História End of Summer - Uno

Acordei com o sol batendo no meu rosto, eu podia apenas ter me virado na cama e voltado a dormir, mas estava ficando muito quente no quarto e uma moça passou abrindo as portas dos quartos e gritando para acordarmos.

Kaminari resmungava alguma coisa no chão, ele caiu no meio da noite, mas ninguém se importou com o estrondo, então ele ficou ali. Kirishima já parecia animado, tão empolgado que fez meu estômago se revirar, talvez fosse a fome.

Desenterrei algumas peças de roupa da gaveta, me troquei rápido enquanto os outros idiotas ainda tentavam acordar. Senti Eijirou me observando, mas não tenho certeza se ele está olhando diretamente para mim ou se está ignorando minha existência, apenas observando o nada com sono.

* * *

O refeitório parecia mais cheio do que ontem por causa de toda a agitação, estou começando a ficar de mal humor, é muito barulho para tão cedo. As meninas estão tão arrumadas o tempo todo, não sei como conseguem.

Me assustei com Ashido gritando no meu ouvido, ela quer ir no rio mais tarde, não para de tagarelar sobre o novo biquini que comprou. Revirei os olhos, aqui é meio tedioso, principalmente com um monte de pessoas juntas no mesmo lugar o tempo todo, me irrita.

– Baby boy! Você está muito calado, se solte um pouco.

– Para de gritar no meu ouvido Alien, eu não quero cometer um assassinato logo de manhã.

– Não dormiu bem?

– Mas quem caiu da cama foi o Denki – Alfinetou Eijirou, queria conseguir tirar aquele sorrisinho convencido do rosto dele.

– Minhas costas ainda doem.

– Vamos ter que colocar um cercadinho pra ele.

– Vai se lascar Sero.

– O que a gente vai fazer até o almoço?

– Aizawa disse que vai ter algumas atividades recreativas até lá – A garota respondeu, depois ela puxou o celular e começou a teclar nele sem parar.

– Está conversando com alguém?

– Uma amiga.

– É a Uraraka? – Ela acenou com a cabeça, estava mais animada do que uns minutos atrás.

–  Você deveria ter nos apresentado antes!

– Quem? – Sero quem perguntou, alheio a conversa até agora.

– É a peguete nova dela.

– Ela não é minha peguete!

– Como se você não quisesse.

– Eu nunca disse isso.

– A Mina tem uma nova crush e não nos contou? – Denki perguntou indignado, como se aquela fosse uma das maiores afrontas para a sua pessoa.

– Achei que eu era seu melhor amigo! – Eijirou desatou a choramingar falsamente, tentando tirar alguma informação dela.

Tive que passar meia hora ouvindo Ashido contar sobre Ochako, não foi muito legal, mas pelo menos dispersou o tédio por um tempo, no fundo estou feliz pelas duas estarem se dando tão bem. Não posso negar que me deu um pouco de ânsia toda a melação e romance, também pode ser inveja.

* * *

Estávamos nos arrumando para ir em uma trilha ali perto, eu não aguentava mais Eijirou no meu pé por causa de um protetor solar. Ele queria que eu passasse o dobro, mas isso não era necessário, não é como se eu fosse a merda de um vampiro.

– Mas você é muito branco, vai se queimar muito rápido.

– Eu já disse que não precisa, conheço meu corpo, não vai queimar.

– Passa logo Bakugou, eu não aguento mais vocês dois discutindo isso – Kaminari me entregou o frasco, parecia realmente exausto.

– Tsc.

Passei com certo ódio, peguei um boné e fui encher a garrafa com água gelada no refeitório. Me sinto grudento e com cheiro de praia, se eu fechar os olhos por muito tempo, consigo até escutar as ondas do mar se quebrando.

Quando eu ia voltar para o quarto os três idiotas já estavam no pátio, estava se enchendo de pessoas muito rápido, Kirishima trouxe minha mochila. Os professores estavam separando os alunos em grupinhos, duas salas juntas por guia, por azar ficamos juntos da 3-C.

