Capítulo 8 - Cartas na mesa
Sasuke’s point of view
Papéis abarrotados de ideias para o treinamento da minha mais nova aluna exclusiva jaziam na mesa de madeira escura do meu escritório. A luz oriunda do abajur iluminava o ambiente, deixando-o aconchegante. A janela localizada atrás de mim, estava coberta por uma cortina fina que permitia a entrada de alguns feixes de luz, que decoravam o piso de porcelanato em pequenas faixas douradas.
Com a rotina de exercícios pronta, poderia descansar pelo o final da tarde. Tentei relaxar, mas a minha mente vagou entre as lembranças do dia anterior, especificamente durante a noite.
Um turbilhão de conspirações tomou posse dos meus pensamentos. Não entender, muito menos compreender o que sente é assustador.
Relacionar-me com outras mulheres não era incomum, o relacionamento aberto que possuía com Temari permitia que eu me envolvesse com as demais. Sempre era breve, passageiro, encontros de uma noite.
Mas ela mexia com a minha cabeça de uma forma esquisita.
Sakura Haruno não era uma pessoa comum. Tinha suas manias e opiniões, uma personalidade marcante e original. Comportava-se assim desde que a conheci, os cabelos loiros que viviam mudando de comprimento e a mesma paleta de cores nas escolhas das vestimentas. Não havia mudado em nada.
Não éramos próximos, longe disso. Ignorávamos um a outro, deixando claro que não fazíamos questão de construir uma amizade entre si.
Amadurecemos e aprendemos a conviver.
Só que esse amadurecimento foi colocado em risco na noite anterior, onde nos deixamos ser conduzidos pelo os hormônios e pela a bebida, que protagonizou toda a ocasião.
Passei os dedos da minha mão direita pelo meu cabelo, instigado com os acontecimentos da noite passada.
Descalço, caminhei pelo o corredor da casa sentindo o chão frio entrando em contato com os meus pés a cada passo. Os quadros e porta retratos ornavam o local, preenchendo-me com memórias.
Fotografias da minha mãe, pai e irmão.
Um sorriso apareceu em meus lábios sem perceber, embalado pelas lembranças.
A cozinha era espaçosa e contava com uma mesa comprida de vidro, tornando o ambiente mais refinado.
- Mãe? - chamei pela a matriarca.
Os fios castanhos escuros alcançavam a metade das costelas da Uchiha, que sorria amavelmente para mim. Algumas linhas de expressão acompanharam o gesto, tornando-o singelo.
- Oi, filho. Estou fazendo um lanche para você - me chamou maneando a cabeça. - Ficou trancado no escritório desde que foi na casa da Haruno Sakura, não pode ficar tanto tempo sem comer - ralhou.
Revirei os olhos achando graça da situação e fui atacado por ela, com o auxílio de um pano de prato, que bateu no meu bíceps próximo a tatuagem tribal que se estendia até o meu ombro.
Encarando-me com os braços cruzados e batendo o pé esquerdo no chão repetidamente, estendeu um prato com dangos para mim, com um sorriso travesso nos lábios.
- Mãe! - senti meu interior murchar. - Você sabe que eu odeio doces.
- É pra você melhorar seu mau humor.
A gargalhada reverberou pelo o local, preenchendo o silêncio que pairou entre nós. O corpo da mulher remexia em balanços ritmados pela a risada, os dentes alinhados em destaque.
Desde que tive que realizar obturações em três dentes quando era criança, criei aversão a tudo que era doce e adorado pelos meus companheiros, que amavam o sabor. Tenho as minhas exceções, mas em geral não como.
- Fiz bolinho de arroz e legumes grelhados, está no pote dentro da geladeira - disse quando parou de rir. - Vai pegar - ergueu o nariz para o alto e inalou profundamente, chateada com a minha recusa aos dangos.
- Valeu mãe.
…
A minha blusa preta de linho social estava dobrada até o antebraço, deixando a minha tatuagem recém-adquirida visível, com os primeiros botões da gola abertos. A calça jeans escura envolvia o meu corpo e um tênis branco protegia os meus pés.
O Amaterasu estava cheio, mas consegui localizar um local para dois.
Depois de muita insistência por parte de Temari, concordei em acompanhá-la para jantar no restaurante favorito da loira. Decidimos ir ao banheiro antes de nos acomodarmos na mesa.
Ao sair do toilette, me surpreendi com a coloração do cabelo de uma mulher que estava na fila do banheiro feminino.
Afinal, rosa não é uma cor típica para se pintar os fios, certo?
Quando ela colocou a mecha que cobria o seu rosto atrás da orelha, identifiquei-a.
Haruno Sakura com os cabelos curtos e rosados. Havia ficado bonito e original, destacando a sua personalidade forte.
- Que cabelo é esse? - a interceptei.
…
O acompanhante de Sakura tinha hábitos alimentares nada exemplares, mas nada comparado aos da minha aluna. Os -vários- pratos com comidas gordurosas sobre a mesa e as gargalhadas nada discretas eram responsáveis por chamar atenção de quem passasse por perto.
Quando a minha salada chegou na mesa da Haruno, Temari explodiu:
- O que é isso, Sasuke?
Os olhos da mulher pareciam saltar para fora, tamanha era sua raiva. Os dedos batucavam sobre a mesa e ali percebi que algo maior estava por vir.
- O que? - perguntei com descaso, cansado em tolerar os ataques de ciúme.
