O garoto catatônico de olhos vazios se encontrava deitado na cama, imóvel, deteriorando exatamente do mesmo jeito que estivera no último mês.
O sono foi vindo e vindo, puxando-o vagarosamente, ele não resistiu, dormir era a única coisa que lhe fazia esquecer a dor, aquele rombo enorme no peito.
E logo tudo ficou escuro.
Escuro demais.
Depois ficou claro.
Claro demais.
E no meio de toda aquela luz, uma voz soou, era a voz dela.
- O que é que há? Porque ainda está assim?
Ele se virou para um lado e outro procurando por ela, mas não a viu, ainda estava claro demais.
- Porque que ainda chora?
Ele gritou chamando-a, a voz rasgada recochiteou pelas paredes várias e várias vezes.
Sim, paredes, agora já se podia ver exatamente onde estava.
Estava em lugar nenhum.
E ela também estava.
Ele correu em direção a ela, avançou sobre a imagem da garota como se precisasse daquilo pra viver, mas ela recuou, e continuou recuando e fugindo sem dizer nada.
Cansado, se jogou no chão e voltou a chorar.
- Porque? Porque isso tinha que acontecer? - Ele perguntou baixinho. - Eu queria ter estado lá! Queria ter feito alguma coisa!
Ela balançou a cabeça negativamente.
- Eu queria ter feito algo por você.
- E você fez.
Então o silêncio contemplou os soluços dele por longos minutos.
- Você me salvou. Você me fez feliz, não deve se culpar, você tem que ficar bem! Sabe que não posso ficar bem enquanto você não estiver...
- Como posso? Como posso ficar bem!? - Respondeu alterado. - Não é justo! Isso não é justo! Eu... Eu queria ter ficado com você!
- Eu também queria! - Ela gritou, determinada.
E mais uma vez o silêncio os rodeou, ele se levantou e ambos ficaram parados, se olhando.
- Eu amo você. - Ela disse, calmamente, docemente. E sorriu.
- Eu amo você. - Ele respondeu, secando as lágrimas, novamente se aproximou.
- Porque... - Balbuciou nervosamente. - Eu não pude te tocar sequer uma vez?
A garota não respondeu, baixou o olhar tristemente e abriu os braços.
E novamente ele se jogou sobre ela, dessa vez finalmente sentindo! A abraçando fortemente contra si, desesperadamente preenchendo o buraco em seu peito.
- Eu não vou te deixar ir, eu prometo! - Ele gemeu, entre suspiros.
- Eu já fui. - Ela também gemeu, dolorosamente.
E voltou a ser escuro.
Escuro demais.
Então novamente claro, estava desperto.
Remexeu-se na cama, o olhar enevoado pelas lágrimas focava em algum ponto do teto.
- Esse sonho de novo. - Reclamou, esfregando os rosto. - Ao menos eu a toquei desta vez.
Então virou-se para o lado e voltou a lugar nenhum.
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