– As pessoas dessa sala são estranhas – O abobalhado disse, parecia realmente incomodado, olhava diretamente para Shinso no canto.

– Nem me fale – Eijirou complementou angustiado, até mesmo um pouco desesperado, olhando ao redor procurando algo – São uns babacas.

– Fazer o que né? – Hanta tentou consolar, andando na frete enquanto parecia nos chamar – Vamos ter que lidar com isso.

Começamos a caminhar no meio de uma multidão de alunos, falavam tão alto que se havia a mínima chance de vermos um animal diferente essa probabilidade já era. Mas tinha bastante borboletas, dos mais diversos formatos e padrões, acho que eram coloridas.

– Olha – O mais novo me cutucou, apontando para uma borboleta específica – Aquela é bem colorida, quase como um arco-íris.

– Você está realmente prestando atenção em tudo não é? – Não consegui segurar um sorriso, achei que ele não tinha a capacidade de notar até as mínimas coisas.

– O que?

– Achei que você não estava prestando atenção no passeio.

– Que idiotice docinho, é claro que estou!

Caminhamos por muito tempo, passando por pontes e cogumelos, Mina e Denki tiravam foto de tudo, eles vão lotar a minha galeria com as fotos no grupo depois. Kirishima comentava de cada detalhe, alguns despercebidos para mim, contava até algumas curiosidades aleatórias.

– Aonde você aprendeu sobre isso? Achei que não estudasse cabelo de merda.

– Eu só vi uns vídeos no YouTube quando estava no tédio.

A trilha durou algumas horas, fomos em um templo sobre animais ou algo assim, tinha bastante vegetação diferente, mas nada chamativo o suficiente para mim. Preferi focar no garoto, ele parecia maravilhado pelas coisas mais bobas, era engraçado suas expressões e reações.

Voltamos na hora do almoço, nos deixaram ir para o rio depois das quatro, quando não estivesse com o sol tão forte. Falaram que teria algumas atividades no saguão, mas preferi ficar no quarto tirando um cochilo, quando acordei, os garotos estavam jogando uno no chão.

– Oh, você acordou docinho?

– Ainda estou dormindo, não está vendo? – Debochei me sentando ao seu lado.

– Quer jogar com a gente? – Me ignorou, mostrando as cartas animado, mas nem mesmo toda a minha vontade de jogar faria elas terem cor.

– Vamos Bakubro – Kaminari estendeu a fala animado, já separando um tanto de cartas para mim.

– Não posso.

– Por que não? Ainda são três horas – Sero avisou – É mais legal jogar com quatro.

– Sou daltônico, preto e branco – Apontei para a minha cara, eles ficaram quietos por um tempo até que o menor de nos três começou a rir.

– Que desculpa ruim Bakugou.

–  Estou falando a verdade, seu merda.

Isso fez Denki se calar, ele pediu desculpas e tudo voltou a ficar em silêncio, acho que eu não deveria ter falado sobre isso. Kirishima se levantou e revirou a bolsa, pegou uma caneta afobado e começou a riscar as cartas.

– Eu escrevo as cores nas cartas! Assim você pode jogar com a gente – Estava tão determinado, pela primeira vez em bastante tempo eu voltei a ver cor, o mesmo vermelho em seus olhos, isso me assusta.

– Obrigado.

Não sei porque vejo cor nele as vezes, pode ser um delírio, estou com vontade de perguntar a ele que cor são seus olhos, saber se são mesmo rubros. Quero saber a cor de seus cabelos, a cor do cabelo dos outros também, de que cor eles costumam se vestir e essas coisas.

Por enquanto eu vou ficar quieto, esperar eles absorverem a informação, deve ser bem mais fácil para eles do que foi para mim. Agora eu vou apenas jogar uma partida com eles.