— Você terminou com a Marie? — A minha voz saiu mais alta do que eu gostaria.
— Terminei. Depois de refletir sobre o assunto, descobri que estava me enganando ao tentar ter algo sólido com a Marie — desviou a atenção para Heeji, que mexia em sua pulseira, e logo voltou a me olhar. — Eu não vou conseguir ter algo sólido com ninguém enquanto não resolver os meus problemas de dentro. Não vai adiantar apenas gostar de uma pessoa e acreditar que ela pode me fazer esquecer de alguma coisa — negou com a cabeça. — Há muito mais do que isso e eu me sinto mais leve agora que toda essa confusão que criei está encerrada. Namorar e sair do país foram as piores decisões que eu poderia ter tomado diante de tudo o que estava vivendo.
— Mas... Mas... — engoli em seco, buscando palavras para falar. Era uma surpresa e tanto. — E ela? O que disse? Como está?
— Marie está bem — suspirou. — Chateada, mas bem. Falou que depois da minha rejeição ao pedido de casamento, entendeu que eu não estava ou não queria estar pronto pra... Pra deixar o passado no passado — falou a última parte rápido, envergonhado. E eu também fiquei, pois era óbvio que ele se referia a mim. — Foi como se ela já esperasse, sabe?
— Sei...
— Eu me senti muito mal quando me dei conta de que inconscientemente acabei usando a Marie pra tentar me desfazer dos meus sentimentos — entortou a boca. — Me desculpei tanto... — respirou fundo. — Espero que ela tenha entendido que não fiz pra magoá-la e que me arrependo. Eu fui muito irresponsável.
— É, você a usou mesmo — concordei. — Se não estava pronto pra entrar em um relacionamento, não deveria ter entrado.
— Como você fez com o Kim.
— Sim. Esse tipo de atitude machuca todos os envolvidos e sabendo disso, eu fui firme na minha decisão de ficar sozinha — falei baixo e nós ficamos em silêncio por algum tempo, apenas nos encarando. Ao contrário do que deveria ser, não estávamos nem um pouco constrangidos.
— Então é isso... — disse de repente, encolhendo os ombros logo depois. — Jeon Jeongguk está solteiro de novo, só que agora essa situação não é mais um problema — sorriu fechado, um pouco acanhado. — Eu sou um solteiro conformado, daqueles que sabem que esse é o melhor caminho.
— Você já está fazendo brincadeiras? — Ri fraco.
— Não tenho motivos pra chorar ou ficar pra baixo — suspirou alto. — Infelizmente, eu não sentia nada forte pela Marie — os seus olhos estavam bem brilhantes e eles não tinham lágrimas presas. Jeon parecia estar de fato aliviado. — Eu gostava dela, acreditava que poderia confiar e formar uma família ao seu lado, mas não consegui corresponder às minhas expectativas e vi que estava sendo um homem horrível ao usá-la como experimento — bufou. — O que posso fazer?
— Compreendo... — encarei o chão. Eu ainda estava bem assustada com a notícia e não sabia o que deveria fazer agora, se tinha que perguntar algo mais, aconselhar ou dar uma palavra de apoio.
— Agora só quero poder focar inteiramente na Softway, como nunca fiz antes, e também nessa menininha linda aqui — beijou a testa da filha. — Nós vamos nos encontrar todos os dias e brincar até você não aguentar mais — apertou a bochechinha dela, que riu. — Vai ser incrível.
— Jeongguk... Sobre isso... — falei baixo mais uma vez, nervosa. Eu deveria dizer naquele instante? Ele acabou de chegar e interrompeu um relacionamento... Será que era uma boa hora? — Você vai voltar a morar em Seul?
— Evidentemente — riu fraco, franzindo o cenho ao notar a minha expressão. — Já trouxe tudo e... — interrompeu-se. — O que aconteceu? Por que a pergunta?
— Eu pretendo ir morar em Busan — anunciei de forma direta, vendo os seus olhos se arregalarem exageradamente no minuto seguinte. — Já comecei a organizar algumas coisas, mas só vou tomar uma decisão definitiva depois de ouvir o que você acha. Heeji é a nossa filha e ela vai comigo, então isso interfere de modo direto na sua vida.
— Claro... — piscou os olhos repetidas vezes, concentrando-se no que iria dizer. — Céus... Eu não esperava por isso. Não mesmo.
— Pensa no assunto e nós dois conversaremos sobre ele depois do Natal.
— T-Tudo bem.
— Não se preocupe — sorri brevemente. — Se tudo se ajeitar e nós duas realmente formos, prometo que estaremos aqui em todos os fins de semana.
Em silêncio, o moreno olhou para a garotinha e a abraçou fortemente. Eu já sabia que seria um comunicado difícil, mas em algum momento teria que tocar no assunto para que ele tivesse tempo de pensar em como ficaria a sua relação com Heeji. Eu estava sem saída, deveria fazer algo a respeito e tinha que ser logo. Os dias foram passando e todos eram de pura alegria para Hee e Jeongguk. Pai e filha se encontraram todos os dias, sem faltar nenhum, e aproveitaram cada minuto que estiveram juntos com brincadeiras e muitas risadas. A conexão deles era linda e eu confesso que ficava facilmente rendida quando os via interagindo com qualquer bobagem.
— Bom... Pedi que vocês me acompanhassem até um lugar afastado dos demais porque quero dar o presente de Natal das duas — Jeon falou enquanto segurava duas caixas consideravelmente grandes. Ele parecia um pouco envergonhado, mas manteve-se firme e continuou. — Escolhi com muito carinho e espero que gostem — estendeu a caixa lilás na minha direção e também entregou a caixa maior na cor azul para Heeji. — Feliz Natal, filha — beijou a bochecha da menor.
— Obrigada — Hee disse antes de puxar o laço com força, desfazendo-o rapidamente. Nós rimos.
— Não precisa dessa agitação toda, Heeji — alertei. — Olha aí os seus genes — falei para Jeongguk, que riu alto. — Vamos lá... — sentei no banco do jardim da casa dos meus pais e abri a minha caixa enquanto a nossa filha ainda tentava entender como abriria a sua. Ao ver que o meu presente eram duas almofadas de pescoço iguais, franzi o cenho e o encarei. — Por quê?
— Um minuto — Jeon sorria largo, satisfeito. — Quer ajuda, Hee?
— Não — impaciente, a mais nova rasgou a caixa e retirou uma mochila de dentro. — Que lindo! — Ela falou alto, erguendo o acessório para ver melhor. A mochila era no modelo de costas e as cores azul e rosa em tom pastel se misturavam como se tivessem sido pintadas em aquarela.
— Você gostou, meu amor? — O coreano perguntou e a garota assentiu com animação. — E você? — Me olhou. Encarei as almofadas azul pastel estampadas com controles de videogame e ri. — Sei que está confusa, mas primeiro responda dizendo o que achou.
— São bonitas, mas... Eu esperava até um milkshake como presente de Natal — brinquei e o rapaz gargalhou. — Estou surpresa.
— No fundo, você sabe o que é — piscou o olho, encarando-me com divertimento. — Quero que Heeji use a mochila sempre que voltar pra Seul e que as duas usem as almofadas quando utilizarem o meu jatinho como transporte.
— Você... Você está dizendo que concorda?
— É a sua vida — encolheu os ombros. — Eu sou o pai da Heeji e vou fazer de tudo pra continuar ao lado dela, independente do lugar em que mora — sorriu para a mais nova, que continuava vidrada no presente. — Nos últimos dias, te vi tão animada com a possibilidade de morar em Busan que não consigo nem ser um pouco egoísta ao dizer que sentirei falta da Hee — riu. — Quero que vá — voltou a me olhar. — Vá e construa a sua vida do modo que desejar, que te fizer mais feliz. Eu me adapto em relação à nossa filha.
— Ah, Jeongguk... — murmurei chorosa, aproximando-me para abraçá-lo fortemente. E não demorou para que eu fosse retribuída da mesma forma. — Obrigada — afaguei as suas costas, sentindo os seus braços me apertarem ainda mais pela cintura. Os nossos troncos estavam tão grudados que eu conseguia sentir o calor do seu corpo. — E eu vou cumprir a promessa. Venho todos os finais de semana.
— Não precisa — nos soltamos, mas continuamos perto demais quando nos encaramos. Puta merda... Ele estava tão cheiroso! — Vai ser cansativo pra vocês. Nós iremos combinar como serão as visitas — sorriu. — Eu vou, você vem... Iremos revezando. Não se preocupe.
— Obrigada — agradeci novamente, agora hipnotizada por seus olhos fixos nos meus. Tão atraente... — Você está sendo muito compreensivo — falei mais baixo, sentindo as minhas pernas levemente dormentes. Segure-se, (s/n).
