal, ela já era perfeita. –. O primeiro contato dele, sequencial a tudo isso, em uma parte desnuda de sua pele, chegou a eletrizar; ele sentiu os próprios dedos formigarem no pequeno vão entre o cós da calça e a blusa que havia subido um pouquinho com o toque dele. A pele da barriga dela, ele sentiu, deixando sua mão dançar ali por alguns segundos, antes de os dedos descerem um pouquinho mais.

As coxas, as pernas... A risada gostosa dela, quando a descalçou e ah!, Hinata sentia cócegas nos pés!

“Você quer que eu pare?”, ele sussurrou quando as mãos dele fizeram o caminho de volta e ele abrira o zíper da calça dela. Seus lábios se aproximaram dos dela, sem beijá-la. Seu hálito roçava nos dentes da frente dela, evidentes pela boca que expirava o ar com um pouco de dificuldade. “Eu paro, é só você pedir.”

Tomou o silêncio dela como uma permissão para prosseguir e abriu o botão da calça dela, os dedos afundando para dentro de sua calcinha, tocando-a com o ego inflado por saber que era o primeiro a fazer isso. Fora o primeiro a beijá-la, daria a ela seu primeiro orgasmo – e uma parte dele gritava que ele não queria pensar que um dia poderia haver outro a fazê-lo.

“Hina-chan”, ele sussurrou, embriagado e surpreso com o quanto ela já estava úmida, ansiosa pelo toque dele. Sentiu a dor prazerosa das unhas dela enterrando-se em seu braço enquanto ela gemia baixinho. “Relaxe”, ele pediu, com um sorriso divertido nos lábios e se curvou para beijá-la.

O dedo dele passou a pressionar a intimidade dela com mais força e Hinata voltou a gemer, dentro da boca dele. Sua saliva misturava-se a dela e sua língua acariciava as terminações nervosas da dela, cortando os gemidos dela. Ele a sentiu tremendo contra os dedos dele, tentando respirar dentro da boca dele. Explodindo em seu limite.

Separou os lábios dos dela, finalmente, para que ela inspirasse e expirasse melhor. Ela encheu o quarto com monóxido de carbono – ou dióxido? Ele não fazia ideia, e ele quase riu por achar que naquele momento até Hinata, com toda a inteligência que tinha, estava desnorteada demais para saber a diferença –, suor e o cheiro de maçã que estava sempre impregnado nela e em tudo que estivesse perto dela – inclusive ele.

 

Naruto se pegou sorrindo, dando-se conta de que não era só naquele momento que estava pensando somente nela – era uma coisa que já acontecia e continuava acontecendo já há algum tempo. Ele literalmente só pensava nela. Automaticamente.

Ali estava ele, em pleno domingo, por exemplo, pensando nela. Absolutamente irritado porque ela não fora na aula na sexta, não ligava o maldito celular – não aguentava mais a mensagem de fora de área ou desligado – e, qual é, ela não voltaria nunca para o próprio quarto?

Ele pelo menos queria ter dormido com ela naquela noite, abraçando-a e respirado o perfume dos cabelos dela, observado o peito dela subir e descer lentamente enquanto ela respirava em cima dele antes de realmente fecharem os olhos.

Mas ela o mandara embora. Ele vira a mensagem de Sakura-chan em seu celular, querendo saber como Hinata estava e a respondera que estava bem e fora bem sincero ao dizer à Hinata com quem falava, achava que ela ficaria feliz de saber que a amiga estava preocupada com ela. Contara que seguira o conselho de procurá-la que a Haruno lhe dera, que ela o ajudara a perceber o idiota que havia sido. E ela se transformara totalmente. Talvez ela não o tivesse de fato o perdoado por ser um babaca, mas ele queria se esforçar por ela. Se redimir. Ela o mandara embora. Dissera que era para sair, sumir. Ele, seu celular, Sakura e seus bons conselhos. E gritaria se ele não fosse naquele exato instante.

Esfregou o rosto, bufando.

“Ser ou não ser... Eis a questão.”, Naruto leu em voz alta, no livro que segurava, tentando pensar em outra coisa. Hamlet. Era a segunda vez que o lia e de alguma forma ele ia ficando mais aceitável à medida que o cérebro ia se acostumando com ele. A verdade era que tinha lido uma vez, ao pegar o livro emprestado com Sakura-chan, seguindo o conselho de Hinata de ler Shakespeare por pelo menos uma vez, porém a amiga havia comprado um livro incompleto, que por mais que ele o folheasse, não conseguia encontrar o seu nome na escrita do mesmo, bem como Hinata o havia dito que ele encontraria, e então ele comprara um e o estava relendo, esperando que este estivesse com todas as partes em seus devidos lugares. “Ah, Hina-chan, pensar ou não pensar em você... Eis a questão”, ele murmurou para si mesmo.

Na mesa de centro em que seus pés repousavam, estava o Box com os livros dos Irmãos Grimm no canto direito. Livros que ela o emprestara para pensar nos dois. Os fones de ouvido mudos em seu ouvido para ignorar o próprio oxigênio que ele respirava – e o fato de que não havia maçã misturada nele –... E é, ele ia ficar louco. Hinata o deixaria louco e a verdade é que o fato de que ele estava lendo – e uma história que nem sobre dragões era! – em pleno domingo, era sinal de que ele já havia enlouquecido.