Os surtos de ciúme e desconfiança eram corriqueiros em nossa relação e isso não era por conta do relacionamento ser aberto. Mesmo podendo ficar com outras pessoas -nada exclusivo-, não usava isso ao meu favor. O namoro estava frio e eu não conseguia retomar, mesmo ciente que sempre foi assim.
Distante e sem sentimentos, pelo menos da minha parte.
Admito que não gostava dela e queria terminar, mas quando abordava o assunto eu era simplesmente deixado para trás falando sozinho, ignorado. Não queria que as coisas terminassem com um desentendimento entre nós, temos vários amigos em comum e a relação seria diretamente afetada.
- Você não é o pai dela! - disparou.
- Eu sou o personal trainer e ela está furando a dieta. O que custa mandar uma salada?
- Você não percebe que ela quer tirar você de mim?
Nunca fui seu, Temari.
Estalei a língua e afastei as respostas que vagavam pelo os meus pensamentos.
- Já chega, huh? - pedi sereno.
- Você é inacreditável - falou pela a última vez e voltou a comer em silêncio.
Nenhuma palavra foi trocada durante o jantar e quando imaginei que ela fosse pedir algo para o garçom, colocou-se de pé e foi em direção à fila.
Fui atrás da loira como uma espécie de subordinado. Aceitaria a posição, contato que ela me deixasse em paz.
Como se o destino conspirasse contra nós, Sakura e o homem que a acompanhava estavam na nossa frente, rindo como se o Japão tivesse ganho a Copa do Mundo. Estressada com a situação, Temari provocou e a resposta veio clara:
- Estamos grávidos, vamos ser papais - a de cabelo cor de rosa disse animada, com um sorriso no rosto.
Minha namorada iniciou uma série de ofensas enquanto eu permanecia sem ação. O homem abraçava-a por trás, pousando as mãos na barriga lisa da Haruno. Meu rosto parecia estar paralisado e meu interior tentava assimilar a notícia que não havia sido bem recepcionada pela loira ao meu lado.
Grávida?
Processar a informação foi difícil e provavelmente estava fazendo um carranca, tamanho era o esforço que fazia em ligar os pontos. Os exames que eu havia recebido não apontavam nada que interpretasse uma possível gravidez.
Fui despertado dos meus devaneios por Temari puxando o meu braço arrastando-me para o final da fila que havia formado durante a conversa.
- Até quando vai ficar com essa cara? - indagou exalando raiva.
- Até quando vai ficar de implicância com ela? - devolvi. - Amadurecer é bom
Cruzei os braços e peguei a carteira no meu bolso traseiro, escutando os muxoxos da loira.
- Ela não está grávida, para com isso.
- Como sabe? - ergueu uma das sobrancelhas e olhou para mim com interesse.
- Eu tive acesso aos exames dela, não existe bebê.
Foda-se a ética profissional. Qualquer coisa era suportável ao lado da presença de Temari, principalmente quando ficava obcecada por algum tópico.
- Eu tenho medo, Sasuke - voltou a falar comigo após permanecer em silêncio por alguns segundos.
- Sobre? - perguntei fitando-a nos olhos.
- Perder você - passeou com as mãos no antebraço, olhando para os próprios pés. - Eu sempre te amei, mas sei que não é recíproco. Tentar manter os pilares da nossa relação está ficando inviável e percebo que estamos cada vez mais distantes. Principalmente você - a boca se contorceu, tentando segurar as palavras. - Estou ficando cansada, Sasuke. Mas não quero deixar você ir, eu te amo.
Não consegui formular nem uma frase sequer e a covardia instalou-se no meu corpo.
- Sei que você não gosta quando eu explodo e fico ciumenta e possessiva, mas eu não consigo evitar - continuou. - Ela me tira do sério - referiu-se à Sakura. - Me provoca, me faz sentir ameaçada! E você ainda beija ela! - elevou o tom cruzando os braços. - Isso foi o ápice!
- Temari.. - tentei me explicar, mas fui cortado.
- Sem mais, Sasuke. Você sabe o que fez e eu vi absolutamente tudo. Não adianta procurar brechas na situação, você errou.
- Olha, você sabe...
- Chega! Eu sinto que existe uma atração entre vocês. Poderia ao menos ser sincero em admitir. A gente namora, lembra disso?
- Relacionamento aberto - essas simples palavras foram capazes de apagar qualquer argumento que ela havia criado.
- Eu sei dessa merda, mas eu quero fazer diferente. Vamos, ao menos, tentar manter algo, ok? Amanhã pela noite vamos sair, te busco às oito.
E sem aguardar a minha resposta, saiu pela a porta da frente do restaurante depois de fitar Sakura com o olhar raivoso.
Após pagar a conta, agradeci aos funcionários que passaram por mim.
Fui recepcionado pelo o frio assim que saí do estabelecimento e cruzei os braços, na tentativa de proteger-me da ventania. Agarrei as chaves do carro e andei rumo ao veículo, mas meu foco foi desviado pelo o cabelo rosa da Haruno, que estava sentada no meio fio da calçada, abraçando o próprio corpo.
- Sakura? - a chamei, tocando no ombro coberto pelo o tecido branco do vestido.
Ela virou assustada em minha direção, mas relaxou quando percebeu quem era. Os olhos verdes delineados pela a maquiagem estavam marejados, borrando a tinta na linha d’água.
- Está tudo bem? Fizeram alguma coisa? - perguntei preocupado.
- Me leva pra casa? - perguntou com a voz tristonha.
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