— Você também foi comigo — respondeu no mesmo volume, aproximando o seu rosto do meu. — Só estou sendo quem eu sou de verdade — manteve o sorriso. — Sigo o que acho que é mais correto e o que tenho a certeza absoluta de que não fará mal a ninguém — as suas mãos permaneceram presas em minha cintura e, de repente, o maior apertou o local. — Feliz Natal — sussurrou rente aos meus lábios. Eu até sentia a sua respiração batendo ali.
E, ansiosa, fechei os olhos para esperar pelo beijo que não veio. Jeon apenas acariciou a minha bochecha direita com o dorso de uma das mãos e deixou um beijinho extremamente rápido no local. Como é? Ele havia me enganado? Ou eu que me enganei? O que acabou de acontecer aqui nesse jardim? Abri os olhos com lentidão, envergonhada pelo mal-entendido, e sorri fechado ao ver o seu sorriso bem aberto, eu diria que até de felicidade. Idiota. Em seguida, o mais velho caminhou até a filha e explicou como e quando ela deveria usar a mochila. Heeji ficou maravilhada.
— Esses controles estão aqui só pra vocês lembrarem de mim — disse sorridente, apontando para as figuras estampadas na almofada. — Jeon Jeongguk! O pai da menina mais linda do mundo e o grande criador do Killer Group, o maior jogo deste planeta.
— Nem um pouco convencido — gargalhei. — Viu só, Hee? Você tem um pai babaca.
— Babaca — a menina repetiu, ainda com o olhar preso na sua mochila, e riu.
— Ah, não... — Jeongguk pôs a mão sobre a testa. — Heeji acabou de aprender uma palavra nova, só que ela não serve — cerrou os olhos para mim e em seguida para a menor. — Desaprenda, senhorita Jeon.
— Ei, vocês três! — Haneul apareceu de repente, assustando-nos. — Vamos comer! As famílias já estão reunidas na mesa e nós só estamos esperando pelo trio aí.
— Não estão mais! — Ele disse alegremente, pegando a nossa filha no colo em seguida. — Vamos, meninas!
E a nossa comemoração de Natal foi assim. Tranquila, recheada de risadas, de conversas leves e ao lado de pessoas que amamos. Perfeita. No fim da reunião, Heeji insistiu para que Jeongguk dormisse com ela na sala de estar e até chorou para ter o que queria, exatamente da mesma forma que agiu quando ainda tinha cerca de um ano e meio e me fez levar Jeon conosco até o parque. Se ela conseguiu convencê-lo? É óbvio. Quem resistia àquele biquinho vermelhinho e àqueles olhinhos grandes banhados de lágrimas? Hee ficou tão feliz que não demorou a entregar-se ao sono. Simplesmente abraçou o pai, não sem antes de colocar o bonequinho azul sobre o abdômen do mais velho, e adormeceu.
[...]
— O Jeon deu uma bicicleta pra Hee? — Haneul sorriu para a menina, que pulou de animação. — Foi o seu presente de fim de ano? — Ela assentiu. — Que chique! Você ganha presentinho nessa data também?
— Jeongguk mima muito e nós teremos que conversar sobre isso — suspirei. — Mas esse foi um presente importante — encolhi os ombros, dando-me por vencida. — Só que decidimos esperar mais um pouco porque queremos ensiná-la juntos.
— Ah, que fofo! — Shin sorriu. — Quero vídeos!
— Faremos.
— Mamãe — a mais nova chamou. — Posso jogar?
— Dez minutinhos — entreguei-lhe o tablet. — Lembre-se de me entregar quando não quiser mais, certo? — Hee assentiu. — Preciso enviar o relatório das partidas para a Softway.
— Ela ainda participa dos testes?
— Participa — ri fraco. — Eles até descobriram que as crianças com essa idade conseguem se sair melhor no jogo. E convenhamos... É por motivos bem óbvios, não é? — A loira assentiu enquanto ria junto a mim. — Sempre que Heeji se satisfaz depois de cinco ou seis partidas, eu aperto um botãozinho que envia para os desenvolvedores o relatório informando como ela se saiu.
— O seu papai está te usando pra ganhar dinheiro — Haneul provocou e a garota simplesmente a ignorou, causando a minha risada. — Enfim... — me olhou. — Encontrou uma casa em Busan?
— Encontrei — soltei de uma vez, ansiosa para contar a novidade.
— Ah, não! — Fingiu chorar e me abraçou. Eu ri novamente. — Eu estava torcendo pra que demorasse mais um pouco!
— Que bela amiga que você é, Shin! — Brinquei em meio ao riso. — Mas eu só vou embora daqui a dois meses — a minha amiga bateu palmas, agora sorridente. — Ainda preciso encontrar um lugar para o escritório e esperar que a decoradora cuide da casa. Ela me deu um prazo de um mês, já que a residência não é muito grande.
— Mas você já assinou o contrato de aluguel?
— Não — bufei. — Preciso arranjar um tempo pra ir até Busan. Felizmente, o dono da imobiliária é amigo do meu pai e ele confirmou a casa antes mesmo de eu assinar qualquer papel — expliquei. — As chaves estão com a decoradora e ela já está fazendo o projeto.
— Ah, o poder dos contatos... — suspirou e eu ri alto. — Você e o Jeongguk são os meus contatos mais fortes.
— Pobre Haneul... Está muito fraquinha — zombei. E no momento em que a coreana iria me responder, o meu celular tocou. — Um minutinho — anunciei antes de atender a ligação. — Miran?
— Senhorita (s/n)! — A voz da advogada denunciava a sua alegria. — Está sentada?
— Ah, céus... O que houve? — Ri baixo, ansiosa. — É algo muito bom ou bom? Você está tão animada!
— É maravilhoso! — Disse alto, eufórica.
— Então conta logo!
— Fomos escolhidos para o projeto da Softway! — Ela passou a informação com tanto entusiasmo que me fez soltar um gritinho de felicidade. Haneul riu. — O senhor Jeon irá fazer uma visita às instalações, só que a data não foi divulgada — continuou. — Eu andei sondando um pessoal e descobri que a fábrica foi selecionada, mas que ele pode desistir do negócio se não gostar da estrutura. A equipe irá pronta pra firmar a parceria, mas pode mudar de ideia se o presidente não gostar — disse rápido. — E foi por isso que ninguém confirmou nada conosco.
— Será uma visita-surpresa, então?
— Sim — respirou fundo, demonstrando estar um pouco nervosa agora. — E eu aconselho foco total a partir de hoje. A senhorita não pode deixar que nada saia do controle, pois o senhor Jeon pode aparecer a qualquer momento.
— Tem razão — murmurei pensativa. — Miran, eu vou pensar em um plano de estratégia e quero toda a equipe da fábrica reunida amanhã pra receber instruções — falei rápido, ainda mais ansiosa. — Não há espaço pra vacilar — eu estava confiante porque sabia que tudo estava impecável, mas não custava ficar atenta. — Nos falamos na empresa. Vá descansar.
— Sim, eu vou — a mulher riu. — Até breve.
— Você ainda não contou ao Jeongguk que está concorrendo à vaga? — Haneul perguntou assim que desliguei a ligação.
— Não — sorri orgulhosa. — Eu queria que o Jeon fizesse a sua escolha com base nas nossas qualidades e não porque a fábrica pertence à família da filha dele.
— Não acha que o Jeongguk vai ficar chateado quando descobrir que você está participando do processo?
— Um pouco no início — ri fraco. — Mas quando eu explicar tudo, ele vai esquecer qualquer sentimento ruim — sorridente, encarei a loira e isso a fez franzir o cenho. — Haneul... Nós fomos escolhidos! — Anunciei em um quase grito. Shin arregalou os olhos, assustada, mas levantou-se do sofá para me abraçar mais uma vez. — O Jeon irá visitar a fábrica e tomar a decisão definitiva.
— Mas ele vai reconhecer a empresa.
— Sim, vai — ri. — Isso teria que acontecer em algum momento — encolhi os olhos. — Vou designar o novo diretor pra recebê-lo e explicá-lo todos os pontos que melhoramos e os que mantivemos no processo de mudança da fábrica. Eu não quero encontrar o Jeongguk nesse primeiro contato, sabe? — A minha amiga assentiu. — Nos veremos apenas quando formos assinar o contrato. Se tudo der certo, claro.
— E você sabe que vai — me empurrou pelo quadril. Eu ri enquanto confirmava com a cabeça. — Quem irá assinar será você?
— Sim, o meu pai está viajando e eu sou a segunda pessoa mais importante da fábrica.
— Uau! — Sorriu largo e eu a acompanhei. — Amiga... — riu. — O Jeongguk do cabelo vermelho vai pirar, mesmo que internamente, quando te encontrar — nós rimos de novo. — Acho que será engraçado.
— Será?