“Mas o que é que você está fazendo?”, a voz de Sasuke ecoou pela sala de estar e Naruto desgrudou os olhos do livro que lia para encará-lo, assim como tirou os fones de ouvido porque, achando que ele estava ouvindo alguma música e tentando falar mais alto do que o som, Sasuke iria acabar ensurdecendo-o.

“Eu estou lendo, não está vendo, Teme?”, Naruto interrogou como se fosse óbvio – e até deveria ser... Mas ele era o Naruto, afinal de contas. O fato de ele estar lendo não podia ser óbvio por mais que fosse isso que os olhos dissessem!

“Quem é você e o que fez com o Naruto que eu conheço?”, o Uchiha insistiu e o Uzumaki revirou os olhos.

“Ah, Teme, não enche, vai! O que é que você veio fazer aqui? Cadê a Sakura-chan?”, questionou, fechando o livro e o colocando na mesa à sua frente.

Sasuke se aproximou, sentando do lado dele e ligando a TV.

“Noite das garotas”, ele deu de ombros. “Como você está?”, ele perguntou, sem mais enrolações. Naruto andava muito quieto nos últimos dois dias, quando não abria a boca para perguntar sobre Hinata e ouvir qualquer coisa que fosse de Sakura, ele nem falava nada e, para piorar, parecia que ele andava lendo nas horas livres!

“Eu acho que a Hina-chan está me evitando”, ele concluiu. Três dias inteiros sem falar com ele? Eles não passavam tanto tempo assim sem se falar – não quando estava tudo bem entre eles – e ela também não costumava faltar às aulas, nem mesmo para assistir a um de seus filmes de aniversário com a Ino, não costumava não estar no próprio quarto, pedir para darem recados de que ela não estava em casa, não carregar o celular... “E eu não sei o porquê!”, admitiu, coçando os cabelos.

Sasuke se levantou, mexendo em alguma coisa na estante dele e voltou, com dois joysticks em mãos, após ligar o videogame. O PlayStation 4 que era dele e que Naruto nunca devolveria.

“Olha, Naruto, eu não tenho a mesma paciência que a Sakura tem para refazer seus passos estúpidos com você”, ele deixou bem claro e Naruto revirou os olhos. “Então...”, ele fez uma pausa, entregando um joystick a ele. “Noite dos garotos?”, e esticou os lábios formando algo que somente Sakura diria que era um sorriso.

 

 

[28 de Dezembro de 2018, próximo das 18h]

 

Não fora tão difícil assim convencer a mãe a deixá-la faltar de aula naquele dia, uma vez que ela amava Hinata o suficiente para não resistir ao pedido de Ino de as deixarem em casa assistindo filmes para manterem a tradição de aniversário da Hyuuga – mesmo que um pouco atrasadas.

Hinata não entrara muito em detalhes de até que ponto ela havia chegado com Naruto, mas estava vermelha demais enquanto dizia que haviam ficado juntos e com questionamentos internos demais, deixando claro que não haviam chegado aos finalmentes.

E alguns balbucios como ele ter confessado que era apaixonado por outra. Sakura.

Ah, Sakura!

“Olha, Hina”, Ino começou, penteando o cabelo de Hinata e usando uma tesoura para acertar aquilo que Hinata chamara de corte. “Não é culpa sua se o Naruto tem fetiche por testas enormes”, ela brincou. “Alguns homens realmente têm... Não vê o Sasuke? Ele podia ter ficado comigo, mas ficou com a Testuda. Às vezes o príncipe não se encanta, amiga, faz parte!” e para ilustrar bem o que ela dizia, uma garota do filme que viam (“Ele não está tão a fim de você”), narrava o fora que havia levado com a desculpa de que o problema não era com ela, era com ele. “E olha, o Naruto estava mais para sapo!”

Ela riu, fazendo Hinata rir também.

“Não se mexe, garota! Ou eu vou acabar destruindo ainda mais o seu cabelo do que você já tinha destruído!”, Ino alertou, fazendo Hinata endireitar o corpo. Já estavam terminando, mas os arremates eram sempre os momentos mais críticos.

“Ino, o Naruto é tão bonito quanto você!”, Hinata comparou, fazendo a Yamanaka arregalar os olhos e quase cortar a orelha dela com o susto. Hinata gelou sentindo a lâmina próxima da cartilagem.

“Você enlouqueceu?”, Ino fez um último movimento com a tesoura, em seguida passou o pente por todo o cabelo da amiga, certificando-se de que havia ficado bom o trabalho que fizera. Olhou bem para ela. Que mania era essa a das amigas de cortarem os cabelos quando um garoto as deixava! Primeiro a Sakura, agora a Hina! Ah, ela mataria o garoto que a desse um fora, mas não cortaria os cabelos por ele! “Eu não tenho nada a ver com o Idiota Loiro!”, Ino se defendeu, colocando a tesoura e o pente no chão e segurando o rosto da amiga, olhando-a bem. Os cabelos dela estavam em um Chanel bem bonito, até o pescoço, e a franja permanecia intacta. Era bem agradável de ver e não estava torto como quando ela havia chegado a sua casa.

“Ino, se a gente cortar seus cabelos”, a Yamanaka encarou a Hyuuga como se dissesse um ‘nem pense nisso!’ e em seguida Hinata pegou um lápis retrátil preto na penteadeira da amiga “e fizer isso”, e desenhou três riscos em cada bochecha da amiga, semelhantemente às cicatrizes que o Uzumaki ostentava. “Vocês poderiam até mesmo ser irmãos!”, Hinata comentou, virando o rosto de Ino para que ela encarasse seu reflexo no espelho.

