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História Encontro Marcado - Intimidade - Parte I


Escrita por: JehCalazans

Capítulo 16 - Intimidade - Parte I


Fanfic / Fanfiction Encontro Marcado - Intimidade - Parte I

A aurora já estava bem avançada, o sol quase em despedida quando o telefone de Lucrécia começou a tocar. A mesma estava na casa no pai,  e bem humorada, fez até dancinha para chegar ao celular no outro lado do quarto -n  ao som do heave metal que ouvia. Olhou pelo visor e o sorriso só se alargou

 

— Diga, minha querida. Boas novas? –

 

— Não exatamente, Dona Lucrécia. A “outra” ligou pro Bernardo –

 

— Como? – A feição da outra que esbanjava alegria, estava transtornada em menos de um segundo

 

— Perguntei a ele agora,  como não quer nada. Achei o semblante um tao diferente. E foi isso que ele me disse. Que Emília ligou e  estava bem –

 

Lucrécia nem conseguiu responder pela raiva que lhe sufocou a garganta e a deixou cega. E ao a fechar o punho com força em demasia, quase chegou a machucar a palma das mãos no cravar as unhas.

 

— Senhora? – Dorótéia resolveu lhe chamar atenção, receosa da ligação ter caído

 

— Nem amor próprio a vagabunda tem –

 

— Isso é de se notar… – Dototéia soltou um muxoxo no outro lado da linha, parecia até sincero o descontentamento - Dona Lucrécia? Eu estive pensando numa coisa, ontem... Se ela está grávida e já tinha conhecimento, por que escondeu? –

 

— O que disse? –  A raiva era tanta que afetava seu raciocínio. Ela não podia crer que seu plano deu errado de novo

 

— Bernardo, não sabe do bebê. Esconder agora tudo bem, que está morto. Mas e antes? Por que esconder isso dele?

 

— Uma dúvida pertinente Dorotéia. Por que ela esconderia se não para…. Será que a “coisinha” não era de Bernardo? Com essa até eu estou surpresa …

 

— Eu também! Não há outra explicação plausível –

 

— Isso é o que menos importa agora. Mas.. Se Emília quer que eu seja mais invasiva, eu serei. Vou pensar num jeito daqueles exames pararem nas mãos do Bernardo e fazer um pequeno estrago… Nem Deus poderá mantê-los juntos, dessa vez... Bom, eu vou ter que desligar, tenho que me arrumar para jantar com o meu pai. Entrarei em contato –

 

Quando deu por si, Dorotéia estava sozinha na linha


 

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Emília pensou que iriam jantar em qualquer restaurante por ali perto, mas Vitória insistiu que fossem para o apartamento que dividia com Bento. O que ela aceitou ao saber que seriam apenas elas duas, depois é claro, de muito teimar

 

Enquanto o jantar ainda era preparado, ou melhor, adiantado pela criada da Ventura, Emília tomava um banho relaxante de sais perfumados na banheira que se encontrava na suíte de Vitória, enquanto a própria utilizava-se da suíte do enteado. Ahh!! Ela precisava lavar a alma. Não que ela não tivesse feito a higiene no hospital, mas nada se iguala a bom banho de banheira. Só faltava Bernardo ali, ele a fazia relaxar como ninguém…

 

Quando Emília finalmente terminou vestida somente com o roupão e da toalha felpuda que cobria os cabelos, por mais que Ariel tenha lhe trazido roupas, Vitória já estava ao fogão, preparando uma já cheirosa sopa de legumes..

 

— Hm… Mas esse cheirinho…Que cheiro gostoso, Vitória – Emília não pode segurar o elogio assim que se juntou à mãe na cozinha

 

— Uma sopinha de legumes. É melhor você não comer nada pesado esses dias –

 

— É tão bonito a forma que me trata… – Ela sorria emocionada, os olhos brilhando pelas lágrimas acumuladas ali - Deus, como estou boba - Ela riu de si mesma, maneando em reprovação - Me  diz, em que posso  te ajudar?

 

— Hormônios.. é sempre assim – Bem que ela tentou não se contagiar com a emoção da filha, mas foi difícil – Já que quer me ajudar, pode ir descascando as batatas para mim –

 

— Tudo bem, onde elas estão? – Emília já foi pegando a maior faca do faqueiro, ansiosa em ser útil. Mas tadinha, era facão de cortar de carne… rs

 

Vitória não segurou a risada que lhe escapou, recebendo o em troca o leve arquear de sobrancelha da Beraldini

 

— Posso saber o que vai fazer com isso? - A Ventura ainda ria, apontando para o facão

 

— Ora, descascar as batatas – Emília não sabia por que, mas sorria contagiada

 

Vitória apenas maneou em negativo, por mais que achasse graça. Se aproximou do armário, tirando um pequeno descascador de legumes. E ensinou Emília a usá-lo, o que não foi fácil, gerando muitas risadas.


 

Ambas ficaram conversando animosidades na cozinha durante o preparo. Vitória teve que rir da Beraldini que nem sabia fritar um ovo.

 

Depois do jantar, Vitória resolveu contar sua história e mostrar o quanto um desengano pode ser catastrófico.

 

As duas estavam sobre o sofá na sala de estar. Estavam muito a vontade, nem mesmo trocaram de roupas, já que Vitória também usava o roupão (...)