E os dias foram seguindo dentro da normalidade. Jeon não aparecia na empresa e isso levantava a minha curiosidade sobre o motivo. Por que tanto mistério? Ele deveria surgir logo e pronto! Às vezes, quando o moreno ia buscar Heeji na casa dos meus pais, eu tinha que fazer um esforço gigante para não perguntar nada sobre o processo de seleção. Estava sendo muito difícil segurar a ansiedade. Nós tínhamos outras parcerias firmadas e projetos para desenvolver no decorrer desse ano, porém nada me deixava mais ansiosa do que o negócio com a Softway. Eu queria muito que vencêssemos o trauma daquele passado obscuro e que tudo desse certo agora.
Na nossa relação como pais de Heeji, seguíamos firmes e fortes no objetivo de priorizá-la e fornecê-la um ambiente saudável. Sempre conversávamos sobre os nossos planos de passeios e decidíamos juntos o que faríamos. Já sobre nós, sequer tocávamos no assunto. Jeongguk, assim como eu, optou pelo caminho de deixar fluir e isso facilitou bastante para que construíssemos uma relação boa de amizade. O clima estava tão maravilhoso que passamos a sair em trio e nos divertíamos tanto que nem notávamos o passar das horas. Estávamos seguindo a nossa vida sem pesos, sem pressões, sem tocar em assuntos delicados – por mais que soubéssemos que eles deveriam ser abordados em algum instante – e, o mais importante, respeitando um ao outro.
— Nossa! A Hee vai pegar o jeito rapidinho! — Jeon disse eufórico enquanto entrávamos no seu apartamento. — Você viu como ela conseguiu pedalar uniformemente?
— Vi, mas... Que ela vai pegar o jeito rapidinho? — Franzi o cenho. — Estamos indo ao parque todos os dias há duas semanas, Jeongguk! — Ri. — A Heeji deveria mostrar um avanço agora ou seria muito estranho.
— Ah... Céus... — bufou, olhando para a menina que ainda estava em seu colo. — A sua mãe é tão estraga-prazeres, não é? — A nossa filha riu. — Seja como for, agora é a hora do banho — a menor gritou de alegria e ergueu os bracinhos. — E como fiquei responsável pelo jantar, peço que as duas façam isso primeiro — completou. — Eu irei depois que tudo estiver pronto ali na cozinha.
— Tudo bem — ri ao pegar a menina feliz em meu colo. — Nem fique tão animadinha. Hoje não vai ter banho de banheira — os seus olhinhos lindos me encararam com espanto. — Não, não. Temos que ser rápidas pra ajudar o seu pai a cozinhar.
— Isso! — Jeongguk disse em meio ao riso. — Eu não sou nada sem as minhas amadas ajudantes.
— A verdade é que você está se acostumando a deixar a parte de cortar os legumes pra mim — cerrei os olhos e o moreno gargalhou. — Há três dias que faço exatamente a mesma tarefa.
— Você é boa nisso — encolheu os ombros. — O que posso fazer além de aproveitar o seu talento?
— Não vou querer comer aqui a partir de hoje.
— Sem mentiras, (s/n). Eu sei que você ama a minha comida e que não vai aguentar a saudade.
— Por que você é tão exibido, Jeon Jeongguk? — Entortei a boca antes de sorrir. O pior era que ele tinha razão. Eu amava a sua comida. — Bom... Nós vamos tomar banho agora — anunciei. — Não sofra sem nós duas.
— Vou tentar — piscou o olho, entrando na brincadeira, e foi a minha vez de gargalhar.
Com um sorriso gigante, levei Heeji até o quarto que era reservado para mim e me dirigi ao banheiro, que já tinha todos os produtos que costumávamos usar habitualmente. Quem visitasse o local, acreditaria com facilidade que nós três morávamos juntos ali. Eu sabia que havia passado a confundir a nossa relação nos últimos dias, quando me permiti dormir naquele apartamento e também quando, em uma atitude repentina que não pude controlar, uni os nossos lábios em um selinho desajeitado. Continuávamos em um clima tão gostoso de paz e harmonia que passar a manhã, a tarde e a noite na casa de Jeon não era nem um pouco incômodo e eu me sentia totalmente à vontade ao seu lado. Nós dois estávamos saindo frequentemente com a Hee há três meses, porém o contato ficou mais intenso nesse mês, quando decidimos ensiná-la a andar de bicicleta. Toda a nossa interação fluía com naturalidade, como se fôssemos um casal há anos.
— E aí? — Jeongguk olhou para nós duas alternadamente durante a refeição. — Gostaram?
— Gostei — Heeji sorriu para o pai antes de levar a sua colher até a boca mais uma vez.
— Você não cansa de receber elogios? — Brinquei, fazendo o maior rir e encolher os ombros. — Não vou te dar esse gostinho.
— Você é má — cruzou os braços. — Não vou cozinhar amanhã. Me recuso.
— Ah, mas você vai... — ri ao vê-lo fazer bico. — Você tem que me alimentar, Jeon Jeongguk — ele gargalhou. — E eu não aceito nada menos que perfeito — o coreano fingiu um suspiro de tristeza e mexeu nos cabelos, alinhando-os para trás. — A sua comida é mais do que perfeita e é por isso que eu fico completamente rendida quando você diz que vai cozinhar pra mim — confessei e os seus olhos pareciam ter ganhado um brilho três vezes maior. — Então, respondendo a sua pergunta, a refeição de hoje está maravilhosa. Obrigada.
— Obrigada! — Hee lembrou-se de agradecer ao me ouvir falar, causando o nosso riso.
— Eu... Eu fico feliz por... — sorridente, Jeon encarou a mesa. Ele estava tão envergonhado agora...— Por vocês gostarem tanto da minha comida! — Completou, dizendo aquilo um pouco alto. — Prometo me empenhar mais, fazer coisas novas e sempre cozinhar para as duas.
— Ah, nós nos sentimentos honradas — sorri para o rapaz quando tive a sua atenção. Jeongguk até tinha as bochechas levemente avermelhadas. — Não é, filha? — A menor me olhou com confusão, provavelmente sem entender o que seria o significado de sentir-se honrado. — Você fica feliz quando come o que o seu papai prepara pra gente? — Ela assentiu com vigor e o mais velho riu. — Já está valendo.
— E muito — o seu sorriso pareceu dobrar de tamanho. — Obrigado por me trazerem tantos momentos de alegria — voltou a nos olhar alternadamente. — Eu fui tão feliz durante esse mês que estive pertinho das duas que nem lembrava como era me sentir tão bem em uma sequência tão grande de dias.
— Eu também me senti muito bem — revelei baixo, envergonhada. — Foram momentos leves e bonitos. Eu amei estar contigo enquanto ensinávamos Heeji a andar de bicicleta, quando saímos para comprar roupas novas, quando passeamos no parque e no parquinho — nós rimos — e, principalmente, quando viemos pra cá. Acho que estamos fortalecendo uma relação amigável.
— É... — Jeon murmurou, encarando as próprias mãos. — Bom, eu... Eu vou recolher a louça, lavá-la e prometo que em seguida levo vocês pra casa — sorriu. — Não quero que o vovô da Hee me execute por achar que sequestrei as meninas mais lindas desse país.
— Ah, seu bobo... — ri fraco, bastante envergonhada agora. Sentia até o meu rosto queimar. — Eu te ajudo — levantei da cadeira apressada, auxiliando-o a recolher as peças espalhadas pela mesa. Após levá-las até a pia, retornei para a sala de jantar. — Heeji, você vai... — me interrompi ao ver a menininha cochilando com a cabeça sobre a móvel. Como não percebemos que ela estava com tanto sono? Pobrezinha... — Jeongguk, tira uma foto disso e manda para os nossos pais — chamei baixo e logo senti a sua presença ao meu lado. — Não é linda?
— É — riu. — E nós dois a fizemos.
— Agora você quebrou todo o clima! — Bati em seu peito, mas me rendi ao riso também. — Precisava lembrar disso?
— Mas não é a verdade? — Ergueu o celular na direção da menina e tirou algumas fotografias. — Os bebês vêm de duas pessoas.
— Sim, eu sei. Só que... Ah, a cabeça faz outra ligação que não é nada fofinha — confessei com dificuldade, envergonhada mais uma vez.
— Como a fizemos? — Me olhou sorridente. Cafajeste... — Você lembra, é? — Virou-se para mim. — Qual foi o dia? Foram tantas vezes que...
— Jeongguk! — Repreendi-o. — Você não tem um filtro, não? — Franzi o cenho. — Parece a Haneul! — Caminhei apressadamente até a cozinha, nervosa. Por algum motivo, lembrar daquilo me fez ter vergonha até de encará-lo. Será que, assim como eu, Jeon estava pensando naqueles momentos tão íntimos agora? — Leva a Heeji para o quarto — falei um pouco alto para que ele escutasse. — Eu vou arrumar a cozinha enquanto você não vem.