“Ai, meu Deus!”, a Yamanaka gritou, em seguida soltou um agudo estranho que fez Hinata rir e tapar os ouvidos ao mesmo tempo. “Tira isso de mim!”, ela implorou, pegando um pedaço de algodão e um demaquilante na penteadeira e tirando ela mesma aqueles riscos horrorosos do rosto. “OK, nunca mais conseguirei me olhar no espelho!”, ela suspirou, afastando-se de Hinata e se abaixando, próxima da cama e olhando debaixo dela.

Esticou um dos braços e voltou com uma garrafa de uísque na mão.

“O que é que você vai fazer?”, Hinata estreitou os olhos, vendo a amiga destampar a garrafa.

“Como assim o quê? Vou beber pra ver se essa imagem que eu vi no espelho e essa comparação bizarra que você fez, saem da minha cabeça!”

Hinata não conseguiu não rir.

“Você estava reclamando da ressaca até algumas horas atrás!”, a Hyuuga lembrou.

“Exatamente e vou ter que lidar com outra amanhã, então muito obrigada pelo comentário imbecil, Hina!”, ela acusou, tomando um bom gole. “A estupidez do Naruto é contagiosa, ótimo!”

Olhos prateados se reviraram.

“Você está exagerando, não tem como não achar o Naruto bonito!”, Hinata cruzou os braços.

Olhos azuis se reviraram.

“É você que exagera, fica endeusando esse garoto, colocando-o num pedestal! Eu te dou vários exemplos de garotos no colégio muito mais bonitos do que ele! Sai, Sasuke, Neji... –”

“Meu primo?”, Hinata arregalou os olhos, lembrando de como agira com ele naquela manhã e de ainda estar com o carro dele. Mordeu os lábios, sentindo o rosto enrubescer.

“É, ele mesmo. E que cara é essa?”, Ino questionou, percebendo como a amiga parecera pensativa. “Fica tranquila, eu não vou pegar o seu primo! Parente de amiga minha é que nem os caras que elas estão a fim: são fêmeas, por mais machos que eles possam parecer!”

“O quê?”, Hinata arregalou os olhos. “Eu não estava pensando nisso!”, Hinata suspirou, balançando a cabeça e tentando enterrar o assunto ‘Neji’. “O Naruto não é feio, ele é o garoto mais lindo que eu já vi e vocês são realmente parecidos – talvez isso explique você ser a garota mais bonita que eu já vi. Talvez se eu fosse um pouco como você, eu –”.

“Olha só, vamos parar com essa baixa autoestima, está bem?”, Ino interrompeu, se aproximando e oferecendo um gole do uísque a ela. Hinata não era de beber, mas já que estava no fundo do poço... Achou que um pouco de álcool pudesse ajudá-la a mergulhar ao invés de somente afogar. Ino sorriu e elas deixaram a garrafa na penteadeira. “Eu não sou hipócrita, ele é gato, OK? O que estou dizendo é que ele não é isso tudo que você está dizendo que ele é! Pare de endeusá-lo!”, ela pediu. “E vamos parar também com essa comparação! Você nunca foi feia, Hina, só mal arrumada!”, ela pausou, reflexiva. “Lembra da primeira vez que nos encontramos? Quando eu fiz aquela maquiagem em você?”, Hinata assentiu e Ino pegou alguns produtos e separou alguns pincéis na penteadeira. “Talvez o Naruto fosse mesmo um príncipe, mas a culpa não é sua, não é dele e nem mesmo é da Disney por ficar te iludindo com essa história de felizes para sempre.”, ela espalhou uma base pelo rosto de Hinata, uniformizando a pele dela com um pincel. Pó compacto, lápis para contornar os olhos, máscara para os cílios. Blush e batom. Um batom vermelho sangue no tom que ela própria costumava usar e que fez Hinata franzir o cenho ao encará-la. “A culpa não é de ninguém. Talvez o príncipe não tenha se encantado no início, no meio, e pode até ser que não se encante no fim, mas e daí?”, ela sorriu, orgulhosa de si mesma e de como era boa formando frases prontas que ela ignorava totalmente – tipo aqueles bons conselhos que ela daria, mas nunca seguiria.

Ela girou a cadeira em que Hinata se sentava e a fez se encarar no espelho. Os cabelos azuis e curtos, já secos e caídos em camadas por seu pescoço. Os cílios enormes emoldurando os olhos prateados, a pele uniforme com todas as olheiras disfarçadas. O batom tão vermelho e vivo quanto o sangue que corria dentro dela. Ela piscou, aquela não parecia exatamente ela. Não tinha a ver com o que ela acreditava que ela costumava ser.

Mas, de alguma forma, ela gostava muito do que estava vendo.

“Talvez a família real inteira não se encante, Hina. E sabe o que você faz se isso acontece?”, elas sorriram, ambas. Ino passou os braços pelos ombros da amiga, como se a abraçasse. “Você reescreve a história, tirando todos eles.”

 

 

[31 de Dezembro de 2018]

 

“Você está tentando virar a Ino?”

Naruto tentara chamar a atenção de Hinata desde que a vira colocar os pés no colégio. Ela havia descido no estacionamento, ainda dirigindo o carro de Neji como se fosse a dona do veículo e não pensando exatamente no porquê o primo não a tinha procurado para ter o automóvel de volta, e pegara o elevador para seguir até o seu armário no corredor principal de AHS.