 

— Eu vim de uma cidadezinha bem pequena no interior de São Paulo, São Luis do Paraitinga. Perdi meus pais muito cedo e morava com a minha tia que era muito boa pra mim. Lá pra década de 80, no inicio da minha juventude, ela ficou muito doente, acabou falecendo. Então fui trabalhar na casa de uma senhora de boa situação – Ela evitou usar data precisa e nomes

 

Os olhos da Beraldini não pareciam nem piscar, interessada na história que lhe já parecia um tanto triste, enquanto degustava do sorvete como sobremesa

 

— Ela tinha um filho, não tão mais velho que eu. Me lembro como se fosse hoje o dia que nos conhecemos, foi quando ele voltou do seminário para passar as férias em casa. Ele era filho único. A mãe o prometeu ao sacerdócio quando ele nasceu. Ao que parece, foi uma promessa por ter nascido tão doente... Nos damos tão bem.. Sentimos aquela simpatia logo de cara, sabe? Nossa amizade cresceu e eu me... Ah.. eu me apeguei aquele carinho que ele me oferecia. Ele era tão bom e gentil comigo… Quando vi, eu estava apaixonada, mesmo sabendo que ele era proibido para mim

 

— Você era muito jovem e sozinha, não deveria se condenar tanto – Emília não pensou duas vezes antes de ir em defesa de Vitória. E a Ventura desejou que realmente ela pensasse desse modo quando soubesse de  toda verdade um dia.

 

— Eu orei, orei muito para que Deus tirasse aquele sentimento do meu coração, mas ele só crescia… –  Não soube o porquê, mas seus olhos lacrimejaram, e foi  inevitável a queda das primeiras lágrimas.

 

Mas antes mesmo que ela pudesse enxugar, Emília, detestando ver aquelas lágrimas, deslizou os dedos delicados sobre o rosto da mãe, secando-o, numa carícia terna

 

— Ele não gostava de você? –  Perguntou, afastando a destra que voltava para o talher, por mais que naquela altura ela já nem ligava mais para o sorvete

 

—  Esse foi justamente o meu calvário  Ele começou a questionar sobre a decisão de voltar para o seminário, de ser padre …. Confuso com o que sentíamos. Então, na véspera dele voltar para o seminário, eu o visitei em seu quarto. Só queria lhe dar um presente para ele se  lembrar de mim.  Ele me disse coisas tão bonitas, Emília…. que… –  Ela não encontrava coragem para continuar

 

—  Se entregou a ele não foi? Amar alguém é um ato tão bonito, Vitória. Não devia se envergonhar  –  Ela sorriu, ainda que pequeno, mero mover dos lábios. Talvez, para dar maior confiança  e deixar Vitória mais a vontade

 

—  Nem é isso. Me sinto sem jeito comentando isso com você - Ela acabou sorrindo também

 

—  Vitória, estamos jogadas no sofá apenas de roupão e com toalha na cabeça. Quer algo mais íntimo que isso? –  Emília riu, arrancando uma risada de Vitória –  Vamos, continue. A mãe dele descobriu não foi? –

 

—  Uhum –  Ela assentiu –  Ela me flagrou na cama dele. Nem queira saber os insultos que saiu daquela boca. Mas ele estava disposto a me assumir, e não me deixou ir embora. A mãe fez o inferno nas nossas vidas. Tanto que pensamos em fugir. Aí foi outra confusão… Ela fingiu nos aceitar, hoje eu sei que ela apenas fingiu.  Fiquei morando com eles, não mais como empregada. Mas ele tinha que terminar os estudos. Muito coincidentemente ele recebeu uma proposta irrecusável  de estudar medicina na PUC aqui no Rio. Era o verdadeiro sonho dele, ele ficou tentado. Aquela bruxa mexeu seus pauzinhos com o bispo da arquidiocese daqui, foi fácil pro bispo conseguir com o reitor – Enquanto Emília a ouvia, ela se aconchegou nos ombros de Vitória, descansando a cabeça ali. A mesma nem estranhou, brincando com as mechas claras da filha entre os dedos


 

—  Então minha querida sogra me convenceu de que eu deveria conversar com o filho dela. Ingênua, eu implorei que ele aceitasse, não queria de jeito nenhum atrapalhar a vida dele. Ele partiu e prometemos nos corresponder por cartas, como desse. Eu deu certo até um tempo. Até que ele parou de me corresponder. Eu achei estranho, mas acreditei ser por causa dos estudos.  Até que um dia, recebi uma carta assinada por ele, a letra praticamente idêntica, dizendo que não estava feliz, que estava muito difícil continuar com aquele relacionamento a distância. Enfim, ele terminou comigo…–


 

— Eu sinto muito –  Os olhos castanhos de Emília miraram os da mãe, num compadecer sincero


 

— É até óbvio pra você, não é? Mas não foi bem assim. Minha sogrinha começou a esconder as cartas dirigidas a mim.  E foi ela que escreveu a carta em nome do filho. Foi numa maquina de escrever, ela só teve que falsificar a assinatura. Vê o quão lógico, ilógico é? –


 

Emília mordeu os lábios, um tanto pensativa. Não era necessário Vitória concluir o final da história. Soltou um suspiro longo, antes de fitá-la outra vez


 

— Tem medo que um desengano acabe com meu casamento, não é? Que eu devia acreditar em Bernardo seja lá o que ele me contar… E se não for um desengano, Vitória?


 

— Você não é ingênua, Emília. A gente sempre sabe quando tem outra na história. Se a gente acredita ou não na nossa intuição, é outra coisa. Mas a gente sempre sabe –  Ela ainda continuava a embrenhar os dedos entre as mechas da filha, num suave cafuné. Sentí-la assim tão próxima… lhe despertava a verdade de lhe contar toda a verdade


 

— Vocês se perderam não foi? Nunca pensou em procurá-lo? – Desconversou, não querendo admitir que talvez, estava sendo um tanto tola.


 

— Ah….Isso foi mais do que desunir um casal, Emília. Isso me desgraçou por completo.. –


 

— Fala do bebê? – Emília não aguentou a curiosidade – Desculpe, você deu a entender que teve um filho –

 



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