— Ficou chateada com o que eu falei? — Apareceu de repente atrás de mim, fazendo-me pular pelo susto. — Estamos tão íntimos que eu achei que pudesse fazer esse tipo de brincadeira — o seu tom de voz entregava a preocupação que sentia. Ao virar-me na sua direção, vi que Heeji estava adormecida em seus braços. — Olha, não tive a inten...
— Não é nada disso — o interrompi. — Foi o que nós fizemos, não foi? — Suspirei. — Eu só... Só... — engoli em seco. Droga! Que nervosismo é esse? — Ah, eu não queria lembrar de certos detalhes — falei rápido. — Você entendeu, Jeongguk.
— Entendi... — riu baixo.
— Você não teve intenções ruins, eu sei disso — nos entreolhamos. — Talvez tivesse intenções maliciosas — sorri, amenizando definitivamente o clima chato, e o maior gargalhou. Eu sabia que se voltássemos para meses atrás, com certeza não estaríamos falando sobre isso agora. Na verdade, esse momento nem existiria. — E eu já adianto que está perdendo o seu tempo.
— Será? — Jeon me olhou fixamente por um tempo enquanto eu permanecia em silêncio, apenas me esforçando para não falar nada que me colocasse em risco. — Eu ainda não esqueci do nosso beijo.
— Selinho — corrigi-o rapidamente. — E foi sem querer — completei. — Eu estava animada com o avanço de Heeji na bicicleta e fiz aquilo sem pensar. Foi um impulso.
— Então você já estava querendo me beijar! — Afirmou ainda me olhando daquela forma tão sedutora. Merda. — Seguiu os instintos. Que interessante...
— Para de gracinha! — Levemente desorientada, caminhei para trás e trombei com a pia. — Vai... Leva a Hee.
— Não estou de gracinha — riu, divertindo-se com as minhas reações. — Só quero explicações mais coerentes.
— É mesmo? — O mais alto assentiu e eu arqueei uma sobrancelha. — Pois vai ficar querendo! — Ele cerrou os olhos. — Deixa de ser preguiçoso e leva a nossa filha para o quarto, vai — Jeon bufou antes de iniciar o trajeto para sair da cozinha e, aproveitando a sua posição, chutei a sua bunda sem aplicar muita força, ganhando um olhar assustado em seguida. — E rápido.
— Você sabe que está brincando com o perigo, não sabe?
— Sei — ri. — Então, perigo, eu sugiro que quando for me ameaçar, arrume esse cabelo bagunçado e não esteja segurando uma criancinha linda no colo porque você está extremamente fofo assim — zombei. — Não me dá nem um pouquinho de medo.
— Ah, é mesmo? — Agora foi a sua vez de fazer aquela pergunta. Eu ri enquanto assentia com a cabeça. — Pois bem... Aguarde o meu retorno — alertou e caminhou em passos rápidos até a escada, saindo do meu campo de visão em poucos segundos.
— Sua maluca... — murmurei sorrindo, mas preocupada. — Como você desafia justo o Jeongguk? Ele vai aprontar algo! — Olhei para o espaço ao meu redor, atenta à sua chegada. Quando namorávamos, o rapaz adorava me punir com cócegas ou revidando o que fiz. — Jeon não vai chutar a minha bunda com força, então eu vou descartar essa possibilidade — pus a mão sobre o queixo, pensativa. Fiquei daquela forma durante alguns minutos, refletindo sobre o que poderia acontecer. — E se bater com a mão? — Arregalei os olhos. — Arde muito!
— É... Arde muito — a sua voz surgiu de repente, assustando-me. — Você está certa.
— Já voltou?
— Fiz rapidinho — sorriu largo, animado. — Coloquei a Hee na cama, tranquei a porta e trouxe o controle do quarto — ergueu o tablet que já mostrava as imagens das câmeras daquele cômodo. — Pronta para a revanche? — Jogou o aparelho sobre o sofá da sala e andou na minha direção.
— Jeongguk...
— Sem piedade — os seus passos tornaram-se apressados e em poucos segundos ele já corria até mim. Temerosa, corri na direção oposta para sair da cozinha e acessar a área do apartamento que continha os quartos de hóspedes. — Eu vou te achar porque consigo sentir o seu cheiro.
— Nossa! — Me controlei para não rir e assim perder a força de correr. — Não fala assim! Parece que você está me caçando!
— E não estou? — Riu alto, desistindo da corrida para caminhar. — Nem adianta tentar se esconder.
— Jeon... — já não pude segurar o riso e optei por entrar em um dos quartos. — Eu estava brincando naquele momento — falei enquanto desabilitava na fechadura eletrônica a opção de destrancar a porta pelo lado de fora. — Juro — me afastei para fechar o cômodo e percebi que os seus passos se tornaram mais rápidos.
Empurrei a porta ainda rindo, mas logo arregalei os olhos ao sentir uma força contrária que me impediu de atingir o objetivo final. Entre a sua gargalhada alegre, Jeongguk me aconselhou a sair dali e eu, em um misto de nostalgia e aflição, neguei. Continuamos exercendo pressões opostas sobre a porta até que ele conseguiu colocar o pé para dentro do quarto e aos poucos foi passando o corpo pela fresta que abria. Instantes depois, Jeon já estava dentro do cômodo e os seus braços fortes já me circundavam firmemente pela cintura. Eu estava encurralada entre o meu ex-namorado e a parede e foi tão rápido que não pude acompanhar como aconteceu.
— O que vai fazer? — Questionei baixo, assustada com a aproximação repentina.
— Adivinha — sussurrou, olhando-me nos olhos. — O que eu costumava fazer quando você me desafiava?
— Ah, não... — murmurei, vendo um sorriso gigante se formar em seus lábios tão lindos. — Jeongguk, por favor.
— Sem piedade — repetiu, afastando-se um pouco apenas para passar o braço direito por trás dos meus joelhos e me pegar no colo. — Vamos pra sala porque o tablet ficou lá — falou já enquanto caminhava tranquilamente pela casa.
— Eu... Eu vou andando, pode me soltar — pedi, mas continuei segurando o seu pescoço. Eu falava aquilo apenas por obrigação.
— Você vai fugir — riu soprado. — Te conheço muito bem — apressou os passos e nós rapidamente chegamos na sala de estar. Jeon me colocou deitada sobre o sofá e quando eu iria sentar, me impediu ao posicionar o seu corpo sobre o meu. — Pareço fofinho agora? — Me olhou intensamente nos olhos e eu engoli em seco, voltando a ficar nervosa. O que ele está querendo de mim? Eu dou! Eu dou tudo! — Está com tanto medo do que posso fazer que não quer nem falar? — O seu riso saiu carregado de convencimento.
— E o que vai fazer? — Provoquei. Aquela maneira de me encarar estava me causando arrepios por todo corpo e me encorajava a jogar. — Cócegas? — Arqueei uma sobrancelha. — Isso não me assusta. Eu estava fazendo charme minutos atrás.
— Ah, é? — Sorriu largo. — E por que a senhorita faria charme pra mim?
— Não vou te dizer — ri. — Tente descobrir.
— Isso não é justo comigo — cerrou os olhos. — Eu vou pensar em mil coisas e pelo menos novecentas serão eróticas.
— Talvez você esteja correto — o maior me olhou com surpresa e eu sorri para provocá-lo mais um pouco. Eu simplesmente não conseguia segurar as palavras, o desejo de falar tudo o que pensava era mais forte. — Talvez — acrescentei e ri ao vê-lo engolir em seco dessa vez. — Você é um safado. Não muda.
— Nesse quesito, não mesmo — riu fraco. Nos encaramos por mais algum tempo e eu pude captar o exato momento em que ele mordeu o lábio inferior, claramente na tentativa de acalmar-se um pouco. — Eu... Eu vou... Na verdade, eu preciso... — piscou os olhos repetidas vezes, atordoado. — Eu tenho que tomar um banho — saiu da posição em que estava e sentou-se sobre o sofá espaçoso, puxando os cabelos escuros para trás.
— Desistiu da revanche? — O encarei com diversão, ainda deitada.
— A sessão de cócegas vai ter que ficar pra depois — sorriu brevemente. Conhecendo-o como conhecia, eu tinha certeza de que agora o coreano estava bem envergonhado pelo teor da nossa conversa. — Bom, eu...
— Fique paradinho aí — o interrompi e fiquei sobre os joelhos no móvel. — Por que está tão nervoso?
— Por nada — respondeu rápido.
— Se falar a verdade, ganha uma recompensa — me aproximei um pouco mais dele. — E ela é boa, te garanto.
— O que aconteceu contigo? — Riu fraco ao franzir o cenho. — Bebeu quando fui levar a Heeji para o quarto e o álcool só está fazendo efeito agora?
— Responda, Jeongguk.
— Eu estou um pouco nervoso porque... Porque... Ah, você sabe — suspirou alto. — É difícil controlar o que sinto quando estamos tão perto, ainda mais com você falando essas coisas — encarou as mãos e mordeu o lábio inferior mais uma vez. — Eu sou fraco, acho que você deve lembrar.