Quando Sakura e Ino se falaram na sexta, dia 28 de dezembro, ela pedira à Yamanaka que passasse sua senha para a Haruno e a pedisse que deixasse sua mochila, seu celular, seu fone e qualquer coisa mais que tivesse que deixar dentro do seu armário que ela pegaria quando possível. Era dia 31 de dezembro e ela esperava que o colégio estivesse vazio; no molho de chaves que pegara do primo tinha uma chave reserva do colégio e ela achava, do fundo do coração, que não seria surpreendida pela presença de Naruto naquele dia – e sim, ela o estava evitando. E vinha dando certo. Ela dormira na casa de Ino na Sexta, no quarto de Hanabi no Sábado, pedira aos empregados da mansão que dissessem que ela não estava em casa no domingo pela manhã e passara a noite com as amigas.

Planejava pegar seu celular naquela noite e iria para uma festa qualquer com Ino, finalizaria aquele ano com a seguinte pergunta em mente: “A antiga Hinata faria isso?”, se a resposta fosse ‘não’, as chances de ela fazer, seriam altas. Ir a uma festa com a amiga, por exemplo.

Ela respirou com calma, girando para encarar o Uzumaki. Não o via há três dias – não o via há uma eternidade inteira. O coração quase parou ao finalmente vê-lo.

Piscou.

Um sorriso quase se fez visível com a petulância da pergunta de Naruto.

Qualquer garota naquele colégio tentaria virar a Ino. Provavelmente oitenta por cento já estava tentando. Nem uma conseguiria – inclusive ela. A diferença é que ela não fazia a mínima questão disso.

E ia dizer isso a ele.

Ela quase disse.

Mas aí...

Deixou para lá.

A única resposta que ela deu a ele foi seu silêncio.

Um silêncio que seria ensurdecedor se o barulho dos saltos dela pelos corredores não existisse para se espalharem pelo ambiente.

Foi só quando Hinata já estava entrando no elevador que a levaria para a garagem, que ela se deu conta de passos atrás dela. Ela olhou brevemente para trás e pôde ver Naruto correndo em sua direção, suspirou. Estava fácil demais ignorá-lo para ser verdade.

Entrou no elevador às pressas e apertou o botão que a levaria para a garagem, torcendo muito que a porta fechasse rápido o suficiente para deixá-lo ali.

 “Então é isso, agora você não fala mais comigo, Hina-chan?”, ele questionou, segurando a porta do elevador.

Hinata respirou fundo.

“É isso mesmo, eu não falo”, ela confirmou, entendendo que ele não sairia dali se ela simplesmente o ignorasse. “A propósito, é Hi-na-ta”, ela explicou, cruzando os braços.

Naruto passou a mão livre pelo rosto e em seguida pelos cabelos, a outra permanecia impedindo a porta do elevador de se fechar.

“Pelo menos me explica o que está acontecendo!”, ele exigiu.

“O que é que você quer, Naruto-kun?”, ela mordeu o lábio se recriminando com a forma que o chamou. Automatismo. (Ações que acontecem automaticamente, de maneira inconsciente e que estão sempre se repetindo.) Naruto soltou um risinho pelo nariz. “Eu só quero ir embora, solta essa porta, por favor.”

“O que é que eu quero? Eu me desdobrei em mil pra fazer uma coisa legal pra você no seu aniversário, então me desculpa se é demais querer um ‘obrigado’ ao invés de ver você me evitando por aí!”, ele bufou.

“É um ‘obrigada’ que você quer? Certo, obrigada, agora me deixe ir! Eu não estou te evitando”, (ela estava). “Foram só alguns beijos, não significaram nada!” (significaram o mundo para ela). “Supere!” (ao contrário dela).

Ele cerrou os dentes.

Hinata tentava não notar como os olhos dele ficavam mais escuros quando ele estava com raiva e como até furioso, ele ainda era muito mais bonito do que qualquer um daqueles garotos que Ino citara.

“Não parecia não significar ‘nada’ quando você estava gemendo dentro da minha boca!”, ele a desafiou.

E Hinata sentiu o rosto dela esquentar, assumindo o mesmo tom do batom.

Fechou a mão, apertando as unhas contra a palma.

“Babaca!”, ela exclamou, saindo do elevador. Iria de escada.

“Devo ser mesmo, mas deixa eu te contar um segredo, Hi-na-ta”, ele começou, o deboche dançando na língua dele ao pronunciar o nome dela. “Eu não beijei sozinho!” e soltou a porta, fazendo com o que o elevador se fechasse.

Ele nem viu de onde veio o primeiro soco dos vários que ela acertara em seu abdômen. Não foram fortes, mas foram inesperados e ele não conseguiu evitar a descrença.

“Seu idiota!”, ela esbravejou, continuando a bater nele, antes que ele se lembrasse de ter uma reação naquele paralelo que estava vivendo, e segurasse os pulsos dela. “Eu não sou o seu estepe!”, os olhos dela estavam cheios de lágrimas. Mas não iria chorar. De jeito nenhum.

“Do que é que você está falando?”, perguntou, olhando bem no fundo dos olhos dela.

Ela estava falando sobre como beijá-lo significava tudo para ela, enquanto para ele não passava de uma alternativa que ele explorava porque nunca estaria com Sakura. De como ela odiava não ter controle de si mesma simplesmente por estar com ele, de como, sobretudo, ela estava se segurando muito para não agarrá-lo naquele instante. Mas ela não disse nada disso, não disse porque ela já havia dito coisas demais e talvez, talvez se não tivesse dito tanto desde o início e eles nunca houvessem sido mais do que conhecidos, não doesse tanto assim.

“Só me deixa ir embora, por favor.”, ela pediu, pela última vez.

– E o engraçado é que dessa vez, ela só queria que ele a pedisse para ficar.

E ele a soltou, apertando o botão para que o elevador viesse buscá-la novamente.

Hinata o viu se afastar, enquanto o elevador se abria para que ela entrasse. O caminho que ele percorria da garagem até o 1º andar era curto demais e ele nem tinha se afastado muito quando ela entrou e já ia apertar o botão para descer.

“Eu vou te perguntar só mais uma vez, Hina-chan”, ele a chamou, insistindo porque ele precisava dessa insistência também, antes que ela apertasse o tal botão. Ela se virou para ele, franzindo a testa pela forma como ele a chamara e ele coçou os cabelos, deixando para lá. Automatismo. “Eu fico tentando ser um cara legal com você, mas parece que tudo que eu faço é errado, nada funciona e eu sou péssimo tentando adivinhar as coisas, então: o que é que você quer?”

E novamente Hinata se pegou pensando que era melhor não dizer nada, porque dizer demais dava errado, ela já tinha dito demais e –

Automatismo.

(Quando se é uma pessoa muito nervosa, por exemplo, e se ouve algo que lhe desagrade, sentir-se-á aquilo, refletir-se-á sobre o que foi falado, dialogar-se-á internamente e, sequencialmente a essas ações, virá o impulso de responder à altura e reagir de forma explosiva. Um processo que acontece em milésimos de segundo, uma vez que o cérebro já está condicionado a agir dessa forma, sempre agindo assim em situações semelhantes.)

“Você”, ela se entrega. “Eu quero você.”

(E quando a pergunta feita por Naruto se trata de um ‘O que você quer’, o cérebro de Hinata, condicionado a dizer o ‘você’ que, em seus sonhos, seus pensamentos, seus desejos mais intensos, era sempre dito, a voz sai mais rápido do que a concretização do pensamento com seus motivos para não dizê-lo.)

Ele abre um sorriso, Hinata sente. É a segunda vez que ela diz isso – em voz alta – e algo nela fica se perguntando como ele vai fazer para estragar tudo desta vez.  Ela se vira para finalmente apertar o botão da garagem, mas se detém. Um segundo de hesitação bastou para que ele se aproximasse dela.

Poucos passos e ali estava ele, abraçando-a por trás.

(E não é que automatismo seja algo ruim, não é que precise ser... Tudo bem quando se tem o costume de fazer coisas que te fazem bem; o problema está em quando suas ações não te satisfazem totalmente, sendo esse um dos grandes motivos da autossabotagem. Do boicote a si mesmo.)

“Eu estou bem aqui, Hina-chan”, ele repousa a cabeça no ombro dela, curvando-se um pouco.

(E seria esse um bom ou um mau costume, ceder a Naruto?)

Respirou fundo, inspirando para dentro de si o cheiro de maçã e shampoo e saudade que ele estava de Hinata. Ele riu baixinho, no pescoço dela, lembrando-se de como brigara com Sasuke na noite passada porque ele interrompera o que estavam jogando para dar um tempo e mordiscara uma maçã que achara em sua casa e ele não conseguia explicar o quanto aquilo o incomodara. Ele dissera ao amigo que não podia comer aquilo e enquanto o Uchiha o olhava como se ele fosse maluco, ele decidira esconder todas as maçãs da casa.

“Gostei do cabelo”, ele assoprou no ouvido dela.

“Achei que preferia ele grande”, Hinata replicou.

Ele riu, na nuca dela e ela sentiu os pelos de seu corpo todo se arrepiar.

“Eu tinha doze anos, você estava chorando, não queria falar comigo e era a garota mais bonita que eu já tinha visto.”, confessou. “Eu teria dito qualquer coisa pra chamar sua atenção, desculpa se eu era péssimo nisso.”

“Isso é sério?”, Hinata arregalou os olhos, sentindo o coração saltar dentro dela. “Você nunca me disse!”

“Eu nunca consegui te dizer nada”, ele explicou. “Você desmaiava ou fugia sempre que eu tentava falar com você!” Hinata piscou, empurrando para o fundo da mente a voz de Shion, naquele jogo estúpido com as pulseiras, dizendo que Naruto gostava dela, mas não sabia. Mordeu o lábio, manchando os dentes com o batom vermelho. “Mas aí seus cabelos cresceram de novo e ficaram tão lindos, que eu achei que realmente os preferia daquele jeito. Agora você os cortou e continua linda... Não sei o que prefiro, acho que você seria linda até careca!”, ele suspirou, o hálito quente parecia tocá-la.

“Você precisa se decidir...”, ela entrou na brincadeira, sentindo-se estranhamente leve.

“Bem, com eles grandes, meus dedos deslizariam sobre eles agora e eu sentiria sua pele por baixo deles”, ele explicou, as mãos que antes estavam na cintura dela, foram levadas aos ombros dela e ele deixou que os dedos trilhassem o caminho de descida de volta. As mangas por cima dos ombros, os braços desnudos, a curva da cintura dela. Lentamente, explorando como se fossem um país novo que ele houvesse acabado de descobrir. “Sem eles, só sinto a pele”, ele informa, as mãos se infiltrando por dentro da blusa dela, ansiando por mais pele, subindo cada vez mais, fazendo-a tremer. Ele chega aos seios dela e os massageia, por cima do sutiã. Ela ofega. “Expliquei direitinho?”, ele pergunta, mordiscando o lóbulo da orelha dela.