— Ah, eu lembro muito bem... — segurei a sua mão esquerda, atraindo a sua atenção. — Hora da sua recompensa — Jeon me olhou atentamente, inerte, e eu sorri antes de afastar a sua mão direita do seu colo, deixando-o livre para que eu pudesse sentar ali. Por não fazer isso há muito tempo, eu preferi sentar de lado. — Quero te dar um beijo — confessei enquanto acariciava a sua nuca, sentindo-o estremecer levemente. — Se você quiser...
— Eu quero — me interrompeu. — Me beije — falou mais baixo, agora encarando os meus lábios.
Disposta a aproveitar a sensação de estar no controle do que aconteceria a partir dali, subi as minhas mãos simultaneamente pelos seus cabelos, raspando as unhas em seu couro cabeludo, e o seu arfar me estimulou a repetir o caminho, só que para baixo. Aproximei o meu rosto do seu devagar e, ansioso, o maior rompeu a pouca distância que faltava entre nós e apenas uniu as nossas bocas. Após rir, mordi levemente o seu lábio inferior e, como resposta, senti a pressão das suas mãos sobre a minha cintura em aperto gostoso e excitante. Não tinha como resistir e eu não estava nem um pouco tentada a fazer isso. Então, dando fim àquela provocação, iniciei um beijo lento com a intenção de prolongá-lo o máximo que conseguisse.
Jeon seguia o meu ritmo, não tentava interferir em nada e até manteve as mãos paradas em minha cintura. Ele estava completamente rendido e eu adorava a sensação de tê-lo assim só para mim. Ao contrário das suas, as minhas mãos percorriam caminhos aleatórios em seus cabelos e ansiando por mais, levei-as até o seu peitoral, não sem antes passar lentamente por seu pescoço para arrepiá-lo, e acariciei o local firme com lentidão. Quando respirar se tornou um pouco difícil para nós dois, separamo-nos minimamente e, ofegantes, sorrimos um para o outro. Em seguida, Jeongguk me puxou para si em um abraço forte e eu o retribuí da maneira que pude, já que não era favorecida pela posição em que estava.
— Só agora percebo o quanto estava precisando disso — confessou em um sussurro, roçando levemente o seu nariz sobre o meu em um carinho tímido. — Eu amo o seu beijo. Pra mim, ele é o melhor do mundo inteirinho — eu ri, fazendo-o sorrir. — É sério.
— Qual dos beijos? O mais lento ou o mais agitado?
— Os dois — me pressionou contra o seu corpo. — E isso aqui também — me deu um selinho, rindo logo após.
— Você está tão fofo... — apertei as suas bochechas simultaneamente, formando um biquinho lindo em seus lábios. — Está ainda mais agora — ri de novo. — Deixe-me ver mais de perto — saí do seu colo e pus uma perna em cada lado do seu corpo, apoiando os joelhos no sofá, para só então repetir o que fiz na sua boca. — Hm... — sorri. O moreno me encarava com atenção, também com um pouco de receio. — Lábios vermelhinhos... — me inclinei na sua direção e suguei cada lábio seu, notando o instante em que Jeon engoliu em seco. — Eu sou louquinha por eles, sabia? — O mais alto assentiu com a cabeça e eu gargalhei. — Convencido — sentei sobre as suas coxas e o vi arregalar os olhos. Ri mais uma vez. — O que foi? Não posso? — Jeongguk esforçou-se e retirou as bochechas do meu aperto.
— Você... Você sabe que não vamos continuar, então... — Segurou a minha cintura novamente. — Por favor, não me dê falsas esperanças — apertou o local com firmeza. — Já está sendo bem complicado não ser tocado há tantos meses.
— E quem disse que não vamos continuar? — Arqueei uma sobrancelha, rindo fraco ao vê-lo me olhar como se estivesse ao lado de uma maluca. — Eu tenho muita intenção em continuar.
— Mas... Ah, meu Deus... — fechou os olhos com força e respirou fundo. — O que está acontecendo contigo? — Voltou a me encarar. — Você estava normal até pouco tempo atrás.
— Não estou normal pra você?
— Não — disse baixo, incerto. Eu ri. — No seu normal, você me olha apenas como o pai de Heeji.
— E eu não posso estar tendo outra visão de você nesse exato momento? — Corajosamente, levei as minhas mãos até os seus cabelos e os apertei entre os meus dedos. — É um pouco difícil ignorar toda a sua beleza.
— Certo... — Soltou o ar com força. — Eu devo estar mesmo sonhando.
— Ter contato com as nossas lembranças da adolescência mexeu comigo e quando você me pegou daquele jeito lá no quarto... — me interrompi e suspirei. — Eu também estou há algum tempo sem contato íntimo e isso foi suficiente pra acender certas partes em mim — acariciei a sua nuca lentamente e sorri ao vê-lo respirar fundo de novo. — Mas se você achar que não devemos continuar, eu não vou ficar chateada.
— O quê? — Ele apertou os braços ao redor da minha cintura. — Se eu fizesse isso, continuaria sendo um sendo um fraco, medroso... — engoliu em seco, um pouco atordoado. — Como negar o que quero tanto? — Grudou as nossas testas. — Essa é a relação amigável que você falou anteriormente? — Riu. — É?
— Não, mas... Mas vamos fingir que é — encolhi os ombros e o acompanhei no riso. — Pra que dificultar as coisas, Jeon? Nós somos adultos, não somos? — O moreno assentiu. — Olha... É muito difícil assumir isso, mas eu ainda te desejo muito — levei as minhas mãos para o seu pescoço e o acariciei com leveza. — Muito.
— E sobre o que eu sinto... — interrompeu-se para umedecer os lábios. — Você não vai precisar ouvir nada porque acredito que o que eu sinto já está estampado no meu rosto há dias — franzi o cenho e o rapaz me encarou com divertimento. — Não notou que eu não parava de te olhar fixamente sempre que você vinha pra cá depois dos nossos passeios?
— Ah... — sorri largo, satisfeita por ter percebido. — Claro que notei. Você deixa tudo muito óbvio, só que eu dificulto a sua vida e finjo que não é comigo — nós rimos. — Mas brincadeiras à parte, eu achei que seria melhor manter a distância e deixar como estava. Já nos magoamos muito.
— E agora? — Acariciou a minha bochecha com o dorso de uma das mãos. — O que você quer?
— Uma noite pra esquecer que estamos separados e que nos tratamos apenas como pai e mãe da nossa filha — contornei os seus lábios macios com o dedo indicador. — É o que eu mais quero nesse instante.
— E depois? — Sussurrou.
— Depois é depois — nos encaramos. — Conversaremos. E mesmo que não aconteça nada nesse momento, eu acho que precisamos falar sobre nós dois em breve — suspirei alto. — Temos que começar a enfrentar os nossos sentimentos e saber lidar com eles da melhor forma. Não dá pra viver assim, Jeongguk.
— Calma aí... Mesmo que não aconteça nada? — Cerrou os olhos e riu, sendo tomado por uma animação repentina. O que eu falei havia sido tão bom assim? — É claro que vai acontecer! — E em um movimento rápido, colocou-me sobre o sofá e voltou a ficar sobre mim. — Eu preciso que aconteça ou acredito que vou enlouquecer — falou mais baixo antes de morder o meu lábio inferior e puxá-lo em uma sugada. — Eu te quero tanto... — sussurrou. Arrepiada e ansiosa pelos próximos minutos, puxei-o para baixo pelo pescoço e dei-lhe mais um beijo. Eu precisava da sensação de tê-lo. E tinha que ser logo.
— O tablet está apto pra emitir o alarme caso o equipamento registre alguma movimentação da Heeji no chão? — Perguntei entre o beijo e o maior riu enquanto assentia. — Então, a partir de agora, concentre-se apenas em mim — retomei o contato, porém agora em um ritmo mais rápido e forte.
Jeon apoiava-se sobre os joelhos e as mãos no sofá e o meu corpo estava entre as suas pernas. Durante o beijo, uma das mãos firmes do moreno adentrou a minha blusa, passou por minha barriga e chegou ao meu seio esquerdo, que ainda estava coberto pelo sutiã, para fechar-se ao seu redor e apalpá-lo com delicadeza, fazendo oposição aos seus toques, que até aqui eram firmes, e ao nosso beijo voraz. O maior pressionou-se contra mim e eu fui obrigada a cessar o contato entre os nossos lábios e arfar quando captei o volume natural do seu pênis sob a calça de moletom.