Ela murmura alguma coisa.

E aquilo podia ser um ‘sim’ ou podia ser só um gemido.

 “Que tal você se virar?”, sugere.

Hinata, que já se sentia estranhamente leve, também se sente completamente flexível e a mercê dele, como se fosse uma boneca. Feita de pano.

Ela solta o ar pela boca com muito esforço e tenta recuperar o controle, não o respondendo.

“Eu sei que pra você isso é só uma brincadeira, Naruto-kun, mas –”

Naruto a interrompe, afastando-se dela brevemente e a virando ele mesmo para si.

Ele pega as mãos dela e as direciona ao coração dele e Hinata se pergunta, quando o sente, se estava sentindo mesmo o coração dele e não o dela que batia tão alto e tão acelerado que poderia trabalhar pelos dois.

– Mas era o dele mesmo. Rápido e quente, sentido pelas digitais inquietas dela que faziam a camisa dele ondular.

 “Isso não é uma brincadeira, Hi-na-ta”, ele assoprou o nome dela, com um sorrisinho que era um desafio, um deboche, o final da coreografia quase obscena que a boca dele parecia dançar com o nome dela. “Mas eu não faço ideia do que seja”, ele confessou, soltando as mãos dela e segurando o rosto dela com as duas mãos dele. “Me ajuda a descobrir?”

Hinata não teve nem tempo de responder.

Ele a beijou com a urgência de três dias esperando por aquilo – e com a sensação temporal de uma vida inteira –. Deram passos sôfregos para trás, o corpo dela se chocou contra o compartimento do elevador e Naruto enfiou a língua dentro de sua boca. As mãos dele se entranharam nos fios azuis e ele sentiu o cheiro de maçã vindo deles – e dela e de tudo que parecia absorver a fragrância dela – invadir suas narinas e incendiar seu sangue. Hinata, por sua vez, ainda estava com as mãos em cima do coração dele e enquanto aquele órgão bombeava sangue, fogo e insanidade sob suas digitais, ela se sentia cada vez mais febril.

Numa tentativa falha de respirar, ela assoprou contra os lábios dele por muito menos do que um segundo antes de ele avançar novamente contra sua boca. Hinata agarrou a camisa dele com toda a força que tinha e as mãos dele foram parar em sua cintura, circulando-a e prensando o corpo dela contra o elevador e o corpo dele contra o dela. E talvez, ela achava, fosse, na verdade, feita de vidro, talvez fosse uma boneca de porcelana nas mãos dele, pois se ele a soltasse, ela quebraria. Em uns mil pedaços.

E parecia chocante, mas era verdade. Ela podia ouvir o tilintar de sua pele de vidro contra os dentes e os lábios dele descendo pelo pescoço dela, arrancando suspiros dela enquanto explorava aquele ponto que ele já havia descoberto que era um fraco nela. Ele entreabriu os olhos por uns segundos apenas, dando-se conta de algo e se afastando milimetricamente.

Apertou um botão ao acaso no elevador. Foi o 7.

Os olhos prateados se abriram parcialmente, o ar quente foi expirado pela boca enteaberta, o piso aos seus pés tremia com a subida do elevador. As mãos engatinharam pela camisa dele, segurando o rosto dele e as unhas pintadas de vermelho rasparam nas cicatrizes da bochecha dele e o ato pareceu faiscar.

Uma parte da mente de Hinata ria dela e de Ino por cogitarem reescrever uma história sem Naruto. Ela não achava que podia se viciar no uísque de Ino ou nos cigarros que vez ou outra via Naruto fumando, mas não se imaginava não sendo viciada nele. Como se ele fosse algum tipo de substância ainda não estudada e que causava uma dependência muito maior do que o álcool ou a nicotina.

As mãos dele afrouxaram em sua cintura e dançaram por sua blusa, meio perdidas, não decididas de para onde iriam, querendo apalpar tudo ao mesmo tempo, e deixando um formigamento por onde passavam, mesmo por cima do tecido. A pele nua de sua cintura sentiu as digitais dele e a boca dele subiu por seu pescoço, mordiscando seu queixo antes de beijar seus lábios novamente.

O elevador fez um movimento, como se estivesse parando, e Naruto a soltou por um breve segundo apertando outro botão, o 5. Hinata sentiu os pés tremerem enquanto desciam os dois andares.

O coração de Hinata quase explodia dentro dela. A língua de Naruto brincou em seus lábios, sendo substituída, em seguida, pelos dentes que primeiro rasparam ali, depois se fecharam neles, sujando-se de vermelho.

“Por que você fica apertando os botões do elevador?”, ela sussurrou com dificuldade, empurrando-o alguns centímetros, os olhos semiabertos e o brilho entorpecido neles pela presença de Naruto. Ela tentava empurrá-lo há uns dois segundos, mas a letargia do momento atrasava seus movimentos.

Naruto respirou, encostando o nariz no dela. Beijo de esquimó, eles sorriram. Outro botão, o 1.

“Eu devia estar finalizando meu turno como vigia, mas estou aqui... Se o elevador estiver em movimento, pelo menos vão achar que estou dando uma checada nos andares do colégio.”