Ansiosa, empurrei levemente o seu peito e, enquanto ele ocupava-se de cheirar e beijar o meu pescoço, levei as minhas mãos agitadas para o seu abdômen, ainda sobre a camiseta, descendo-as até a região que mais me interessava agora. Ao alcançar o seu membro, usei toda a minha concentração para controlar os impulsos e apertei o local com cuidado. Jeongguk gemeu de forma manhosa rente à minha pele e o arrepio tomou conta do meu corpo mais uma vez naquele dia. Era um som tão gostoso... Em seguida, passeei os dedos por todo o seu comprimento e tive que morder o meu lábio inferior para conter o gemido de prazer ao ganhar uma sugada na região entre o pescoço e o ombro, justamente a minha área mais sensível dali.
— Você lembra de cada coisa, Jeon... — sussurrei ofegante e o rapaz afastou-se minimamente para mostrar-me o seu sorriso e logo riu.
— E faço questão de não esquecer nenhum detalhe — beijou o meu queixo e levou os lábios até os meus, iniciando um beijo lento que durou pouco tempo. — Nunca — me encarou mais uma vez. Aquele olhar tão intenso... Céus! Eu realmente vou enlouquecer se não apressarmos as coisas.
Já um pouco desesperada, levei as minhas mãos para o seu rosto e o puxei para mais um beijo antes de levá-las até a sua camiseta. Logo depois, puxei a peça para cima e a retirei do seu corpo com o seu auxílio. Quando me olhou novamente, o moreno riu e eu o acompanhei. Era nítido que eu já estava sem paciência alguma, que queria chegar na parte principal o quanto antes. Jeon ergueu-se, agora apoiando-se apenas nos joelhos, puxou os cabelos para trás no intuito de afastá-los da sua testa, porém não adiantou. Por seus fios estarem grandes, a sua visão voltou a ser prejudicada por eles assim que retornou à posição anterior. E claramente disposto a me provocar um pouco mais, o moreno utilizou um de seus dedos para puxar a gola da minha blusa para baixo e assim expor a parte dos meus seios que não era coberta pelo sutiã. Sorridente, aproximou o rosto daquela área e distribuiu beijos e leves sugadas pela pele à mostra. Quando eu iria repreendê-lo pela lentidão, o inesperado aconteceu: alguém acionou a campainha.
— Vamos fingir que não estamos aqui — o coreano sussurrou rente à minha pele, tranquilo. — Quem quer que seja, vai desistir quando perceber que não irei abrir.
— Mas... E se for grave? — O meu corpo já estava tensionado. Eu não conseguiria continuar até que fossem embora. — Não é melhor atender? — Questionei no momento em que tocaram mais uma vez. Jeongguk bufou alto e afastou-se para me olhar.
— Você quer que eu faça isso?
— Vai ser mais rápido — sorri brevemente na tentativa de acalmá-lo. — Não estamos esperando por ninguém, então deve ser alguma bobagem.
— Se for o Yoojun, eu juro que vou matá-lo — esbravejou antes de sair do sofá. E o som da campainha surgiu de novo. — Já estou indo! — Gritou extremamente alto, fazendo-me arregalar os olhos.
— Jeon, você vai acordar a Heeji! — Alertei baixo e o moreno bufou mais uma vez.
— Que saco... — alinhou os cabelos. — Que ódio... — murmurou enquanto caminhava até a cozinha, certamente para conferir, através do sistema de segurança, quem estava na porta. — Ah! São vocês? — Ele falou de repente, aumentando a minha curiosidade. — Vou abrir — anunciou e apareceu na sala segundos depois. — Puta que pariu! — Negou com a cabeça após sussurrar. — É a Haneul e o Jisub.
— O quê? — Arregalei os olhos, surpresa. — Como? — Droga! Haneul vai perceber que estava acontecendo algo nesse lugar assim que entrar e me olhar. — Ela não me disse nada, não falou que viria — sentei sobre o sofá e tentei me arrumar da melhor forma. Jeongguk já vestia a camiseta com rapidez. — Será que aconteceu algo sério?
— Jisub está com um vinho, então não é — entortou a boca, caminhando preguiçosamente até a porta. — Posso abrir? — Perguntou no volume de voz normal. Por sorte, o seu apartamento inteiro tinha proteção de som.
— Pode — mantive a atenção na entrada e sorri assim que o casal apareceu no meu campo de visão.
— Boa noite, pessoal! — Jisub disse animado, sorridente. — Podemos entrar?
— Devem — Jeon sorriu educadamente, controlando-se muito bem até aqui. — Olha só! O meninão veio também! — Bagunçou os cabelos de Doyun, que caminhava ao lado da mãe. — Fiquem à vontade.
— Você não sabe atender o seu celular, não? — A loira me questionou em um falso tom de revolta. — Te liguei inúmeras vezes e, por fim, arrisquei uma visita ao lado dos meninos na casa dos seus pais.
— Eles te disseram que eu estava aqui? — Perguntei, esforçando-me ao máximo para não deixar transparecer toda a minha frustração com a chegada da família.
— Sim — ela franziu o cenho, mas logo sorriu. — Não era pra ter dito? — Cruzou os braços.
— Claro que sim — pigarreei. — Não há problema algum nisso. É só que... Bom... Enfim... — ri fraco, nervosa. Shin havia percebido e foi fácil como eu já imaginava. — Sentem-se — os três se aproximaram e Haneul continuou me encarando, agora com os olhos cerrados. — O que é?
— Podemos conversar por um minutinho? — Prendeu o riso ao me ver engolir em seco. — Sozinhas?
— Tia — Doyun subiu no sofá para me abraçar e eu tive que rir. Ele era tão carinhoso. — Oi.
— Oi, meu lindinho — beijei a sua bochecha. — Você está bem? — O garotinho assentiu com a cabeça.
— A Hee? — Olhou ao redor, procurando pela amiga.
— Heeji está dormindo — respondi e o menino fez bico. Todos nós, os adultos, rimos. — Quem sabe você tem sorte e ela acorda antes daqui a pouco, não é? — Arrumei os seus cabelos que haviam sido bagunçados por Jeongguk. — Você pode usar os materiais de pintura enquanto isso — o menor sorriu largo, alegre. — Seu fofinho...
— Vem, o titio te leva — Jeon estendeu o braço na sua direção e Doyun esforçou-se para ir rápido até o mais velho.
— Eu trouxe uma garrada de vinho — Jisub falou. — E já deixo avisado que viemos de táxi — riu. — Ou seja, estamos preparados pra beber um vinho do senhor Jeongguk também.
— Vocês estão com criança — o mencionado tinha o cenho franzido. — Querem ficar bêbados e cuidar do Doyun ao mesmo tempo? É sério?
— Não vamos ficar bêbados — o seu amigo riu. — Você parece mal-humorado hoje. O que houve, cara?
— Eu sei o que foi, amor, mas só vou te contar mais tarde — Shin disse de forma provocativa e eu revirei os olhos. — Vamos conversar agora, (s/n)?
— Vamos — bufei.
— Então você vem comigo, Jisub — Jeon convidou. — Vamos colocar o Doyun no espaço da Hee e pegar algumas taças na cozinha.
— Dá pra ver o meu filho da cozinha? — Haneul questionou preocupada. — Não quero nem pensar em acidentes.
— O lugar é móvel, tem uma mesa e duas cadeiras sobre uma placa de madeira com rodinhas — expliquei e ri ao vê-la arregalar os olhos. — É assim justamente porque temos que fiscalizar a brincadeira e a Heeji tem que estar por perto o tempo inteiro.
— Eu vou levar o espaço até a cozinha, Haneul — Jeongguk disse antes de rir. — Sem drama, por favor.
— Esqueci que a senhorita Jeon tem um pai rico — a loira zombou e gargalhou logo depois. — Se quiser presentear o meu Doyun com um bagulhinho desses, Jeongguk do cabelo vermelho, nós estamos aceitando.
— Oferecida — o moreno rebateu e olhou para o garoto. — Quer um? — Pegou o menino no colo e apontou para o brinquedo.
— Quero.
— Vamos avaliar como você vai se sair na escolinha, está bem? — Bagunçou os cabelos do menor mais uma vez. — A sua mãe é uma interesseira.
— Eu estou escutando! — Shin disse alto. — Jisub, você está ouvindo o que ele está falando sobre a sua mulher?
— É brincadeira, amor — o seu marido riu. — Releva.
— Que droga... O seu amorzinho manipula o meu Jisub — murmurou antes de me puxar pelo braço e consequentemente me obrigar a levantar do sofá. — Vem, nós vamos conversar direitinho agora — após bufar, me dei por vencida e a conduzi até o meu quarto. — O que estava acontecendo antes de chegarmos? Você pode tentar disfarçar como for, mas está ofegante — me analisou com os olhos cerrados. — E o Jeongguk está bem vermelhinho.
— O que está sugerindo?
— Sexo — sorriu largo. — Estavam fazendo? — Revirei os olhos novamente e bati o pé no chão repetidas vezes, nervosa por me sentir tão exposta. Shin Haneul de fato me conhecia muito bem. — Se for, me perdoa por atrapalhar algo que já é tão difícil entre vocês.