Hinata franziu as sobrancelhas, sob seus pés o piso tremia, descendo até o primeiro andar. Em sua mente, ela procurava a vírgula daquilo tudo, porque já estava dando razão a Ino que dizia que quando Naruto tinha um surto de genialidade repentino, algo tinha que dar errado em seguida, como se ele, que não costumava pensar e ultimamente vinha pensando demais, não pensasse ainda o suficiente para eliminar todos os erros bobos das escolhas que fazia.

E ela, que sempre pensava demais, não vinha pensando o suficiente para perder tempo refletindo muito sobre isso. Não com ele, especialmente não com ele avançando em sua boca de novo. Beijando-a com mais e mais e mais força, uma das mãos dele erguendo sua blusa, fazendo-a tremer com a eletricidade dos dedos dele esbarrando na pele de sua barriga enquanto ele ameaçava tirá-la dentro daquele elevador. Ela não ligou, não estava pensando sobre isso. Não conseguia pensar enquanto a língua dele escorregava para dentro de sua boca outra vez e lidava com formigamento das digitais dele em seu abdômen, a blusa dela já erguida pela metade.

Naruto apertou outro botão, sem prestar muita atenção em qual fora. 1. A porta se abriu e o elevador não se mexeu por uns dois segundos, antes de ele se dar conta de que havia apertado o mesmo botão do andar em que estava. Respirou contra a boca dela, o ar quente atingindo-lhe os lábios. Escolheu outro andar, o segundo.

E, evitando que o elevador ficasse parado novamente por ter escolhido somente um andar acima, apertou o primeiro que os dedos pareceram querer apertar no piloto automático em que o pressionar dos botões era realizado. O 5.

Um pequeno barulho fez-se ouvido no elevador, assustando a ambos. Naruto se afastou de Hinata, resmungando palavras desconexas que ela não sabia o que significava.

“Hina-chan, fecha os olhos!”, ele gritou, passando as mãos pelos cabelos, desnorteado.

Hinata fez o exato oposto, não entendendo o que nada daquilo significava e mal registrando a fala do loiro. Os olhos prateados se arregalaram e um scanner de retina surgira pouco abaixo da câmera do compartimento em que estavam, Hinata piscou, aproximando-se para ver melhor do que se tratava aquilo. As íris foram focalizadas com cuidado e um ‘U’ aparecera ao lado dos números recém-pressionados do elevador, como se sempre estivesse ali.

O elevador começou a descer, intrigando a Hyuuga

“O que está acontecendo, Naruto-kun?”, Hinata perguntou, assustada.

Naruto não dizia nada, dando um tapa na própria testa. 751125¹, sua mente repetia os números que apertara.

Poucos segundos depois e a porta se abriu.

O ambiente que surgia à sua frente, já um pouco conhecido, diferenciava-se muito do restante do colégio. O piso era coberto por algo semelhante a aço, com sabia-se lá quantos centímetros de espessura. As paredes pareciam compostas por um material próximo ao do solo, resistente o suficiente para que imaginasse – sem êxito – o que era capaz de derrubá-las ou sequer ultrapassá-las. Podia ver que havia muitas portas por ali e assistira a filmes o suficiente para supor, sem medo de errar, que eram no mínimo blindadas, considerando o quanto aquele lugar parecia secreto.

Movida por uma curiosidade que a mente a dizia para não ter, ela deu um passo para fora do elevador, os saltos ecoaram pelo piso. Naruto só se deu conta de para onde Hinata estava indo, quando a barreira virtual que surgira à frente começara a piscar e ferir-lhe a visão.

“Espera, Hina-chan, não mexe aí –”, ele se interrompeu, correndo para alcançar o braço dela, antes que os dedos dela se esticassem um pouco mais.

Quase deu certo.

Naruto não entendeu quando, a princípio, o alarme que deveria soar pelo ambiente, considerando que Hinata tinha um celular no bolso, não disparara e franziu o cenho. Não era muito incomum para ele estar no Underground de AHS, tanto que exatamente por isso o inconsciente o fizera pressionar os botões que o levariam para lá sem que ele se desse conta. Já era um ato tão comum que ficara um tanto automatizado para ele. Mas sempre que estivera ali, os cuidados a serem tomados eram sempre os mesmos: colocar todos os objetos que contivessem metal na pequena cômoda ao lado da barreira virtual, caso contrário um alarme soaria para todos naquele ambiente; as normas por ali eram: “Atire antes, pergunte depois.” E perguntar não era uma obrigação.

No entanto, Hinata havia se encostado à barreira e, embora não conseguisse ultrapassá-la, alarme nenhum fora ativado. Ele estreitou os olhos e a seguir pôde enxergar uma mensagem de erro na barreira. Detectado: sangue. Ele olhou para Hinata e a viu olhando para a própria mão naquele momento. Pequenas linhas das quais aparentemente pequenas gotículas haviam se desprendido há alguns minutos, de algumas marcas de unha em sua mão.

“Eu... Eu estava com raiva com a nossa discussão no elevador e pressionei as unhas na mão, não foi nada de mais”, ela explicou, sem entender.

Ele suspirou e piscou, uma porta de vidro parecia descer do teto.

“Mas que...!”, ele nem chegou a terminar a frase. “Se afasta, Hina”, ele pediu, e ela o fez, dando alguns passos para trás.

Ele deu alguns para frente para tocar o vidro que surgira pouco atrás da barreira virtual.

Outra porta descia, enquanto isso, ficando entre ele e Hinata.

Ele esfregou os olhos, praguejando alguma coisa baixinho e Hinata não pôde ouvir.

Mais uma barreira se fez presente, na frente da porta aberta do elevador, bloqueando a saída para Hinata.

Três paredes de vidro, eles recontaram. Uma entre Naruto e a barreira virtual, outra entre eles, outra entre a suposta saída.

Naruto deu um soco em uma das paredes de vidro, sem nem ao menos fazê-la tremer, o ato fora mais pela raiva do que pela tentativa de sucesso.

Tirou o celular do bolso e digitou uma mensagem nele, virando-o para Hinata.

“Estamos presos até amanhã de manhã, o sinal dos celulares não funciona. Espero que não tenha nada mais importante programado” e tinha alguns emoticons de riso na mensagem que ele mostrara e que ela lera, de trás para frente, por causa da visão espelhada da porta.

Hinata tirou o próprio celular do bolso. Realmente não tinha sinal. Suspirou, digitando um torpedo que não seria enviado, assim como ele.

“O que aconteceu?”, ela virou o celular para ele, para que ele pudesse ler a mensagem pelo vidro.

Ele piscou do outro lado e falou em um tom mais alto, quase um grito, para que ela o ouvisse:

“Acho que o sistema do lugar reconheceu o sangue em sua mão e isso deve ter algum perigo de contaminação para as experiências que são feitas aqui –”

E ouvir ‘experiências’ fora suficiente para que Hinata balançasse a cabeça, não querendo ouvir mais.

Ignorara o alerta inicial de seu cérebro que a dizia para não ser curiosa e lá estava, presa até o amanhecer. Não arriscaria de novo. Qualquer pessoa em sã consciência iria querer saber tudo, detalhe por detalhe, ela, não. Não mais. Tinha ainda aquele pensamento antigo em sua mente que a dizia que cada passo direcionado ao surrealismo trazia Naruto para mais perto de si e trazê-lo para mais perto de si era algo que a nova Hinata não queria fazer. Já lhe bastava a recaída no elevador que...

... Colocara-a presa ali.

Respirou fundo.

Ia se virar para o outro lado, mas Naruto chamou-lhe a atenção, dando umas batidinhas na parede de vidro:

“Feliz ano novo, Hina-chan”, ele falou, mostrando-lhe as horas pelo celular.

Meia noite e um.

Hinata achou que se fechasse os olhos, podia imaginar a queima de fogos por toda a Manhattan, do lado de fora. Explodindo em cores no céu iluminado por estrelas. Ela não tinha realmente muitos planos, além de uma festa que ela fingiria que gostaria de estar presente, mas sabia que Naruto devia ter os dele. Mordeu o lábio, ela não devia ter dado aquele passo para fora do elevador!

“Me desculpa ter acabado com seus planos de fim de ano... Sei que deve ter uma porção de outras coisas que você gostaria de estar fazendo agora, pessoas com quem você gostaria de estar...”, o nome de ‘Sakura’ quase foi expresso por ela e ela se deu conta de que, em seu íntimo, não sentia tanto assim.

E, além disso...

A culpa era dele também.

Ela se virou, fechando os olhos.

Tentava imaginar os jogos de cores no céu estrelado que estava perdendo.

Talvez tivesse a sorte de ao menos sonhar com isso.

Pelo jeito dormiria ali mesmo.

Apoiou a cabeça e se deixou levar pelo silêncio.

(E sabe de uma coisa, Hinata?)

Um silêncio que não durou mais do que cinco segundos.

(Talvez ceder a Naruto não seja um costume tão mau assim...)

 “Você está errada, Hina-chan”, Naruto respirou do outro lado e ela aguardou, sem abrir os olhos. “Eu não gostaria de estar com mais ninguém.”

(Porque ele também está sempre cedendo a você.)


Notas Finais


¹: Senha mencionada no capítulo 04, inclusive a descrição dessa cena, em sua maioria, também foi uma adaptação da descrição feita no capítulo 04.

Eu sei que tenho alguns leitores com o costume lindo de reler os capítulos/trecho/fanfic inteira sempre que possível, então algumas cenas ficam mais frescas na cabeça desses. Para aqueles que não o fazem, don't worry rsrs, aviso que alguns dos assuntos mencionados nesse capítulo já foram tratados e/ou apresentados em capítulos passados, :) - Esse é bem o estilo de Ely mesmo, uma volta de passado e presente o tempo todo, que inclui tanto o passado dos personagens, quanto as cenas já passadas na própria fanfic. A menção de Hinata sobre o 'surrealismo a aproximar de Naruto' está descrita no Capítulo 15 e reforçada no 16, a cena da Ino e da Hina se conhecendo, está no flashback do capítulo 5. <3

Essa coisa de Automatismo existe mesmo, rs - eu sou fissurada em PNL, então entendo um pouco sobre -, mas deixo avisado que dei uma floreada nessa questão toda.

E é isso.

Por fim, para quem ainda não leu minha nova oneshot, passe lá: [NaruHina] Cantadas. (É é a história de um Naruto que levou um fora de uma Hinata e de um Sai e de um Rock Lee, que, grandes amigos que são, o ajudaram a reverter a situação., Universo Original). https://www.spiritfanfiction.com/historia/cantadas-15309979


Sigam-me no instagram para ficarem por dentro das minhas próximas novidades, eu sempre deixo uns trechos ou algo do tipo, uns making of, por lá: https://www.instagram.com/jacquelineoli95/

Tia Kisa ama vocês!

Próximo capítulo: (Des)controle - Parte I.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...