— Foi quase — bufei alto. — Porra... Finalmente estávamos nos tocando e aí vocês decidem aparecer — neguei com a cabeça, inconformada. — Eu sei que não fizeram por mal, é óbvio, mas é inevitável me sentir irritada e frustrada.
— Eu entendo cem por cento — ela pôs a mão sobre a testa. — Me desculpa, amiga. Se eu soubesse que estava rolando sexo aqui, te juro que até mandaria um drone sem câmera só pra soltar uma musiquinha e fazer um clima pra vocês.
— Idiota! — Nós rimos. — Mas tudo bem... — encolhi os ombros. — Já foi. Agora tenho que conversar com o Jeongguk sobre esse passo que demos e tentar resolver tudo da melhor forma, sem que ninguém saia magoado como sempre acontece.
— Tem razão — cruzou os braços e entortou a boca. — Ninguém aguenta mais, está bem? Daqui a pouco até a Hee vai te pedir isso.
— Foi tão inesperado, até um pouco surreal... — ri fraco. — À tarde estávamos nos tratando normalmente com certa distância e agora à noite quase transamos — suspirei antes de morder o lábio inferior. — Foi acontecendo naturalmente, fomos conversando, brincando, provocando um ao outro e, de repente... Nossa! — Esfreguei as mãos no rosto. — De repente senti um calor, uma coisa maluca, não sei... — Voltei a encará-la. — Eu só queria ter aquele homem de novo.
— Senhoritas — Jeon chamou antes de bater na porta e eu arregalei os olhos, surpresa. Será que ele ouviu? — Estamos aguardando as ilustres presenças na sala de estar. Está tudo preparado.
— Estamos indo — anunciei. Em seguida, segurei o braço de Haneul e puxei a loira para sair do cômodo junto a mim. Jeongguk já estava um pouco distante de nós. — Não tente nos envergonhar — sussurrei, ouvindo apenas uma risadinha cínica como resposta. — É sério — belisquei a sua barriga.
— Está bem! — Ergueu os braços em rendição. — Eu já me sinto muito culpada pelo que aconteceu. Não se preocupe.
E assim foi. Shin não soltou nenhuma piadinha sobre o assunto e muito menos falou algo direto sobre ele, o que me deixou completamente aliviada e à vontade para sentar no chão e beber ao lado dos três. Jeongguk e eu ficamos frente a frente e foi impossível não retribuir os seus olhares. Nos encaramos por longos períodos de tempo, vez ou outra disfarçando ao levar a nossa taça até a boca apenas para fingir que o objetivo inicial era beber um pouco de vinho. Quando tinha a atenção voltada para mim, Jeon respirava fundo, meneava a cabeça e, descaradamente, descia o olhar pelo meu corpo antes lubrificar os seus lábios e sugar o inferior. A bebida certamente o encorajava a fazer aquilo e eu estava adorando. Me sentia desejada, instigada. Haneul e Jisub conversavam tranquilamente, riam e isso deixou claro que não notaram aquela troca intensa de olhares envolvendo nós dois.
— Bom... Boa noite — apoiei-me na porta do quarto de Heeji, que ainda dormia. — Jisub, Haneul e Doyun já estão bem acomodados no quarto de hóspedes, então... — encolhi os ombros. — Hora de ir dormir.
— Você vai ficar com a Hee? — Jeongguk tinha o olhar preso em mim. Os seus cabelos agora estavam um pouco bagunçados, já que ele havia mexido bastante em seus fios enquanto ocupava-se de conversar conosco e me olhar.
— Vou — pressionei as pernas uma contra a outra, tentando controlar os meus impulsos. — O seu quarto fica bem de frente, então eu te chamo se precisar de algo.
— Você não precisa de nada já nesse momento? — Caminhou lentamente na minha direção, parando à minha frente. — Eu posso ajudar fazendo qualquer coisa.
— Nós dois bebemos, não estamos sozinhos aqui no apartamento, a Hee está dormindo há muito tempo... — suspirei alto. — Não dá — o seu olhar de desânimo me fez rir fraco. — Não agora.
— E se... — puxou-me para si com firmeza, fazendo os nossos corpos trombarem com força. — Você me desse um beijo bem gostoso de consolação?
— Um beijo bem gostoso? — Ri e ele assentiu ainda enquanto exibia uma expressão de homem injustiçado. — Você merece vários, mas não vai dar certo se eu decidir fazer isso — levei as minhas mãos para o seu pescoço. — Então... — mordi o seu lábio inferior, puxando-o com delicadeza entre os dentes.
Impaciente por provavelmente esperar aquilo há longas horas, o maior levou uma de suas mãos até a minha nuca e iniciou um beijo calmo, lento, sensual... Gostoso, do modo que ele queria. E sempre que, durante o contato, as nossas línguas se tocavam, uma onda de calor parecia espalhar-se pelo meu corpo e terminar em meus dedos, que apertavam os seus ombros firmemente. Jeon me pressionou ainda mais contra o seu tronco e nos impulsionou a andar para trás, obrigando-me a utilizar a porta como apoio e causando um barulho tímido pelo impacto. Em seguida, desceu os lábios por minha pele até chegar ao pescoço, onde concentrou os seus beijos molhados. Era tão bom... A sua boca e a sua respiração quente em uma área tão sensível, as suas mãos grudadas em pontos estratégicos do meu corpo e o seu cheiro invadindo as minhas narinas me davam uma sensação nova de que essa era a coisa mais certa a se fazer até o dia da nossa morte.
— Jeongguk... — tentei falar normalmente, mas saiu em um quase gemido exagerado. — Aqui não. Agora não.
— Eu sei — manteve os beijos no pescoço, porém logo afastou a minha blusa para ter acesso ao meu colo e levar os seus lábios até ali. — E se formos para o meu quarto?
— Não... — neguei com a cabeça, fechando os olhos ao sentir uma breve sugada naquele local. — Haneul e Jisub estão aqui. Eu não me sinto à vontade de fazer isso com os dois estando no apartamento.
— Tudo bem, tudo bem... — suspirou, afastando-se totalmente em seguida. — Mas a minha proposta vai ficar de pé pelo resto da noite — piscou o olho, rindo depois. — Vou deixar a porta destrancada. Se mudar de ideia, vá até mim.
— Eu não...
— Shhh — pôs o dedão sobre os meus lábios após segurar o meu rosto. — Eu gosto da emoção — riu. — Até amanhã — aproximou-se minimamente e me deu um selinho muito rápido. — Cuide bem da nossa menina.
— Es... Está... Bem — engoli em seco, desestabilizada. — Boa noite.
— Conversaremos amanhã — me deu o seu sorriso cafajeste e iniciou a caminhada até o seu quarto do outro lado do corredor. Desgraçado. Ele estava me provocando. — Durma bem.
— Você também — a frase saiu em um tom de revolta e o moreno riu ao perceber. Então, já não tendo mais nada para fazer ali, entrei no quarto de Heeji e tranquei a porta com pressa. — O que fizemos hoje não vai desaparecer amanhã... — murmurei. — Eu não posso fugir de nada — mordi o lábio inferior, pensativa. — Vou falar o que senti quando tive coragem de dar esse passo ousado e o que penso sobre tudo o que nós estamos vivendo — concluí. — Pronto — concordei com a cabeça. — Será assim e eu espero que o Jeongguk me compreenda da melhor forma.
[...]
— Bom dia, meninas — a voz contida de Jeon preencheu o silêncio do quarto, despertando-me. — Hora de acordar — o barulho das cortinas surgiu de repente e logo a claridade me obrigava a cobrir os olhos com o antebraço.
— Appa — Heeji disse baixo, rouca. Provavelmente a garotinha ainda estava muito sonolenta.
— Levanta, meu amorzinho — o coreano insistiu. — Você está dormindo desde ontem — o carinho era nítido até em seu tom de voz e isso me fez sorrir instantaneamente. — Vamos, (s/n)! — Após ouvir isso, tive o meu braço movido e me esforcei para abrir um dos olhos. O moreno tinha um sorriso bem aberto, esbanjava felicidade. — Olá! Bom dia!
— Bom dia — falei baixo. — Que horas são?
— Sete da manhã.
— Ah, droga... — esfreguei as mãos sobre os meus olhos na tentativa de despertar completamente. — Tenho que estar na fábrica às oito e meia.
— Dá tempo — puxou o cobertor que cobria o meu corpo quando fechei os olhos mais uma vez. — Vai tomar um banho. Heeji e eu estaremos na cozinha.
— Jisub e Haneul ainda estão aqui?
— Estão — riu soprado. — Os dois com a maior ressaca.
— Péssima ideia de beber em plena quarta-feira — bufei, sentando-me na cama ainda com os olhos fechados. — Minha cabeça está estourando.
— Eu consigo um remédio pra você, quer?
— Quero — suspirei.
— Appa — Heeji chamou e eu finalmente consegui abrir os olhos por completo. Queria muito vê-la. — Mamãe — como estávamos em uma bicama, a mais nova apenas se atirou do seu colchão para o meu e me abraçou. — Bom dia.
— Bom dia, meu amor — beijei a sua testa. — Você dormiu bastante — acariciei os seus cabelos, ganhando o seu sorriso lindo. — Vai chegar no ponto pra aula de hoje — Jeongguk e eu rimos. — Estou com pena da sua professora, Hee.
— E tem a aula de natação também — o moreno lembrou. — O appa vai estar lá pra te ver — piscou o olho para a menina, que sorriu ainda mais.
— Você vai? — Perguntei e Jeon assentiu com a cabeça. — Eu nem posso... — suspirei e cruzei os braços, ouvindo a gargalhada do maior. — É a primeira vez que ela vai fazer um percurso completo.
— Eu vou filmar tudo, fique tranquila.
— Ótimo! — Sorri. — Não vai ser a mesma coisa de estar lá, mas ajudará muito.
— Quem está com fome? — Jeongguk perguntou de repente, animado.
— Eu! — Nós duas falamos e levantamos os nossos braços ao mesmo tempo. O mais velho gargalhou mais uma vez.
— Então vamos começar o nosso dia, meninas — esticou-se para retirar a nossa filha do meu colo. — Estamos te esperando — piscou o olho para mim. — Não demora.
Fui até o meu quarto e após alguns minutos de busca, suspirei de alívio ao encontrar, no guarda-roupa, um vestido adequado para ir trabalhar. Por sorte, eu deixei a peça aqui quando optei por voltar para casa usando vestimentas confortáveis que já haviam sido deixadas no apartamento para serem usadas nessas situações. Depois de um banho rápido, me vesti às pressas e só pude arrumar o cabelo, já que eu não levei maquiagem e nem perfume. Quando saí do cômodo, tive que rir do barulho alto das conversas paralelas de Jeongguk, Jisub e Haneul e Heeji e Doyun. Estava uma bagunça. Cheguei na cozinha, cumprimentei todos e busquei me inteirar dos assuntos enquanto me servia do café da manhã que Jeon havia preparado. Ele realmente sabia muito bem como preparar refeições deliciosas.
— Engraçado... — Jisub riu. Ainda nos alimentávamos. — Essa situação aqui me fez lembrar de algo.
— De quê? — A sua esposa perguntou.
— Vocês lembram do dia em que nós quatro saímos pra comer juntos? — Nos olhou alternadamente. — Jeongguk foi buscar a (s/n) na faculdade e nos convidou pra almoçar — encarou Shin. — Nós dois ainda éramos amigos e o Jeon estava com o cabelo vermelho.
— Sim! — A loira riu. — O mais alto nível de feiura!
— Já vai falar do meu cabelo? — O moreno a encarou com os lábios pressionados. Nós, exceto ele, rimos.
— Fica tranquilo, Jeongguk do cabelo vermelho.
— Insuportável — Jeon cruzou os braços, negando com a cabeça. — Se não fosse por mim, você nem teria desencalhado — provocou também. — Deveria me agradecer por ter acelerado as coisas com o Jisub naquele dia, Haneul.
— Idiota! — Ela rebateu de olhos cerrados e eu tive que rir.
— Vocês sempre vão se comportar como duas criancinhas, não é? — Questionei. — É assim que a amizade de vocês funciona?
— Ela é quem começa! — O meu ex-namorado apontou para Shin.
— Eu? — Haneul falou alto. — Ah, Jeongguk, faça-me o favor! — Agora foi a sua vez de cruzar os braços. — Não perco o meu tempo contigo! Não mesmo!
— Ah, não... Gente... — Jisub suspirou. — Deem um tempo porque eu quero terminar o que tinha pra dizer.
— Fala logo antes que essas panquecas comecem a voar sobre essa mesa — acelerei, causando a risada dos três. Heeji e Doyun ainda se comunicavam do modo deles, pouco se importando com a nossa presença.
— Eu achei engraçado porque tivemos um momento bem parecido com esse no passado e agora estamos aqui... — olhou ao redor. — No apartamento luxuoso de Jeongguk, os quatro juntos em um clima maravi... — olhou para Haneul e em seguida para Jeon — Agradável — completou me fazendo rir de novo, porém um pouco mais alto. — E a melhor parte é que estamos com nossos filhos. Caramba! — Sorriu. — Naquela época, nunca poderíamos imaginar que um dia repetiríamos aquele encontro, só que com as nossas crianças.
— É... — sorri brevemente, engolindo em seco logo depois. Após olhar para Heeji, que estava ao meu lado, desviei a atenção para Jeongguk e notei que ele já me encarava. — Tem razão.
— E também não imaginamos que nós dois estaríamos casados — Shin disse para o marido e um som de selinho surgiu. Eu ainda mantinha o contato visual com o moreno à minha frente. — Só falta o Jeon e a (s/n) resolverem esse impasse pra tudo ficar bem de uma vez por todas, seja com os dois juntos ou não.
— Como é? — Jeongguk desviou a atenção para a moça e eu fiz o mesmo em seguida.
— Vocês precisam vencer o medo, quebrar a barreira, viver de verdade, do jeito que querem — a loira sorriu para mim. — É a minha humilde opinião.
— O que quer dizer? — Jeon franziu o cenho e eu prendi o riso. Fingido.
— Você sabe muito bem — a minha amiga cerrou os olhos para ele. — Mas, enfim... — respirou fundo. — A situação que você lembrou é realmente curiosa e engraçada, amor — acariciou o rosto de Jisub, que sorriu satisfeito.
— Jeongguk, você lembra que disse que queria ter três filhos? — O rapaz questionou o outro.
— Três ou quatro — corrigiu, rindo depois. — E continuo querendo. Heeji não pode ser a única, não mesmo.
— Resta encontrar uma mulher que esteja disposta a te dar mais dois ou três — O marido de Haneul disse e riu.
— Amor, por favor, come mais um pedacinho de pão — ela encheu a boca do mais velho com o alimento, causando a nossa risada. — Ótimo, assim está perfeito.
— O seu celular está tocando — Jeon anunciou de repente e eu bufei. Deve ser Miran ou o meu secretário para informar algo que, pelo horário, não deve ser bom.
— Já volto — anunciei e corri até a minha bolsa que estava na sala. A ligação foi encerrada antes que eu pudesse atender. — Mensagem de dois minutos atrás? — Franzi o cenho.
Pai:
Estamos precisando de você aqui na empresa.
O pessoal do Japão quer fazer uma reunião com a sua presença por chamada de vídeo e será melhor se você aparecer no seu escritório. Dá um ar profissional.
Marcaram pra daqui a trinta minutos.
Jung vai te buscar.
— Ah, droga... — suspirei enquanto retornava para a cozinha. — Tenho que ir.
— Mas ainda não é nem oito da manhã — Jeon falou. — Aconteceu algo sério?
— Reunião de emergência na fábrica — revirei os olhos e bufei. — Agora te entendo completamente quando você falou que os japoneses são impacientes — o moreno gargalhou. — Você leva a Hee pra escola?
— Não tenha dúvidas — sorriu. — Quer que eu te deixe no trabalho?
— Não, obrigada. O senhor Jung está vindo me buscar.
— Faça o favor de almoçar, sua maluca — Haneul disse. — Não deixe que nenhum japonês te obrigue a pular refeições.
— Sim, senhora — ri. — Bom... Até depois, pessoal — acenei para todos. — Nos vemos mais tarde, filha — beijei a testa da menor, tendo que rir ao ver os seus olhos grandes atentos a mim. — Nade bem bonito, está bem? Eu verei tudo assim que receber o vídeo.
— Está bem — Heeji respondeu enquanto assentia com a cabeça.
— Te amo.
— Também te amo — ela esticou-se para me abraçar pelo pescoço, causando o riso dos demais.
Assim que me despedi de Doyun, desejei que todos tivessem um bom dia e praticamente corri para fora do apartamento quando recebi uma mensagem do senhor Jung avisando que já me aguardava em frente ao edifício. E enquanto era levada até a fábrica, me peguei pensando no que aconteceu ontem, no que Jisub lembrou do nosso passado e no que Haneul falou sobre quebrar barreiras. Eu estava confusa, indecisa. Era tudo complicado demais para decidir em apenas um dia. De qualquer forma, Jeongguk e eu ainda precisávamos conversar para tentar entender o que havia acontecido, saber se apenas estávamos carentes ou se realmente perdemos o controle do nosso desejo, e também decidir o que faremos a partir disso.
— É sério que eu estou mesmo cogitando voltar a ter um relacionamento com o Jeon? — Murmurei a pergunta, já sozinha no elevador da fábrica. — Que loucura...
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